23/04/2014

Tratado dos vícios e pecados 68

Questão 84: Da causa do pecado, enquanto um é causa de outro.

Art. 3 — Se além da soberba e da avareza, há outros pecados especiais chamados capitais.

(II Sent., dist. XLII, q. 2, a. 3; De Malo, q. 8, a. 1).

O terceiro discute-se assim. — Parece que além da soberba e da avareza não há outros pecados especiais chamados capitais.

1. — Pois, a cabeça está para os animais, como a raiz, para as plantas, conforme diz Aristóteles; porque as raízes se assemelham à boca. Se portanto a cobiça é considerada raiz de todos os males, só ela, e nenhum outro pecado, deve ser tida como vício capital.

2. Demais. — A cabeça está numa certa ordem relativa aos outros membros, enquanto dela derivam, de algum modo, para todos eles, o sentido e o movimento. Ora, o pecado chama-se assim por implicar privação da ordem. Logo, não exerce função capital; e portanto, não se devem admitir nenhuns pecados capitais.

3. Demais. — Chamam-se capitais os crimes expiados com pena capital. Ora, certos pecados, em cada género deles, são punidos com essa pena. Logo, os vícios capitais não são vícios especificamente determinados.

Mas, em contrário, Gregório enumera certos vícios especiais a que chama capitais.

Capital vem de cabeça. Ora, esta propriamente é o membro principal e directivo de todo o animal. Por isso, chama-se metaforicamente, cabeça a tudo o que é princípio e directivo; e também os homens, que dirigem e governam, são chamados cabeças. Por onde, de um modo, a denominação de vício capital vem de cabeça, em sentido próprio. E, nesta acepção, chama-se pecado capital ao punido com a pena capital. Mas não é neste sentido que tratamos agora dos pecados capitais, mas consideramos aqui o pecado capital como derivado de cabeça, em outra acepção, a saber, a metafórica, significando que ele é o princípio ou o directivo dos outros pecados. E assim chama-se vício capital àquele donde os outros nascem, e principalmente quanto à origem da causa final que é a origem formal como já se disse (q. 72, a. 6). Donde, o vício capital não só é o princípio dos outros, mas também os dirige e, de certo modo, os chefia. Pois sempre a arte ou o hábito, a que pertence o fim, tem o principado e o império sobre os meios. Por isso Gregório compara esses vícios capitais com os chefes dos exércitos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A denominação de capital vem de cabeça. E implica uma certa derivação ou participação da cabeça, como tendo alguma propriedade desta e não como sendo a cabeça, em sentido literal. Por isso chamam-se capitais não só os vícios que desempenham a função de origem primeira, como a avareza, denominada raiz, e a soberba, denominada início; mas também os que desempenham a função de origem próxima de vários pecados.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O pecado carece de ordem pelo afastamento que causa, pois, por aí é um mal; e na verdade, segundo Agostinho, o mal é a privação do modo, da espécie e da ordem. Quanto ao que busca, contudo, o pecado implica um certo bem e, por este lado é susceptível de ordem.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A objecção colhe quanto ao pecado capital, enquanto assim chamado por causa do reato da pena. Ora, não é neste sentido que o tratamos agora.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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