Em
seguida devemos tratar do objecto do temor. E sobre esta questão seis artigos
se discutem:
Art.
1 — Se o bem é objecto do temor.
Art.
2 — Se há temor do mal natural.
Art.
3 — Se pode haver temor do mal da culpa.
Art.
4 — Se o temor pode ser temido.
Art.
5 — Se os males insólitos e os repentinos sejam mais de se temerem.
Art.
6 — Se é mais para temer aquilo que não tem remédio.
Art. 1 — Se o bem é objecto
do temor.
(IIª
IIªe, q. 19, a . 1, 2).
O
primeiro discute-se assim. — Parece que o bem é objecto do temor.
2.
Demais — O Filósofo diz, que é terrível o poder, e o governar outrem 2.
Ora, o poder é um bem. Logo, o bem é o objecto do temor.
3.
Demais — Em Deus não pode haver nenhum mal. Ora, é-nos ordenado temê-lo,
conforme a Escritura (Sl 33, 10): Temei ao Senhor todos vós, os seus santos.
Logo, também há temor do bem.
Mas,
em contrário, diz Damasceno, que o temor é relativo ao mal futuro 3.
O temor é um movimento da potência apetitiva, da qual é próprio buscar e
evitar um dado objecto, como diz Aristóteles 4. Ora, o que ela busca
é o bem, e o que evita é o mal. Por onde, qualquer movimento dessa potência que
importe em buscar um objecto, há de sempre tê-lo por bom, e qualquer que
implique a fuga, há de tê-lo por mau. Por onde, como o temor implica a fuga, há
de primariamente e em si mesmo ter o mal como seu objecto próprio.
Mas,
também pode visar o bem, na medida em que este tiver relação com o mal. — E
isto pode dar-se de dois modos. De um, enquanto o mal priva do bem, pois é por
ser privativo deste que é mal. Por onde, quando fugimos do mal como tal,
necessariamente o fazemos porque ele nos priva do bem-amado, que buscamos. E
por isso, disse Agostinho antes 5, que a causa única de temermos é
não querermos perder o bem-amado. — De outro modo, o bem está para o mal, como
a causa deste, a saber, enquanto um determinado bem tem a virtude de produzir
qualquer mal no bem amado. Por onde, como a esperança visa, segundo já dissemos
6, dois termos, a saber, o bem para o qual tende, e aquilo pelo que
espera haver de alcançar o bem desejado, assim também o temor visa, dois
termos, a saber, o mal de que foge e o bem que, pela sua virtude, pode infligir
o mal.
E
é deste modo que Deus é temido pelo homem, enquanto pode infligir uma pena,
espiritual ou corpórea. E também do mesmo modo é temido o poder de um homem,
sobretudo quando lesado, ou injusto, porque então é levado imediatamente a
causar um mal. Assim, tememos ainda quem tem poder sobre nós, i. é, tememos
depender de outrem, de maneira que isso lhe dê o poder de nos fazer mal, tal é
o caso de quem, sendo cônscio de um crime, teme que outrem revele.
E
daqui se deduzem claras as RESPOSTAS ÀS OBJECÇÕES.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Lib. LXXXIII Quaestion.
(quaestion. XXXIII).
2. II Rhetoric. (cap. V).
3. II libro (cap. XII).
4. VI Ethic. (lect.
II).
5.
Ubi supra.
6.
Q. 40 a. 7.
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