A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Mt 7, 12-29
12 «Portanto, tudo o que vós quereis que
os homens vos façam, fazei-o também vós a eles; esta é a Lei e os Profetas. 13
«Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que
leva à perdição, e muitos são os que entram por ele. 14 Que estreita
é a porta, e que apertado o caminho que leva à Vida, e quão poucos são os que
dão com ele! 15 «Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós
vestidos de ovelhas, mas por dentro são lobos ferozes. 16 Pelos seus
frutos os conhecereis. Porventura se colhem uvas dos espinhos, ou figos dos
abrolhos? 17 Assim toda a árvore boa dá bons frutos, e toda a árvore
má dá maus frutos. 18 Não pode uma árvore boa dar maus frutos, nem
uma árvore má dar bons frutos. 19 Toda a árvore que não dá bons
frutos será cortada e lançada ao fogo. 20 Vós os conhecereis, pois,
pelos seus frutos. 21 «Nem todo o que Me diz: “Senhor, Senhor”, entrará
no Reino dos Céus, mas só o que faz a vontade de Meu Pai que está nos céus. 22
Muitos Me dirão naquele dia: “Senhor, Senhor, não profetizámos nós em Teu nome,
e em Teu nome expulsámos os demónios, e em Teu nome fizemos muitos milagres?”. 23
E então Eu lhes direi bem alto: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de Mim, vós que
praticais a iniquidade”. 24 «Todo aquele, pois, que ouve estas
Minhas palavras e as observa será semelhante ao homem prudente que edificou a
sua casa sobre rocha. 25 Caiu a chuva, transbordaram os rios,
sopraram e investiram os ventos contra aquela casa, mas ela não caiu, porque
estava fundada sobre rocha. 26 Todo aquele que ouve estas Minhas
palavras e não as pratica será semelhante a um homem insensato que edificou a
sua casa sobre areia.27 Caiu a chuva, transbordaram os rios,
sopraram e investiram os ventos contra aquela casa, e ela caiu, e foi grande a
sua ruína». 28 Quando Jesus acabou estes discursos, estavam as
multidões admiradas com a Sua doutrina, 29 porque os ensinava como
quem tinha autoridade, e não como os seus escribas.
CAMINHO DE PERFEIÇÃO
CAPÍTULO 23.
Trata de quanto
importa não voltar atrás quem começou o caminho da oração e volta a falar do
muito que importa que seja com determinação.
1. Pois digo que
vai muitíssimo em se começar com uma grande determinação, e isto por tantas
causas, que seria preciso alongar-me muito se as dissesse. Só duas ou três vos
quero dizer, irmãs.
Uma é que não é
razão ou justo que não demos a quem tanto nos tem dado e continuamente dá, uma
coisa que já nos tínhamos resolvido a querer-Lhe dar, (não certamente sem
interesse, mas antes com tão grandes lucros para nós) e que é esta preocupação
em sermos fiéis, com toda a determinação, e não como quem empresta uma coisa
para voltar a tirar. Isto não me parece a mim que seja dar; antes fica sempre
com algum desgosto aquele a quem emprestaram uma coisa e lha tornam a tirar, em
especial se lhe faz falta e já a tinha como sua; ou então, se são amigos, e
aquele que lha emprestou é devedor de muitas dádivas feitas sem qualquer
interesse, com razão isto lhes parecerá mesquinho e de muito pouco amor, pois
nem ainda uma coisita quer deixar em seu poder, nem sequer ao menos como sinal
de amor.
2. Que esposa
haverá que, recebendo muitas joias de valor de seu esposo, não lhe dê sequer um
anel, não pelo que vale, que tudo é já seu, mas em testemunho de que é sua até
morrer? Pois, merecerá menos este Senhor, para que d'Ele façamos tão pouco,
dando e retomando um nada que Lhe demos? Que este bocadinho de tempo que nos
determinamos a dar-Lhe do muito que gastamos connosco e com quem não nos há-de
agradecer, já que Lhe queremos dar esses instantes, dêmos-Lhe o pensamento
livre e desocupado de outras coisas, e com toda a determinação de nunca mais
Lho tornarmos a tirar, por mais trabalhos que daí nos advenham, nem por contradições,
nem securas; mas que eu já tenha esse tempo por coisa não minha, e pense que mo
podem pedir por justiça, quando eu de todo não Lho quiser dar.
3. Digo «de todo»,
para que não se entenda que, deixar de o dar algum dia ou em alguns, por
ocupações justas ou por qualquer indisposição, já seja retomá-lo. A intenção
seja firme, que não é nada melindroso o meu Deus; não olha a minudências, antes
terá de que vos agradecer, pois isto é dar alguma coisa. O demais é bom para
quem não é franco, senão tão apertado que não tem coração para dar; muito faz
se empresta. Enfim, faça-se alguma coisa, que tudo toma em conta este Senhor
nosso; tudo faz conforme queremos. Para tomar-nos contas não é nada mesquinho,
mas generoso; por grande que seja o alcance tem em pouco perdoá-lo. Para nos
pagar é tão cuidadoso, que não tenhais medo deixe um só erguer de olhos, se nos
lembrarmos d'Ele, sem prémio.
4. Outra razão é
porque o demónio não tem tanto pé para tentar. Tem grande medo às almas
determinadas, pois já tem experiência do muito dano que lhe fazem e que tudo
quanto dispõe para as prejudicar, vem a ser em proveito delas e de outros, e
ele sai com perda. Não devemos, no entanto, andar descuidadas nem confiar
nisto, porque nos havemos com gente traidora, e aos avisados não ousa tanto
acometer, porque é muito cobarde; mas, se visse descuido, faria grande dano. E
se tem a alguém por mudadiço e que não está firme no bem, nem com grande determinação
de perseverar, não o deixaria em paz nem a sol nem a sombra. Meter-lhe-á medos
e mostrar-lhe-á inconvenientes que não mais acabam. Eu sei isto muito bem por
experiência; e assim o soube dizer e digo, pois ninguém sabe o muito que isto
importa.
5. A outra razão -
e faz muito ao caso -, é que a alma peleja com mais ânimo. Já sabe que, venha o
que vier, não há-de voltar atrás. É como quem está numa batalha e sabe que, se
o vencem, não lhe perdoarão a vida e, se não morre na batalha, há-de morrer
depois. Peleja com mais determinação, quer vender bem cara a vida - como dizem
- e não teme tanto os golpes, porque tem diante dos olhos o quanto lhe importa
a vitória e que nela lhe vai a vida.
É também
necessário começar com a segurança de que, se não nos deixamos vencer, sairemos
bem da empresa; isto, sem nenhuma dúvida, pois, por pouco lucro que se tire,
sairemos muito ricos. Não tenhais medo que vos deixe morrer de sede o Senhor
que nos chama para que bebamos desta fonte. Isto já ficou dito e quisera eu dizê-lo
muitas vezes, porque este temor acobarda muito as pessoas que ainda não
conhecem de todo a bondade do Senhor por experiência, ainda que o conheçam pela
fé. Mas é grande coisa ter experimentado a amizade e carinho com que trata aos
que vão por este caminho e como faz quase tudo à Sua custa.
6. Os que isto não
experimentaram, não me maravilho que queiram a segurança de algum interesse.
Pois já sabeis que é de cem por um ainda nesta vida, e que o Senhor disse:
«Pedi e recebereis». Se não credes a Sua Majestade nas passagens do Seu
Evangelho em que nos assegura isto, de pouco aproveita, irmãs, que eu quebre a
cabeça em vo-lo dizer. Digo, no entanto, a quem tiver alguma dúvida, que pouco
perde em experimentá-lo; isto tem de bom esta viagem: nela dão-nos mais do que
pedimos e até do que acertaríamos a desejar. Isto é infalível, eu o sei; e
aquelas de vós que, por bondade do Senhor, o sabeis por experiência, eu posso
apresentar por testemunhas.
CAPÍTULO 24.
Trata de como se
há-de rezar com perfeição a oração vocal e quão junta anda esta com a mental.
1. Voltemos, pois,
agora a falar com as almas que eu disse não se poderem recolher, nem prender o
entendimento em oração mental, nem fazer considerações. Não mencionaremos aqui
estas duas coisas, pois isto não é para vós; mas há, de facto, muitas pessoas a
quem só o nome de oração mental ou contemplação parece que atemoriza, e porque,
se algumas destas viera esta casa porque, como já disse, nem todas vão pelo
mesmo caminho.
2. Quero agora
aconselhar-vos (e até posso dizer ensinar-vos porque, como mãe, pelo ofício que
tenho de prioresa, é lícito), como haveis de rezar vocalmente, porque é justo
entendais o que dizeis. E, como quem não pode pensar em Deus, pode ser que
também se canse com largas orações, tão-pouco me quero intrometer nelas, senão
nas que forçosamente devemos rezar, pois somos cristãos, que são o Pai Nosso e
a Ave-Maria, para que não possam dizer de nós que falamos e não entendemos o
que dizemos, salvo se nos parecer que basta fazê-lo por costume, pronunciando
só as palavras, e que isto basta. Se basta ou não, nisso não me intrometo: os
letrados o dirão. O que eu quereria, filhas, que fizéssemos é que não nos
contentássemos só com isso. Porque, quando digo «Credo», parece-me ser de razão
que entenda e saiba o que creio; e quando digo «Pai Nosso», será amor
compreender quem é este Nosso Pai e quem é o Mestre que nos ensinou esta
oração.
3. Se quereis
dizer que já o sabeis e que não há porque vo-lo recordar, não tendes razão;
pois, de mestre a mestre vai muito; e é grande desgraça não nos lembrarmos aqui
daqueles que nos ensinam; em especial, se eles são santos e são mestres da
alma, é impossível esquecê-los, se somos bons discípulos. Pois de tal Mestre
como o que ensinou esta oração e com tanto amor e desejo de que nos aproveitasse,
nunca Deus permita que não nos lembremos d'Ele muitas vezes, quando dizemos
esta oração, embora por sermos fracos, não seja todas as vezes.
4. Pois, quanto à
primeira coisa, já sabeis que Sua Majestade nos ensina que seja a sós; e assim
fazia Ele sempre que orava, não por necessidade, mas para nosso ensinamento. Já
está dito que não se sofre falar com Deus e com o mundo, pois outra coisa não é
estar a rezar e a ouvir, por outro lado, o que se está a dizer, ou a pensar no
que se nos depara sem nos irmos à mão; salvo em certas ocasiões em que, ou por
maus humores - especialmente se é pessoa que tem melancolia -ou por fraqueza de
cabeça, nada se consegue fazer por mais que se queira, ou em que Deus permite
que haja em Seus servos dias de grande tempestade para nosso maior bem e, ainda
que então se aflijam e procurem aquietar-se, não podem nem estão atentos ao que
dizem, por mais que façam; não assenta em nada o entendimento, antes parece ter
frenesi, de tal modo anda desbaratado.
5. Na pena que
isto dá a quem está assim, verá que não é sua a culpa. Não se aflija, que é
pior, nem se canse em querer dar juízo a quem, por então, não o tem, que é o
seu entendimento, mas reze como puder; e até nem reze, mas, como enferma,
procure dar alívio à sua alma; e ocupe-se em outra obra de virtude.
Isto é já para
pessoas que têm cuidado com a sua perfeição e já compreenderam que não devem
falar a Deus e ao mundo ao mesmo tempo.
O que podemos
fazer da nossa parte é procurar estar a sós, e praza a Deus que isto baste,
como digo, para entendermos com quem estamos e que o Senhor responde às nossas
petições. Pensais que está calado? Embora não O ouçamos, bem fala Ele ao
coração, quando do coração Lhe pedimos.
E bom é que
consideremos, cada uma, que foi a nós mesmas a quem o Senhor ensinou esta
oração e que no-la está apontando, pois nunca o mestre fica tão longe do
discípulo que seja preciso falar em altas vozes, mas muito perto. Isto quero eu
que entendais para rezar bem o Pai Nosso: convém-vos não vos apartar de junto
do Mestre que vo-lo ensinou.
6. Direis que isto
já é meditação e que não podeis, nem mesmo quereis, senão rezar vocalmente.
Porque também há pessoas mal sofridas e amigas de se não incomodar que, como
não têm o costume, é-lhes difícil recolher o pensamento e isto a princípio;
para não se cansarem um pouco, dizem que mais não podem nem sabem, senão rezar
vocalmente.
Tendes razão em
dizer que isto já é oração mental. Mas eu vos digo, na verdade, que não sei
como apartá-la da vocal, se é que esta há-de ser bem rezada e entendendo com
quem falamos. E é mesmo obrigação procurarmos rezar com advertência. E praza
ainda a Deus que, com estes remédios, vá bem rezado o Pai Nosso e não acabemos
em outra coisa impertinente. Tenho-o experimentado algumas vezes, e o melhor
remédio que encontro é procurar trazer o pensamento n'Aquele a quem dirijo as
palavras. Por isso, tende paciência e procurai criar o costume de coisa tão
necessária.
santa teresa de
jesus
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