Art. 4 — Se é necessário
existir o hábito.
(III
Sent., XXIII, q. 1, a. 1, De Verit., q. 20, a. 2, De Virtut., q. 1, a. 1).
O
quarto discute-se assim. — Parece que não é necessário existir o hábito.
1.
— Pois, pelos hábitos, um ser fica bem ou mal disposto para alguma coisa, como
já se disse 1. Ora, os seres a têm essa boa ou má disposição da
forma, pois por esta é que cada um deles tem a bondade e é ente. Logo, não há
nenhuma necessidade dos hábitos.
2.
Demais — O hábito implica em ordenar-se para o acto. Ora, a potência implica em
ser princípio suficiente do acto, pois as potências, sem os hábitos, são
princípios dos actos. Logo, não há necessidade da existência daqueles.
3.
Demais — O hábito comporta-se do mesmo modo que a potência, em relação ao bem e
ao mal, e tal como a potência, também o hábito nem sempre age. Logo, a
existência das potências torna supérflua a do hábito.
Mas,
em contrário, os hábitos são certas perfeições, como diz Aristóteles 2.
Ora, a perfeição é sumamente necessária, porque tem a natureza de fim. Logo, é
necessária a existência dos hábitos.
Como já dissemos 3, o hábito implica uma certa disposição ordenada
à natureza da coisa e à operação ou fim da mesma, e em virtude da qual um ser
fica bem ou mal disposto para essa operação ou esse fim. Porém para que um ser
deva ser disposto para outro são necessárias três condições. — Primeira, o que
é disposto deve ser diferente daquilo a que é disposto e estar para este como a
potência, para o acto. Donde, o ser que tiver a natureza não composta de
potência e acto cuja operação for substancial e em si mesmo subsistente, não é
susceptível de hábito ou disposição. — A segunda é que o ser potencial possa ser
determinado de vários modos e relativamente a vários actos. Donde, o que for
potencial relativamente a um acto, e só a esse, não é susceptível de disposição
nem de hábito, porque um tal sujeito já tem, por natureza, a devida
predisposição para um determinado acto. Assim, se o corpo celeste for composto
de matéria e de forma, como essa matéria não é potencial em relação a mais de
uma forma, segundo já dissemos na Primeira Parte 4, não será
susceptível de disposição ou de hábito relativamente à forma ou à operação,
porque a natureza do corpo celeste não é potencial senão a um movimento
determinado. — A terceira é que vários elementos qualitativos concorram para
dispor o sujeito a um daqueles termos em relação ao qual é potencial e que
podem ser proporcionados diversamente entre si, de modo a ele ser bem ou mal
disposto para a forma ou para a operação. Donde, as qualidades simples dos
elementos, que, de um determinado modo convêm às naturezas, não as denominamos
disposições ou hábitos. Denominamos porém assim, a saúde, a beleza e atributos
semelhantes, que implicam uma certa proporção entre muitos elementos
qualitativos, susceptíveis de serem combinados de modos diversos. E por isto o
Filósofo diz, que o hábito é uma disposição, e que a disposição é a ordem do que
tem parte, local, potencial ou especificamente 5, como já dissemos 6.
Donde,
como há muitos entes, para cujas naturezas e operações necessariamente
concorrem muitos elementos qualitativos, que podem ser combinados de diversos
modos, é necessário que existam os hábitos.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A natureza de um ser aperfeiçoa-se pela
forma, mas é necessário que o sujeito se disponha, por alguma disposição
ordenada a essa forma. Esta última por sua vez ordena-se ulteriormente à
operação, que é o fim ou a via para ele. Se porém a forma for susceptível de
uma só operação determinada, não é necessária, para tal operação, além dessa
forma, nenhuma outra disposição. Se porém a forma for tal que possa operar de
modos diversos, como é o caso da alma, é necessário que seja disposta por
alguns hábitos para as suas operações.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — A potência às vezes é relativa a muitos actos, e, por isso, é
necessário que seja determinada por outro ser. A potência porém que se não
referir a muitos actos, não precisa de nenhum hábito determinante, como já
dissemos. E por isso as potências naturais não produzem as suas operações
mediante certos hábitos, porque já por si mesmas estão determinadas a um termo.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Não é um mesmo hábito que se refere ao bem e ao mal, como a
seguir se dirá 7, ao contrário do que se dá com uma mesma potência.
E portanto os hábitos são necessários para determinarem as potências ao bem.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Q. 49, a. 2.
2. VII Physic. (lect. V).
3. Q. 49, a. 2, 3.
4. Q. 66, a. 2.
5. V Metaph. (lect. XXIII).
6. Q. 49, a. 1, ad 3.
7. Q. 54, a. 3.
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