Por volta das ez horas da noite passei
por uma rua central da cidade do Porto. O que vi deixou-me atónito e curioso.
Parei o automóvel e comecei a andar a pé.
Nos vãos dos estabelecimentos de boa
aparência estavam numerosos grupos de dez ou vinte pessoas, sentados, deitados,
de cócoras embrulhados em cobertores, conversando animadamente.
Gente muito jovem, rapazes e raparigas
e alguns mais velhos que eram quem falava mais alto.
O que fazia ali aquela gente?
Nada… absolutamente nada. O vestuário
indefinido, o aspecto igualmente e, todos, com um ar de resignação estampado
nos rostos não muito limpos.
Seriam, estes, os tristemente famosos sem-abrigo de que tanto se fala mas
que, talvez, muitos nunca tenham contactado directamente.
Fiquei por ali, andando para trás e
para a frente fazendo um esforço para não me fazer notado como um curioso
movido por qualquer impulso. Não sou um perito mas não me pareceu que houvesse
sintomas de drogas ou outra adição do género. Aliás, não se via um unico agente
policial.
Estavam ali e… era tudo!
Passados uns quinze minutos chegaram
dois automóveis que transportavam gente jovem, alguns muito jovens. Dos
porta-bagagens tiraram grandes caixas térmicas, e sacos de variado tamanho.
Continham comida! Sopa, sandes, alguns
bolos.
Ordenadamente toda aquela gente foi-se
colocando em fila para receber o seu quinhão da, possivelmente, única refeição
do dia.
A cena, por si só, deixou-me inquieto
e, ao mesmo tempo, estranhamente feliz:
Inquieto pela juventude carenciada de
uma simples refeição necessariamente frugal;
Feliz por constatar que existe muita
gente jovem que, a desoras, procura outros a quem prestar assistência a sério,
com coisas práticas, em espécie e também em palavras que revelavam um à-vontade
muito grande de quem faz algo com um simples e natural gesto solidário.
Não interessa muito considerar se era
uma noite de Janeiro, fria, gelada, chovendo a cântaros; podia ser uma noite
cálida de Agosto porque a única diferença seria, talvez, menos desconforto, o
que, sim, me importa, é a falta de consideração, de um breve pensamento, uma
simples oração, de tantos e tantas – nos quais infelizmente tenho de incluir-me
– nem lhe ocorre ou preocupa.
Por mim, fiz um propósito que desejo
veemente cumprir:
Não
adormecer um único dia, no sossego e conforto do meu lar ou onde estiver, sem pedir
à Mãe comum e Rainha de todos os portugueses, que lance um olhar carinhoso por
estes filhos e súbditos seus.
Querem, os que me leem, acompanhar-me
neste propósito?
ama
Sem dúvida!
ResponderEliminarRezo muitas vezes por aqueles que nada têm.
Tocante!
Um abraço