08/09/2013

Cultivar a Fé 8


O rosto de Jesus 8

Simão de Cirene, um encontro com a cruz

Os Evangelhos sinóticos falam-nos de um terceiro personagem que se encontra com Jesus Cristo no caminho do Calvário. Santa Maria e a Verónica procuraram-no, foram ao Seu encontro por iniciativa própria. Simão de Cirene, não. Simão foi forçado a levar a Cruz 20. A própria expressão que os evangelistas utilizam indica que, talvez, tenha havido resistência inicial. 

É bem compreensível; ninguém gosta que o obriguem a carregar com uma cruz alheia, e ainda menos depois de um duro dia de trabalho. São Marcos dará a entender que os filhos deste homem eram conhecidos como cristãos 21: Tudo começou por um encontro inopinado com a Cruz 22. Uma coisa extraordinária que teve a sua origem num acontecimento aparentemente desafortunado.

A mudança de atitude do Cireneu não deve ter sido repentina, mas gradual, e não é arriscado supor que teve a ver com o rosto de Jesus Cristo. Ele pensava que se tratava de um malfeitor, mas aquele olhar amável, agradecido, pacífico, desarmou-o. Ao princípio desgosta-se porque vê simplesmente; depois olha descobrindo que partilhar a Cruz com esse condenado vale a pena. 

Aquilo que ao princípio parecia um obstáculo que se interpunha entre ele e o seu descanso, foi progressivamente transformado pelo rosto daquele Homem numa oportunidade única, que acabou por mudar a sua vida.

Para ele, como para todos os cristãos, a Cruz converteu-se no sinal distintivo da sua fé, no instrumento da salvação; numa realidade redentora, inseparável da missão de Cristo. Através dos séculos, os cristãos olharão a Cruz com carinho e esperança, que deveria estar no centro da sua vida e que, pelo mesmo motivo, «deveria estar no centro do altar e ser o ponto de referência comum do sacerdote e da comunidade que ora» 23.

Às vezes, a Cruz aparece sem que a procuremos: é Cristo que pergunta por nós 24 Diante da Cruz inesperada experimentaremos um movimento de recusa. É a reação habitual da nossa natureza, que não nos deve preocupar, mas que não há-de impedir uma aceitação progressiva.

Sabemos que nessas situações em que nos podemos sentir sós, Deus não nos abandona, está ao nosso lado; inclusivamente talvez o vejamos, somos capazes de nos dirigir a Ele de algum modo. Mas demos um passo mais, procuremos o Seu olhar. Se não nos conformamos com ver, se procuramos olhar para Cristo que carrega a Cruz connosco, se deixamos que nos fale, aquilo que parecia desafortunado vai adquirindo outra coloração, e acaba por mudar a nossa vida. 

Darmo-nos conta de que uma contradição pode significar um encontro mais profundo com Jesus Cristo ajudar-nos-á a encará-la de outro modo e então, a nossa Cruz não será uma Cruz qualquer: será... a Santa Cruz 25.

j. diéguez - 2011/12/20
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Notas:
20 Cfr. Mc 15, 21.
21 Cfr. Mc 15, 21.
22 Via-sacra, V estação.
23 J. Ratzinger, Introdução ao espírito da liturgia, p. 105.
24 Via-sacra, V estação.
25 Santo Rosário, IV mistério doloroso.


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