18/02/2014

Tratado dos vícios e pecados 15


Questão 72: Da distinção entre os pecados


Art. 9 ― Se os vícios e os pecados se diversificam especificamente segundo as circunstâncias diversas.




O nono discute-se assim. ― Parece que os vícios e os pecados se diversificam especificamente segundo as diversas circunstâncias.

1. ― Pois, como diz Dionísio, o mal resulta de defeitos particulares 1. Ora, estes supõem alterações de circunstâncias particulares. Logo, da alteração destas resultam as espécies particulares de pecados.

2. Demais. ― Os pecados são determinados actos humanos. Ora, estes às vezes especificam-se pelas circunstâncias, como já se estabeleceu (q. 18, a. 19). Logo, diferem especificamente conforme à alteração das diversas circunstâncias.

3. Demais. ― As diversas espécies de gula estão assinaladas pelas palavras contidas nestes advérbios muito precipitadamente, sumptuosamente, demasiadamente, ardentemente, esforçadamente. Ora, tudo isto diz respeito a circunstâncias diferentes, pois, muito precipitadamente significa antes do tempo oportuno, demasiadamente, mais do que é necessário, e assim por diante. Logo, as espécies de pecado se diversificam pelas diversas circunstâncias.

Mas, em contrário, diz o Filósofo 2, que cada vício peca por nos fazer agir mais do que é necessário e quando não é tempo oportuno, dando-se o mesmo com todas as demais circunstâncias. Logo, por aí não se diversificam as espécies de pecados.

Como já dissemos (a. 8), sempre que há um motivo diferente para pecar há nova espécie de pecado, porque o motivo que leva a pecar é o fim e o objecto. ― Ora, dá-se às vezes, que as alterações das diversas circunstâncias têm um mesmo motivo. Assim, o iliberal, pelo mesmo motivo, recebe quando e onde não deve, e mais do que deve, e assim por diante em relação às demais circunstâncias, e isto o faz por causa do desejo desordenado de amontoar dinheiro. Ora, em tais casos, as alterações das diversas circunstâncias não diversificam as espécies de pecados, mas pertencem a uma e mesma espécie deles. ― Outras vezes porém acontece que as alterações das diversas circunstâncias provêm de motivos diferentes. Assim, o comermos muito precipitadamente pode provir de não podermos sofrer a dilacção do alimento, por causa da fácil consumição da humidade. O desejarmos comer imoderadamente pode provir da virtude da natureza, forte para diferir muito alimento. O desejarmos comida deliciosa provém do desejo dos prazeres da mesa. Donde, em tais casos, as alterações das diversas circunstâncias causam as diferentes espécies de pecados.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― O mal, como tal, é uma privação; e portanto, como as outras privações, diversifica especificamente, pelo que priva. Ora, o pecado não tira a sua espécie da privação ou da aversão, como já dissemos (a. 1), mas, da conversão para o objeto do ato.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― A circunstância nunca muda a espécie do acto, senão quando o motivo é outro.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― As diversas espécies de gula têm motivos diversos, como já dissemos.

Revisão da tradução portuguesa por ama

­­­­­­_______________________________________
Notas:
1. IV cap. De divin. Nom. (lect. XXII).
2. III Ethic. (lect. XV) et in IV (lect. I).





Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.