Em
seguida devemos tratar das causas do prazer.
E
sobre esta questão oito artigos se discutem:
Art.
1 ― Se a actividade é a causa própria e primeira do prazer.
Art.
2 ― Se o movimento é causa do prazer.
Art.
3 ― Se a memória e a esperança são causas do prazer.
Art.
4 ― Se a tristeza é causa do prazer.
Art.
5 ― Se as acções dos outros são-nos causa de prazer.
Art.
6 ― Se fazer bem a outrem é causa de prazer.
Art.
7 ― Se a semelhança é causa do prazer.
Art.
8 ― Se a admiração é causa de prazer.
Art. 1 ― Se a actividade é
a causa própria e primeira do prazer.
(IV Sent., dist. XLIX, q. 3, a
. 2).
O
primeiro discute-se assim. ― Parece que a actividade não é a causa própria e
primeira do prazer.
1. ― Pois, como diz o Filósofo: deleitar-se consiste em o sentido sofrer 1, porquanto o prazer supõe o conhecimento, como ficou dito 2. Ora, antes de conhecermos as actividades mesmas, conhecemos-lhe os objectos. Logo, a actividade não é a causa própria do prazer.
2.
Demais. ― O prazer consiste principalmente no fim alcançado o qual é
principalmente desejado. Ora, nem sempre a actividade é um fim, mas às vezes
este é o objecto da acção. Logo, a actividade não é a causa própria e por si
mesma do prazer.
3.
Demais. ― O ócio e o descanso supõem a cessação da actividade. Ora, ambos são
agradáveis, como diz Aristóteles 3. Logo, a actividade não é a causa
própria do prazer.
Mas,
em contrário, diz o Filósofo, que o prazer é uma operação conatural, não
impedida 4.
Como já dissemos 5, são exigidas duas condições para o prazer: a
consecução do bem conveniente e o conhecimento dessa consecução. Ora, aquela e
este consistem numa determinada actividade, pois, o conhecimento actual é uma actividade
e semelhantemente por uma certa actividade é que alcançamos o bem conveniente.
E também a actividade própria é um certo bem conveniente. Donde é necessário
todo prazer dependa de alguma actividade.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Os próprios objectos das actividades não são
deleitáveis senão enquanto connosco se conjugam, quer pelo só conhecimento,
como quando nos deleitamos na consideração ou visão de certos objectos, quer
simultaneamente como o conhecimento, de qualquer outro modo, como quando nos
deleitamos sabendo que possuímos algum bem, p. ex., as riquezas, a honra ou
coisas semelhantes, que por certo não seriam deleitáveis se não fossem
conhecidas como possuídas. Pois, como diz o Filósofo 6, há grande
prazer em considerar uma coisa própria nossa, isso procede do amor natural que
temos por nós mesmos. Ora, possuir tais coisas não é senão usar ou poder usar
delas, o que supõe alguma actividade. Donde, é manifesto que todo prazer se
reduz à actividade como à sua causa.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Mesmo quando os fins visados são, não as actividades, mas os
resultados delas, estes são deleitáveis enquanto possuídos ou feitos, o que diz
respeito a algum uso ou actividade.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― As actividades são deleitáveis enquanto proporcionadas e
conaturais ao agente. Ora, como a virtude humana é finita, a actividade lhe é
proporcional conforme uma certa medida. Donde, excedendo essa medida, já não
será proporcional nem deleitável, mas antes, laboriosa e molesta. E neste
sentido, o ócio, o jogo e tudo o que respeita ao repouso é deleitável porque
expunge a tristeza, procedente do que é penoso.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
____________________
Notas:
1.
I Rhetor., cap. XI.
2. Q. 31, a. 2.
3. I Rhetor., loc. cit.
4. VII Rhetoric., lect. XII et
X, lect. VI.
5. Q. 31, a. 1.
6. II Polit., lect. IV.
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