27/11/2013

Tratado das virtudes em geral 6


Questão 56: Do sujeito da virtude.
Art. 2 — Se uma virtude pode existir em duas potências.

(Infra. Q. 60, ª 5: IV Sent., dist. XIV. Q. 1. a 3. qª 1: De Verit., q.14. ª 4. ad 7)

O segundo discute-se assim. — Parece que uma virtude pode existir em duas potências.

1. — Pois, os hábitos conhecem-se pelos actos. Ora, um mesmo acto procede diversamente de diversas potências, assim, o acto de andar procede da razão como dirigente, da vontade como motora, e da potência motiva como exequente. Logo, também o mesmo hábito da virtude pode existir em várias potências.

2. Demais. — O Filósofo diz, que são exigidos pela virtude três elementos, que são: saber, querer e operar imovelmente 1. Ora, saber é próprio do intelecto e querer, da vontade. Logo, a virtude pode existir em várias potências.

3. Demais. — A prudência existe na razão, pois é a razão recta do que devemos praticar, como diz Aristóteles 2. Logo, existe também na vontade, porque não pode ir junto com a vontade perversa, como na mesma obra se diz 3. Logo, a mesma virtude pode existir em duas potências.

Mas, em contrário. — A virtude está na potência da alma como num sujeito. Ora, um mesmo acidente não pode existir em vários sujeitos. Logo, a mesma virtude não pode existir em várias potências da alma.

Uma realidade pode existir em duas outras de dois modos. — De um modo, existindo em ambas igualmente. Ora, assim é impossível uma virtude existir em duas potências, porque a diversidade destas é considerada relativamente às condições gerais dos objectos, ao passo que a diversidade dos hábitos é relativa às condições especiais dos mesmos, e assim, onde há diversidade de potências há também a dos hábitos, mas não inversamente. — De outro modo, pode uma realidade existir em duas ou várias outras, não igualmente, mas numa certa ordem. E assim, a mesma virtude pode pertencer a várias potências, mas de maneira que pertença a uma, principalmente, e se estenda às outras a modo de difusão ou disposição, sendo uma potência movida por outra, e sendo uma receptiva em relação à outra.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Um mesmo acto não pode pertencer a diversas potências, igualmente e na mesma ordem, mas, segundo razões e ordem diversas.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A virtude moral pre-exige o saber porque obra segundo a razão recta. Mas, essencialmente, a virtude moral se funda no apetite.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A prudência, realmente, está na razão como no seu sujeito, mas, pressupõe a rectidão da vontade, como princípio, conforme a seguir se dirá 4.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. II Ethic., lect. IV.
2. VI Ethic., lect. IV.
3. VI Ethic., lect. X.
4. Q. 56, a. 3, q. 57 a. 4.


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