A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A.
O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
17 Chegada a tarde, foi Jesus com os doze. 18
Quando estavam à mesa e comiam, disse Jesus: «Em verdade vos digo que um de
vós, que come comigo, Me há-de entregar». 19 Então começaram a
entristecer-se, e a dizer-Lhe um por um: «Porventura sou eu?». 20
Ele disse-lhes: «É um dos doze que se serve comigo do mesmo prato. 21
O Filho do Homem vai, segundo está escrito d'Ele, mas, ai daquele homem por
quem for entregue o Filho do Homem! Melhor fora a esse homem não ter nascido». 22
Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, depois de pronunciada a bênção, partiu-o,
deu-lho e disse: «Tomai, isto é o Meu corpo». 23 Em seguida, tendo
tomado o cálice, dando graças, deu-lho, e todos beberam dele. 24 E
disse-lhes: «Isto é o Meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por
todos. 25 Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da
videira, até àquele dia em que o beberei novo no reino de Deus». 26
Cantados os salmos, foram para o monte das Oliveiras. 27 Então
Jesus, disse-lhes: «Todos vós vos escandalizareis, pois está escrito: “Ferirei
o pastor, e as ovelhas se dispersarão”. 28 Mas, depois de Eu
ressuscitar, preceder-vos-ei na Galileia». 29 Pedro, porém,
disse-Lhe: «Ainda que todos se escandalizem a Teu respeito, eu não». 30
Jesus disse-lhe: «Em verdade te digo que hoje, nesta mesma noite, antes que o
galo cante a segunda vez, Me negarás três vezes». 31 Porém, ele
insistia ainda mais: «Ainda que seja preciso morrer contigo, não Te negarei». E
todos diziam o mesmo.
JESUS CRISTO NOSSO SALVADOR
Iniciação à Cristologia
b) Jesus Cristo representa vicariamente todos os
homens ante Deus
Deus destinou Cristo a ser o salvador de
todos. Portanto a graça e as acções de Cristo não terminam n’Ele, mas sim estão
ordenadas no desígnio divino da salvação do género humano: ante Deus a obra de
Cristo termina em nós.
Assim
pois, Cristo, em virtude do desígnio divino da nossa salvação, representa os
homens ante Deus e oferece-se por todos, para merecer e reparar o pecado dos
homens.
Nesta
obra actua como Cabeça da humanidade, representando todos e conseguindo «para
nós» o que não podíamos conseguir. Isto é o que expressa a fórmula habitual de
representação «vigário» de Cristo: do
«justo pelos injustos, para levá-los a Deus» (1 Pe 3,18), de um por todos, «em
favor de» todos.
Há que assinalar que Jesus nos representa,
mas propriamente não nos substitui, ou só em algum aspecto, pois, por exemplo,
não decide por nós, uma vez que nós devemos arrepender-nos dos pecados e
incorporar-nos voluntariamente n’Ele como seus membros; e tão pouco nesta vida
nos poupa as penas do pecado, a morte incluída[1].
c) Cristo tem o poder de salvar os homens: Ele é o
autor da salvação
Deus dispôs que Jesus seja o novo Adão, a
Cabeça e o princípio da vida sobrenatural da linhagem humana.
Por isso
a sua humanidade, como instrumento do Verbo, tem o poder de salvar todos.
De modo
que Ele é o autor e o princípio da
salvação:
é «o
autor da vida» (Act 3,15; cf. Jo 11,25); é como uma fonte inexaurível de vida
divina no próprio seio da linhagem humana: «Ele, segundo a sua humanidade, é de
alguma forma o princípio de toda a graça de modo semelhante a como Deus é
princípio de todo o ser, (…) e por isto tem razão de cabeça»[2].
***
Agora passaremos a estudar os actos
concretos pelos quais Jesus Cristo nos redime, tendo presente que actua sempre
como nosso Mediador e Cabeça, por isso as suas obras servem para a nossa
salvação.
Capítulo IX
OS MISTÉRIOS DA VIDA TERRENA DE CRISTO E O SEU
VALOR REDENTOR
Na primeira parte vimos o mistério da
Encarnação do Filho de Deus, e agora, neste capítulo e nos seguintes,
consideraremos outros mistérios da vida de Jesus, ainda que, pela reduzida
extensão deste livro, só examinaremos brevemente alguns.
1. Toda a vida de Cristo forma parte do mistério
redentor
a) Mistérios da vida de Cristo aos quais se deve a
redenção do homem
O Credo menciona os mistérios da vida de
Cristo – desde a Encarnação até à sua Ascensão aos céus e a sua segunda vinda –
sob o enunciado:
«por nós
homens e por nossa salvação».
Com isto
significa-se que a redenção do homem se deve a cada um desses mistérios e, ao
mesmo tempo, que toda a vida de Cristo constitui no seu conjunto uma unidade
redentora a que se deve a nossa redenção como a uma única causa.
Mas
podemos distinguir mais e assinalar que Cristo – segundo o desígnio de Deus Pai
- «realizou a obra da redenção humana (…) principalmente
pelo mistério pascal da sua bem-aventurada Paixão, Ressurreição dentre os
mortos e gloriosa Ascensão.
Por este mistério,
com a sua Morte destruiu a nossa morte e com a sua Ressurreição restaurou a
nossa vida»[3].
Com
efeito, o mistério pascal é o que dá sentido redentor e unidade a toda a vida
de Jesus: todos os actos do seu caminhar terreno, desde a sua Encarnação (cf.
Heb 10,5-7), ordenam-se à sua Morte e Ressurreição, donde se consuma a redenção
dos homens.
E concretizando ainda mais, podemos dizer
que Cristo nos redime «especialmente»
com a sua sagrada Paixão e Morte.
Com
efeito, a escritura resume muitas vezes toda a obra redentora no Mistério da
Morte de Cristo, ou no seu sangue derramado na cruz: por ele somos redimidos,
lavados dos pecados, justificados, santificados e restabelecidos em comunhão
com Deus[4].
Também a
liturgia nos move a orar assim:
«Te
adoramos, Cristo, e te bendizemos porque com a tua Cruz redimiste o mundo». E o
Catecismo da Igreja Católica diz que «a redenção nos vem antes de tudo pelo
sangue da cruz»[5].
Mas não devemos entender que a salvação
seja fruto da Paixão de Cristo separada da sua Ressurreição, mas sim em união
indissolúvel com ela e com todos os mistérios da sua vida.
b) Traços comuns acerca do valor salvífico de todos
os mistérios de Cristo
Toda
a vida de Cristo é mistério de redenção.
Jesus
viveu em todo o momento a sua condição de Sacerdote, e ofereceu a seu Pai em
sacrifício por nós todas as circunstâncias da sua vida; de modo que em todo o
momento exerceu a sua função mediadora para nos livrar do pecado e levar-nos à
união com Deus.
Todos os
actos de Cristo, ainda os que parecem menos importantes e pequenos, são
redentores e possuem um valor transcendente de salvação (v g.: as carências
materiais que experimentou, o seu trabalho, o seu cansaço, as dificuldades da
vida, etc.)[6]:
todos
eles são meritórios e foram oferecidos como sacrifício ao Pai por nós com uma
entrega completa de si e com um amor imenso.
Todos
os actos de Cristo nos revelam Deus e o seu desígnio salvífico.
Jesus
viveu em todo o momento a sua condição de Mestre que nos revela Deus.
Por Ele
conhecemos Deus visivelmente[7],
pois o Verbo eterno manifestava-se aos homens em todos os seus actos humanos,
em cada uma das suas palavras, gestos e atitudes.
E
igualmente todos os seus actos revelam o Pai que o enviou e com ele é uma só
coisa:
«Toda a
vida de Cristo é revelação do Pai (…) Jesus pode dizer: ‘Quem me vê a mim, vê o
Pai’ (Jo 14,9) (…) Nosso Senhor, ao ter-se feito homem para cumprir a vontade
do Pai, manifestou-nos o amor que Deus nos tem’ (1 Jo 4,9)»[8]
E assim, Jesus, em todas as suas obras
«manifesta plenamente o homem ao próprio homem»[9]:
revela-nos
a dignidade e a vocação do homem, criado à sua imagem, chamado a ser filho de
Deus e a participar de uma comunhão de vida com a Trindade.
Todos
os actos de Jesus são um exemplo e ensinamento de vida para nós.
Não
podíamos imitar e seguir Deus a quem não víamos, mas quando o Filho de Deus se
faz homem constitui-se para nós no modelo que podemos contemplar, seguir e
imitar.
Jesus, em
todo o momento deu-nos exemplo para que vivamos como filhos de Deus.
2. Mistério da infância de Jesus
a) O mistério da Natividade
São Lucas narra-nos com emoção o nascimento
do Filho de Deus em Belém num estábulo pois não houve outro alojamento para a
Sagrada Família (cf. 2,1-20).
E os
anjos explicam este grande mistério que constitui uma grande alegria para
todos:
«nasceu-vos
na cidade de David o salvador, que é o Cristo Senhor» (Lc 2 , 10-11 ).
Com efeito, Deus apareceu neste mundo.
Manifestou-se
a luz verdadeira que ilumina todo o homem, a luz que brilha nas trevas (cf. Jo
1,4-5.9).
Manifestou-se
a bondade de Deus e o seu amor misericordioso aos homens (cf. Tit 3,4).
Começou a
redenção, o «admirável intercâmbio» pelo qual o Criador do género humano,
fazendo-se homem e nascendo duma virgem, nos faz partícipes da sua divindade.
E, além do mais, desde a cátedra de Belém,
Jesus Menino distribui tantos ensinamentos que nunca acabaremos de os
considerar.
Talvez o
principal é que o Filho de Deus vem libertar-nos do mal e vencer o inimigo, não
com as armas do poder e força humanas, mas sim com as do amor e a humildade,
com o seu kénosis (cf. Flp 2,5-7):
aqui está
a verdadeira sabedoria e força de Deus, que são mais fortes que os homens (cf.
1 Cor 1,24-25).
E, fazendo-se um Menino, ensina-nos que «fazer-se criança em relação a Deus é a
condição para entrar no reino (cf. Mt 18,3-4); para isso é necessário
abaixar-se (cf. Mt. 23,12), fazer-se pequeno (…) para ‘fazer-se filhos de Deus’
(Jo 1,12)»[10].
b) A Epifania
«Epifania»
significa «manifestação».
A
epifania de Jesus é a sua manifestação como Messias de Israel e Salvador do
mundo.
Se na
Natividade Jesus foi manifestado pelos anjos aos pastores, gente de Israel,
neste mistério – na adoração dos magos – manifesta-se aos gentios por meio de uma
estrela (cf. Mt 2,1-12).
O Evangelho vê nos «magos» ou sábios os
representantes de povos vizinhos do Oriente, as primícias das nações que
acolhem o Salvador e a Boa Nova da salvação.
São
Mateus quer mostrar-nos desde o princípio que a salvação é universal: todos os
homens estão chamados a ser «co-herdeiros, membros do mesmo corpo e partícipes
da promessa de Jesus Cristo» (Ef 3,6).
Deus chama todos a ir a Cristo, e todos
devemos responder como os magos.
Que viram
a estrela no oriente, deixaram-se guiar por ela, procuraram o Senhor, e
chegaram cheios de alegria até ao Menino com Maria, sua mãe.
(continua)
[1]
Como podemos ver, a acção vicária de Cristo como nossa Cabeça não tem o sentido
que lhe outorga a «substituição penal», que rejeitámos.
[2]
S. TOMÁS DE AQUINO, De Veritate, q
29, a 5.
[4]
Cf. Rom 5,9; Ef 1,7; Col 1,20; Heb 9,14; 13,12; 1 Pd 1,19; 1Jo 1,7; Ap 1,5;
5,9-10; etc.
[5]
CCE, 517. A razão é – como veremos depois – que a Paixão de Cristo nos liberta
do pecado por mais títulos. Além de ser a causa eficiente da nossa salvação
(como o é a Ressurreição), mereceu-a, e também constitui uma satisfação pelo
pecado: só ele é o preço da nossa redenção. E a própria exaltação gloriosa de
Cristo se deve ao mérito da sua Paixão (cf. Flp 2,8-9; Heb 2,9).
[6]
Cf. CCE, 517.
[7]
Cf. Prefácio I de natal
[8] CCE, 516.
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