Nota
Histórica
Nasceu
em Sena no ano 1347. Movida pelo desejo de perfeição, entrou na Ordem Terceira
de S. Domingos quando era ainda adolescente. Inflamada no amor de Deus e do
próximo, trabalhou incansavelmente pela paz e concórdia entre as cidades,
defendeu com ardor os direitos e a liberdade do Romano Pontífice e promoveu a
renovação da vida religiosa. Escreveu importantes obras de espiritualidade,
cheias de boa doutrina e de inspiração celeste. Morreu no ano 1380.
Saboreei
e vi
Ó
Divindade eterna, ó eterna Trindade, que, pela união com a natureza divina,
tanto fizestes valer o Sangue de vosso Filho Unigénito! Vós, Trindade eterna,
sois como um mar profundo, no qual quanto mais procuro mais encontro, e quanto
mais encontro, mais cresce a sede de Vos procurar. Saciais a alma, mas dum modo
insaciável, porque, saciando-se no vosso abismo, a alma permanece sempre
faminta e sedenta de Vós, ó Trindade eterna, desejando ver-Vos com a luz da vossa
luz.
Saboreei
e vi com a luz da inteligência, ilustrada na vossa luz, o vosso abismo
insondável, ó Trindade eterna, e a beleza da vossa criatura. Por isso, vendo-me
em Vós, vi que sou imagem vossa por aquela inteligência que me é dada como
participação do vosso poder, ó Pai eterno, e também da vossa sabedoria, que é
apropriada ao vosso Filho Unigénito. E o Espírito Santo, que procede de Vós e
do vosso Filho, me deu a vontade com que posso amar-Vos.
Porque
Vós, Trindade eterna, sois criador e eu criatura; e conheci – porque Vós mo
fizestes compreender quando me criastes de novo no Sangue do vosso Filho –
conheci que estais enamorado da beleza da vossa criatura.
Oh
abismo, oh Trindade eterna, oh Divindade, oh mar profundo! Que mais me podíeis
dar do que dar-Vos a Vós mesmo? Sois um fogo que arde sempre e não se consome.
Sois Vós que consumis com o vosso calor todo o amor profundo da alma. Sois um
fogo que dissipa toda a frialdade e iluminais as mentes com a vossa luz, aquela
luz com que me fizestes conhecer a vossa verdade.
Espelhando-me
nesta luz, conheço-Vos como sumo bem, o bem que está acima de todo o bem, o bem
feliz, o bem incompreensível, o bem inestimável, a beleza sobre toda a beleza,
a sabedoria sobre toda a sabedoria: porque Vós sois a própria sabedoria, o
alimento dos Anjos, que com o fogo da caridade Vos destes aos homens.
Sois
a veste que cobre toda a minha nudez; e alimentais a nossa fome com a vossa
doçura, porque sois doce sem qualquer amargor. Oh Trindade eterna!
(Do
«Diálogo da Divina Providência», de Santa Catarina de Sena, virgem, Cap. 167:
ed. lat. Ingolstadii 1583, ff. 290v-291, Sec. XIV)
(SNL)
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