A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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22 Depois disse a
Seus discípulos: «Portanto digo-vos: Não vos preocupeis com o que é preciso
para a vossa vida, com o que haveis de comer, nem com o que é preciso para
vestir o vosso corpo. 23 A vida vale mais que o alimento e o corpo
mais que o vestido. 24 Considerai os corvos, que não semeiam, nem
ceifam, nem têm despensa, nem celeiro, e Deus, contudo, sustenta-os. Quanto
mais valeis vós do que eles? 25 Qual de vós, por muito que pense,
pode acrescentar um côvado à duração da sua vida? 26 Se vós, pois,
não podeis fazer o que é mínimo, porque estais em cuidado sobre o resto? 27
Considerai como crescem os lírios; não trabalham, nem fiam; contudo, digo-vos
que nem Salomão, com toda a sua glória, se vestia como um deles. 28
Se, pois, a erva que hoje está no campo e amanhã se lança no forno, Deus assim
a veste, quanto mais a vós, homens de pouca fé? 29 «Vós, pois, não
procureis o que haveis de comer ou beber; não andeis com o espírito preocupado.
30 Porque são os homens do mundo que buscam todas estas coisas. Mas
o vosso Pai sabe que tendes necessidade delas. 31 Buscai, pois, em
primeiro lugar, o reino de Deus, e todas essas coisas vos serão dadas por
acréscimo. 32 Não temais ó pequenino rebanho, porque foi do agrado
do vosso Pai dar-vos o reino. 33 Vendei o que possuís e dai esmola;
fazei para vós bolsas que não envelhecem, um tesouro inesgotável no céu, onde
não chega o ladrão, nem a traça corrói. 34 Porque onde está o vosso
tesouro, aí estará também o vosso coração. 35 «Estejam cingidos os
vossos rins e acesas as vossas lâmpadas. 36 Fazei como os homens que
esperam o seu senhor quando volta das núpcias, para que, quando vier e bater à
porta, logo lha abram. 37 Bem-aventurados aqueles servos, a quem o
senhor quando vier achar vigiando. Na verdade vos digo que se cingirá, os fará
pôr à sua mesa e, passando por entre eles, os servirá. 38 Se vier na
segunda vigília, ou na terceira, e assim os encontrar, bem-aventurados são
aqueles servos. 39 Sabei que, se o pai de família soubesse a hora em
que viria o ladrão, vigiaria sem dúvida e não deixaria arrombar a sua casa. 40
Vós, pois, estai preparados porque, na hora que menos pensais, virá o Filho do
Homem». 41 Pedro disse-lhe: «Senhor, dizes esta parábola só para nós
ou para todos?».
Vocação e Missão
Introdução
1. Para aceitarmos e tomarmos a sério o desafio de
João Paulo II e de Bento XVI de nos lançarmos numa “nova evangelização” ou uma
“evangelização renovada”, é essencial aprofundar o sentido de missão. É tarefa
de toda a Igreja e de cada membro da Igreja. A missão é realização do desígnio
de Deus acerca da humanidade. Para nós cristãos é continuar a obra de Jesus
Cristo. A sua missão é perene e definitiva. Nós participamos dela, sinal da nossa
íntima união com Ele. Partilhar a vida com Ele é participar na sua missão de
edificar, na sociedade de cada, tempo o Reino de Deus, até que Ele venha. Na
Sagrada Escritura ao dinamismo da missão aparecem ligados a escolha e o
chamamento por Deus (a vocação) e o envio. Deus escolhe e chama aqueles que
quer enviar. Mas é, no contexto da missão, no seu fazer-se no meio dos homens,
que a escolha e o envio ganham sentido. A vocação especifica-se e esclarece-se
na missão.
Guiados pela Palavra de Deus e da Igreja
2. Também na compreensão da missão, da sua natureza e
dos seus caminhos, a Palavra de Deus é o guia seguro. Antes de mais, a Palavra
revela-nos como o plano a realizar e a anunciar é o desígnio de Deus. Todos os
enviados são mensageiros para realizarem no meio dos homens esse plano divino
da salvação. Isso já é claro no Antigo Testamento, sobretudo nos Profetas. Deus
envia a sua Palavra para que ela execute, na história dos homens, o seu plano e
a sua vontade (cf. Is. 55,11). Para nós cristãos, é a Palavra que nos mostra
Jesus Cristo como o grande enviado, para realizar o plano divino da salvação.
Ele apresenta-se aos homens como o enviado de Deus (cf. Lc. 4,17-21). Ele veio
salvar o que estava perdido (cf. Lc. 19,10). Todos os aspetos da obra redentora
de Jesus Cristo estão ligados à missão que recebeu do Pai. Ele veio para fazer
a sua vontade, “a vontade d’Aquele que O enviou” (cf. Jo. 4,34; 6,38ss). A sua
missão é perene e definitiva. Ele é o anunciado e o anunciador. Depois d’Ele,
todos os enviados são enviados por Ele, com a força do Espírito, para continuarem
a realizar, em união com Ele, a missão que recebeu do Pai. Esse é um aspeto que
devemos continuamente descobrir e aprofundar na Palavra de Deus: a missão não é
nova, a força da sua eficácia não está em nós. Unidos a Cristo pelo batismo,
participamos da totalidade da pessoa de Jesus Cristo, como também da sua
missão, e a força da sua eficácia recebemo-la d’Ele e do Espírito Santo. Só a
Palavra de Deus nos ajudará a não cair em visões sociológicas e imanentes da
missão.
A Exortação Apostólica sobre a Palavra de Deus,
orienta-nos nesse sentido: “A missão da Igreja não pode ser considerada como
realidade facultativa ou suplementar da vida eclesial. Trata-se de deixar que o
Espírito Santo nos assimile a Cristo, participando assim na sua própria missão:
«Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós» (Jo. 20,21), de modo a
comunicar a Palavra com a vida inteira. É a própria Palavra que nos impele para
os irmãos; é a Palavra que ilumina, purifica, converte; nós somos apenas
servidores. Por isso, é necessário descobrir cada vez mais a urgência e a
beleza de anunciar a Palavra, para a vinda do Reino de Deus, que o próprio
Cristo pregou. Neste sentido, renovamos a consciência – tão familiar aos Padres
da Igreja – de que o anúncio da Palavra tem como conteúdo o Reino de Deus (cf.
Mc. 1,14-15), sendo este a própria pessoa de Jesus” 1.
Quem é que o Senhor envia
3. No Novo Testamento são postos em relevo aqueles que
o Senhor escolheu para a missão, para realizarem com Ele a mesma missão.
Sobressaem, entre esses escolhidos e enviados, os doze Apóstolos. Mas há outros
enviados. De uma só vez 72 discípulos (cf. Lc. 9,1). O sentido desse envio é
claro na intenção de Jesus: “Quem vos escuta, escuta-me a Mim, quem vos
rejeitar, rejeita-me a Mim e quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou”
(Lc. 10,16). “Quem vos recebe recebe-me a Mim e quem Me recebe, recebe Aquele
que Me enviou” (Jo. 13,20). Há uma identificação entre a missão de Jesus e a
daqueles que Ele envia. A missão é a mesma, é só uma, recebida de Deus Pai. Com
a Páscoa e o Pentecostes surge uma realidade nova: aqueles que se uniram a
Cristo ressuscitado pelo batismo, a quem Ele comunicou o Espírito Santo,
tornando-se um “nós”, o Povo do Senhor, a sua Igreja, realização definitiva do
Povo escolhido, com quem Deus celebrou a última e definitiva Aliança, no Sangue
de Cristo. A identidade entre Cristo e a Igreja é total, a comunhão entre eles
é profunda. Cristo ama a Igreja como um esposo ama a sua esposa. Assim, desde o
início, surge uma consciência coletiva da Igreja. Quem Deus envia é a sua
Igreja; é esta que recebe do seu Senhor a missão de prolongar no tempo a sua
própria missão. Os escolhidos e enviados não são apenas alguns mas todos pelo
próprio facto de pertencer à Igreja. A consciência desta missão é aspeto
importante da própria consciência de pertença à Igreja.
Ouçamos, a este propósito, a mais recente Palavra da
Igreja: “Uma vez que todo o Povo de Deus é um povo «enviado», o Sínodo reafirmou
que «a missão de anunciar a Palavra de Deus é dever de todos os discípulos de
Jesus Cristo, em consequência do seu batismo». Nenhuma pessoa que crê em Cristo
pode sentir-se alheia a esta responsabilidade que deriva do facto de ela
pertencer sacramentalmente ao Corpo de Cristo. Esta consciência deve ser
despertada em cada família, paróquia, comunidade, associação e movimento
eclesial. Portanto, toda a Igreja, enquanto mistério de comunhão, é
missionária, e cada um, no seu próprio estado de vida, é chamado a dar uma contribuição
incisiva para o anúncio cristão” 2.
Esta consciência de que cada cristão é enviado e
participa da responsabilidade pela missão da Igreja é decisiva para um novo
dinamismo de evangelização.
O âmbito da missão
4. Para todos se empenharem na realização atual da
missão de Cristo e da Igreja, é preciso ter consciência do âmbito da missão,
das realidades humanas que desafiam o anúncio da boa-nova do Reino de Deus.
Ouçamos, mais uma vez, como a Exortação Apostólica nos apresenta este âmbito da
missão: “O Senhor oferece a salvação aos homens de cada época. Todos nos damos
conta de quão necessário é que a luz de Cristo ilumine cada âmbito da
humanidade: a família, a escola, a cultura, o trabalho, o tempo livre e os
outros setores da vida social. Não se trata de anunciar uma palavra
anestesiante, mas desinstaladora, que chama à conversão, que torna acessível o
encontro com Ele, através do qual floresce uma humanidade nova” 3. A
missão, nos nossos dias, não pode ser vista apenas no seu aspeto marcadamente
eclesiástico. Toda a realidade humana, em que os cristãos estão inseridos como
pessoas, os desafia a um testemunho de vida que cria ruturas, inquietações e
abre janelas para uma outra perspetiva da vida. Esse é o âmbito privilegiado da
nova evangelização, em que os cristãos, homens no meio dos outros homens, são
chamados a ser, no ardor da sua vivência cristã, uma luz que é a luz de Cristo.
Nesta visão da missão, a Igreja descobre-se continuamente como enviada ao
mundo, atitude que marcará a sua maneira de olhar e julgar a sociedade dos
homens. Desde o Concílio Vaticano II que o sentir-se enviada ao mundo decidirá
da maneira como a Igreja está no mundo.
Mas esta perspetiva não anula a consciência de que a
Igreja, na sua realidade interna, é um espaço de evangelização. Para ser fiel à
sua missão, a Igreja precisa de ser continuamente evangelizada 4.
5. Esta consciência da missão da Igreja também não
anula, nem relativiza, a missão concreta de cada cristão, que pode corresponder
a uma vocação específica. O âmbito da missão é de tal modo alargado, abarcando
toda a realidade humana do mundo contemporâneo, que é natural e necessário que
cada cristão se sinta chamado e enviado a empenhar-se na realização de aspetos
concretos da missão. E alguns há que estão bastante a descoberto nas nossas
sociedades contemporâneas. Para que este “particularismo” da missão seja
autêntico, exigem-se duas atitudes: que cada missão particular esteja aberta à
universalidade da missão, e que cada um considere a sua missão particular como
fazendo parte da missão da Igreja. Esta é o horizonte, que define os limites da
autonomia na consideração da missão pessoal de cada um de nós.
Vocação e missão
6. Deus chama aqueles que escolheu para enviar. São
Paulo resume bem esta situação: aqueles que escolheu, chamou-os e consagrou-os;
a esses Ele enviou-os. No Antigo Testamento e durante a vida pública de Jesus,
ressalta a densidade das escolhas pessoais, dos profetas, dos apóstolos, de
Paulo na estrada de Damasco. Só Deus sabe porque escolheu uma pessoa. Mas uma
coisa é clara: escolhe para enviar em missão, a realizar o seu desígnio.
Algumas destas vocações revestem-se de uma certa dramaticidade: as pessoas sentem
que a sua vida mudou. Os Apóstolos deixam tudo para seguir Jesus.
A Igreja percebeu, desde o início, que ser cristão é
uma vocação. Desaparece a dramaticidade da interpelação pessoal, permanece a
densidade de seguir Jesus Cristo, em tudo e com todas as consequências. Aderir
à fé é considerado um autêntico chamamento. É nesse sentido que Paulo recorda
aos Coríntios: “Considerai o vosso chamamento” (1Co. 1,26). A vida
cristã é uma vocação porque é um chamamento do Espírito Santo; Ele suscita a
resposta a esse chamamento: a fidelidade filial. A Igreja reconhece-se como a
comunidade dos que foram chamados. A palavra grega com que se diz Igreja, significa,
na sua raiz, que a Igreja é a “eleita”, “a escolhida”, e a “chamada”. É porque
ela deve escutar a voz do esposo e responder-lhe: “Vem, Senhor Jesus” (Apc.
22,20).
Mas já Paulo reconhece que no interior desta comum
vocação “há diversidade de dons, de ministérios, de operações”. Mas na diversidade
de carismas, há um só Corpo e um só Espírito (cf. 1Co. 12,4-13).
Esta é a novidade cristã: as interpelações feitas pelo Espírito a cada um
adquirem a densidade de uma vocação, se exprimirem a vocação de toda a Igreja,
porque é ela a principal “chamada” e a continuamente enviada. A concretização
deste dinamismo acaba por fazer descobrir a Igreja, não apenas como a que é
chamada e enviada, mas como a que chama e envia. As “moções” pessoais do
Espírito precisam de ser discernidas, na sua autenticidade, pela Igreja e só se
tornam realmente vocação quando a Igreja chama. A Igreja pode chamar e enviar
mesmo quando as pessoas não sentirem interiormente essa sugestão de Deus.
Quando a Igreja as chama para a missão, são interpeladas a mudar a sua vida, os
seus projetos de vida, para poder responder ao chamamento. A voz da Igreja que
chama e envia, é equivalente à voz de Deus que chamou os profetas, à Palavra de
Jesus que chamou os Apóstolos. A Igreja é, verdadeiramente, o lugar da vocação
e da missão.
As missões fundadoras da Igreja missão
7. Quero terminar esta Catequese sobre a vocação e a
missão, recordando que há vocações e missões fundadoras e inspiradoras de toda
a missão da Igreja. Antes de mais, a de Jesus Cristo, que tem uma
consciência clara da sua missão: “O Pai consagrou-Me e enviou-Me ao mundo” (Jo.
10,16). No caso de Cristo, o Novo Testamento nunca fala de vocação. Não há um
momento em que Deus O chama. A sua missão tem origem no seio do mistério de
Deus, de Quem Ele é o Filho. A decisão do Pai não é chamá-l’O, mas sim
enviá-l’O.
Depois, a de Maria. Neste caso há chamamento e missão.
A visita de Gabriel, mensageiro de Deus, é um chamamento a que Maria responde,
aceitando a missão: “Faça-se em mim segundo a Tua Palavra”. Aceita na
obediência e na alegria: “A minha alma exulta…”. Ela é, para a Igreja, o modelo
de aceitação da missão, na alegria 5.
A vocação e missão dos Apóstolos. Escolhidos um a um
por Jesus, a sua resposta vai sendo dada à medida que vivem a missão de Jesus.
Tornaram-se assim constitutivos e garantias da fecundidade da missão de Cristo,
para a Igreja e para o mundo. O ministério apostólico é uma missão
especialíssima, no conjunto da Igreja missão. A sua fecundidade é garantia da
nossa autenticidade cristã.
Sé Patriarcal, 10 de Abril de 2011
d.
josé policarpo,
Cardeal-Patriarca
___________________________________________
NOTAS:
1 Verbum
Domini (VD), nº 93
2 VD, nº 94
3 VD, nº 93
4 Cf. Paulo VI, Evangelii Nuntiandi
5 Cf. VD, nº 124
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