A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Tornaram, pois, a chamar o homem que tinha sido cego e disseram-lhe: «Dá glória
a Deus! Nós sabemos que esse homem é um pecador». 25 Então disse-lhes ele: «Se
é pecador, não sei; o que sei é que eu era cego, e agora vejo». 26 Disseram-lhe
pois: «Que é que Ele te fez? Como te abriu os olhos?». 27 Respondeu-lhes: «Eu
já vo-lo disse e vós não me destes atenção; porque o quereis ouvir novamente?
Quereis, porventura, fazer-vos também Seus discípulos?». 28 Então,
injuriaram-no e disseram: «Discípulo d'Ele sejas tu; nós somos discípulos de
Moisés. 29 Sabemos que Deus falou a Moisés; mas Este não sabemos donde é». 30 O
homem respondeu-lhes: «É de admirar que vós não saibais donde Ele é, e que me
tenha aberto os olhos. 31 Nós sabemos que Deus não ouve os pecadores; mas quem
honra a Deus e faz a Sua vontade, esse é ouvido por Deus. 32 Desde que existe o
mundo, nunca se ouviu dizer que alguém abrisse os olhos a um cego de nascença. 33
Se Este não fosse de Deus, não podia fazer nada». 34 Responderam-lhe: «Tu
nasceste coberto de pecados e queres ensinar-nos?». E lançaram-no fora. 35
Jesus ouviu dizer que o tinham lançado fora e, tendo-o encontrado, disse-lhe:
«Tu crês no Filho de Deus?». 36 Ele respondeu: «Quem é, Senhor, para eu
acreditar n'Ele?». 37 Jesus disse-lhe: «Estás a vê-l'O; é Aquele mesmo que fala
contigo». 38 Então ele disse: «Creio, Senhor!». E O adorou. 39 Jesus disse: «Eu
vim a este mundo para exercer um justo juízo, a fim de que os que não vêem
vejam, e os que vêem se tornem cegos». 40 Ouviram isto alguns dos fariseus que
estavam com Ele, e disseram-Lhe: «Porventura também nós somos cegos?». 41 Jesus
disse-lhes: «Se vós fosseis cegos, não teríeis culpa; mas, pelo contrário, vós
dizeis: Nós vemos! E permanece o vosso pecado».
VIDA
CAPÍTULO
30.
Retoma a narração da sua
vida e diz como o Senhor remediou muito os seus trabalhos trazendo ao lugar
onde ela estava o santo varão Frei Pedro de Alcântara, da ordem do glorioso S.
Francisco. Trata também de grandes tentações e trabalhos interiores que tinha
algumas vezes.
1. Vendo eu, pois, o pouco
ou nada que conseguia fazer para não ter estes ímpetos tão grandes, também já
eu temia de os ter; porque pena e contento, não podia eu entender como podiam
andar juntos. Pena corporal e contento espiritual, já eu sabia que era bem
possível; mas tão excessiva pena espiritual e com tão grandíssimo gosto, isto
me desatinava.
Nem mesmo cessava em
procurar resistir-lhe, mas podia tão pouco, que algumas vezes me cansava.
Amparava-me com a cruz e queria-me defender d'Aquele que com ela nos amparou a
todos. Via que ninguém me entendia, que isto era muito claro para mim; mas não
o ousava dizer senão a meu confessor, porque seria dizer, bem de verdade, que
não tinha humildade.
2. Foi o Senhor servido de
remediar grande parte do meu trabalho - e por então todo ele - com trazer a
este lugar o bendito Frei Pedro de Alcântara, de quem já fiz menção e disse um
pouco da sua penitência. Entre outras coisas, certificaram-me que durante vinte
anos tinha trazido continuamente um cilício de folhas de lata. É autor de uns
pequenos livros de oração que agora se usam muito, em língua vulgar, porque,
como quem a tinha bem exercitado, escreveu muito proveitosamente para os que a
têm. Guardou a primeira Regra do Bem-aventurado S. Francisco com todo o rigor,
e mais um pouco que lá fica dito.
3. Soube pois a viúva;
serva de Deus e minha amiga de quem tenho falado, que estava aqui tão grande
varão. Sabia minha necessidade, pois era testemunha das minhas aflições e me
consolava muito; era tanta a sua fé que não podia deixar de crer que era
espírito de Deus o que todos os mais diziam ser do demónio. Como é pessoa de
muito bom entendimento e de muito segredo e a quem o Senhor fazia muitas mercês
na oração, quis Sua Majestade dar-lhe luz no que os letrados ignoravam.
Davam-me licença meus confessores para que me descansasse nela, comunicando-lhe
algumas coisas que então tinha, pois por muitas razões era digna disso.
Cabia-lhe, algumas vezes, parte das mercês que o Senhor me fazia, com avisos
muito proveitosos para sua alma.
Pois, assim que o soube,
para que mais facilmente pudesse tratar com ele, sem dizer-me nada, alcançou
licença do meu Provincial para que estivesse oito dias em sua casa. Aí e em
algumas Igrejas falei com ele muitas vezes, nesta primeira vez que aqui esteve;
e depois em diversos tempos comuniquei muito com ele. Dei-lhe conta, em suma,
da minha vida e maneira de proceder na oração com a maior clareza que eu soube.
Isto tenho eu tido sempre: tratar com toda a claridade e verdade com aqueles a
quem comunico a minha alma. Até os primeiros movimentos quisera eu lhes fossem
manifestos, e nas coisas mais duvidosas e de suspeita eu os arguia com razões
contra mim. Assim, sem doblez e subterfúgio, tratei com ele da minha alma.
4. Quase logo no princípio
vi que me entendia, por experiência, e isto era tudo o que eu precisava. É que
então eu não me sabia entender, como agora, para o saber dizer, que depois
recebi de Deus o saber compreender e dizer as mercês que Sua Majestade me faz.
Era, pois, mister que tivesse passado por isso quem de todo me entendesse e
declarasse o que era. Ele deu-me grandíssima luz; porque, pelo menos nas visões
que não eram imaginárias, eu não podia entender o que podia ser aquilo, e, nas
que via com os olhos da alma, tão-pouco entendia como podia ser; pois, como
tenho dito, só era das que se vêem com os olhos corporais, que me parecia a mim
que havia de fazer caso, e estas não as tinha eu.
5. Este santo homem deu-me
luz em tudo e tudo me explicou. Disse-me que não tivesse pena, mas sim louvasse
a Deus e estivesse tão certa de que era espírito Seu que, a não ser a fé, coisa
mais verdadeira não podia haver, nem que tanto se pudesse crer. Consolava-se
muito comigo e dava-me todo o seu favor e mercê, e sempre depois teve muito
cuidado de mim e dava-me parte de suas coisas e negócios. E como me via com
desejos do que ele já pusera por obra - pois estes dávamos o Senhor muito
decididos -, e me via com tanto ânimo, gostava de tratar comigo. É que, para
aqueles a quem o Senhor chega a este estado, não há prazer nem consolo que
iguale ao de topar com pessoas a quem lhes parece ter o Senhor concedido princípios
disto mesmo. Então não devia eu ter muito mais, ao que me parece, e praza ao
Senhor que o tenha agora!
6. Teve grandíssima pena
de mim. Disse-me que um dos maiores trabalhos deste mundo era o que eu tinha
padecido, que é a contradição dos bons; ainda me restava muito a padecer,
porque sempre teria necessidade de ajuda e não havia nesta cidade quem me entendesse.
Ele falaria, no entanto, ao que me confessava e a um dos que mais penas me
dava, que era este cavalheiro casado de quem já falei. Este, como quem me tinha
maior amizade, me fazia toda a guerra; é alma temerosa e santa, e, como pouco
antes me tinha visto tão ruim, não acabava de se tranquilizar.
E assim o fez este santo
varão, que lhes falou a ambos e lhes deu causas e razões para que se
tranquilizassem e não me inquietassem mais. O confessor de pouco precisava, mas
o cavalheiro tanto, que ainda de todo não bastou; contribuiu porém, para que
não me amedrontasse tanto.
7. Ficámos combinados em
eu lhe escrever de aí em diante o que me sucedesse de novo, e de mutuamente nos
encomendarmos muito a Deus. Era tanta a sua humildade que tinha em conta as
orações desta miserável. Era muita a minha confusão. Deixou-me com grandíssimo
consolo e contentamento e fez com que eu tivesse oração com segurança e não
duvidasse de que era de Deus. Daquilo do que eu tivesse alguma dúvida e tudo
para maior segurança, desse parte ao confessor e com isto vivesse tranquila.
Mas nem assim eu podia ter
essa segurança de todo em todo, porque me levava o Senhor por caminho de temer,
crendo que era demónio quando me diziam que o era. Ninguém podia, no entanto,
fazer com que eu tivesse temor ou segurança de maneira a que lhes pudesse dar
mais crédito do que aquele que o Senhor punha na minha alma. Assim é que,
embora me consolasse e sossegasse, não lhe dei tanto crédito, para ficar de
todo sem temor, em especial quando o Senhor me deixava nos trabalhos de alma
que agora direi. Contudo fiquei - como digo -, muito consolada.
Não me fartava de dar
graças a Deus e ao glorioso Pai S. José, pois me pareceu que o trouxera, porque
era Comissário Geral da Custódia de S. José, a quem eu muito me encomendava e a
Nossa Senhora.
8. Acontecia-me algumas
vezes - e ainda agora me acontece, embora não tantas - estar com grandíssimos
trabalhos de alma e ao mesmo tempo com tormentos e dores no corpo, de males tão
fortes que não me podia valer.
Outras vezes tinha males
corporais muito graves e, como não tinha os da alma, passava-os com muita
alegria. Mas, quando era tudo junto, era tão grande trabalho que me via na
maior aflição. Todas as mercês que o Senhor me fizera se me olvidavam; só me
ficava memória como de coisa que se sonhou, para dar pena. É que se entorpece o
entendimento de modo que me fazia andar com mil dúvidas e suspeitas,
parecendo-me que não o tinha entendido bem e que talvez fosse ilusão minha.
Bastava que andasse eu enganada, sem que enganasse os bons. Parecia-me ser eu
tão má, que, quantos males e heresias se tinham levantado, eram por meus
pecados.
9. Esta é uma humildade
falsa que o demónio inventava para desassossegar-me e, tentar se podia, trazer
a alma ao desespero. Tenho já tanta experiência que é coisa de demónio, que
ele, como já vê que o entendo, não me atormenta nisto tantas vezes como
costumava. Isto vê-se claramente na inquietação e desassossego com que começa,
no alvoroço que dá na alma todo o tempo que dura, na escuridão e aflição que nela
deixa, na secura e má disposição para a oração e para qualquer bem. Dir-se-ia
que afoga a alma e ata o corpo para que de nada aproveite. Porém, a humildade
verdadeira, embora a alma se conheça por ruim e nos dê pena ver o que somos e
pensemos grandes encarecimentos da nossa maldade, tão grandes como os que ficam
ditos e se sintam de verdade, não vem com alvoroço, nem desassossega a alma,
nem a escurece, nem traz secura. Antes, pelo contrário - pois é tudo ao revés
-, a regala com quietude, com suavidade, com luz. Pena que, por outra parte,
conforta por ver quão grande mercê lhe faz Deus em lhe dar aquela pena e quão
bem empregada é. Dói-lhe o que ofendeu a Deus e, por outra parte, a Sua
misericórdia a dilata. Tem luz para se confundir a si mesma e louva a Sua
Majestade porque tanto lhe sofreu.
Nesta outra humildade, que
insinua o demónio, não há luz para nenhum bem; tudo lhe parece põe Deus a fogo
e a sangue. Representa-lhe a justiça e, embora tenha fé de que há misericórdia,
porque o demónio não pode tanto que a faça perder, é de maneira a não me
consolar, antes, quando olha a tão grande misericórdia, a ajuda a maior
tormento, porque parece que estava obrigada a mais.
10. É uma invenção do
demónio das mais penosas e subtis e dissimuladas que tenho conhecido dele, e
assim quisera avisar V Mercê para que, se por aqui o tentar, tenha alguma luz e
o conheça, se ele lhe deixar entendimento para o perceber. Não pense que bastam
letras e saber, pois embora a mim tudo me falte, depois que saio disto, bem
vejo que é desatino. O que tenho entendido é que o Senhor assim o quer é
permite e dá licença ao demónio, como lha deu para que tentasse a Job, embora a
mim - como a ruim - não seja com aquele rigor.
11. Tem-me acontecido e me
recordo ter sido um dia antes da véspera do Corpus Christi, festa de que sou
devota, embora não tanto como devia. Desta vez durou-me só até ao dia, que de
outras vezes durou-me oito e quinze dias e até três semanas e não sei se mais,
em especial as Semanas Santas em que costumo ter as minhas delícias de oração.
Acontece-me que o demónio me prende de repente o entendimento, com coisas tão
ridículas às vezes, que em outras ocasiões me riria delas, e o faz estar
transtornando tudo o que ele quer. A alma ali se fica aferrolhada, sem ser
senhora de si, sem poder pensar outra coisa mais que nos disparates que ele lhe
representa, que quase não têm tomo, nem atam nem desatam; só atam para oprimir
a alma de maneira que não cabe em si. É assim que metem acontecido: parecer-me
que andam os demónios como que jogando à bola com a alma e sem ela conseguir
livrar-se de seu poder.
Não se pode dizer o que
neste caso se padece; ela anda a buscar amparo e permite Deus que não o
encontre; só fica sempre a razão do livre alvedrio, mas não clara. Digo eu que
deve ser quase como ter vendados os olhos, como uma pessoa que muitas vezes tem
ido por um caminho que, embora seja de noite e às escuras, pelo tino anterior,
já sabe onde pode tropeçar, porque o tem visto de dia e guarda-se daquele
perigo. Assim é aqui para não ofender a Deus, parece que se vai pelo costume.
Deixemos de parte o mantê-la o Senhor, que é o que faz ao caso.
12. A fé está então tão
acalmada e adormecida como todas as demais virtudes, embora não perdida, pois
que bem acredita o que a Igreja crê e tem por verdade, mas pronunciado com a
boca, e parece-lhe, por outro lado, que a apertam e entorpecem; tem a impressão
que é quase como uma coisa que ouviu ao longe que ela conhece a Deus.
O amor tem-no tão tíbio
que, se ouve falar d'Ele, escuta como uma coisa que crê ser assim, porque a
Igreja o tem por verdade; mas não tem memória daquilo que tem experimentado em
si.
Ir rezar ou estar em
solidão não é senão para lhe causar mais angústia, porque o tormento que sente
em si é incomportável. A meu parecer, é um pouco cópia do inferno. Isto é
assim, segundo o Senhor mo deu a entender numa visão, porque a alma se queima
em si, sem saber quem nem por onde lhe põem fogo, nem como fugir dele, nem com
que o apagar.
Pois, querer buscar
remédio na leitura, é como se não soubesse ler. Uma vez aconteceu-me ir ler uma
vida dum santo a ver se me embebia e consolava com o que ele padeceu, e ler
quatro ou cinco vezes outras tantas linhas e, apesar de ser em língua vulgar,
menos entendia delas no fim do que no princípio, e assim o deixei. Isto me aconteceu
muitas vezes; mas desta, me recordo mais em particular.
santa
teresa de jesus
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