4. O Concílio Vaticano II, no capítulo VIII da Constituição dogmática Lumen gentium (nn. 66-67) 4, fala do culto à Santíssima Virgem na Igreja. Explica que “exaltada por graça do Senhor e colocada, logo a seguir a seu Filho, acima de todos os anjos e homens, Maria que, como mãe santíssima de Deus, tomou parte nos mistérios de Cristo, é com razão venerada pela Igreja com culto especial” (n. 66).
Ensina também que o culto a Nossa
Senhora, apesar da sua singularidade, é essencialmente diverso daquele que se
tributa ao Verbo encarnado, o mesmo que ao Pai e ao Espírito Santo, ao mesmo tempo
que o favorece eficazmente (ivi.). Anima também os fiéis a que fomentem com
generosidade o culto à Santíssima Virgem, sobretudo o litúrgico, ao mesmo tempo
que insiste com os fiéis para que “tenham em grande estima as práticas e
exercícios de piedade para com Ela, aprovados no decorrer dos séculos” (n. 67).
Paulo VI dedicou a Exortação
apostólica Marialis cultus, de 2 de Fevereiro de 1974, a falar do culto a
Maria. Na introdução recorda que o desenvolvimento da devoção a Nossa Senhora
“é um elemento qualificador da genuína piedade da Igreja” se está inserida “no
canal do único culto que, com razão e justeza, é chamado «cristão», pois de
Cristo se origina e assume eficácia, em Cristo encontra completa expressão e
por meio de Cristo, no Espírito, conduz ao Pai” (ivi.).
Recorda como a reforma da Liturgia
romana, e em concreto do seu Calendário Geral, “permitiu que nele fosse
inserida, de maneira mais orgânica e com uma ligação mais íntima, a memória da
Mãe, no ciclo anual dos mistérios do Filho” (n. 2).
Assinala também que a reforma dos
livros litúrgicos facilitou a perspetiva adequada para considerar “a Virgem
Maria com uma perspectiva adequada no mistério de Cristo; e, em sintonia com a
tradição, reconheceu-lhe o lugar singular que lhe compete no culto cristão,
como Santa Mãe de Deus e enquanto alma cooperadora do Redentor” (n. 15); e
sublinha que “o culto que a Igreja universal tributa hoje à Santíssima Virgem é
derivação, prolongamento e acréscimo incessante daquele mesmo culto que a
Igreja de todos os tempos lhe rendeu, com escrupuloso estudo da verdade e com
uma sempre vigilante nobreza de formas” (ivi.).
Recorda que Nossa Senhora é também
“exemplo da atitude espiritual com que a Igreja celebra e vive os divinos
mistérios. A exemplaridade da bem-aventurada Virgem Maria, neste campo, é
consequência do facto dela ser reconhecida como modelo excelentíssimo da
Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo” (n. 16).
A segunda parte da Exortação
apostólica é dedicada a dar princípios de orientação para a renovação da
piedade mariana. Assinala quatro notas que caracterizam uma autêntica devoção a
Nossa Senhora: a trinitária, a cristológica, a pneumatológica e a eclesial. E
indica a seguir quatro orientações que convém ter presentes nessa tarefa de renovação:
a bíblica, a litúrgica, a ecuménica e a antropológica.
A terceira parte da Exortação
apostólica trata de duas devoções marianas, o Angelus e o Rosário. Na conclusão
do documento explica-se o valor teológico e pastoral do culto a Nossa Senhora.
Opus Dei - Em 15 de agosto de 1986, no
âmbito da renovação litúrgica e mariana, a Congregação para o Culto Divino
aprovou a publicação das “Missas da Virgem Maria”, uma coleção de 46 missas,
com a finalidade de “promover una reta devoção para com a Mãe de Deus” 5.
Explica que a razão de ser destas missas se encontra na “íntima participação da
Mãe de Cristo na história da salvação.
A Igreja, comemorando o papel da Mãe
do Senhor na obra da redenção ou os seus privilégios, celebra principalmente os
acontecimentos salvadores nos quais, segundo o desígnio de Deus, a Virgem Maria
interveio com vista ao mistério de Cristo” 6.
O Catecismo da Igreja Católica,
publicado a 11 de outubro de 1992, oferece uma resumida síntese sobre o culto a
Nossa Senhora no seu número 971. Tendo como base o Concílio Vaticano II e a
Exortação apostólica Marialis cultus, recorda que a piedade mariana é um elemento
intrínseco do culto cristão; que o culto especial com que é venerada é
essencialmente diferente do culto de adoração reservado às Pessoas
divinas.
Conclui afirmando que este culto
encontra a sua expressão nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus e na
oração mariana, como o Santo Rosário.
J. A. Riestra
Novembro 2010
Bibliografia básica
1. Em primeiro lugar figuram, como é
óbvio, os escritos de S.Josemaria publicados. Podem ser particularmente úteis,
enquanto se centram sobre o tema em questão, as homilias sobre Nossa Senhora
publicadas em Cristo que passa e Amigos de Deus, “Recuerdos del Pilar”,
Caminho, etc.
2. Uma boa ajuda para este tema
encontra-se também em Álvaro Del Portillo, Entrevista sobre o fundador do Opus
Dei, Quadrante, 1994 Javier Echevarría, Lembrando o Beato Josemaría
Escrivá, Diel, 2000; Idem, El amor a
María Santísima en las enseñanzas de Mons. Escrivá de Balaguer, em Palabra nn.
156-157 (1978), pp. 341-345. Encontram-se também numerosos episódios que
manifestam a piedade mariana de S.Josemaria nas diversas biografias publicadas.
3. Outros trabalhos que podem ajudar são:
Federico Delclaux, Santa Maria nos escritos Beato Josemaría Escrivá, Rei dos
Livros, 1996; José Antonio Riestra, La maternità spirituale di Maria
nell’esperienza mariana di San Josémaría Escrivá, em "Annales
Theologici" n. 16 (2002), pp. 473-489; A. Blanco, Madre de Dios y Madre de
los hombres. Studio sulla devozione mariana di San Josemaría e sul rapporto con
l’unità di vita, em Romana n. 19 (2003), pp. 292-320.
4. Para una visão de conjunto podem
consultar-se: José Luis Bastero Eleizalde, María, Madre del Redentor, 2ª ed.,
Eunsa; M. Ponce Cuéllar, María, Madre del Redentor y Madre de la Iglesia,
Herder; S. De Fiores – S. Meo (edd.), Nuevo diccionario de mariología,
Ediciones Paulinas.
_________________________________--
Notas:
4
Concílio Vaticano II, Constituição dogmática Lumen gentium:
66. Exaltada por graça do
Senhor e colocada, logo a seguir a seu Filho, acima de todos os anjos e homens,
Maria que, como mãe santíssima de Deus, tomou parte nos mistérios de Cristo, é
com razão venerada pela Igreja com culto especial. E, na verdade, a Santíssima
Virgem é, desde os tempos mais antigos, honrada com o título de «Mãe de Deus»,
e sob a sua protecção se acolhem os fiéis, em todos os perigos e necessidades
(191). Foi sobretudo a partir do Concílio do Éfeso que o culto do Povo de Deus
para com Maria cresceu admiravelmente, na veneração e no amor, na invocação e
na imitação, segundo as suas proféticas palavras: «Todas as gerações me
proclamarão bem-aventurada, porque realizou em mim grandes coisas Aquele que é
poderoso» (Luc.1,48). Este culto, tal como sempre existiu na Igreja, embora
inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração, que se
presta por igual ao Verbo encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e favorece-o
poderosamente. Na verdade, as várias formas de piedade para com a Mãe de Deus,
aprovadas pela Igreja, dentro dos limites de sã e recta doutrina, segundo os
diversos tempos e lugares e de acordo com a índole e modo de ser dos fiéis, têm
a virtude de fazer com que, honrando a mãe, melhor se conheça, ame e gloria
fique o Filho, por quem tudo existe (cfr. Col. 1, 15-16) e no qual «aprouve a
Deus que residisse toda a plenitude» (Col. 1,19), e também melhor se cumpram os
seus mandamentos.
67. Muito de caso pensado
ensina o sagrado Concílio esta doutrina católica, e ao mesmo tempo recomenda a
todas os filhos da Igreja que fomentem generosamente o culto da Santíssima
Virgem, sobretudo o culto litúrgico, que tenham em grande estima as práticas e
exercícios de piedade para com Ela, aprovados no decorrer dos séculos pelo
magistério, e que mantenham fielmente tudo aquilo que no passado foi decretado
acerca do culto das imagens de Cristo, da Virgem e dos santos (192). Aos
teólogos e pregadores da palavra de Deus, exorta-os instantemente a evitarem
com cuidado, tanto um falso exagero como uma demasiada estreiteza na
consideração da dignidade singular da Mãe de Deus (193). Estudando, sob a
orientação do magistério, a Sagrada Escritura, os santos Padres e Doutores, e
as liturgias das Igrejas, expliquem como convém as funções e os privilégios da
Santíssima Virgem, os quais dizem todos respeito a Cristo, origem de toda a
verdade, santidade e piedade. Evitem com cuidado, nas palavras e atitudes, tudo
o que possa induzir em erro acerca da autêntica doutrina da Igreja os irmãos
separados ou quaisquer outros. E os fiéis lembrem-se de que a verdadeira
devoção não consiste numa emoção estéril e passageira, mas nasce da fé, que nos
faz reconhecer a grandeza da Mãe de Deus e nos incita a amar filialmente a nossa
mãe e a imitar as suas virtudes.
5
Missas da Virgem Maria, Praenotanda, t. I, p. 11.
6 Ibidem, p. 13.
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