Questão 31: Do prazer em si mesmo.
Art. 8 ― Se um prazer pode ser contrário a outro.
O oitavo discute-se assim. ― Parece que um prazer não pode ser contrário a outro.
1. ― Pois, as paixões da alma se especificam e se opõem pelos seus objectos. Ora, o objecto do prazer é o bem. E como não há bem contrário a outro bem, antes, o bem é contrário ao mal e o mal, ao bem, como diz Aristóteles 1, conclui-se que nenhum prazer é contrário a outro.
2.
Demais. ― Uma coisa só tem uma contrariedade, como prova Aristóteles 2.
Ora, ao prazer é contrária a tristeza. Logo, um prazer não é contrário a outro.
3.
Demais. ― Só pela contrariedade de objectos com que nos deleitamos pode um
prazer contrariar a outro. Ora, tal diferença é material, ao passo que a
contrariedade em questão é uma diferença formal, como diz Aristóteles 3.
Logo, não há contrariedade entre um prazer e outro.
Mas,
em contrário. ― Coisas do mesmo género e que se excluem, são contrárias,
segundo o Filósofo. Ora, certos prazeres excluem outros, como diz o mesmo autor
4. Logo, há prazeres contrários.
Como já dissemos 5, o prazer dos afectos da alma é comparável ao
repouso dos corpos naturais. Ora, dois corpos naturais repousam, de modo
contrário, quando um repousa na parte superior e outro, na inferior, como diz
Aristóteles 6. Donde, nos afetos da alma, dois prazeres podem ser
contrários.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― A expressão citada do Filósofo, deve
entender-se no sentido que o bem e o mal se referem às virtudes e aos vícios,
assim, dois vícios podem ser contrários, mas não, duas virtudes. Nos demais
casos porém nada impede dois bens se contrariem, assim, o quente, bem do fogo,
é contrário ao frio, bem da água. E deste modo, um prazer pode ser contrário a
outro. Mas nos bens da virtude isso não se pode dar, porque o bem da virtude é
considerado por conveniência com a regra una da razão.
REPOSTA
À SEGUNDA. ― O prazer é para afectos da alma, o que o repouso natural é para os
corpos, pois respeita algo de conveniente e quase conatural. Assim, a tristeza
é como um repouso violento, pois o que contrista repugna ao apetite animal,
como o lugar do repouso violento repugna ao apetite natural. Ao repouso natural
porém opõem-se tanto o repouso violento do mesmo corpo como o de outro, conforme
Aristóteles 7. Donde, a um prazer se opõem tanto outro prazer, como
a tristeza.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Os objectos com que nos deleitamos, sendo objectos dos prazeres,
produzem não só a diferença material mas também a formal, se forem diversas as razões
da complacência. Pois a natureza diversa do objecto diversifica a espécie do acto
ou da paixão, como do sobredito resulta 8.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Praedicamentis cap. VIII.
2. X Metaph., lect. V.
3. X Metaph., lect. V.
4. X Metaph. Lect. VII.
5. Q. 23, a. 4.
6. V Physic., lect. X.
7. V Physic., lect. X.
8. Q. 23, a. 1, 4, q. 30, a. 2.
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