15/12/2013

Leitura espiritual para 15 Dez

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Para ver, clicar SFF.

Evangelho: Mt 10, 16-42

16 «Eis que Eu vos envio como ovelhas entre lobos. Sede, pois, prudentes como serpentes e simples como pombas. 17 Acautelai-vos dos homens, porque vos farão comparecer nos seus tribunais e vos açoitarão nas sinagogas. 18 Sereis levados por Minha causa à presença dos governadores e dos reis, para dar testemunho diante deles e diante dos gentios. 19 Quando vos entregarem, não cuideis como ou o que haveis de falar, porque naquela hora vos será inspirado o que haveis de dizer. 20 Porque não sereis vós que falais, mas o Espírito de vosso Pai é o que falará em vós. 21 O irmão entregará à morte o seu irmão e o pai o seu filho; os filhos se levantarão contra os pais e lhes darão a morte. 22 Vós, por causa do Meu nome, sereis odiados por todos; aquele, porém, que perseverar até ao fim será salvo. 23 Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do Homem. 24 «Não é o discípulo mais que o mestre, nem o servo mais que o senhor. 25 Basta ao discípulo ser como o mestre e ao servo como o senhor. Se eles chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus familiares! 26 «Não os temais, pois, porque nada há encoberto que não se venha a descobrir, nem oculto que não venha a saber-se. 27 O que Eu vos digo às escuras, dizei-o às claras e o que é dito ao ouvido, pregai-o sobre os telhados. 28 «Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode lançar a alma e o corpo na Geena. 29 Porventura não se vendem dois passarinhos por uns tostões? E, todavia, nem um só deles cairá no chão sem a permissão de vosso Pai. 30 Até os próprios cabelos da vossa cabeça estão todos contados. 31 Não temais, pois: vós valeis mais que muitos passaritos. 32 «Todo aquele, portanto, que Me confessar diante dos homens, também Eu o confessarei diante do Meu Pai que está nos céus. 33 Porém, quem Me negar diante dos homens, também Eu o negarei diante do Meu Pai, que está nos céus. 34 «Não julgueis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer a paz, mas a espada. 35 Porque vim separar “o filho do seu pai e a filha da sua mãe e a nora da sua sogra. 36 E os inimigos do homem serão os seus próprios familiares”. 37 Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim. 38 Quem não toma a sua cruz e Me segue, não é digno de Mim. 39 Quem se prende à sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por Meu amor, acha-la-á. 40 «Quem vos recebe, a Mim recebe, e quem Me recebe, recebe Aquele que Me enviou. 41 Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá a recompensa do profeta; quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá a recompensa de justo. 42 E todo aquele que der de beber um simples copo de água fresca a um destes pequeninos, por ele ser Meu discípulo, na verdade vos digo que não perderá a sua recompensa».



CAMINHO DE PERFEIÇÃO

CAPÍTULO 33.
Trata da grande necessidade que temos de que o Senhor nos dê o que pedimos nestas palavras de Pater noster: «Panem nostrum quotidianum da nobis hodie».

1. Pois, entendendo o bom Jesus, como já disse, que difícil coisa era esta a que Ele oferece por nós, pois conhece a nossa fraqueza, e que muitas vezes damos a entender que não entendemos qual é a vontade do Senhor, - como somos fracos e Ele tão piedoso -, viu que era mister dar remédio, porque, deixar de dar o que está dado, de maneira nenhuma nos convém, porque nisso está todo o nosso ganho. Mas viu ser dificultoso o cumpri-lo, porque dizer a um regalado e rico que é vontade de Deus que tenha conta em moderar a sua mesa, para que comam, ao menos um pouco de pão, outros que morrem de fome, achará mil razões para não entender isto, senão a seu propósito; pois, dizer a um murmurador que é a vontade de Deus querer tanto para o seu próximo como para si, não o pode levar com paciência, nem há razão que baste para o entender. Pois, dizer a um religioso habituado a liberdade e a regalo que tem de ter conta em dar bom exemplo, e veja que não é já só com palavras que há-de cumprir o que disse com esta palavra, senão que o jurou e prometeu e que é vontade de Deus que cumpra seus votos, e veja que, se dá escândalo, vai muito contra eles, ainda que de todo não os quebrante; que prometeu pobreza, que a guarde sem rodeios, pois isto é o que o Senhor quer e, não há meio, ainda agora, de o quererem alguns; que seria, pois, se o Senhor não fizesse o demais com o remédio que deixou? Não haveria senão muito poucos que cumprissem esta palavra que por nós disse a Seu Pai: «Fiat voluntas tua».
Pois vendo o bom Jesus a necessidade, buscou um meio admirável por onde nos mostrou o máximo de amor que nos tema e, em Seu nome e no de Seus irmãos, fez esta petição: «O pão nosso de cada dia, nos dai hoje, Senhor».
Entendamos, irmãs, por amor de Deus, isto que pede o nosso bom Mestre, que nos vai a vida em não passar de corrida sobre isto, e tende em muito pouco o que haveis dado, pois tanto haveis de receber.

2. Parece-me agora a mim - salvo outro melhor parecer - que, vendo o bom Jesus o que por nós tinha dado, e a grande dificuldade que havia como está dito por sermos nós tais como somos e tão inclinados a coisas baixas e de tão pouco amor e ânimo, era mister vermos o Seu para despertarmos, e isto não urna vez, mas cada dia, aqui se deve ter determinado a ficar connosco. E, como era coisa tão grave e de tanta importância, quis que nos viesse da mão do Eterno Pai. Porque, ainda que sabia que o que Ele fizesse na terra o faria Deus no Céu e o teria por bom, pois são uma mesma coisa e a Sua vontade e a de Seu Pai uma só, era tanta a humildade do bom Jesus, que quis como que pedir licença, porque já sabia que era amado do Pai e que n'Ele se deleitava. Bem entendeu que pedia mais nisto do que tinha pedido em tudo o mais, porque já sabia a morte que Lhe haviam de dar, e as desonras e afrontas que havia de padecer.

3. Pois, que Pai haveria, Senhor, que tendo-nos dado Seu Filho, e tal Filho, e pondo-O em tal estado, quisesse consentir que ficasse entre nós a padecer de novo cada dia? - Por certo, nenhum, Senhor, a não ser o Vosso; bem sabeis a Quem pedis.
Oh! valha-me Deus! que grande amor o do Filho, e que grande amor o do Pai! Ainda não me espanto tanto do bom Jesus, porque como já tinha dito «fiat voluntas tua», tinha-o de cumprir como Quem é. Sim, que não é como nós, pois, como a conhece, cumpre-a amando-nos como a Si, e assim andava a buscar como cumprir este mandamento com maior perfeição, embora fosse à Sua custa. Mas Vós, Pai Eterno, como o consentistes? Como quereis ver cada dia em tão ruins mãos o Vosso Filho? Já que uma vez quisestes que o estivesse e o consentistes, bem vedes como Lhe pagaram!
Como pode a Vossa piedade, cada dia, ver as injúrias que Lhe fazem? E quantas não se hão-de hoje fazer a este Santíssimo Sacramento! E quantas mãos inimigas Suas não O há-de ver o Pai! Que desacatos o deste hereges!

4. Ó Senhor Eterno! Como aceitais tal petição? Como o consentis? Não vejais o Seu amor, que a troco de fazer perfeitamente a Vossa vontade e de a fazer por nós, se deixará fazer em pedaços cada dia! É de Vós Senhor meu, o olhar a isto, já que a Vosso Filho nada se Lhe põe diante, porque há-de ser todo o nosso bem à Sua custa? Porque a tudo Se cala e não sabe falar por Si, senão por nós? Pois, não haverá quem fale por este amantíssimo Cordeiro?
Tenho reparado que só nesta petição duplica as palavras, porque diz primeiro e pede que Lhe deis este pão de cada dia, e torna a dizer «dai-no-lo hoje, Senhor». Põe-se também diante de Seu Pai, como a dizer-Lhe: já que uma vez no-lO deu para que morresse por nós, que já é «nosso», não no-lO torne a tirar, mas O deixe servir, cada dia, até se acabai o mundo; que isto vos enterneça o coração, filhas minhas, para amar o Vosso Esposo: não há escravo que, de boa vontade, diga que o é, e o bom Jesus parece que se honra disso.

5. Ó Eterno Pai! Muito merece esta humildade! Com que tesouro compraremos o Vosso Filho? Vendê-lO, já sabemos que por trinta dinheiros; mas para O comprar, não há preço que baste! Como se faz aqui uma sé coisa connosco pela parte que tem de nossa natureza e, como Senhor da Sua vontade, lembra a Seu Pai, pois que é Sua, que no-la pode dar. E assim diz: «O Pão Nosso». Não faz diferença entre Si e nós, mas nós fazemo-la entre nós e Ele, para não nos darmos cada dia por Sua Majestade.

CAPÍTULO 34.
Prossegue na mesma matéria. É muito útil para depois de se ter recebido o Santíssimo Sacramento.

1. Nesta petição, «de cada dia», parece dizer que é «para sempre». Estando eu a pensar porque razão, depois do Senhor ter dito «cada dia», tornou a dizer «nos dai hoje, Senhor», pareceu-me a mim que, o Ele ser nosso cada dia, é porque O possuímos aqui na terra e o possuiremos também no Céu, se nos aproveitarmos bem da Sua companhia, pois não fica connosco para outra coisa senão para nos ajudar e sustentar e animar a fazer esta vontade que já dissemos se cumpra em nós.

2. O dizer «hoje», me parece que é para um dia, isto é, enquanto durar o mundo, e não mais. E é bem na verdade um só dia! Quanto aos desventurados que se condenam e não O gozarão na outra, não é por culpa do Senhor se se deixam vencer, pois Ele não os deixa de animar até ao fim da batalha. Não terão assim com que se desculpar nem de que se queixar do Pai, por lho ter tomado na melhor altura. E assim Lhe diz Seu Filho, que pois não é mais que um dia, Lho deixe passar em servidão; e que Sua Majestade já no-lO deu e enviou ao mundo só por Sua vontade, que Ele quer agora por Sua própria vontade não nos desamparar, mas ficar-se aqui connosco para maior glória de Seus amigos e pena dos Seus inimigos.
Que agora novamente não pede mais que «hoje» ao dar-nos este Pão sacratíssimo; Sua Majestade no-lo deu para sempre - como já disse - este mantimento e maná da humanidade, que O achamos como queremos; e, a não ser por nossa culpa, não morreremos de fome, pois, de todos os modos e maneiras que a alma quiser comer, achará no Santíssimo Sacramento sabor e consolação. Não há necessidade, nem trabalho, nem perseguição que não seja fácil de passar, se começamos a saborear os Seus.

3. Pedi, filhas, juntamente com este Senhor ao Pai, que vos deixe hoje a vosso Esposo, que não vos vejais neste mundo sem Ele. Já basta, para temperar tão grande contentamento, ficar tão escondido nestes acidentes de pão e vinho, que é farto tormento para quem não tem outra coisa que amar, nem outro consolo; mas suplicai-Lhe que não vos falte, e vos dê a disposição necessária para O receber dignamente.

4. De outro pão, não tenhais cuidado, vós as que mui deveras vos entregaste à vontade de Deus; digo, neste tempo de oração, tratai de coisas mais importantes, que outro tempo há para trabalhar e ganhar de comer.
Mas com cuidado, não cureis em tempo algum de gastar nisso o pensamento; senão que trabalhe o corpo, pois bem é que procureis sustentar-vos, e descanse a alma. Deixai este cuidado - como longamente ficou dito a vosso Esposo: Ele o terá sempre.

5. É como se um criado entra a servir: tem conta em contentarem tudo o seu senhor. Mas este está obrigado a dar de comer ao servo enquanto está em sua casa e o serve, salvo se é tão pobre que não tem para si nem para ele. Aqui não se dá isto: é e será sempre rico e poderoso. Pois, não seria bonito andar o criado pedindo de comer, pois sabe que seu amo tem cuidado de lho dar e o há-de ter. Com razão lhe dirá que se ocupe ele em o servir e em como o há-de contentar por andar com o cuidado ocupado naquilo em que não o devia ter, não faz coisa com coisa.
Assim pois, irmãs, tenha quem quiser cuidado de pedir esse pão; quanto a nós, peçamos ao Pai Eterno que mereçamos receber o nosso Pão celestial de modo que, embora os olhos do corpo não se possam deleitar em O ver por estar encoberto, Ele se descubra aos da alma e se lhe dê a conhecer, pois é outro mantimento de contentos e regalos, e sustenta a vida.

6. Pensais que não é mantimento ainda mesmo para estes corpos, este manjar santíssimo, e grande medicina até para males corporais? Eu sei que o é, e conheço uma pessoa de grandes enfermidades que, estando muitas vezes com fortes dores, como com a mão se lhe tiravam e ficava boa de todo. Isto era muito de ordinário e de males muito conhecidos, que não se podiam fingir, a meu parecer. E porque as maravilhas que faz este santíssimo Pão nos que dignamente o recebem são muito notórias, não digo muitas das que poderia dizer desta pessoa, que digo que o podia saber, e sei que não é mentira. Mas a esta tinha-lhe o Senhor dado fé tão viva que, quando ouvia alguém dizer que quisera ter vivido no tempo em que Cristo, nosso Bem, andava no mundo, ria-se dentro de si, parecendo-lhe que, tendo-O tão verdadeiramente no Santíssimo Sacramento como então, que mais se lhes dava?

7. Mais sei desta pessoa que durante muitos anos, embora não foss muito perfeita, quando comungava, procurava reforçar a fé, nem mais ser menos do que se visse com os olhos corporais entrar em sua pousada, Senhor; e, como cria verdadeiramente que este Senhor entrava na sua pobre pousada, se desocupava de todas as coisas exteriores tanto quanto, lhe era possível, e entrava com Ele. Procurava recolher os sentidos, par que todos entendessem tão grande bem, digo, não embaraçassem a alui para O conhecer. Considerava-se a Seus pés e chorava com a Madalena nem mais nem menos que se O vira com os olhos corporais em casa d fariseu; pois, embora não sentisse devoção, a fé lhe dizia que Ele estava a: realmente.

8. Porque, se não nos queremos fazer parvos e cegar o entendimento não há que duvidar que isto não é representação da imaginação, como quando consideramos o Senhor na cruz, ou noutros passos da Paixão, que representamos em nós o que se passou. Isto passa-se agora e é inteira verdade, e não há para que O ir buscar a outra parte mais longe; mas, visto que sabe que, enquanto o calor natural não consome os acidentes do pão, está connosco o bom Jesus, cheguemo-nos a Ele. Pois, se quando andava no mundo só o tocar Suas vestes sarava os enfermos, como duvidar, se tema fé, que faça milagres estando tão dentro de mim, e que nos dará o que Lhe pedirmos, pois está em nossa casa? E não costuma Sua Majestade paga mal a pousada, quando Lhe dão boa hospedagem.

9. Se vos dá pena o não O ver com os olhos corporais, olhai que não nos convém: uma coisa é vê-lO glorificado e outra quando andava pelo mundo. Não haveria quem o sofresse com este nosso fraco natural, nem haveria mundo, nem quem quisesse parar nele. Porque, ao ver esta Verdade eterna, ver-se-ia ser mentira e engano todas as coisas de que fazemos caso cá na terra. E vendo tão grande Majestade, como ousaria uma pecadorazinha como eu, que tanto O tenho ofendido, estar tão perto d'Ele? Debaixo das aparências daquele pão está mais acessível; porque, se o rei se disfarça parece que nada se nos daria de conversar com ele sem tantas cerimónias e respeitos; parece estar obrigado a sofrê-lo, pois se disfarçou. Quem ousara aproximar-se tão indignamente, com tanta tibieza, com tantas imperfeições!

10. Oh! como não sabemos o que pedimos, e como o viu bem melhor a Sua Sabedoria! Porque, àqueles a quem vê que se hão-de aproveitar de Sua presença, Ele se descobre; e, ainda que O não vejam com os olhos corporais, tem muitos meios de se mostrar à alma por grandes sentimentos interiores e por diversas vias. Ficai-vos com Ele de boa vontade; não percais tão boa ocasião de negociar, como é a hora depois de ter comungado. Se a obediência, irmãs, vos mandar outra coisa, procurai deixar a alma com o Senhor; porque, se logo levais o pensamento a outra coisa e não fazeis caso, nem tendes em conta Quem está dentro de vós, como se há-de dar a conhecer? Esta, pois, é boa ocasião para que vos ensine o nosso Mestre, e para o ouvirmos e Lhe beijarmos os pés por nos ter querido ensinar, e suplicar-Lhe que não se vá.

11. Se havemos de pedir isto, olhando para uma imagem de Cristo que estamos a ver, tolice me parece deixar a própria pessoa a fim de olhar para um seu retrato. Não o seria, de facto, se tivéssemos um retrato de uma pessoa a quem quiséssemos muito, e a própria pessoa nos viesse ver, deixar de falar com ela e ter toda a conversação com o seu retrato? Sabeis quando isso é muito bom, e coisa em que muito me deleito? Quando está ausente a mesma pessoa ou nos quer dar a entender, por meio de muita aridez, que o está, é grande consolo ver uma imagem de Quem amamos com tanta razão. Para todos os lados que volvêssemos os olhos, a quisera eu ver. Em que melhor coisa, nem mais aprazível à vista, os poderemos empregar, do que n'Aquele que tanto nos ama e tem, em Si, todos os bem? Desventurados estes hereges que perderam, por sua culpa, esta consolação, além de outras.

12. Mas acabando de receber o Senhor, pois tendes a própria pessoa diante de vós, procurai cerrar os olhos do corpo e abrir os da alma, e olhai para o vosso coração; eu vos digo, e outra vez o digo e muitas o quereria dizer, que, se tomais este costume todas as vezes que comungardes, e procurardes ter tal consciência que vos seja lícito gozar amiúde deste Bem, não vem tão disfarçado que, como já disse, de muitas maneiras não se dê a conhecer conforme ao desejo que temos de O ver; e tanto O podeis desejar, que de todo se vos descubra.

13. Mas, se não fazemos caso d'Ele, e ao recebê-lO, nos vamos com Ele buscar outras coisas mais baixas, que há-de fazer? Há-de nos trazer à força para que vejamos que se nos quer dar a conhecer? Não! que não O trataram assim tão bem quando se deixou ver por todos a descoberto e dizia claramente quem era, pois muito poucos foram os que n'Ele acreditaram. E assim, já muita misericórdia nos faz a todos, querendo Sua Majestade entendamos ser Ele que está no Santíssimo Sacramento. Mas que O veja a descoberto, e comunicar Suas grandezas e dar Seus tesouros, não quer senão àqueles a quem entende que muito O desejam, porque estes são Seus verdadeiros amigos. Que eu vos digo, quem não o for, e não O chegar receber como tal, tendo feito o que está em si, que nunca O importune para que se lhe dê a conhecer. Não vê chegar a hora de ter cumprido com o que manda a Igreja, e logo se vai da Sua casa e procura afastá-lO de si. E assim este tal, com outros negócios, ocupações e embaraços do mundo, parece que o mais cedo possível, se dá pressa a que não lhe ocupe a casa o Senhor dela.


santa teresa de jesus

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