19/09/2013

Leitura espiritual para 19 Set

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 10, 21-37

21 Naquela mesma hora Jesus exultou de alegria no Espírito Santo, e disse: «Graças Te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos prudentes, e as revelaste aos simples. Assim é, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado. 22 Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai; e ninguém sabe quem é o Filho, senão o Pai, nem quem é o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar». 23 Depois, tendo-Se voltado para os discípulos, disse: «Felizes os olhos que vêem o que vós vedes. 24 Porque Eu vos afirmo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes e não o viram, ouvir o que vós ouvis e não o ouviram». 25 Eis que se levantou um doutor da lei, e disse-Lhe para o experimentar: «Mestre, que devo eu fazer para alcançar a vida eterna?». 26 Jesus respondeu-lhe: «O que é que está escrito na Lei? Como lês tu?». 27 Ele respondeu: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e o teu próximo como a ti mesmo». 28 Jesus disse-lhe: «Respondeste bem: faz isso e viverás». 29 Mas ele, querendo justificar-se, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?». 30 Jesus, retomando a palavra, disse: «Um homem descia de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos ladrões, que o despojaram, o espancaram e retiraram-se, deixando-o meio morto. 31 Ora aconteceu que descia pelo mesmo caminho um sacerdote que, quando o viu, passou de largo. 32 Igualmente um levita, chegando perto daquele lugar e vendo-o, passou adiante. 33 Um samaritano, porém, que ia de viagem, chegou perto dele e, quando o viu, encheu-se de compaixão. 34 Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu jumento, levou-o a uma estalagem e cuidou dele. 35 No dia seguinte tirou dois denários, deu-os ao estalajadeiro e disse-lhe: Cuida dele; quanto gastares a mais, eu to pagarei quando voltar. 36 Qual destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões?». 37 Ele respondeu: «O que usou de misericórdia com ele». Então Jesus disse-lhe: «Vai e faz tu o mesmo».



Cristo presente nos cristãos

Cristo vive. Esta é a grande verdade que enche de conteúdo a nossa fé. Jesus, que morreu na cruz, ressuscitou; triunfou da morte, do poder das trevas, da dor e da angústia. Não temais - foi com esta invocação que um anjo saudou as mulheres que iam ao sepulcro. Não
temais. Procurais Jesus de Nazaré, que foi crucificado. Ressuscitou; não está aqui. Haec est dies quam fecit Dominus, exultemus et laetemur in ea - este é o dia que o Senhor fez; alegremo-nos.

O tempo pascal é tempo de alegria, de uma alegria que não se limita a esta época do ano litúrgico, mas mora sempre no coração dos cristãos. Porque Cristo vive. Cristo não é uma figura que passou, que existiu em certo tempo e que se foi embora, deixando-nos uma recordação e um exemplo maravilhosos. Não. Cristo vive. Jesus é Emanuel: Deus connosco. A sua Ressurreição revela-nos que Deus não abandona os seus. Pode a mulher esquecer o fruto do seu seio e não se compadecer do filho das suas entranhas? Pois ainda que ela se
esquecesse, eu não me esquecerei de ti, havia-nos Ele prometido. E cumpriu a promessa. Deus continua a ter as suas delícias entre os filhos dos homens.

Cristo vive na sua Igreja. "Digo-vos a verdade: convém-vos que Eu vá; porque se Eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se Eu for, enviar-vo-Lo-ei". Esses eram os desígnios de Deus: Jesus morrendo na Cruz, dava-nos o Espírito de Verdade e de Vida. Cristo permanece na sua Igreja: nos seus sacramentos, na sua liturgia, na sua pregação, em toda a sua actividade.

De modo especial, Cristo continua presente entre nós nessa entrega diária que é a Sagrada Eucaristia. Por isso a Missa é o centro e a raiz da vida cristã. Em todas as Missas está sempre presente o Cristo total, Cabeça e Corpo. Per Ipsum, et cum Ipso, et in Ipso. Porque Cristo é o Caminho, o Mediador. Nele tudo encontramos; fora d’Ele a nossa vida torna-se vazia. Em Jesus Cristo, e instruídos por Ele, atrevemo-nos a dizer - audemus dicerePater noster, Pai nosso. Atrevemo-nos a chamar Pai ao Senhor dos Céus e da Terra.

A presença de Jesus vivo na Sagrada Hóstia é a garantia, a raiz e a consumação da sua presença no Mundo.
Cristo vive no cristão. A fé diz-nos que o homem, em estado de graça, está endeusado.
Somos homens e mulheres; não anjos. Seres de carne e osso, com coração e paixões, com tristezas e alegrias; mas a divinização envolve o homem todo, como antecipação da ressurreição gloriosa. Cristo ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram. Porque, assim como por um homem veio a morte, também veio por um homem a ressurreição. Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também em Cristo todos são vivificados.

A vida de Cristo é vida nossa, segundo o que prometera aos. seus Apóstolos no dia da última Ceia: Todo aquele que me ama observará os meus mandamentos, e meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos nele morada. O cristão, portanto, deve viver segundo a vida de Cristo, tornando seus os sentimentos de Cristo de tal modo que possa exclamar com S. Paulo: Nonvivo ego, vivit vero in me Christus; não sou eu quem vive; é Cristo que vive em mim.

Jesus Cristo, fundamento da vida cristã

Quis recordar, embora brevemente, alguns dos aspectos do viver actual de Cristo – Iesus Christus heri et hodie; ipse et in saecula; Jesus Cristo é sempre o mesmo, ontem e hoje, e por toda a eternidade - porque aí está o fundamento de toda a vida cristã. Se olharmos ao nosso redor e considerarmos o decurso da história da Humanidade, observaremos progressos, avanços: a Ciência deu ao homem uma consciência maior do seu poder; a Técnica domina a Natureza melhor do que em épocas passadas; e permite à Humanidade sonhar com um nível mais alto de cultura, de vida material, de unidade.

Talvez alguns se sintam levados a matizar este quadro, recordando que os homens padecem agora injustiças e guerras maiores ainda do que as passadas. E não lhes falta razão.
Mas, por cima dessas considerações, prefiro recordar que, no domínio religioso, o homem continua a ser homem e Deus continua a ser Deus. Neste campo, o cume do progresso já se deu; é Cristo, alfa e ómega, princípio e fim.

No terreno espiritual não há nenhuma nova época a que chegar. Já tudo se deu em Cristo, que morreu e ressuscitou, e vive, e permanece para sempre. Mas é preciso unirmo-nos a Ele pela fé, deixando que a sua vida se manifeste em nós, de maneira que se possa dizer que cada cristão é, não já alter Christus, mas ipse Christus, o próprio Cristo.

Instaurare omnia in Christo, é o lema que S. Paulo dá aos cristãos de Éfeso: dar forma a tudo segundo o espírito de Jesus; colocar Cristo na entranha de todas as coisas: Si exaltatus fuero a terra, omnia traham ad meipsum: quando Eu for levantado sobre a terra, tudo atrairei a mim. Cristo, com a sua Encarnação, com a sua vida de trabalho em Nazaré, com a sua pregação e os seus milagres por terras da Judeia e da Galileia, com a sua morte na Cruz, com a sua Ressurreição, é o centro da Criação, Primogénito e Senhor de toda a criatura.

A nossa missão de cristãos é proclamar essa Realeza de Cristo; anunciá-la com a nossa palavra e com as nossas obras. O Senhor quer os seus em todas as encruzilhadas da Terra. Alguns, chama-os ao deserto, desentendidos das inquietações da sociedade humana, para recordarem aos outros homens, com o seu testemunho, que Deus existe. Encomenda a outros o ministério sacerdotal. À grande maioria, o Senhor quere-a no mundo, no meio das ocupações terrenas. Estes cristãos, portanto, devem levar Cristo a todos os ambientes em que se desenvolve o trabalho humano: à fábrica, ao laboratório, ao trabalho do campo, à oficina do artesão, às ruas das grandes cidades e às veredas da montanha.

Gosto de recordar a este propósito o episódio da conversa de Cristo com os discípulos de Emaús. Jesus caminha junto daqueles dois homens que perderam quase toda a esperança, de modo que a vida começa a parecer-lhes sem sentido. Compreende a sua dor, penetra nos seus corações, comunica-lhes algo da vida que Nele habita. Quando, ao chegar àquela aldeia, Jesus faz menção de seguir para diante, os dois discípulos retêm-No e quase O forçam a ficar com eles. Reconhecem-No depois ao partir o pão: - O Senhor, exclamam, esteve connosco! Então disseram um para o outro: Não é verdade que sentíamos abrasar-se-nos o coração dentro de nós enquanto nos falava no caminho e nos explicava as Escrituras? Cada cristão deve tornar Cristo presente entre os homens; deve viver de tal maneira que todos com quem contacte sintam o bonus odor Christi, o bom odor de Cristo, deve actuar de forma que, através das acções do discípulo, se possa descobrir o rosto do Mestre.

O cristão sabe que está enxertado em Cristo pelo Baptismo; habilitado a lutar por Cristo pela Confirmação; chamado a actuar no mundo pela participação que tem na função real, profética e sacerdotal de Cristo; feito uma só coisa com Cristo pela Eucaristia, Sacramento da unidade e do amor. Por isso, tal como Cristo, há-de viver voltado para os outros homens, olhando com amor para todos e cada um dos que o rodeiam, para a Humanidade inteira.

A fé leva-nos a reconhecer Cristo como Deus, a vê-Lo como nosso Salvador, a identificarmo-nos com Ele, actuando como Ele actuou. O Ressuscitado, depois de arrancar das suas dúvidas o Apóstolo Tomé, mostrando-lhe as chagas, exclama: Bem-aventurados os que, sem me verem, acreditaram. Aqui - comenta S. Gregório Magno - fala-se de nós de um modo particular, porque nós possuímos espiritualmente Aquele a Quem corporalmente não vimos.Fala-se de nós, mas com a condição de que as nossas acções se conformem à nossa fé. Não crê verdadeiramente senão quem, no seu actuar, põe em prática o que crê. Por isso, a propósito daqueles que da fé não possuem mais do que as palavras, diz S. Paulo: professam conhecer Deus mas negam-no com as obras.

Não é possível separar em Cristo o ser de Deus-Homem e a sua função de Redentor. O Verbo fez-se carne e veio à Terra ut omnes homines salvi fiant, para salvar todos os homens.
Com todas as nossas misérias e limitações pessoais, nós somos outros Cristos, o próprio Cristo, e somos também chamados a servir todos os homens.

É necessário que ressoe uma e outra vez aquele mandamento que continuará a ser novo através dos séculos: Caríssimos - escreve S. João - não vos escrevo um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que recebestes desde o princípio. Este mandamento antigo é a palavra divina que ouvistes. E, no entanto, falo-vos de um mandamento novo, que é verdadeiro n’Ele mesmo e em vós porque as trevas já passaram e já resplandece a verdadeira luz. Quem diz que está na luz e aborrece o seu irmão, ainda está nas trevas. Quem ama o seu irmão permanece na luz e nele não há ocasião de queda.

Nosso Senhor veio trazer a paz, a boa nova, a vida a todos os homens. Não só aos ricos, nem só aos pobres; não só aos sábios, nem só à gente simples; a todos; aos irmãos, pois somos irmãos, já que somos filhos de um mesmo Pai, Deus. Não há, portanto, mais do que uma raça: a raça dos filhos de Deus. Não há mais que uma cor: a cor dos filhos de Deus. E não há senão uma língua: a que nos fala ao coração e à inteligência, sem ruído de palavras, mas dando-nos a conhecer Deus e fazendo que nos amemos uns aos outros.

Contemplação da vida de Cristo

É esse amor de Cristo que cada um de nós deve se esforçar por realizar na sua vida.
Mas para ser ipse Christus é preciso mirar-se Nele. Não basta ter-se uma ideia geral do espírito que Jesus viveu; é preciso aprender com Ele pormenores e atitudes. É preciso contemplar a sua vida, sobretudo para daí tirar força, luz, serenidade, paz.

Quando se ama alguém, deseja-se conhecer toda a sua vida, o seu carácter, para nos identificarmos com essa pessoa. Por isso temos de meditar na vida de Jesus, desde o Seu nascimento num presépio até à Sua morte e à Sua Ressurreição. Nos primeiros anos do meu labor sacerdotal costumava oferecer exemplares do Evangelho ou livros onde se narra a vida de Jesus, porque é necessário que a conheçamos bem, que a tenhamos inteira na mente e no coração, de modo que, em qualquer momento, sem necessidade de nenhum livro, cerrando os olhos, possamos contemplá-la como um filme; de forma que, nas mais diversas situações da nossa vida, acudam à memória as palavras e os actos do Senhor.

Sentir-nos-emos assim metidos na sua vida. Na verdade, não se trata apenas de pensar em Jesus e de imaginar aqueles episódios; temos de meter-nos em cheio neles, como actores; temos de seguir Cristo tão de perto como Santa Maria, sua Mãe; como os primeiros Doze; como as santas mulheres; como aquelas multidões que se apertavam ao Seu redor. Se fizermos assim, se não criarmos obstáculos, as palavras de Cristo penetrarão até ao fundo da nossa alma e transformar-nos-ão. Porque a palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante que uma espada de dois gumes; introduz-se até à divisão da alma e do espírito, até às junturas e medulas; e discerne os pensamentos e intenções do coração.

Se queremos levar os outros homens ao Senhor, é necessário abrir o Evangelho e contemplar o amor de Cristo. Podíamos fixar as cenas-cume da Paixão, porque, como Ele mesmo disse, ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos. Mas também podemos considerar o resto da sua vida, o seu modo habitual de tratar com quem se cruzava com Ele.

Cristo, perfeito Deus e perfeito Homem, procedeu de um modo humano e divino para fazer chegar aos homens a Sua doutrina de salvação e para lhes manifestar o amor de Deus.
Deus condescende com o homem, assume a nossa natureza sem reservas, excepto no pecado.

Dá-me uma grande alegria considerar que Cristo quis ser plenamente homem, com carne como a nossa. Emociona-me contemplar a maravilha de um Deus que ama com coração de homem.

Entre tantas cenas narradas pelos Evangelistas, detenhamo-nos a considerar algumas, começando pelos relatos do convívio de Jesus com os Doze. O Apóstolo João, que verte no seu Evangelho a experiência de uma vida inteira, narra a primeira conversa com o encanto daquilo que nunca mais se pode esquecer: - Mestre, onde moras? Disse-lhe Jesus: Vinde e vede. Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele aquele dia.

Diálogo divino e humano, que transformou a vida de João e de André, de Pedro, de Tiago e de tantos outros; que preparou os seus corações para escutarem a palavra imperiosa que Jesus lhes dirigiu junto ao mar da Galileia: Caminhando Jesus junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão, lançando as redes ao mar, porque eram pescadores. E disse-lhes: Segui-Me, e Eu farei de vós pescadores de homens. Deixando as redes, imediatamente O seguiram.

Nos três anos seguintes Jesus convive com os seus discípulos, conhece-os, responde às suas perguntas, resolve as suas dúvidas. Sim, é o Rabi, o Mestre que fala com autoridade, o Messias enviado por Deus; mas, ao mesmo tempo, é acessível, próximo. Um dia Jesus retira-se para orar. Os discípulos estavam perto, olhando talvez para Ele e tentando adivinhar as suas palavras. Quando regressa, um deles roga-Lhe: - Domine, doce nos orare, sicut docuit et Ioannes discipulos suos; ensina-nos a orar, como João ensinou aos seus discípulos. E Jesus responde-lhes: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o Teu nome...

Também com autoridade de Deus e com carinho humano recebe o Senhor os Apóstolos, quando, assombrados pelos frutos da sua primeira missão, Lhe comentavam as primícias do seu apostolado: Vinde, retiremo-nos a um lugar deserto e repousai um pouco.

Uma cena muito similar se repete quase no final da vida de Jesus na Terra, pouco antes da Ascensão: Ao surgir a manhã, apresentou-Se Jesus na praia, mas os discípulos não sabiam que era Ele. Disse-lhes então Jesus: Rapazes, tendes alguma coisa de comer? Aquele que tinha perguntado como homem, fala depois como Deus: Lançai a rede à direita do barco e encontrareis. Lançaram-na, pois, e mal a podiam arrastar., devido à grande quantidade de peixe. Então o discípulo predilecto de Jesus disse a Pedro: É o Senhor.

E Deus espera-os na margem: Logo que saltaram para terra viram ali umas brasas com peixe em cima, e pão. Disse-lhes Jesus: Trazei dos peixes que apanhastes agora. Simão Pedro subiu à barca e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixe; e, sendo tantos, não se rompeu a rede. Disse-lhes, Jesus: Vinde comer. E nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe: Quem és Tu?, sabendo que era o Senhor. Então Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com o peixe.

Esta delicadeza e carinho, manifesta-os Jesus, não só com um pequeno grupo de discípulos, mas com todos: com as santas mulheres, com representantes do Sinédrio, com Nicodemus e com publicamos, como Zaqueu, com doentes e com sãos, com doutores da Lei e com pagãos, com pessoas, individualmente, e com multidões inteiras.

Narram-nos os Evangelhos que Jesus não tinha onde reclinar a cabeça, mas contam-nos também que tinha amigos queridos e de confiança, ansiosos por recebê-Lo em sua casa. E falam-nos da sua compaixão pelos enfermos, da sua mágoa pelos que ignoram e erram, da sua indignação perante a hipocrisia. Jesus chora pela morte de Lázaro, ira-se com os mercadores que profanam o Templo, deixa que se enterneça o seu coração com a dor da viúva de Naim.

Cada um destes gestos humanos é gesto de Deus. Em Cristo habita toda a plenitude da divindade corporalmente. Cristo é Deus feito homem; homem perfeito; homem cabal. E, na sua humanidade, dá-nos a conhecer a divindade.

Ao recordarmos esta delicadeza humana de Cristo, que gasta a sua vida em serviço dos outros, fazemos muito mais do que descrever um modo possível de nos comportarmos: estamos a descobrir Deus. Toda a actuação de Cristo tem um valor transcendente; dá-nos a conhecer o modo de ser de Deus; convida-nos a crer no amor de Deus, que nos criou e que quer levar-nos até à sua intimidade. Manifestei o teu nome aos homens que, do mundo, me deste. Eram teus e Tu deste-mos, e eles guardaram a tua palavra. Agora sabem que tudo quanto me deste vem de Ti, exclamou Jesus na longa oração que o Evangelista João nos conserva.

Portanto, o convívio de Jesus com os homens não fica em meras palavras nem em atitudes superficiais; Jesus toma a sério o homem e quer dar-lhe a conhecer o sentido divino da sua vida. Jesus sabe exigir, colocar os homens perante os seus deveres, arrancar do comodismo e do conformismo os que O escutam, para levá-los a conhecer o Deus três vezes santo. A fome e a dor comovem Jesus, mas sobretudo comove-O a ignorância: Viu Jesus uma grande multidão e compadeceu-Se deles, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou então a ensiná-los demoradamente.

são josemaría escrivá, Cristo presente nos cristãos, Homilia 26.03.1967.


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