10/11/2013

Leitura espiritual para 10 Nov 2013

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Jo 9, 24-41

24 Tornaram, pois, a chamar o homem que tinha sido cego e disseram-lhe: «Dá glória a Deus! Nós sabemos que esse homem é um pecador». 25 Então disse-lhes ele: «Se é pecador, não sei; o que sei é que eu era cego, e agora vejo». 26 Disseram-lhe pois: «Que é que Ele te fez? Como te abriu os olhos?». 27 Respondeu-lhes: «Eu já vo-lo disse e vós não me destes atenção; porque o quereis ouvir novamente? Quereis, porventura, fazer-vos também Seus discípulos?». 28 Então, injuriaram-no e disseram: «Discípulo d'Ele sejas tu; nós somos discípulos de Moisés. 29 Sabemos que Deus falou a Moisés; mas Este não sabemos donde é». 30 O homem respondeu-lhes: «É de admirar que vós não saibais donde Ele é, e que me tenha aberto os olhos. 31 Nós sabemos que Deus não ouve os pecadores; mas quem honra a Deus e faz a Sua vontade, esse é ouvido por Deus. 32 Desde que existe o mundo, nunca se ouviu dizer que alguém abrisse os olhos a um cego de nascença. 33 Se Este não fosse de Deus, não podia fazer nada». 34 Responderam-lhe: «Tu nasceste coberto de pecados e queres ensinar-nos?». E lançaram-no fora. 35 Jesus ouviu dizer que o tinham lançado fora e, tendo-o encontrado, disse-lhe: «Tu crês no Filho de Deus?». 36 Ele respondeu: «Quem é, Senhor, para eu acreditar n'Ele?». 37 Jesus disse-lhe: «Estás a vê-l'O; é Aquele mesmo que fala contigo». 38 Então ele disse: «Creio, Senhor!». E O adorou. 39 Jesus disse: «Eu vim a este mundo para exercer um justo juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos». 40 Ouviram isto alguns dos fariseus que estavam com Ele, e disseram-Lhe: «Porventura também nós somos cegos?». 41 Jesus disse-lhes: «Se vós fosseis cegos, não teríeis culpa; mas, pelo contrário, vós dizeis: Nós vemos! E permanece o vosso pecado».


VIDA
CAPÍTULO 30.

Retoma a narração da sua vida e diz como o Senhor remediou muito os seus trabalhos trazendo ao lugar onde ela estava o santo varão Frei Pedro de Alcântara, da ordem do glorioso S. Francisco. Trata também de grandes tentações e trabalhos interiores que tinha algumas vezes.

1. Vendo eu, pois, o pouco ou nada que conseguia fazer para não ter estes ímpetos tão grandes, também já eu temia de os ter; porque pena e contento, não podia eu entender como podiam andar juntos. Pena corporal e contento espiritual, já eu sabia que era bem possível; mas tão excessiva pena espiritual e com tão grandíssimo gosto, isto me desatinava.
Nem mesmo cessava em procurar resistir-lhe, mas podia tão pouco, que algumas vezes me cansava. Amparava-me com a cruz e queria-me defender d'Aquele que com ela nos amparou a todos. Via que ninguém me entendia, que isto era muito claro para mim; mas não o ousava dizer senão a meu confessor, porque seria dizer, bem de verdade, que não tinha humildade.
2. Foi o Senhor servido de remediar grande parte do meu trabalho - e por então todo ele - com trazer a este lugar o bendito Frei Pedro de Alcântara, de quem já fiz menção e disse um pouco da sua penitência. Entre outras coisas, certificaram-me que durante vinte anos tinha trazido continuamente um cilício de folhas de lata. É autor de uns pequenos livros de oração que agora se usam muito, em língua vulgar, porque, como quem a tinha bem exercitado, escreveu muito proveitosamente para os que a têm. Guardou a primeira Regra do Bem-aventurado S. Francisco com todo o rigor, e mais um pouco que lá fica dito.
3. Soube pois a viúva; serva de Deus e minha amiga de quem tenho falado, que estava aqui tão grande varão. Sabia minha necessidade, pois era testemunha das minhas aflições e me consolava muito; era tanta a sua fé que não podia deixar de crer que era espírito de Deus o que todos os mais diziam ser do demónio. Como é pessoa de muito bom entendimento e de muito segredo e a quem o Senhor fazia muitas mercês na oração, quis Sua Majestade dar-lhe luz no que os letrados ignoravam. Davam-me licença meus confessores para que me descansasse nela, comunicando-lhe algumas coisas que então tinha, pois por muitas razões era digna disso. Cabia-lhe, algumas vezes, parte das mercês que o Senhor me fazia, com avisos muito proveitosos para sua alma.
Pois, assim que o soube, para que mais facilmente pudesse tratar com ele, sem dizer-me nada, alcançou licença do meu Provincial para que estivesse oito dias em sua casa. Aí e em algumas Igrejas falei com ele muitas vezes, nesta primeira vez que aqui esteve; e depois em diversos tempos comuniquei muito com ele. Dei-lhe conta, em suma, da minha vida e maneira de proceder na oração com a maior clareza que eu soube. Isto tenho eu tido sempre: tratar com toda a claridade e verdade com aqueles a quem comunico a minha alma. Até os primeiros movimentos quisera eu lhes fossem manifestos, e nas coisas mais duvidosas e de suspeita eu os arguia com razões contra mim. Assim, sem doblez e subterfúgio, tratei com ele da minha alma.
4. Quase logo no princípio vi que me entendia, por experiência, e isto era tudo o que eu precisava. É que então eu não me sabia entender, como agora, para o saber dizer, que depois recebi de Deus o saber compreender e dizer as mercês que Sua Majestade me faz. Era, pois, mister que tivesse passado por isso quem de todo me entendesse e declarasse o que era. Ele deu-me grandíssima luz; porque, pelo menos nas visões que não eram imaginárias, eu não podia entender o que podia ser aquilo, e, nas que via com os olhos da alma, tão-pouco entendia como podia ser; pois, como tenho dito, só era das que se vêem com os olhos corporais, que me parecia a mim que havia de fazer caso, e estas não as tinha eu.
5. Este santo homem deu-me luz em tudo e tudo me explicou. Disse-me que não tivesse pena, mas sim louvasse a Deus e estivesse tão certa de que era espírito Seu que, a não ser a fé, coisa mais verdadeira não podia haver, nem que tanto se pudesse crer. Consolava-se muito comigo e dava-me todo o seu favor e mercê, e sempre depois teve muito cuidado de mim e dava-me parte de suas coisas e negócios. E como me via com desejos do que ele já pusera por obra - pois estes dávamos o Senhor muito decididos -, e me via com tanto ânimo, gostava de tratar comigo. É que, para aqueles a quem o Senhor chega a este estado, não há prazer nem consolo que iguale ao de topar com pessoas a quem lhes parece ter o Senhor concedido princípios disto mesmo. Então não devia eu ter muito mais, ao que me parece, e praza ao Senhor que o tenha agora!
6. Teve grandíssima pena de mim. Disse-me que um dos maiores trabalhos deste mundo era o que eu tinha padecido, que é a contradição dos bons; ainda me restava muito a padecer, porque sempre teria necessidade de ajuda e não havia nesta cidade quem me entendesse. Ele falaria, no entanto, ao que me confessava e a um dos que mais penas me dava, que era este cavalheiro casado de quem já falei. Este, como quem me tinha maior amizade, me fazia toda a guerra; é alma temerosa e santa, e, como pouco antes me tinha visto tão ruim, não acabava de se tranquilizar.
E assim o fez este santo varão, que lhes falou a ambos e lhes deu causas e razões para que se tranquilizassem e não me inquietassem mais. O confessor de pouco precisava, mas o cavalheiro tanto, que ainda de todo não bastou; contribuiu porém, para que não me amedrontasse tanto.
7. Ficámos combinados em eu lhe escrever de aí em diante o que me sucedesse de novo, e de mutuamente nos encomendarmos muito a Deus. Era tanta a sua humildade que tinha em conta as orações desta miserável. Era muita a minha confusão. Deixou-me com grandíssimo consolo e contentamento e fez com que eu tivesse oração com segurança e não duvidasse de que era de Deus. Daquilo do que eu tivesse alguma dúvida e tudo para maior segurança, desse parte ao confessor e com isto vivesse tranquila.
Mas nem assim eu podia ter essa segurança de todo em todo, porque me levava o Senhor por caminho de temer, crendo que era demónio quando me diziam que o era. Ninguém podia, no entanto, fazer com que eu tivesse temor ou segurança de maneira a que lhes pudesse dar mais crédito do que aquele que o Senhor punha na minha alma. Assim é que, embora me consolasse e sossegasse, não lhe dei tanto crédito, para ficar de todo sem temor, em especial quando o Senhor me deixava nos trabalhos de alma que agora direi. Contudo fiquei - como digo -, muito consolada.
Não me fartava de dar graças a Deus e ao glorioso Pai S. José, pois me pareceu que o trouxera, porque era Comissário Geral da Custódia de S. José, a quem eu muito me encomendava e a Nossa Senhora.
8. Acontecia-me algumas vezes - e ainda agora me acontece, embora não tantas - estar com grandíssimos trabalhos de alma e ao mesmo tempo com tormentos e dores no corpo, de males tão fortes que não me podia valer.
Outras vezes tinha males corporais muito graves e, como não tinha os da alma, passava-os com muita alegria. Mas, quando era tudo junto, era tão grande trabalho que me via na maior aflição. Todas as mercês que o Senhor me fizera se me olvidavam; só me ficava memória como de coisa que se sonhou, para dar pena. É que se entorpece o entendimento de modo que me fazia andar com mil dúvidas e suspeitas, parecendo-me que não o tinha entendido bem e que talvez fosse ilusão minha. Bastava que andasse eu enganada, sem que enganasse os bons. Parecia-me ser eu tão má, que, quantos males e heresias se tinham levantado, eram por meus pecados.
9. Esta é uma humildade falsa que o demónio inventava para desassossegar-me e, tentar se podia, trazer a alma ao desespero. Tenho já tanta experiência que é coisa de demónio, que ele, como já vê que o entendo, não me atormenta nisto tantas vezes como costumava. Isto vê-se claramente na inquietação e desassossego com que começa, no alvoroço que dá na alma todo o tempo que dura, na escuridão e aflição que nela deixa, na secura e má disposição para a oração e para qualquer bem. Dir-se-ia que afoga a alma e ata o corpo para que de nada aproveite. Porém, a humildade verdadeira, embora a alma se conheça por ruim e nos dê pena ver o que somos e pensemos grandes encarecimentos da nossa maldade, tão grandes como os que ficam ditos e se sintam de verdade, não vem com alvoroço, nem desassossega a alma, nem a escurece, nem traz secura. Antes, pelo contrário - pois é tudo ao revés -, a regala com quietude, com suavidade, com luz. Pena que, por outra parte, conforta por ver quão grande mercê lhe faz Deus em lhe dar aquela pena e quão bem empregada é. Dói-lhe o que ofendeu a Deus e, por outra parte, a Sua misericórdia a dilata. Tem luz para se confundir a si mesma e louva a Sua Majestade porque tanto lhe sofreu.
Nesta outra humildade, que insinua o demónio, não há luz para nenhum bem; tudo lhe parece põe Deus a fogo e a sangue. Representa-lhe a justiça e, embora tenha fé de que há misericórdia, porque o demónio não pode tanto que a faça perder, é de maneira a não me consolar, antes, quando olha a tão grande misericórdia, a ajuda a maior tormento, porque parece que estava obrigada a mais.
10. É uma invenção do demónio das mais penosas e subtis e dissimuladas que tenho conhecido dele, e assim quisera avisar V Mercê para que, se por aqui o tentar, tenha alguma luz e o conheça, se ele lhe deixar entendimento para o perceber. Não pense que bastam letras e saber, pois embora a mim tudo me falte, depois que saio disto, bem vejo que é desatino. O que tenho entendido é que o Senhor assim o quer é permite e dá licença ao demónio, como lha deu para que tentasse a Job, embora a mim - como a ruim - não seja com aquele rigor.
11. Tem-me acontecido e me recordo ter sido um dia antes da véspera do Corpus Christi, festa de que sou devota, embora não tanto como devia. Desta vez durou-me só até ao dia, que de outras vezes durou-me oito e quinze dias e até três semanas e não sei se mais, em especial as Semanas Santas em que costumo ter as minhas delícias de oração. Acontece-me que o demónio me prende de repente o entendimento, com coisas tão ridículas às vezes, que em outras ocasiões me riria delas, e o faz estar transtornando tudo o que ele quer. A alma ali se fica aferrolhada, sem ser senhora de si, sem poder pensar outra coisa mais que nos disparates que ele lhe representa, que quase não têm tomo, nem atam nem desatam; só atam para oprimir a alma de maneira que não cabe em si. É assim que metem acontecido: parecer-me que andam os demónios como que jogando à bola com a alma e sem ela conseguir livrar-se de seu poder.
Não se pode dizer o que neste caso se padece; ela anda a buscar amparo e permite Deus que não o encontre; só fica sempre a razão do livre alvedrio, mas não clara. Digo eu que deve ser quase como ter vendados os olhos, como uma pessoa que muitas vezes tem ido por um caminho que, embora seja de noite e às escuras, pelo tino anterior, já sabe onde pode tropeçar, porque o tem visto de dia e guarda-se daquele perigo. Assim é aqui para não ofender a Deus, parece que se vai pelo costume. Deixemos de parte o mantê-la o Senhor, que é o que faz ao caso.
12. A fé está então tão acalmada e adormecida como todas as demais virtudes, embora não perdida, pois que bem acredita o que a Igreja crê e tem por verdade, mas pronunciado com a boca, e parece-lhe, por outro lado, que a apertam e entorpecem; tem a impressão que é quase como uma coisa que ouviu ao longe que ela conhece a Deus.
O amor tem-no tão tíbio que, se ouve falar d'Ele, escuta como uma coisa que crê ser assim, porque a Igreja o tem por verdade; mas não tem memória daquilo que tem experimentado em si.
Ir rezar ou estar em solidão não é senão para lhe causar mais angústia, porque o tormento que sente em si é incomportável. A meu parecer, é um pouco cópia do inferno. Isto é assim, segundo o Senhor mo deu a entender numa visão, porque a alma se queima em si, sem saber quem nem por onde lhe põem fogo, nem como fugir dele, nem com que o apagar.
Pois, querer buscar remédio na leitura, é como se não soubesse ler. Uma vez aconteceu-me ir ler uma vida dum santo a ver se me embebia e consolava com o que ele padeceu, e ler quatro ou cinco vezes outras tantas linhas e, apesar de ser em língua vulgar, menos entendia delas no fim do que no princípio, e assim o deixei. Isto me aconteceu muitas vezes; mas desta, me recordo mais em particular.

santa teresa de jesus


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