A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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42 O Senhor
respondeu: «Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor estabelecerá
sobre as pessoas da sua casa, para dar a cada um, a seu tempo, a ração
alimentar? 43 Bem-aventurado aquele servo a quem o senhor, quando
vier, achar procedendo assim. 44 Na verdade vos digo que o
constituirá administrador de tudo quanto possui. 45 Porém, se aquele
servo disser no seu coração: O meu senhor tarda em vir, e começar a espancar os
criados e as criadas, a comer, a beber e a embriagar-se, 46 chegará
o senhor desse servo, no dia em que ele não o espera, e na hora em que ele não
sabe; castigá-lo-á severamente e pô-lo-á à parte com os infíeis. 47
Aquele servo, que conheceu a vontade do seu senhor e nada preparou, e não
procedeu conforme a sua vontade, levará muitos açoites. 48 Quanto
àquele que, não a conhecendo, fez coisas dignas de castigo, levará poucos
açoites. Porque a todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e
aquele a quem muito confiaram, mais contas lhe pedirão. 49 Eu vim
trazer fogo à terra; e como desejaria que já estivesse ateado! 50 Eu
tenho de receber um baptismo; e quão grande é a minha ansiedade até que ele se
conclua! 51 Julgais que vim trazer paz à terra? Não, vos digo Eu,
mas separação; 52 porque, de hoje em diante, haverá numa casa cinco
pessoas, divididas três contra duas e duas contra três.53 Estarão
divididos: o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e
a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra». 54
Dizia também às multidões: «Quando vós vedes uma nuvem levantar-se no poente,
logo dizeis: Aí vem chuva; e assim sucede.55 E quando sentis soprar
o vento do sul, dizeis: Haverá calor; e assim sucede.56 Hipócritas,
sabeis distinguir os aspectos da terra e do céu; como, pois, não sabeis
reconhecer o tempo presente? 57 E porque não discernis também por
vós mesmos o que é justo? 58 Quando, pois, fores com o teu
adversário ao magistrado, faz o possível por fazer as pazes com ele pelo
caminho, para que não suceda que te leve ao juiz, e o juiz te entregue ao
guarda, e o guarda te meta na cadeia. 59 Digo-te que não sairás de
lá, enquanto não pagares até o último centavo».
13 1 Neste mesmo tempo chegaram alguns a
dar-Lhe a notícia de certos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com o dos
sacrifícios deles. 2 Jesus respondeu-lhes: «Vós julgais que aqueles
galileus eram maiores pecadores que todos os outros galileus, por terem sofrido
tal sorte? 3 Não, Eu vo-lo digo; mas, se não fizerdes penitência,
todos perecereis do mesmo modo. 4 Assim como também aqueles dezoito
homens sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou; julgais que eles também
foram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? 5
Não, Eu vo-lo digo; mas, se não fizerdes penitência, todos perecereis do mesmo
modo».
Em cada ano a Igreja celebra a Páscoa com o seu Senhor
Introdução
1. A palavra Páscoa significa passagem. Refere,
historicamente, a libertação do Povo de Israel do cativeiro do Egito. Foi
passagem, porque o anjo do Senhor passou, poupando os israelitas à exterminação
dos primogénitos; foi passagem da escravidão para a liberdade; foi passagem
porque início de um longo caminho, com os olhos postos na terra da promessa.
Nesse longo caminho, passaram o deserto, o Mar Vermelho, o rio Jordão. Essa
primeira Páscoa sugere os principais dinamismos da caminhada para a liberdade:
só com a ação de Deus é possível essa passagem. Só a ação de Deus pode fazer
com que haja Páscoa. O seu símbolo sacramental é um cordeiro imolado, comido
por toda a família em atitude de caminhantes. Enquanto o Povo continuar a
caminho, deve voltar a celebrar a Páscoa (cf. Ex. 12,14). Porque o Povo
continua a sua caminhada de libertação, continuará a celebrar a Páscoa, em
memória da primeira Páscoa, quando o anjo do Senhor passou e aplicando-a à
atualidade de cada ano.
Jesus Cristo, na sua última Páscoa, dá o sentido pleno
e definitivo a esta celebração da busca da liberdade, conduzidos pela força de
Deus. Convida-os, com Ele, a fazer a grande passagem, da escravidão à
liberdade, do pecado à graça. Define o sentido da caminhada: o destino é a
terra da promessa, que Ele identifica como a Casa do Pai. Dá um sentido novo ao
sofrimento e à morte, pois a Sua passagem é da morte à vida. É uma passagem que
só Deus torna possível, feita com Ele, que é o Filho de Deus. É celebração da
Aliança, da nova e definitiva Aliança e convida-nos, como fez Moisés no Egito,
a fazer memória, isto é, a celebrar de novo a Páscoa nas circunstâncias
concretas de cada momento da caminhada, dando à memória a densidade da
atualidade. Só quando todo o Povo alcançar a definitiva terra prometida, isto
é, estiver reunido na Casa do Pai, é que a Páscoa deixará de ser memória,
porque o presente será a plenitude da liberdade e da alegria. “Eu vo-lo digo:
não voltarei a beber deste produto da videira até ao dia em que beberei
convosco o vinho novo no Reino de Meu Pai” (Mt. 26,29).
A Páscoa cristã adensou a relação entre memória e
atualidade. Enquanto estivermos a caminho, na caminhada da fé, feita não
individualmente, mas em Igreja, o Povo do Senhor, temos de celebrar a Páscoa,
em memória da primeira Páscoa da nova Aliança, mas no realismo da sua
incidência na atualidade da Igreja e de toda a humanidade.
Atualidade da Páscoa
2. Este é o dilema da nossa Páscoa: é apenas uma
cerimónia religiosa que evoca um passado, a ceia pascal de Cristo com os seus
discípulos, como o crucifixo nos recorda o Calvário? Ou tem a densidade do
drama da Igreja e da humanidade atuais, na sua peregrinação para a liberdade,
isto é, para a plenitude da vida? Ansiamos por essa “passagem”, num caminho
árduo, com os olhos postos na terra da promessa? Queremos fazer essa passagem
com o Senhor, com a força do seu amor, que é o seu Espírito? Temos consciência
de que somos um povo a caminho, e que a passagem definitiva só o Senhor a
realizou e aqueles que o seguiram até ao fim e que Ele já reuniu na Casa do
Pai? Qual é o passo seguinte nesta caminhada para a liberdade? Queremos dá-lo
sozinhos, com a nossa iniciativa e as nossas forças, ou queremos dá-lo com Ele,
com a força da sua própria Páscoa, em que venceu o pecado e a morte? Qual é a
densidade existencial da Páscoa deste ano, para cada um de nós, para a Igreja e
para a humanidade por quem Cristo morreu na Cruz?
Celebrar a Páscoa é dar um sentido à nossa luta
presente, por uma Igreja mais fiel e por uma humanidade mais digna do homem.
Só é possível celebrar a Páscoa com Jesus Cristo
3. Só a Páscoa de Jesus Cristo torna possível à
Igreja, à humanidade, a cada um de nós, dar passos em frente, no contexto da
nossa realidade, em ordem à libertação. Sem a força da Páscoa de Jesus, a
humanidade não avança em ordem à liberdade. Ele é o novo Moisés que, em cada
momento da nossa história, nos torna capazes de avançar, de fazer a passagem,
do egoísmo à generosidade, da violência à fraternidade, do individualismo à comunhão.
Ele reuniu misteriosamente em Si toda a humanidade de todos os tempos, quer os
homens o saibam, quer não, e o destino da nossa caminhada está ligado ao seu
próprio destino de triunfador sobre a violência e sobre a morte. É por isso que
celebramos sempre a Páscoa de Jesus Cristo, pois só nela, na sua atualidade,
encontramos luz e força para a nossa Páscoa.
Cristo unificou em Si toda a humanidade, renovando na
redenção a unidade da criação. É que por Ele todas as coisas foram criadas (cf.
Jo. 1,3; Col. 1,15-20). Verbo criador, ao fazer-Se homem uniu ao seu destino o
destino de todos os homens. Só assim se percebe a sua passagem dolorosa da
morte até à ressurreição. A liturgia canta, “Deus não perdoou ao seu próprio
Filho”. Não é a sua salvação que está em questão, mas a da humanidade, todos os
homens seus irmãos. Só com Ele poderão fazer a sua própria passagem de
libertação. Cristo aceita morrer porque os homens precisavam de morrer, para os
desvios da vida presente, para regressarem à vida para que Deus os criou. A
Páscoa de Cristo é, no seu amor generoso e na obediência ao desejo de Deus, seu
Pai, de salvar a humanidade, a Páscoa de toda a humanidade.
O Senhor tem a alegria de ver o fruto do seu amor
generoso. Os que acreditam n’Ele e se unem à sua vida humana de ressuscitado,
unem-se a Ele de uma maneira nova, identificam-se com Ele nessa vida nova,
partilham do seu ardor salvífico, do seu desejo de ajudar todos os homens a
caminhar em direção à terra da promessa. Esses são a sua Igreja, o seu Corpo,
dispostos a partilhar com Ele as vicissitudes da Páscoa da humanidade. A atualidade
da Páscoa de Cristo continua a ser a oferta de Si Mesmo por toda a humanidade.
Só que agora pode unir-se a Ele a sua Igreja, oferecendo-se com Ele pela
salvação de todos os homens. Esta união da Igreja a Jesus Cristo, seu Senhor,
na celebração da Páscoa, é tanto oferta do sofrimento e da morte, como fruição
da vida nova. São Paulo escreve aos Gálatas: “Estou crucificado com Cristo e se
vivo, já não sou eu, mas é Cristo que vive em mim. A minha vida presente na
carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gal.
2,19-20). “Cristo será glorificado no meu corpo, quer eu viva, quer eu morra”
(Fil. 1,21). “Completo no meu corpo o que falta à Paixão de Cristo” (Col.
1,24).
A Páscoa da Igreja participa na plenitude da Páscoa de
Cristo e com Ele merece a Páscoa da humanidade. É o sentido da afirmação do
Concílio Vaticano II que designa a Igreja como sacramento de salvação para toda
a humanidade. Assim, ao celebrarmos, em cada ano, a Páscoa, temos em conta a
nossa Páscoa, a nossa passagem, os passos que precisamos dar para nos unirmos,
o mais totalmente possível, à Pascoa de Jesus.
A Eucaristia e a atualidade da Páscoa
4. A atualidade da Páscoa é a verdade de cada
Eucaristia, celebrada pela Igreja, em união com Cristo seu Senhor. A comunidade
cristã celebra a Páscoa todas as semanas, no primeiro dia da semana, dia em que
Cristo ressuscitou dos mortos. A celebração anual da Páscoa, nesta Semana
Maior, se por um lado afirma a continuidade entre a Páscoa judaica e a Páscoa
cristã, na riqueza da sua liturgia evoca os traços fundamentais da fé da Igreja
em Jesus Cristo, presentes em cada Eucaristia: a realeza e a senhoria de
Cristo; Cristo Sumo Sacerdote, o novo sacerdócio e o novo culto; Cristo pão
vivo descido do céu, dado para nosso alimento; a atualidade da Cruz de Cristo,
abraço de amor de Deus por todos os homens, de todos os tempos; a surpresa da
ressurreição, abrindo para o novo horizonte da vida humana, novo sentido do
nosso corpo, desejo renovado da vida eterna.
A Eucaristia é sempre a celebração da Páscoa. O seu
ritmo semanal, ou mesmo diário, dá realismo à atualidade da Páscoa, que incide,
como desafio renovador, sobre o concreto da vida de cada homem, de cada
comunidade, de cada nação, de toda a humanidade. A Eucaristia semanal ajuda-nos
a aplicar à vida dos homens o sacrifício redentor de Jesus Cristo e a não fazer
dessa celebração uma expressão intemporal que paira sobre a realidade da vida
presente. Na sua Páscoa, Cristo abraçou, com o amor infinito de Deus, todos os
homens; em cada Eucaristia, a Igreja sabe que esse abraço de amor se exprime,
agora, em nós, em todos os nossos irmãos, no realismo das suas vidas. Quem não
acreditar que esse abraço de Deus, se dirige a cada um de nós, no momento
presente da nossa vida, não pode viver plenamente a Eucaristia.
Esta verdade da Eucaristia, no momento presente da
nossa vida, exprime-se na verdade da celebração. No modo como escutamos e
acolhemos a Palavra do Senhor; na intensidade com que nos unimos ao Senhor no
louvor de Deus e no amor por todos os homens; na humildade com que, ao
reconhecermos os nossos pecados, confiamos na força transformadora do seu amor;
na ternura e na confiança com que O recebemos como pão vivo para nos alimentar
na nova vida que com Ele partilhamos; na sinceridade do nosso amor fraterno; no
entusiasmo com que partimos a anunciar que estamos salvos, porque Deus nos ama.
Desde os mais antigos textos litúrgicos, vê-se que as comunidades cristãs
viviam todas estas dimensões na Eucaristia que celebravam e que, com o coração
a transbordar, eram enviados a anunciar o amor de Deus e a amar os irmãos.
Agora ide e anunciai, é o semtido de todas as formas de encerramento da
celebração e de prolongamento dela na fidelidade cristã, na prática da caridade
cristã e no anúncio da boa-nova do Evangelho. A riqueza desta celebração anual
da Páscoa, ensina-nos a celebrar a Eucaristia, todos os domingos ou,
porventura, todos os dias. Cada comunidade e cada cristão vivem da Eucaristia e
na Eucaristia.
Na Eucaristia semanal é mais fácil, e espontâneo,
ligar a Palavra de Jesus ao concreto da vida: as pessoas que morreram, os que
sofrem, no corpo ou no espírito; as etapas importantes da vida de cada um e de
toda a comunidade; os grandes problemas da comunidade humana, que os modernos
meios de comunicação nos ensinaram a descobrir como a única família humana. Em
cada celebração da Eucaristia, todas essas realidades, que agora nos alegram ou
nos afligem, são iluminadas pela Palavra, mergulhados no amor de Jesus,
transformadas em expressão de confiança e de louvor.
Demos à nossa Páscoa deste ano a densidade da
atualidade. Celebremo-la como se fosse a única que nos foi dado celebrar.
Sé Patriarcal, 17 de Abril
de 2011
d. josé policarpo, Cardeal-Patriarca
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