A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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38 Indo em viagem,
entrou numa aldeia, e uma mulher, chamada Marta, recebeu-O em sua casa. 39
Esta tinha uma irmã, chamada Maria que, sentada aos pés do Senhor, ouvia a Sua
palavra. 40 Marta, porém, afadigava-se muito na contínua lida da
casa. Aproximando-se, disse: «Senhor, não Te importas que a minha irmã me tenha
deixado só com o serviço da casa? Diz-lhe, pois, que me ajude». 41 O
Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, tu afadigas-te e andas inquieta com muitas
coisas 42 quando uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor
parte, que não lhe será tirada».
11 1
Estando Ele a fazer oração em certo lugar, quando acabou, um dos Seus
discípulos disse-Lhe: «Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos
seus discípulos». 2 Ele respondeu-lhes: «Quando orardes, dizei: Pai,
santificado seja o Teu nome. Venha o Teu reino.3 O pão nosso de cada
dia dá-nos hoje 4 perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós
perdoamos a todos os que nos ofendem; e não nos deixes cair em tentação». 5
Disse-lhes mais: «Se algum de vós tiver um amigo, e for ter com ele à
meia-noite para lhe dizer: Amigo, empresta-me três pães ,6 porque um
meu amigo acaba de chegar a minha casa de uma viagem e não tenho nada que lhe
dar; 7 e ele, respondendo lá de dentro, disser: Não me incomodes, a
porta está agora fechada, os meus filhos e eu estamos deitados; não me posso
levantar para tos dar; 8 digo-vos que, ainda que ele não se
levantasse a dar-lhos por ser seu amigo, certamente pela sua impertinência se
levantará e lhe dará tudo aquilo de que precisar. 9 Eu digo-vos:
Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. 10
Porque todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra; e ao que bate, se
lhe abrirá. 11 «Qual de entre vós é o pai que, se um filho lhe pedir
pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, em vez de peixe, lhe dará
uma serpente? 12 Ou, se lhe pedir um ovo, porventura dar-lhe-á um
escorpião? 13 Se pois vós, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos
vossos filhos, quanto mais o vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que
Lho pedirem».
Cristo presente nos cristãos 2
Aplicação à nossa vida
corrente
Percorremos
algumas páginas dos Santos Evangelhos para contemplar Jesus no seu convívio com
os homens e para aprendermos a levar Cristo aos nossos irmãos, os homens, sendo
nós próprios Cristo. Apliquemos esta lição à nossa vida corrente, à vida de
cada um de nós. Porque a vida corrente e ordinária, a vida de cada homem entre
os seus concidadãos e seus iguais, não é coisa baixa e sem relevo; é
precisamente nessas circunstâncias que o Senhor quer que se santifique a imensa
maioria dos seus filhos.
É
necessário repetir uma e mais vezes que Jesus não se dirigiu a um grupo de privilegiados,
mas veio revelar-nos o amor universal de Deus. Todos os homens são amados por
Deus; de todos eles espera amor, de todos, quaisquer que sejam a sua condição,
a sua posição social, a sua profissão ou oficio. A vida corrente e ordinária
não é coisa de pouco valor; todos os caminhos da Terra podem ser uma ocasião de
encontro com Cristo, que nos chama a identificar-nos com Ele, para realizarmos
- no lugar onde estamos - a sua missão divina.
Deus
chama-nos através dos incidentes da vida de cada dia, no sofrimento e na
alegria das pessoas com quem convivemos, nas preocupações dos nossos
companheiros, nas pequenas coisas da vida familiar. Deus também nos chama
através dos grandes problemas, conflitos e ideais que definem cada época
histórica, atraindo o esforço e o entusiasmo de grande parte da Humanidade.
Compreende-se
muito bem a impaciência, a angústia, os inquietos anseios daqueles que, com uma
alma naturalmente cristã, não se resignam perante a injustiça individual e social
que o coração humano é capaz de criar. Tantos séculos de convivência dos homens
entre si, e ainda tanto ódio, tanta destruição, tanto fanatismo acumulado em
olhos que não querem ver e em corações que não querem amar! Os bens da Terra,
repartidos entre muito poucos; os bens da cultura, encerrados em cenáculos...E,
lá fora, fome de pão e de sabedoria; vidas humanas - que são santas, porque vêm
de Deus - tratadas como simples coisas, como números de uma estatística!
Compreendo e compartilho dessa impaciência, levantando os olhos para Cristo,
que continua a convidar-nos a pormos em prática o mandamento novo do amor.
Todas
as situações que a nossa vida atravessa nos trazem uma mensagem divina, nos pedem
uma resposta de amor, de entrega aos demais. Quando vier o Filho do homem em toda a sua majestade, acompanhado de
todos seus anjos, há-de sentar-se então no seu trono de glória. Perante Ele
reunir-se-ão todas as nações e Ele apartará as pessoas umas das outras, como o
pastor separa as ovelhas dos cabritos. À sua direita porá as ovelhas, e os
cabritos à esquerda. O Rei dirá então, aos da sua direita: Vinde, benditos do
meu Pai, recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do
mundo. Porque tive fome e destes-Me de comer, tive sede e destes-Me de beber;
era peregrino e recolhestes-Me; estava nu e vestistes-Me; adoeci e
visitastes-Me, estive na prisão e fostes ter comigo. Então os justos
responder-Lhe-ão: Senhor, quando é que Te vimos com fome e Te demos de comer,
com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos peregrino e Te recolhemos,
ou nu e Te vestimos?
E quando Te vimos doente
ou na prisão e fomos visitar-Te? E o Rei dir-lhes-á em resposta: Em verdade vos
digo, sempre que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes.
É
preciso reconhecer Cristo que nos sai ao encontro nos nossos irmãos, os homens.
Nenhuma
vida humana é uma vida isolada; entrelaça-se com as demais. Nenhuma pessoa é um
verso solto; todos fazemos parte de um mesmo poema divino, que Deus escreve com
o concurso da nossa liberdade.
Nada
há que seja alheio ao interesse de Cristo. Falando com profundidade teológica,
isto
é, se não nos limitamos a uma classificação funcional, não se pode dizer
rigorosamente que haja realidades - boas, nobres e até indiferentes - que sejam
exclusivamente profanas, uma vez que o Verbo de Deus fixou morada entre os
filhos dos homens, teve fome e sede, trabalhou com as suas mãos, conheceu a
amizade e a obediência, experimentou a dor e a morte. Porque foi do agrado de Deus que residisse Nele toda a plenitude e por
Ele fossem reconciliadas consigo todas a coisas, pacificando, pelo sangue da
sua Cruz, tanto as da Terra como as dos Céus.
Devemos
amar o mundo, o trabalho, as realidades humanas. Porque o mundo é bom.
Foi
o pecado de Adão que desfez a harmonia divina da criação. Mas Deus Pai enviou o
seu Filho unigénito para restabelecer a paz, para que nós, tornados filhos de
adopção, pudéssemos libertar a criação da desordem e reconciliar todas as
coisas com Deus.
Cada
situação humana é irrepetível, fruto de uma educação única, que se deve viver com
intensidade, realizando nela o espírito de Cristo. Assim, vivendo cristãmente
entre os nossos iguais, com naturalidade mas de modo coerente com a nossa fé,
seremos Cristo presente entre os homens.
Ao
considerar a dignidade da missão a que Deus nos chama talvez possa surgir a presunção,
a soberba, na alma humana. É uma falsa consciência da vocação cristã aquela que
nos cegar, aquela que nos fizer esquecer que somos feitos de barro, que somos
pó e miséria. Na verdade, não há mal apenas no mundo, ao nosso redor; o mal
está dento de nós, abriga-se no nosso próprio coração, tornando-nos capazes de
vilanias e de egoísmos. Só a graça de Deus é rocha firme; nós somos areia, e
areia movediça.
Se
se percorre com um olhar a história dos homens ou a situação actual do mundo, é
doloroso verificar que, passados vinte séculos, há tão poucos que se chamam
cristãos e que os que se adornam com esse nome são tantas vezes infiéis à sua
vocação. Há anos, uma pessoa, que não tinha mau coração, mas não tinha fé,
apontando-me o mapa-múndi, comentou: Aí
está o fracasso de Cristo: tantos séculos procurando meter na alma dos homens a
sua doutrina, e veja os resultados - não há cristãos.
Não
falta hoje quem pense assim. Cristo, porém, não fracassou; a sua palavra e a
sua vida fecundam continuamente o mundo. A obra de Cristo, a tarefa que seu Pai
Lhe encomendou, está a realizar-se; a sua força atravessa a História, trazendo
a vida verdadeira e quando tudo Lhe estiver
sujeito, então também o próprio Filho se submeterá Àquele que tudo Lhe
submeteu, a fim de que Deus seja tudo em todos.
Nesta
tarefa que vai realizando no mundo, Deus quis que sejamos seus cooperadores; quer
correr o risco da nossa liberdade.
Emociona-me profundamente contemplar a figura de Jesus recém-nascido em Belém:
um menino indefeso, inerme, incapaz de oferecer resistência...
Deus
entrega-Se nas mãos dos homens; aproxima-Se e desce até nós! Jesus Cristo, sendo de condição divina, não reivindica o direito
de ser equiparado a Deus, mas despojou-Se a Si mesmo, tomando a condição de
servo. Deus condescende com a nossa liberdade, com a nossa imperfeição, com
as nossas misérias. Consente que os tesouros divinos sejam levados em vasos de
barro; que O demos a conhecer misturando as nossas deficiências com a sua força
divina.
A
experiência do pecado não nos deve, portanto, fazer duvidar da nossa missão.
Certamente
que os nossos pecados podem dificultar que Cristo seja reconhecido, e por isso devemos
lutar contra as nossas misérias pessoais, buscar a purificação, sabendo, porém,
que Deus não nos prometeu a vitória absoluta sobre o mal nesta vida, mas o que
nos pede é luta.
Sufficit tíbi gratia mea,
basta-te a minha graça, respondeu Deus a Paulo, que pedia a sua libertação do
aguilhão que o humilhava.
O
poder de Deus manifesta-se na nossa fraqueza, e incita-nos a lutar, a combater
os nossos defeitos, mesmo sabendo que nunca obteremos completamente a vitória
durante este caminhar terreno. A vida cristã é um constante começar e
recomeçar, uma renovação em cada dia.
Cristo
ressuscita em nós, se nos tornarmos comparticipantes da sua Cruz e da sua Morte.
Temos de amar a Cruz, a entrega a mortificação. O optimismo cristão não é um optimismo
cómodo, nem uma confiança humana em que tudo correrá bem; é um optimismo que se
enraíza na consciência da liberdade e na fé na graça; é um optimismo que nos
obriga a exigirmo-nos a nós próprios, a esforçarmo-nos por corresponder ao
chamamento de Deus.
Cristo
manifesta-se, portanto, não já apesar
da nossa miséria, mas, de certo modo, através
da nossa miséria, da nossa vida de homens feitos de carne e de barro, no
esforço por sermos melhores, por realizarmos um amor que aspira a ser puro, por
dominarmos o egoísmo, por nos entregarmos plenamente aos demais, fazendo da
nossa existência um serviço constante.
Não
quero terminar sem uma última reflexão: o cristão, ao tornar Cristo presente
entre os homens, sendo ele mesmo ipse
Christus, não procura apenas viver numa atitude de amor, mas também dar a
conhecer o Amor de Deus através desse amor humano.
Jesus
concebeu toda a sua vida como uma revelação desse amor: Filipe, - respondeu a um dos seus Apóstolos - quem me vê a Mim, vê o Pai. Seguindo esse ensinamento, o Apóstolo João
convida os cristãos a que, já que conheceram o amor de Deus, o manifestem com
as suas obras: Caríssimos, amemo-nos uns
aos outros; porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e
conhece-0. Aquele que não ama não conhece Deus, porque Deus é Amor. Nisto se
manifestou o amor de Deus para connosco: em ter enviado o seu Filho unigénito
ao mundo para que por Ele vivamos. Nisto consiste o seu amor: não fomos nós que
amámos Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho para propiciação
pelos nossos pecados. Caríssimos, se Deus nos amou assim, também nos devemos
amar uns aos outros.
É
necessário, portanto, que a nossa fé seja viva, que nos leve realmente a crer
em Deus e a manter um constante diálogo com Ele. A vida cristã deve ser vida de
oração constante, procurando nós estar na presença do Senhor da manhã até à
noite e da noite até à manhã. O cristão nunca é um homem solitário, posto que
vive numa conversa contínua com Deus, que está junto de nós e nos Céus.
Sine intermissione orate,
manda o Apóstolo - orai sem interrupção. E, recordando esse preceito
apostólico, escreve Clemente de Alexandria: Manda-se-nos
louvar e honrar o Verbo, a quem conhecemos como salvador e rei; e por Ele o
Pai, não em dias escolhidos, como fazem alguns, mas constantemente, ao longo de
toda a vida, e de todos os modos possíveis.
No
meio das ocupações de cada jornada, no momento de vencer a tendência para o egoísmo,
ao sentir a alegria da amizade com os outros homens, em todos esses instantes o
cristão deve reencontrar Deus. Por Cristo e no Espírito Santo, o cristão tem
acesso à intimidade de Deus Pai, e percorre o seu caminho buscando esse reino,
que não é deste mundo, mas que neste mundo se inicia e prepara.
É
preciso privar com Cristo na palavra e no Pão, na Eucaristia e na Oração.
Tratá-Lo como se trata com um amigo, com um ser real e vivo como Cristo é,
porque ressuscitou. Cristo, lemos na epístola aos Hebreus, como permanece eternamente, possui um sacerdócio eterno. Por isso, pode
salvar perpetuamente os que por Ele se aproximam de Deus, vivendo sempre para
interceder em seu favor.
Cristo,
Cristo ressuscitado, é o companheiro, o Amigo. Um companheiro que se deixa ver
só entre sombras, mas cuja realidade enche toda a nossa vida, e que nos faz
desejar a sua companhia definitiva. O
Espírito e a Esposa dizem: Vem/ E aquele que ouve, diga: Vem! Que aquele que
tenha sede, venha! Que aquele que O deseja, receba gratuitamente a água da
vida... O que dá testemunho destas coisas diz: Sim, Eu venho em breve. Assim
seja. Vem, Senhor Jesus!
são josemaría escrivá, Cristo presente nos cristãos, Homilia 26.03.1967.
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