A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Mt 1, 1-25
1
Genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão. 2
Abraão gerou Isaac, Isaac gerou Jacob, Jacob gerou Judá e seus irmãos. 3
Judá gerou, de Tamar, Farés e Zara, Farés gerou Esron, Esron gerou Aram. 4
Aram gerou Aminadab, Aminadab gerou Naasson, Naasson gerou Salmon. 5
Salmon gerou Booz de Raab, Booz gerou Obed de Rut, Obed gerou Jessé. Jessé
gerou o rei David. 6 David gerou Salomão daquela que foi mulher de
Urias. 7 Salomão gerou Roboão, Roboão gerou Abias, Abias gerou Asa. 8
Asa gerou Josafat, Josafat gerou Jorão, Jorão gerou Ozias. 9 Ozias
gerou Joatão, Joatão gerou Acaz, Acaz gerou Ezequias. 10 Ezequias
gerou Manassés, Manassés gerou Amon, Amon gerou Josias. 11 Josias
gerou Jeconias e seus irmãos, na época da deportação para Babilónia. 12
E, depois da deportação para Babilónia, Jeconias gerou Salatiel, Salatiel gerou
Zorobabel. 13 Zorobabel gerou Abiud, Abiud gerou Eliacim, Eliacim
gerou Azor. 14 Azor gerou Sadoc, Sadoc gerou Aquim, Aquim gerou
Eliud. 15 Eliud gerou Eleazar, Eleazar gerou Matan, Matan gerou
Jacob, 16 e Jacob gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu
Jesus, chamado Cristo. 17 Assim, são catorze todas as gerações desde
Abraão até David; e catorze gerações desde David até à deportação para Babilónia,
e também catorze as gerações desde a deportação para Babilónia até Cristo. 18
A geração de Jesus Cristo foi deste modo: Estando Maria, Sua mãe, desposada com
José, antes de coabitarem achou-se ter concebido por obra do Espírito Santo. 19
José, seu esposo, sendo justo, e não querendo expô-la a difamação, resolveu
repudiá-la secretamente. 20 Pensando ele estas coisas, eis que um
anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos, e lhe disse: «José, filho de David, não
temas receber em tua casa Maria, tua esposa, porque o que nela foi concebido é
obra do Espírito Santo. 21 Dará à luz um filho, ao qual porás o nome
de Jesus, porque Ele salvará o Seu povo dos seus pecados».22 Tudo
isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito pelo Senhor por meio do
profeta que diz: 23 “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um
filho, e Lhe porão o nome de Emanuel, que significa: Deus connosco”. 24
Ao despertar José do sono, fez como lhe tinha mandado o anjo do Senhor, e
recebeu em sua casa Maria, sua esposa. 25 E, sem que ele a tivesse
conhecido, deu à luz um filho, e pôs-Lhe o nome de Jesus.
CAMINHO DE PERFEIÇÃO
CAPÍTULO
6.
Volta à matéria que
começou: o perfeito amor.
1. Muito me desviei; mas
importa tanto o que fica dito, que não me culpará quem o entender. Voltemos
agora ao amor que é bom e lícito que nos tenhamos: aquele que digo ser
puramente espiritual. Não sei se sei o que digo, pelo menos, parece-me não ser
preciso falar muito dele, porque poucos o têm. A quem o Senhor o tiver dado,
louve-O muito, porque deve ser de grandíssima perfeição. Quero, pois, dizer
alguma coisa dele. Porventura será de algum proveito, porque, pondo diante dos
nossos olhos a virtude, afeiçoa-se a ela quem a deseja e pretende ganhar.
2. Praza a Deus eu o saiba
entender, quanto mais dizer, pois creio que nem sei qual é espiritual, nem
quando se lhe mistura o sensível, nem sei como me ponho a falar disto. É como
quem ouve falar ao longe e não entende o que dizem; assim sou eu; algumas vezes
não devo entender o que digo e o Senhor permite que seja bem dito. Se de outras
vezes for disparate, é o mais natural em mim não acertarem nada.
3. Parece-me agora a mim
que, quando Deus chega uma pessoa ao claro conhecimento do que é o mundo, e que
coisa é o mundo, e que há outro mundo e a diferença que vai de um ao outro, e
que um é eterno e o outro sonhado; ou que coisa é amar ao Criador ou à criatura
(isto conhecido por experiência, que são coisas bem diferentes o pensar e
crer), e ver e experimentar o que se ganha com um e se perde com o outro; e o
que é ser Criador e o que é ser criatura, e outras muitas coisas que o Senhor
ensina a quem se quer prestar a ser ensinado por Ele na oração, ou a quem ama
Sua Majestade, essa pessoa ama muito diferentemente dos que não chegamos ainda
aqui.
4. Poderá ser, irmãs, que
vos pareça que tratar disto é descabido, e digais que estas coisas que digo já
todas as sabeis. Praza a Deus que assim seja e que saibais isto do modo que faz
ao caso: impresso nas entranhas; pois, se o sabeis, vereis que não minto ao
dizer que, a quem Deus traz a este ponto, tem este amor. Estas pessoas, que
Deus faz chegar a este estado, são almas generosas, almas reais; não se
contentam com amar coisa tão ruim como estes corpos, por formosos que sejam,
por muitas graças que tenham, bem que lhes agrade à vista e louvem o Criador.
Mas, para aí se deter, não. Digo "deter-se", de maneira a que, por
estes motivos, lhe tenham amor. Parecer-lhes-ia que amam coisa sem substância e
que se empregam em querer bem a uma sombra; teriam vergonha de si mesmos e não
teriam cara, sem grande confusão sua, para dizer a Deus que O amam.
5. Dir-me-eis: "esses
tais não saberão amar nem retribuir a amizade que lhes tiverem". Pelo
menos, pouco se lhes dá que lha tenham. E ainda que num repente a natureza os
leve, algumas vezes, a se alegrarem por serem amados, em voltando a si, vêem
que é disparate, a menos que se trate de pessoas que lhes hão-de aproveitar à
alma com sua doutrina e oração. Todas as outras vontades as cansam, pois
entendem que nenhum proveito trazem consigo, antes lhes poderia até causar
dano, não porque as deixam de agradecer e retribuir, encomendando a Deus
aqueles que lhes têm essa amizade. Mas consideram-no como se esses que as
estimam deixassem a paga a cargo do Senhor, pois entendem que d'Ele é que
procede isto de serem amadas por outras pessoas. Parece-lhes que em si não têm
por que se lhes queira, e assim, logo lhes parece que lhes querem porque Deus
lhes quer, e deixam a Sua Majestade o pagar e Lhe suplicam que o faça, e com
isto ficam livres, como se isto em nada as tocasse. E, olhando bem as coisas, a
não ser com as pessoas que digo que nos podem fazer bem para ganhar virtudes,
penso algumas vezes na grande cegueira que trazemos neste querer que nos
queiram!
6. Agora notem que, quando
queremos o amor de alguma pessoa, sempre se pretende algum interesse de
proveito ou satisfação nossa, e estas pessoas perfeitas já têm debaixo dos pés
todos os bens e regalos que o mundo lhes pode dar; já estão de maneira que
contentamentos, ainda mesmo que os queiram, a modo de dizer, não os podem ter,
a não ser que seja com Deus ou em tratar de Deus. Que proveito, pois, lhes pode
vir de serem amadas?
7. Quando se lhes
representa esta verdade, riem-se de si mesmas, da preocupação que algum tempo
tiveram, se era ou não paga a sua amizade. Embora a vontade seja boa, logo nos
é muito natural querer a paga. Vindo esta a cobrar-se, a paga é em palha; que
tudo é ar e sem tomo que o vento leva. Porque, ainda quando muito nos quisessem,
que é isto que nos fica? Assim, se não é para proveito da alma com as pessoas
que tenho dito, porque vem a ser de tal sorte o nosso natural que, se não há
algum amor, logo se cansa, tanto se lhes dá de ser queridas como não.
Parecer-vos-á que estas
tais não querem a ninguém nem sabem querer senão a Deus. Querem muito mais, e
com verdadeiro amor, e com mais paixão e amor mais proveitoso; enfim, é amor. E
estas tais almas são sempre afeiçoadas a dar muito mais do que a receber; até
com o mesmo Criador lhes acontece isto. Digo que este merece o nome de amor,
pois estas outras afeições baixas têm-lhe usurpado o nome.
8. Parecer-vos-á também
que, se não amam pelas coisas que vêem, a que se afeiçoam?
Verdade é que amam o que
vêem e afeiçoam-se ao que ouvem; mas estas coisas que vêem são estáveis. Logo
estes, se amam, passam além dos corpos, põem os olhos nas almas e olham se há
nelas coisas para se amar. Se as não há, mas vêem algum princípio ou disposição
para que, se aprofundarem, achem ouro nesta mina, têm-lhe amor, não lhes dói o
trabalho; não há coisa custosa que uma alma destas não faça de boa vontade por
aquela a quem quer bem, porque deseja continuar a amá-la e sabe muito bem que,
se ela não tem bens espirituais e ama muito a Deus, é impossível. E digo que é
impossível, por mais que a obrigue e se mate, querendo-lhe, e lhe faça todas as
boas obras que puder e possua reunidas em si todas as graças da natureza; a
vontade não terá força, não poderá permanecer firme. Já sabe e tem experiência
do que é tudo; não lhe farão pagar em moeda falsa. Vê que não são um para o
outro e que é impossível perdurar o quererem-se mutuamente, porque é amor que
se há-de acabar com a vida. Se a outra não guarda a lei de Deus e entende que
não O ama, hão-de ir para lugares diferentes.
9. E este amor, que só
aqui dura, uma alma, a quem o Senhor já infundiu verdadeira sabedoria, não o
estima em mais do que vale, nem em tanto.
Porque, para os que gostam
de gozar coisas do mundo, deleites e honras e riquezas, alguma coisa valerá, se
for rica e tiver partes para dar passatempo e recreação; mas, a quem tudo isto
aborrece, já pouco ou nada se lhe dará disto.
Ora, pois, aqui, - se tem
amor -, é a paixão para fazer com que essa alma ame a Deus, para ser por Ele
amada; porque sabe, como digo, que, de outro modo, não pode perdurar em lhe
querer. É amor muito à própria custa; não deixa de fazer tudo o que pode para
que lhe aproveite. Perderia mil vidas por um pequeno bem seu.
Oh! precioso amor, que vai
imitando o Capitão do Amor, Jesus, nosso Bem!
CAPÍTULO 7.
Trata
do mesmo assunto do amor espiritual e dá alguns avisos para o alcançar.
1.
É coisa estranha quão apaixonado amor é este; quantas lágrimas custa; quantas
penitências e oração; como se preocupa por pedir a todos os que pensam lhe
hão-de aproveitar com Deus para que Lhe encomendem essa alma que ama; que desejo
contínuo; não sente alegria se não a vê aproveitar. Se, pois, lhe parece não
está melhorada e vê que volta um pouco atrás, parece que já não há-de ter prazer
na vida. Nem come, nem dorme, só com este cuidado, sempre temerosa de que alma,
a quem tanto quer, se venha a perder, e se hão-de apartar para sempre, pois a
morte de cá debaixo não a tem em nada, pois não quer apegar-se àquilo que, com
um sopro, se lhe vá das mãos sem a poder segurar. É - como tenho dito - amor
sem pouco nem muito de interesse próprio. Tudo o que deseja e quer é ver rica
aquela alma em bens do Céu.
Isto
é amor, e não estes «querer-se» de cá da terra, desastrosos, e já não falo dos
maus, que desses Deus nos livre!
2.
Em coisa que é um inferno, nada há para nos cansarmos de falar mal, pois não se
pode encarecer o menor de seus males. Isto, irmãs, não há que nomeá-lo entre
nós, nem pensar que o há no mundo; e nem por graça, nem deveras, ouvir nem
consentir que diante de vós se trate nem se conte nada de semelhantes amizades.
Para nada é bom e, só de se ouvir, poderia causar dano; já não tanto as outras
amizades lícitas, de que já falei, que nós temos umas às outras, ou a parentes
e amigas. Todo o nosso desejo é que não nos morram; se lhes dói a cabeça,
parece que nos dói a alma; se os vemos em trabalhos, foge-nos a paciência -
como dizem -; e tudo por este modo.
3.
Aquele outro amor não é assim. Ainda que, pela fraqueza natural, se sinta
alguma coisa, rapidamente a razão olha a ver se é para bem daquela alma, se ela
se enriquece mais na virtude, e como o sofre, e roga a Deus lhe dê paciência e
mérito nos trabalhos. Se vê que a tem, nenhuma pena sente; antes se alegra e
consola, embora sofresse de melhor vontade do que vê-la sofrer, se lhe pudesse
dar todo o mérito e ganho que há em padecer, mas não para que se inquiete nem
desassossegue.
4.
Torno outra vez a dizer a que este amor se parece e vai imitando ao que nos
teve o bom amador Jesus; e assim aproveitam muito, porque abraçam todos os
trabalhos, e quereriam que os outros, sem trabalhar, deles se aproveitassem.
Assim ganhariam muitíssimo os que gozam da sua amizade; creiam que, ou deixarão
de tratar com eles - digo, com particular amizade - ou acabarão por alcançar de
Nosso Senhor que andem pelo seu caminho, pois vão para a mesma terra, como fez
Santa Mônica s com Santo Agostinho. Não lhes sofre o coração tratá-los com
falsidade, porque, se os vêm torcer caminho, ou cometerem alguma falta, logo
lho dizem. Não podem deixar de fazer outra coisa. E como disso não se
emendarão, nem os tratam com lisonja, nem lhes dissimulam nada, ou eles se
hão-de emendar ou acabará a amizade; porque não poderão sofrê-lo, nem é para
sofrer; para um e para outro é contínua guerra. Com andar descuidados de todo o
mundo e não tendo conta se os outros servem a Deus ou não, que só consigo
mesmos a têm, com os seus amigos não há poder para fazer isto, nem coisa que se
lhes encubra. Até argueirinhos vêm. Digo que trazem bem pesada cruz
5.
Esta maneira de amar é que eu quereria tivéssemos umas às outras. Ainda que a
princípio não seja tão perfeita, o Senhor a irá aperfeiçoando. Comecemos por um
meio-termo que, embora leve um tanto de ternura, não fará dano, como seja em
geral. É bom e necessário mostrar algumas vezes ternura na amizade, e até mesma
tê-la, e sentir alguns trabalhos e enfermidades das irmãs, ainda que sejam
pequenos; porque, algumas vezes, acontece uma coisa muito leve dar tão grande
pena a uma, como a outra daria um grande trabalho, pois há pessoas que têm de
natural afligirem-se muito por pouca coisa. Se o vosso é ao contrário, não vos
deixeis de compadecer; talvez Nosso Senhor tenha querido preservar-nos destas
penas e as teremos em outras coisas, e as que para nós são grandes -posto que
de si o sejam-para outra serão leves. Assim, nestas coisas, não julguemos por
nós mesmas, nem nos consideremos no tempo em que, porventura, sem trabalho
nosso, o Senhor nos fez mais fortes, mas antes, consideremo-nos no tempo em que
fomos mais fracas.
6.
Olhai que importa muito este aviso para nos sabermos condoer dos trabalhos do
próximo, por pequenos que sejam, em especial em almas como as que ficam ditas,
porque estas, como já desejam trabalhos, tudo se lhes faz pouco, e é muito
necessário terem cuidado de olhar a quando eram fracas e ver que, se o não são,
não é delas que isso vem; porque poderia por aqui o demónio ir esfriando a caridade
com os próximos, e fazer-nos entender que é perfeição o que é defeito. Em tudo
é preciso cuidado e andar vigilantes, pois que ele não dorme; e isto ainda mais
para os que andam em maior perfeição, porque são muito mais dissimuladas as
tentações, que ele não se atreve a outra coisa, pois parece não se entende o
dano até que esteja já feito, se - como digo - não se tem cuidado. Enfim, é
sempre necessário vigiar e orar; que não há melhor remédio para descobrir estas
coisas ocultas do demónio e fazê-lo dar sinal de si, do que a oração.
7.
Procurai também recrear-vos com as irmãs, quando têm necessidade de recreação e
no tempo em que é costume, ainda que não seja de vosso gosto, porque, indo com
prudência, tudo é perfeito amor. Assim é muito bom que umas se compadeçam das
necessidades das outras. Atendam a que não seja com falta de discrição em
coisas que sejam contra a obediência. Ainda que interiormente pareça áspero o
que mandar a prelada, não o mostrem nem o dêem a entender a ninguém, a não ser
à mesma prioresa, com humildade, porque faríeis muito dano. E procurai entender
quais são as coisas que haveis de sentir e apiedar-vos das irmãs, e senti
sempre muito qualquer falta notória que vejais nelas. Aqui se mostra e exercita
bem o amor em sabê-las sofrer e em não se espantar com isso, que assim farão as
outras com as faltas que tiverdes, pois, até aquelas que não entendeis, devem
ser muitas mais; e encomendá-la muito a Deus e procurar exercer com grande
perfeição a virtude contrária à falta que a outra parece ter. Esforçai-vos
nisto, para lhe ensinar por obra o que, porventura, ela não entenderá por
palavra, nem lhe aproveitará, nem mesmo o castigo. E isto, de fazer uma o que
vê resplandecer de virtude em outra, pega-se muito. É bom este aviso: não o
esqueçais.
8.
Oh! que bom e verdadeiro amor será o da irmã que pode aproveitar a todas,
deixando o seu próprio proveito pelo das outras, adiantar muito em todas as
virtudes e no guardar com grande perfeição a sua Regra! Melhor amizade será
esta do que todas as ternuras que se podem dizer, pois estas não se usam nem se
hão-de usar nesta casa, tal como: «minha vida», «minha alma», «meu bem», e
outras coisas semelhantes, como algumas pessoas se chamam umas às outras. Estas
palavras afectuosas deixem-nas para seu Esposo, pois hão-de estar tanto com
Ele, e tão a sós, que de tudo hão-de ter necessidade de se aproveitar, visto
que Sua Majestade as sofre e, muito usadas entre nós, não enternecem tanto com o
Senhor. E mesmo não há para quê; é muito de mulheres e eu não quereria, minhas
filhas, que o fôsseis em nada, nem o parecêsseis, senão varões fortes; que, se
fizerern quanto estiver em vossas mãos, o Senhor vos fará tão varonis, que
espante os mesmos homens. E como isto é fácil a Sua Majestade, que nos fez do
nada!
9.
É também muita boa mostra de amor procurar tirar-lhes o trabalho, e tomá-lo
sobre si nos ofícios da casa, e também alegrar-se e louvar muito ao Senhor pelo
aumento que vir em suas virtudes. Todas estas coisas, deixando de parte o
grande bem que trazem consigo, ajudam muito à paz e conformidade de umas com as
outras, como, pela bondade de Deus, nós agora o vemos por experiência. Praza a
Sua Majestade levá-la sempre avante, porque o contrário seria coisa terrível e
muito duro de sofrer; poucas e mal avindas... não o permita Deus!
10.
Se por acaso alguma palavrinha, dita de repente, se vos atravessa por diante,
remedeiem-na logo e façam muita oração. E em qualquer destas coisas que
perdurem, ou grupinhos, ou desejos de ser mais, ou pontinhos de honra (que
parece até se me gela o sangue quando isto escrevo, ao pensar que isto se pode
dar em algum tempo, porque vejo que é o maior mal dos conventos), quando isto
houver, dêem-se por perdidas. Pensem e creiam que deitaram o seu Esposo fora de
casa e O obrigam a procurar outra pousada, pois O expulsam da Sua própria casa.
Clamem a Sua Majestade; procurem dar remédio, porque, se não o põe o
confessar-se e comungar tão amiúde, temam que haja algum Judas.
11.
Atenda muito a prioresa, por amor de Deus, a não dar lugar a isto, atalhando
muito os princípios, que nisto está todo o dano ou remédio. À que ela entender
que é causa do alvoroço, procure que se vá a outro convento, que Deus lhe dará
com que a dotar. Afastem de si esta peste. Cortem como puderem os ramos; e, se
não bastar, arranquem a raiz. E, quando isto não puderem, não saia dum cárcere
quem destas coisas tratar: muito mais vale isto do que se pegue a todas tão
incurável pestilência. Oh! que grande é este mal! Deus nos livre de mosteiro
aonde entra! Mais quisera eu que neste entrasse um fogo que nos abrasasse a
todas. Porque, noutra parte, creio, direi mais alguma coisa sobre isto, como de
coisa que tanto nos importa, não me alongo mais aqui.
santa
teresa de jesus
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