Simão de Cirene, um
encontro com a cruz
Os
Evangelhos sinóticos falam-nos de um terceiro personagem que se encontra com
Jesus Cristo no caminho do Calvário. Santa Maria e a Verónica procuraram-no,
foram ao Seu encontro por iniciativa própria. Simão de Cirene, não. Simão foi
forçado a levar a Cruz 20. A própria expressão que os evangelistas
utilizam indica que, talvez, tenha havido resistência inicial.
É
bem compreensível; ninguém gosta que o obriguem a carregar com uma cruz alheia,
e ainda menos depois de um duro dia de trabalho. São Marcos dará a entender que
os filhos deste homem eram conhecidos como cristãos 21: Tudo começou
por um encontro inopinado com a Cruz 22. Uma coisa extraordinária
que teve a sua origem num acontecimento aparentemente desafortunado.
A
mudança de atitude do Cireneu não deve ter sido repentina, mas gradual, e não é
arriscado supor que teve a ver com o rosto de Jesus Cristo. Ele pensava que se
tratava de um malfeitor, mas aquele olhar amável, agradecido, pacífico,
desarmou-o. Ao princípio desgosta-se porque vê simplesmente; depois olha
descobrindo que partilhar a Cruz com esse condenado vale a pena.
Aquilo
que ao princípio parecia um obstáculo que se interpunha entre ele e o seu descanso,
foi progressivamente transformado pelo rosto daquele Homem numa oportunidade
única, que acabou por mudar a sua vida.
Para
ele, como para todos os cristãos, a Cruz converteu-se no sinal distintivo da
sua fé, no instrumento da salvação; numa realidade redentora, inseparável da
missão de Cristo. Através dos séculos, os cristãos olharão a Cruz com carinho e
esperança, que deveria estar no centro da sua vida e que, pelo mesmo motivo,
«deveria estar no centro do altar e ser o ponto de referência comum do
sacerdote e da comunidade que ora» 23.
Às
vezes, a Cruz aparece sem que a procuremos: é Cristo que pergunta por nós 24
Diante da Cruz inesperada experimentaremos um movimento de recusa. É a reação
habitual da nossa natureza, que não nos deve preocupar, mas que não há-de
impedir uma aceitação progressiva.
Sabemos
que nessas situações em que nos podemos sentir sós, Deus não nos abandona, está
ao nosso lado; inclusivamente talvez o vejamos, somos capazes de nos dirigir a
Ele de algum modo. Mas demos um passo mais, procuremos o Seu olhar. Se não nos
conformamos com ver, se procuramos olhar para Cristo que carrega a Cruz connosco,
se deixamos que nos fale, aquilo que parecia desafortunado vai adquirindo outra
coloração, e acaba por mudar a nossa vida.
Darmo-nos
conta de que uma contradição pode significar um encontro mais profundo com
Jesus Cristo ajudar-nos-á a encará-la de outro modo e então, a nossa Cruz não
será uma Cruz qualquer: será... a Santa Cruz 25.
j. diéguez - 2011/12/20
____________________________________
Notas:
20
Cfr. Mc 15, 21.
21
Cfr. Mc 15, 21.
22
Via-sacra, V estação.
23
J. Ratzinger, Introdução ao espírito da liturgia, p. 105.
24
Via-sacra, V estação.
25
Santo Rosário, IV mistério doloroso.
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