A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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57 Completou-se para
Isabel o tempo de dar à luz e deu à luz um filho. 58 Os seus
vizinhos e parentes ouviram falar da graça que o Senhor lhe tinha feito e
congratulavam-se com ela. 59 Aconteceu que, ao oitavo dia, foram
circuncidar o menino e chamavam-lhe Zacarias, do nome do pai.60
Interveio, porém, sua mãe e disse: «Não; mas será chamado João».61
Disseram-lhe: «Ninguém há na tua família que tenha este nome».62 E
perguntavam por acenos ao pai como queria que se chamasse.63 Ele,
pedindo uma tabuinha, escreveu assim: «O seu nome é João». Todos ficaram
admirados. 64 E logo se abriu a sua boca, soltou-se a lingua e
falava bendizendo a Deus. 65 O temor se apoderou de todos os seus
vizinhos, e divulgaram-se todas estas maravilhas por todas as montanhas da
Judeia. 66 Todos os que as ouviram as ponderavam no seu coração,
dizendo: «Quem virá a ser este menino?». Porque a mão do Senhor estava com ele.
67 Zacarias, seu pai, ficou cheio do Espírito Santo, e profetizou
dizendo: 68 «Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e
resgatou o Seu povo; 69 e suscitou uma força para nos salvar, na
casa do Seu servo David, 70 conforme anunciou pela boca dos Seus
santos profetas de outrora; 71 que nos livraria dos nossos inimigos,
e das mãos de todos os que nos odeiam; 2 para exercer a Sua
misericórdia a favor de nossos pais, e lembrar-Se da Sua santa aliança, 73
segundo o juramento que fez a nosso pai Abraão, de nos conceder 74
que, livres das mãos dos nossos inimigos, O sirvamos sem temor,75
diante d'Ele com santidade e justiça, durante todos os dias da nossa vida. 76
E tu, menino, serás chamado o profeta do Altíssimo, porque irás à frente do
Senhor, a preparar os Seus caminhos; 77 para dar ao Seu povo o
conhecimento da salvação, pela remissão dos seus pecados, 78 graças
à terna misericórdia do nosso Deus, que nos trará do alto a visita do Sol
Nascente, 79 para alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da
morte; para dirigir os nossos pés no caminho da paz». 80 Ora o
menino crescia e se fortificava no espírito. E habitou nos desertos até ao dia
da sua manifestação a Israel.
É
na própria família que se forja o carácter, a personalidade, os costumes... e
também se aprende a conviver com Deus. Uma tarefa que cada dia é mais
necessária, como se assinala neste artigo.
Cada
filho é uma prova de confiança de Deus nos pais, que lhes confia o cuidado e a
orientação de uma criatura chamada à felicidade eterna. A fé é o melhor legado
que se lhe pode transmitir; mais ainda, é a única coisa verdadeiramente
importante, pois é o que dá sentido último à existência. Deus, além disso,
nunca confia uma missão sem dar os meios imprescindíveis para a levar a cabo; e
assim, nenhuma comunidade humana está tão bem dotada como a família para
facilitar que a fé enraíze nos corações.
O
TESTEMUNHO PESSOAL
A
educação da fé não é um mero ensinamento, mas a transmissão de uma mensagem de
vida. Ainda que a palavra de Deus seja eficaz em si mesma, para a difundir o
Senhor quis servir-se do testemunho e da mediação dos homens; o Evangelho é
convincente quando se vê encarnado.
Isto
é válido de maneira particular quando nos referimos às crianças, que distinguem
com dificuldade entre o que se diz e quem o diz; e adquire ainda mais força
quando pensamos nos próprios filhos, pois não diferenciam claramente entre a
mãe ou pai que reza e a própria oração; mais ainda, a oração tem valor
especial, é amável e significativa, porque quem reza é a sua mãe ou o seu pai.
Isto
faz com que os pais tenham tudo a seu favor para comunicar a fé aos filhos; o
que Deus espera deles, mais do que palavras, é que sejam piedosos, coerentes. O
seu testemunho pessoal deve estar presente diante dos filhos a todo o momento,
com naturalidade, sem procurar dar lições constantemente.
Às
vezes, basta que os filhos vejam a alegria dos seus pais ao confessar-se, para
que a fé se torne forte nos seus corações. Não se deve desvalorizar a
perspicácia das crianças, mesmo que pareçam ingénuas; na realidade, conhecem os
seus pais, no bom e no menos bom e tudo o que estes fazem – ou omitem – é para
eles uma mensagem que os ajuda a formar ou a deformar.
Bento
XVI explicou muitas vezes que as alterações profundas nas instituições e nas
pessoas costumam ser promovidas pelos santos e não pelos que são mais sábios ou
poderosos: «Nas vicissitudes da história, os santos foram os verdadeiros
reformadores que tantas vezes elevaram a humanidade dos vales obscuros nos
quais está sempre em perigo de se precipitar; iluminaram sempre de novo» 1.
Na
família acontece algo parecido. Sem dúvida, é preciso pensar no modo mais
pedagógico de transmitir a fé, e formar-se para serem bons educadores; mas o
que é decisivo é o empenho dos pais por quererem ser santos. É a santidade
pessoal o que permitirá acertar com a melhor pedagogia.
"Em
todos os ambientes cristãos conhecem-se, por experiência, os bons resultados
que dá essa natural e sobrenatural iniciação à vida de piedade, feita no calor
do lar. A criança aprende a colocar o Senhor na linha dos primeiros e
fundamentais afectos, aprende a tratar a Deus como Pai e à Virgem como Mãe,
aprende a rezar seguindo o exemplo dos pais. Quando se compreende isto, vê-se a
enorme tarefa apostólica que os pais podem realizar e como têm obrigação de ser
sinceramente piedosos, para poderem transmitir – mais do que ensinar – essa
piedade aos filhos" 2.
AMBIENTE
DE CONFIANÇA E AMIZADE
Por
outro lado, vemos que muitos rapazes e raparigas – sobretudo, na juventude e na
adolescência – acabam por afrouxar na fé que receberam, quando sofrem algum
tipo de prova. A origem destas crises pode ser muito diversa – a pressão de um
ambiente paganizado, amigos que ridicularizam as convicções religiosas, um
professor que dá as lições numa perspectiva ateia ou que põe Deus entre
parêntesis – mas estas crises ganham força apenas quando os que as sofrem
deixam de expor às pessoas adequadas o que lhes está a acontecer.
É
importante facilitar a confiança com os filhos e que estes encontrem sempre os
pais disponíveis para lhes dedicarem tempo. Os jovens – mesmo os que parecem
mais indóceis e desprendidos – desejam sempre essa aproximação, essa
fraternidade com os pais. O segredo costuma estar na confiança. Que os pais
saibam educar num clima de familiaridade, que nunca dêm a impressão de que
desconfiam, que dêm liberdade e que ensinem a administrá-la com
responsabilidade pessoal. É preferível que se deixem enganar alguma vez. A
confiança que se põe nos filhos faz com que eles próprios se envergonhem de
terem abusado, e se corrijam. Pelo contrário, se não têm liberdade, se vêem que
não se confia neles, sentir-se-ão levados a enganar sempre. 3. Não se deve
esperar que chegue a adolescência para pôr em prática estes conselhos; podem-se
aplicara partir de muito cedo.
Falar
com os filhos é das coisas mais gratas que existem e a porta mais direta para
estabelecer uma profunda amizade com eles. Quando uma pessoa ganha confiança
com outra, estabelece-se uma ponte de mútua satisfação e poucas vezes
desaproveitará a oportunidade de conversar sobre as suas inquietações e os seus
sentimentos, o que é, por outro lado, uma maneira de se conhecer melhor a si
próprio. Embora haja idades mais difíceis do que outras para conseguir essa
proximidade, os pais não devem afrouxar no seu entusiasmo por chegarem a ser
amigos dos filhos; amigos a quem se confiam as inquietações, a quem se consulta
sobre os problemas, de quem se espera uma ajuda eficaz e amável 4.
Nesse
ambiente de amizade, os filhos ouvem falar de Deus de um modo grato e atrativo.
Tudo isto requer que os pais encontrem tempo para estar com os filhos e um
tempo que seja “de qualidade”; o filho deve perceber que as suas coisas nos
interessam mais do que o resto das nossas ocupações. Isto implica ações
concretas, que as circunstâncias não podem levar a omitir ou a atrasar uma e
outra vez; desligar a televisão ou o computador – ou deixar, claramente, de
lhes prestar atenção – quando a rapariga ou o rapaz pergunta por nós e se nota
que quer falar; reduzir a dedicação ao trabalho; procurar formas de recreio e
entretenimento que facilitem a conversa e a vida familiar, etc.
O
MISTÉRIO DA LIBERDADE
Ao
utilizar a liberdade pessoal, as pessoas nem sempre fazem o que mais lhes
convém, ou o que pareceria previsível tendo em conta os meios empregues. Às
vezes as coisas são bem feitas mas saem mal – pelo menos, aparentemente – e
serve de pouco culpabilizar-se desses resultados ou atribuir a culpa a outros.
O
mais sensato é pensar como educar cada vez melhor e como ajudar outros a fazer
o mesmo; não há, neste âmbito, fórmulas mágicas. Cada um tem o seu próprio modo
de ser, que o leva a explicar e a encarar as coisas modos diversos. O mesmo se
pode dizer dos educandos que, embora vivam num ambiente semelhante, possuem interesses
e sensibilidades diversas.
Tal
variedade não é, no entanto, um obstáculo. Aliás, alarga os horizontes
educativos: por um lado, possibilita que a educação se enquadre, realmente, no
quadro de uma relação única, alheia a estereótipos; por outro, a relação com os
temperamentos e caracteres dos diversos filhos favorece a pluralidade de
situações educativas.
Por
isso, se bem que o caminho da fé seja o mais pessoal que existe – pois faz
referência ao mais íntimo da pessoa, a sua relação com Deus – podemos ajudar a
percorrê-lo; isso é a educação. Se consideramos com calma na nossa oração
pessoal o modo de ser de cada pessoa, Deus dar-nos-á luzes para acertar.
Transmitir
a fé não é tanto uma questão de estratégia ou de programação, mas é facilitar
que cada um descubra o desígnio de Deus para a sua vida. Ajudá-lo a que veja,
por si próprio, que deve melhorar e em quê, porque nós, de facto, não mudamos
ninguém, eles mudam porque querem.
DIVERSOS
ÂMBITOS DE ATENÇÃO
Podem
indicar-se diversos aspetos que têm grande importância para transmitir a fé. Um
primeiro é talvez a vida de piedade na família, a proximidade a Deus na oração
e nos sacramentos. Quando os pais não a “escondem” – às vezes involuntariamente
– esse convívio com Deus manifesta-se em ações que O fazem presente na família,
de um modo natural e que respeita a autonomia dos filhos. Abençoar à mesa, ou
rezar com os filhos pequenos as orações da manhã ou da noite, ou ensinar-lhes a
recorrer aos Anjos da Guarda ou a ter detalhes de carinho com Nossa Senhora,
são modos concretos de favorecer a virtude da piedade nas crianças, tantas
vezes dando-lhes recursos que os acompanharão por toda a vida.
Outro
meio é a doutrina; uma piedade sem doutrina é muito vulnerável perante assédio
intelectual que sofrem ou sofrerão os filhos ao longo da vida; necessitam de
uma formação apologética profunda e, ao mesmo tempo, prática.
Logicamente,
também neste campo é importante saber respeitar as peculiaridades próprias de
cada idade. Muitas vezes, falar sobre um tema de atualidade ou de um livro,
poderá ser uma ocasião de ensinar a doutrina aos filhos mais velhos (isto,
quando não sejam eles próprios que se nos dirijam para nos perguntarem).
Com
os pequenos, a formação catequética que podem receber na paróquia ou na escola
é uma ocasião ideal. Rever com eles as lições que receberam ou ensinar-lhes de
modo sugestivo aspectos do catecismo que talvez tenham sido omitidos, fará com
que as crianças entendam a importância do estudo da doutrina de Jesus, graças
ao carinho que os pais demonstram por ela.
Outro
aspeto relevante é a educação nas virtudes, porque se há piedade e há doutrina,
mas pouca virtude, esses rapazes ou raparigas acabarão pensando e sentindo como
vivem, não como lhes dite a razão iluminada pela fé, ou a fé assumida, porque
pensada. Formar as virtudes requer salientar a importância da exigência pessoal,
do empenho no trabalho, da generosidade e da temperança.
Educar
nesses bens eleva o homem acima dos desejos materiais; fá-lo mais lúcido, mais
apto para entender as realidades do espírito. Os que educam os filhos com pouca
exigência – nunca lhes dizem que “não” a nada e procuram satisfazer todos os
seus desejos – cegam com isso as portas do espírito.
É
uma condescendência que pode nascer do carinho, mas também do querer poupar o
esforço que exige educar melhor, pôr limites aos apetites, ensinar a obedecer
ou a esperar. E como a dinâmica do consumismo é de per si insaciável, cair
nesse erro leva as pessoas a estilos de vida caprichosos e volúveis e
introduzem-nos numa espiral de procura de comodidade que implica sempre um
deficit de virtudes humanas e de interesse pelos assuntos dos outros.
Crescer
num mundo em que todos os caprichos se cumprem é um pesado lastro para a vida
espiritual, que incapacita a alma – quase na raiz – para a doação e o
compromisso.
Outro
aspecto que convém considerar é o ambiente, pois tem uma grande força de
persuasão. Todos conhecemos jovens educados na piedade que se viram arrastados
por um ambiente que não estavam preparados para superar. Por isso, é preciso
estar pendentes de onde se educam os filhos e criar ou procurar ambientes que
facilitem o crescimento da fé e da virtude. É algo parecido ao que sucede num
jardim, nós não fazemos crescer as plantas, mas podemos sim proporcionar os
meios – adubo, água, etc. – e o clima adequados para que cresçam.
Como
aconselhava S. Josemaria a uns pais: "procurai dar-lhes bom exemplo,
procurai não esconder a vossa piedade, procurai ser puros na vossa conduta:
então aprenderão e serão a coroa da vossa maturidade e da vossa velhice" 5.
A. Aguiló
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Notas:
1 Bento XVI, Discurso na Vigília da
Jornada Mundial da Juventude de Colónia, 20-VIII-2005.
2 S. Josemaria Escrivá de Balaguer,
Temas Actuais do Cristianismo, n. 103.
3 S. Josemaria Escrivá de Balaguer,
Temas Actuais do Cristianismo, n. 100.
4 S. Josemaria Escrivá de Balaguer,
Cristo que passa, n. 27.
5 S. Josemaria Escrivá de Balaguer,
Tertúlia, 12-XI-1972.
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