A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Jo 11, 38-57
38 Jesus, pois, novamente emocionado
no Seu interior, foi ao sepulcro. Era este uma gruta com uma pedra colocada à
entrada 39 Jesus disse: «Tirai a pedra». Marta, irmã do defunto, disse-Lhe:
«Senhor, ele já cheira mal, porque está aí há quatro dias». 40 Jesus disse-lhe:
«Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?». 41 Tiraram, pois, a
pedra. Jesus, levantando os olhos ao céu, disse: «Pai, dou-Te graças por Me
teres ouvido. 42 Eu bem sabia que Me ouves sempre, mas falei assim por causa do
povo que está em volta de Mim, para que acreditem que Tu Me enviaste». 43 Tendo
dito estas palavras, bradou em voz forte: «Lázaro, sai para fora!». 44 E saiu o
que estivera morto, ligado de pés e mãos, com as ataduras, e o seu rosto envolto
num sudário. Jesus disse-lhes: «Desligai-o e deixai-o ir». 45 Então, muitos dos
judeus que tinham ido visitar Maria e Marta, vendo o que Jesus fizera,
acreditaram n'Ele. 46 Porém, alguns deles foram ter com os fariseus e
contaram-lhes o que Jesus tinha feito. 47 Os pontífices e os fariseus
reuniram-se então em conselho e disseram: «Que fazemos, já que Este homem faz
muitos milagres? 48 Se O deixamos proceder assim, todos acreditarão n'Ele; e
virão os romanos e destruirão a nossa cidade e a nossa nação!». 49 Mas um
deles, chamado Caifás, que era o Sumo Sacerdote naquele ano, disse-lhes: «Vós
não sabeis nada, 50 nem considerais que vos convém que morra um homem pelo povo
e que não pereça toda a nação!». 51 Ora ele não disse isto por si mesmo, mas,
como era Sumo Sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela
nação,52 e não somente pela nação, mas também para unir num só corpo os filhos
de Deus dispersos.53 Desde aquele dia tomaram a resolução de O matar. 54 Jesus,
pois, já não andava em público entre os judeus, mas retirou-Se para uma terra
vizinha do deserto, para a cidade chamada Efraim e lá esteve com os Seus
discípulos. 55 Estava próxima a Páscoa dos judeus e muitos daquela região
subiram a Jerusalém antes da Páscoa para se purificarem. 56 Procuravam Jesus e
diziam uns para os outros, estando no templo: «Que vos parece, não virá Ele à
festa?». 57 Ora os príncipes dos sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem
para que, se alguém soubesse onde Ele estava, O denunciasse para O prenderem.
Espontaneidade
e pluralismo no povo de Deus
1
Quereríamos começar esta
entrevista com um problema que provoca em muitos espíritos as mais diversas
interpretações. Referimo-nos ao tema do aggiornamento. Como entende, aplicado à
vida da Igreja, o verdadeiro sentido desta palavra?
Fidelidade.
Para mim, aggiornamento significa sobretudo isto: fidelidade. Um marido, um
soldado, um administrador é sempre tanto melhor marido, tanto melhor soldado,
tanto melhor administrador, quanto mais fielmente souber corresponder, em cada
momento, perante cada nova circunstância da sua vida, aos firmes compromissos
de amor e de justiça que um dia assumiu. A fidelidade delicada, operativa e
constante - que é difícil, como é difícil qualquer aplicação de princípios à
realidade mutável do que é contingente - é por isso a melhor defesa da pessoa
contra a velhice de espírito, a aridez de coração e a anquilose mental.
O
mesmo sucede na vida das instituições, muito especialmente na vida da Igreja,
que obedece, não a um precário projecto do homem, mas a um desígnio de Deus. A
Redenção, a salvação do mundo, é obra da fidelidade amorosa e filial de Jesus
Cristo - e da nossa com Ele - à vontade do Pai celestial que O enviou. Por
isso, o aggiornamento da Igreja - agora, como em qualquer outra época - é
fundamentalmente isto: uma reafirmação jubilosa da fidelidade do Povo de Deus à
missão recebida, ao Evangelho.
É
claro que essa fidelidade - viva e actual perante cada circunstância da vida
dos homens - pode requerer, e de facto tem requerido frequentemente na história
duas vezes milenária da Igreja e recentemente no Concílio Vaticano II,
oportunos desenvolvimentos doutrinais na exposição das riquezas do Depositum
Fidei, assim como convenientes modificações e reformas que aperfeiçoam - no seu
elemento humano, perfectível - as estruturas orgânicas e os métodos
missionários e apostólicos. Mas seria pelo menos superficial pensar que o
aggiornamento consiste primariamente em modificar, ou que qualquer modificação
aggiorna. Basta pensar que não falta quem, à margem da doutrina conciliar e
contra ela, também desejaria modificações que fariam retroceder em muitos
séculos de história - pelo menos até à época feudal - o caminho progressivo do
Povo de Deus.
2
O Concílio Vaticano II
utilizou abundantemente nos seus Documentos a expressão “Povo de Deus”, para
designar a Igreja, e pôs assim a claro a responsabilidade comum de todos os
cristãos na missão única deste Povo de Deus. Quais as características que, em
seu entender, a “necessária opinião pública na Igreja” - da qual já Pio XII
falou - deve ter, para reflectir essa responsabilidade comum? Como é afectado o
fenómeno da “opinião pública na Igreja” pelas peculiares relações de autoridade
e obediência que se verificam no seio da comunidade eclesial?
Não
concebo que possa haver obediência verdadeiramente cristã, se essa obediência
não for voluntária e responsável. Os filhos de Deus não são pedras ou
cadáveres: são seres inteligentes e livres e elevados todos à mesma ordem sobrenatural,
tal como a pessoa que manda. Mas não poderá nunca fazer uso recto da
inteligência e da liberdade - para obedecer, da mesma maneira que para opinar -
quem carecer de suficiente formação cristã. Por isso, o problema de fundo da
“necessária opinião pública na igreja” é equivalente ao problema da necessária
formação doutrinal dos fiéis. É certo que o Espírito Santo distribui a
abundância dos seus dons entre os membros do Povo de Deus - que são todos
corresponsáveis da missão da Igreja - mas isto não exime ninguém, antes pelo
contrário, do dever de adquirir essa adequada formação doutrinal.
Entendo
por doutrina o suficiente conhecimento que cada fiel deve ter da missão total
da Igreja e da peculiar participação, e consequente responsabilidade específica,
que lhe corresponde nessa missão única. Este é - como o tem recordado repetidas
vezes o Santo Padre - o colossal trabalho de pedagogia que a Igreja tem de
enfrentar nesta época pós-conciliar. Penso que a solução correcta do problema a
que aludiu deve ser procurada - como outras esperanças latentes no seio da
Igreja - em relação directa com esse trabalho. Não serão, com certeza, as
intuições mais ou menos proféticas de alguns carismáticos sem doutrina que
poderão assegurar a necessária opinião pública no Povo de Deus.
Quanto
às formas de expressão dessa opinião pública, não considero que seja um
problema de órgãos ou de instituições. Tão adequado pode ser um Conselho
pastoral diocesano, como as colunas dum jornal - ainda que não seja
oficialmente católico - ou a simples carta pessoal dum fiel ao seu Bispo, etc.
As possibilidades e as modalidades legítimas pelas quais essa opinião dos fiéis
se pode manifestar são muito variadas, e não parece que se possam nem devam
espartilhar, criando uma nova entidade ou instituição. E menos ainda se se
tratasse duma instituição que corresse o perigo - tão fácil - de chegar a ser
monopolizada ou instrumentalizada por um grupo ou grupito de católicos
oficiais, qualquer que fosse a tendência ou orientação em que essa minoria se
inspirasse. Isto poria em perigo o próprio prestígio da Hierarquia e soaria a
falso para os restantes membros do Povo de Deus.
3
O
conceito de Povo de Deus, a que antes nos referíamos, exprime o carácter
histórico da Igreja, como uma realidade de origem divina que se serve também,
no seu caminhar, de elementos mutáveis e perecíveis. De acordo com isso, como
se deve realizar hoje a existência sacerdotal na vida dos presbíteros? Que
característica da figura do presbítero, descrita no Decreto “Presbyterorum
Ordinis”, lhe parece ser de sublinhar no momento actual?
Sublinharia
uma característica da existência sacerdotal que não pertence precisamente à
categoria dos elementos mutáveis e perecíveis. Refiro-me à união perfeita que
se deve verificar - e o Decreto Presbyterorum Ordinis recorda-o repetidas vezes
- entre consagração e missão do sacerdote: ou, o que é a mesma coisa, entre
vida pessoal de piedade e exercício do sacerdócio ministerial, entre as
relações filiais do sacerdote com Deus e as suas relações pastorais e fraternas
com os homens. Não acredito na eficácia ministerial do sacerdote que não é
homem de oração.
4
Existe
certa inquietação nalguns sectores do clero acerca da presença do sacerdote na
sociedade, que procura - apoiando-se na doutrina do Concílio (Const. Lumen
gentium, n.º 31; Decr. Presbyterorum Ordinis, n.º 8) - exprimir-se
através duma actividade profissional do sacerdote na vida civil -
“padres-operários”, etc. Gostaríamos de conhecer o que pensa sobre este
assunto.
Antes
de mais, devo dizer que respeito a opinião contrária à que vou expor, embora
por muitas razões a considere errada, e que acompanho com o meu afecto e com a
minha oração os que a põem em prática, pessoalmente, com grande zelo
apostólico.
Penso
que o sacerdócio rectamente exercido - sem timidez nem complexos que são
ordinariamente demonstração de imaturidade humana, e sem prepotências clericais
que denotariam pouco sentido sobrenatural -, o ministério próprio do sacerdote
assegura por si mesmo, suficientemente, urna legítima, simples e autêntica
presença do homem-sacerdote entre os restantes membros da comunidade a que se
dirige. Ordinariamente, não é necessário mais para viver em comunhão de vida
com o mundo do trabalho, compreender os seus problemas e participar da sua
sorte. Mas o que, com certeza, poucas vezes será eficaz - porque a sua própria
falta de autenticidade o condena antecipadamente ao fracasso - é recorrer ao
ingénuo passaporte dumas actividades laicais de amador, que podem ofender, por
muitas razões, o bom senso dos próprios leigos.
Além
disso, o ministério sacerdotal é - sobretudo nestes tempos de tanta escassez de
clero - um trabalho terrivelmente absorvente, que não deixa tempo para o duplo
emprego. As almas têm tanta necessidade de nós, ainda que muitas o não saibam,
que nunca se consegue fazer tudo. Faltam braços, tempo, forças. Costumo por
isso dizer aos meus filhos sacerdotes que, se algum deles chegasse a notar que
num dia lhe tinha sobrado tempo, poderia estar absolutamente certo de que nesse
dia não tinha vivido bem o seu sacerdócio.
E
repare que se trata, no caso destes sacerdotes do Opus Dei, de homens que antes
de receberem as ordens sagradas tinham normalmente exercido, durante anos, uma
actividade profissional na vida civil: são engenheiros-sacerdotes,
médicos-sacerdotes, operários-sacerdotes, etc... No entanto, não sei de nenhum
que tenha considerado necessário - para se tornar ouvido e estimado na
sociedade civil, entre os seus antigos colegas e companheiros - aproximar-se
das almas com uma régua de cálculo, um estetoscópio ou um martelo pneumático. É
verdade que, uma ou outra vez, exercem - de modo compatível com as obrigações
do estado clerical - a sua profissão ou ofício, mas nunca por pensarem que isso
é necessário para assegurar uma “presença na sociedade civil”; fazem-no por
outros motivos diversos: de caridade social, por exemplo, ou de absoluta
necessidade económica, para pôr em andamento um empreendimento apostólico.
Também São Paulo recorreu, algumas vezes, à sua profissão de fabricante de
tendas; mas nunca porque Ananias lhe tivesse dito em Damasco que aprendesse a
fabricar tendas para poder, assim, anunciar devidamente o Evangelho de Cristo
aos gentios.
Em
resumo, e sem pretender com isto julgar da legitimidade e da rectidão de
intenção de nenhuma iniciativa apostólica, entendo que o intelectual-sacerdote
e o operário-sacerdote, por exemplo, são figuras mais autênticas e mais em
harmonia com a doutrina do Vaticano II do que a figura do padre-operário. Salvo
no que significa de trabalho pastoral especializado - que será sempre
necessário -, a figura típica do padre-operário pertence já ao passado: um
passado no qual estava ainda oculta para muitos a potencialidade maravilhosa do
apostolado dos leigos.
5
Às vezes ouve-se criticar
aqueles sacerdotes que assumem atitudes concretas em problemas de índole
temporal e mais especialmente nos de carácter político. Muitas dessas atitudes
tendem - o que não sucedia noutras épocas - a favorecer urna maior liberdade, a
justiça social, etc. Também é certo que não é própria do sacerdócio ministerial
a intervenção activa nestes terrenos a não ser em casos excepcionais. Mas, não
lhe parece que o sacerdote deve denunciar a injustiça, a falta de liberdade,
etc., por não serem cristãs? Como conciliar, concretamente, estas exigências?
O
sacerdote deve pregar - porque é parte essencial do seu munus docendi - quais
são as virtudes cristãs - todas -, e quais as exigências e manifestações
concretas 5que essas virtudes devem ter nas diversas circunstâncias da vida dos
homens a que ele dirige o seu ministério. Como deve também ensinar a respeitar
e estimar a dignidade e a liberdade da pessoa humana que Deus criou, e a
peculiar dignidade sobrenatural que o cristão recebe com o baptismo.
Nenhum
sacerdote que cumpra este seu dever ministerial poderá - a não ser por
ignorância ou má fé - ser acusado de meter-se em política. Nem sequer se poderá
dizer que, ao expor estes ensinamentos, interfira na tarefa apostólica
específica, que corresponde aos leigos, de ordenar cristãmente as estruturas e
as actividades temporais.
6
É manifesta a preocupação
de toda a Igreja pelos problemas do chamado Terceiro Mundo, sendo uma das
maiores dificuldades a escassez de clero, e especialmente de sacerdotes
autóctones. Que pensa a este respeito, e que experiência tem neste terreno?
Penso
que, efectivamente, o aumento do clero autóctone é um problema de importância
primordial, para garantir o desenvolvimento - e até a permanência - da Igreja
em muitas nações, especialmente naquelas que atravessam momentos de
nacionalismo virulento.
Quanto
à minha experiência pessoal, devo dizer que um dos muitos motivos que tenho de
agradecimento ao Senhor é ver com que segura doutrina, visão universal,
católica, e ardente espírito de serviço - são sem dúvida melhores do que eu -
se formam e chegam ao sacerdócio no Opus Dei centenas de leigos de diversas
nações - passam já de sessenta países - onde é problema urgente para a Igreja o
desenvolvimento do clero autóctone. Alguns receberam o episcopado nessas mesmas
nações, e criaram já florescentes seminários.
7
Os sacerdotes estão
incardinados numa diocese e dependem do Ordinário. Que justificação pode haver
para que pertençam a alguma Associação distinta da diocese e inclusivamente de
âmbito universal?
A
justificação é clara: o uso legítimo dum direito natural - o de associação -
que a Igreja reconhece aos clérigos, como a todos os fiéis. Esta tradição
secular (pense-se nas muitas associações que tanto têm favorecido a vida
espiritual dos sacerdotes seculares) foi repetidamente reafirmada no ensino e
nas disposições dos últimos Romanos Pontífices (Pio XII, João XXIII e
Paulo VI), e também recentemente pelo próprio Magistério solene do
Concílio Vaticano II (cfr. Decreto Presbyterorum Ordinis, n.º 8).
É
interessante recordar, a este propósito, que na resposta a um modus em que se
pedia que não houvesse senão associações sacerdotais promovidas ou dirigidas
pelos Bispos diocesanos, a competente Comissão Conciliar - com a posterior
aprovação da Congregação Geral -, rejeitou essa petição, apoiando claramente a
resposta negativa no direito natural de associação, que também diz respeito aos
clérigos: “Non potest negari Presbyteris - dizia-se - id quod laicis, attenta
dignitate humana, Concilium declaravit congruum, utpote iuri naturali
consentaneum” (Schema Decreti Presbyterorum Ordinis, Typis Polyglotis
Vaticani, 1965, pág. 68).
Em
virtude desse direito fundamental, os sacerdotes podem livremente fundar
associações ou inscrever-se nas já existentes, sempre que se trate de
associações que procurem fins rectos, adequados à dignidade e exigências do
estado clerical. A legitimidade e o âmbito do exercício do direito de
associação entre os clérigos seculares compreende-se bem - sem equívocos,
reticências ou perigos de anarquia - se tivermos em conta a distinção que
necessariamente existe e se deve respeitar entre a função ministerial do
clérigo e o âmbito privado da sua vida pessoal.
8
Com
efeito, o clérigo, e concretamente o presbítero, incorporado pelo sacramento da
Ordem à Ordo Presbyterorum, fica constituído por direito divino como cooperador
da Ordem Episcopal. No caso dos sacerdotes diocesanos, esta função ministerial
concretiza-se, segundo uma modalidade estabelecida pelo direito eclesiástico, mediante
a incardinação - que adscreve o presbítero ao serviço duma Igreja local, sob a
autoridade do Ordinário - e a missão canónica que lhe confere um ministério
determinado dentro da unidade do Presbitério, cuja cabeça é o Bispo. É
evidente, portanto, que o presbítero depende do seu Ordinário - através dum
vínculo sacramental e jurídico - para tudo o que se refira a: indicação do
trabalho pastoral concreto; directrizes doutrinais e disciplinares que receba
para o exercício desse ministério; justa retribuição económica necessária;
todas as disposições pastorais dadas pelo direito comum relativas aos direitos
e obrigações que dimanam do estado clerical.
Juntamente
com estas necessárias relações de dependência - que concretizam juridicamente a
obediência, a unidade e a comunhão pastoral que o presbítero há-de viver
delicadamente com o seu próprio Ordinário -, há também legitimamente, na vida
do presbítero secular, um âmbito pessoal de autonomia, de liberdade e de
responsabilidade pessoais, no qual o presbítero goza dos mesmos direitos e
obrigações que as restantes pessoas na Igreja: fica assim diferenciado tanto da
condição jurídica do menor (cfr. cân 89 do C.I.C.) [2]
como da do religioso que - em virtude da própria profissão religiosa - renuncia
ao exercício de todos ou de alguns desses direitos pessoais.
Por
esta razão, o sacerdote secular, dentro dos limites gerais da moral e dos
deveres próprios do seu estado, pode dispor e decidir livremente - em forma
individual ou associada - em tudo o que se refira à sua vida pessoal,
espiritual, cultural, económica, etc. Cada um é livre para se formar
culturalmente de acordo com a sua própria preferência ou capacidade. Cada um é
livre para manter as relações sociais que desejar e organizar a sua vida como
melhor lhe parecer, desde que cumpra devidamente as obrigações do seu
ministério. Cada um é livre para dispor dos seus bens pessoais como julgar mais
oportuno em consciência. Com maior razão, cada um é livre para seguir na sua
vida espiritual e ascética e nos seus actos de piedade, aquelas moções que o
Espírito Santo lhe sugerir, e escolher - entre os muitos meios que a Igreja
aconselha ou permite - aqueles que lhe parecerem mais oportunos segundo as suas
particulares circunstâncias pessoais.
Precisamente,
referindo-se a este último ponto, o Concílio Vaticano II - e de novo o Santo
Padre Paulo VI na sua recente Encíclica Sacerdotalís coelibatus - louvou e
recomendou vivamente as associações, tanto diocesanas como interdiocesanas,
nacionais ou universais que - com estatutos reconhecidos pela competente
autoridade eclesiástica - fomentam a santificação do sacerdote no exercício do
seu próprio ministério. A existência destas associações, com efeito, de nenhuma
maneira supõe nem pode supor - já o disse - um detrimento do vínculo de
comunhão e dependência que une todo o presbítero com o seu Bispo, nem da
unidade fraterna com todos os restantes membros do Presbitério, nem da eficácia
do seu trabalho ao serviço da própria Igreja local.
9
A missão dos leigos
exerce-se, segundo o Concílio, na Igreja e no mundo. Isto, com frequência, não
é entendido rectamente, ficando-se num ou noutro destes termos. Como explicaria
a função dos leigos na Igreja e a função que devem realizar no mundo?
Não
penso de modo algum que devam considerar-se como duas funções diferentes, tendo
em conta que a participação específica do leigo na missão da Igreja consiste,
precisamente, em santificar ab intra - de maneira imediata e directa - as
realidades seculares, a ordem temporal, o mundo.
Mas,
além desta função, que lhes é própria e específica, os leigos têm também - como
os clérigos e os religiosos - uma série de direitos, deveres e faculdades
fundamentais, que correspondem à sua condição jurídica de fiéis, e que têm o
seu lógico âmbito de exercício no interior da sociedade eclesiástica:
participação activa na liturgia da Igreja, faculdade de cooperar directamente
no apostolado próprio da Hierarquia ou de a aconselhar na sua acção pastoral se
forem chamados a isso, etc.
Não
são estas funções - a específica que corresponde aos leigos como leigos e a
genérica ou comum que lhes corresponde como fiéis - duas funções opostas, mas
sim sobrepostas, nem há entre elas contradição, mas sim, complementaridade.
Reparar só na missão específica dos leigos, esquecendo a sua simultânea
condição de fiéis, seria tão absurdo como imaginar um ramo verde e florido que
não pertencesse a nenhuma árvore. Esquecer-se do que é específico, próprio e
peculiar dos leigos, ou não compreender suficientemente as características destas
actividades apostólicas seculares e o seu valor eclesial, seria como reduzir a
frondosa árvore da Igreja à monstruosa condição de puro tronco.
10
Desde há muitos anos que
tem vindo a dizer e a escrever que a vocação dos leigos consiste em três coisas:
“santificar o trabalho, santificar-se no trabalho e santificar os outros com o
trabalho”. Poderia precisar-nos o que entende exactamente por santificar o
trabalho?
É
difícil explicá-lo em poucas palavras, porque nessa expressão estão implicados
conceitos fundamentais da própria teologia da Criação. O que sempre ensinei -
desde há quarenta anos - é que todo o trabalho humano honesto, tanto
intelectual como manual, deve ser realizado pelo cristão com a maior perfeição
possível: com perfeição humana (competência profissional) e com perfeição
cristã (por amor à vontade de Deus e em serviço dos homens). Porque, feito
assim, esse trabalho humano, por humilde e insignificante que pareça, contribui
para a ordenação cristã das realidades temporais - a manifestação da sua
dimensão divina - e é assumido e integrado na obra prodigiosa da Criação e da
Redenção do mundo: eleva-se assim o trabalho à ordem da graça, santifica-se,
converte-se em obra de Deus, operatio Dei, opus Dei.
Ao
recordar aos cristãos as palavras maravilhosas do Génesis - que Deus criou o
homem para que trabalhasse -, fixámo-nos no exemplo de Cristo, que passou a
quase totalidade da sua vida terrena trabalhando numa aldeia como artesão.
Amamos esse trabalho humano que Ele abraçou como condição de vida, e cultivou e
santificou. Vemos no trabalho - na nobre e criadora fadiga dos homens - não só
um dos mais altos valores humanos, meio imprescindível para o progresso da
sociedade e o ordenamento cada vez mais justo das relações entre os homens, mas
também um sinal do amor de Deus para com as suas criaturas e do amor dos homens
entre si e para com Deus: um meio de perfeição, um caminho de santificação.
Por
isso, o único objectivo do Opus Dei sempre foi este: contribuir para que, no
meio do mundo, das realidades e afãs seculares, homens e mulheres de todas as
raças e de todas as condições sociais procurem amar e servir a Deus e a todos
os outros, no seu trabalho ordinário e através dele.
11
O n. 5 do Decreto
Apostolicam actuositatem afirmou claramente que a animação cristã da ordem
temporal é missão de toda a Igreja. Compete, pois, a todos: à Hierarquia, ao
clero, aos religiosos e aos leigos. Poderia dizer-nos como vê o papel e as
características de cada um desses sectores eclesiais nessa missão única e
comum?
Na
realidade, a resposta encontra-se nos próprios textos conciliares. À Hierarquia
compete indicar - como parte do seu magistério - os princípios doutrinais que
hão-de presidir e iluminar a realização dessa tarefa apostólica (cf.
Const. Lumen gentíum, n.º 28; Const. Gaudium et spes, n.º 43; Decr. Apostolicam
actuositatem, n.º 24).
Aos
leigos, que trabalham imersos em todas as circunstâncias e estruturas próprias
da vida secular, corresponde de forma específica a tarefa, imediata e directa,
de ordenar essas realidades temporais à luz dos princípios doutrinais
enunciados pelo Magistério; mas actuando, ao mesmo tempo, com a necessária
autonomia pessoal perante as decisões concretas que tenham de tomar na sua vida
social, familiar, política, cultural, etc. (cfr. Const. Lumen gentium, n.º 31; Const. Gaudium et
spes, n.º 43; Decr. Apostolicam actuositatem, n.º 7).
Quanto
aos religiosos, que se apartam dessas realidades e actividades seculares
abraçando um estado de vida peculiar, a sua missão é dar um testemunho
escatológico público que ajude a recordar aos restantes fiéis do Povo de Deus
que não têm nesta terra morada permanente (cfr. Const. Lumen gentium, n.º
44; Decr. Perfectae caritatis, n.º 5). E não pode esquecer-se ainda que
também servem a animação cristã da ordem temporal, as numerosas obras de
beneficência, de caridade e assistência social que tantos religiosos e
religiosas realizam com abnegado espírito de sacrifício.
12
Uma característica de toda
a vida cristã - seja qual for o caminho através do qual se realize - é a
“dignidade e a liberdade dos filhos de Deus”. A que se refere, pois, quando ao
longo de todos os seus ensinamentos defende tão insistentemente a liberdade dos
leigos?
Refiro-me
precisamente à liberdade pessoal que os leigos têm para tomar, à luz dos
princípios enunciados pelo Magistério, todas as decisões concretas de ordem
teórica ou prática - por exemplo, em relação às diversas opiniões filosóficas,
económicas ou políticas, às correntes artísticas e culturais, aos problemas da
sua vida profissional ou social, etc. - que cada um julgue em consciência mais
convenientes e mais de acordo com as suas convicções pessoais e aptidões
humanas.
Este
necessário âmbito de autonomia que o leigo católico necessita para não ficar
capitidiminuído perante os outros leigos, e para poder levar a cabo, com
eficácia, a sua peculiar tarefa apostólica no meio das realidades temporais,
deve ser sempre cuidadosamente respeitado por todos os que na Igreja exercemos
o sacerdócio ministerial. A não ser assim - se se pretendesse instrumentalizar
o leigo para fins que ultrapassam os que são próprios do ministério hierárquico
- incorrer-se-ia num anacrónico e lamentável clericalismo. Limitar-se-iam
enormemente as possibilidades apostólicas do laicado - condenando-o a perpétua
imaturidade -, mas sobretudo pôr-se-iam em perigo - hoje, especialmente - os
próprios conceitos de autoridade e de unidade na Igreja. Não podemos esquecer
que a existência, também entre os católicos, de um autêntico pluralismo de
critério e de opinião, nas coisas que Deus deixou à livre discussão dos homens,
não só se não opõe à ordenação hierárquica e à necessária unidade do Povo de
Deus, mas ainda as robustece e as defende contra possíveis impurezas.
13
Sendo tão diversas na sua realização
prática a vocação do leigo e a do religioso - ainda que tenham de comum,
evidentemente, a vocação cristã -, como é possível que os religiosos, nas suas
actividades docentes, etc., possam formar os cristãos correntes num caminho
verdadeiramente laical?
Será
possível na medida em que os religiosos - cuja benemérita actividade ao serviço
da Igreja admiro sinceramente - se esforcem por compreender bem quais são as
características e as exigências da vocação laical para a santidade e o
apostolado no meio do mundo, e as queiram e saibam ensinar aos alunos.
14
Com certa frequência ao
falar do laicado, costuma-se esquecer a realidade da presença da mulher e com
isto esfuma-se o seu papel na Igreja. Igualmente, ao tratar-se da “promoção
social da mulher”, é costume entendê-la simplesmente como presença da mulher na
vida pública. Poderia dizer-nos como entende a missão da mulher na Igreja e no
mundo?
Não
vejo nenhuma razão pela qual, ao falar do laicado, - da sua vida apostólica, de
direitos e deveres, etc. - se deva fazer qualquer espécie de distinção ou
discriminação em relação à mulher. Todos os baptizados - homens e mulheres -
participam igualmente da comum dignidade, liberdade e responsabilidade dos
filhos de Deus. Na Igreja existe esta unidade radical e necessária que já São
Paulo ensinava aos primeiros cristãos: Quicumque enim in Christo baptizati
estis, Christum induistis. Non est Judaeus, neque Graecus: non est servus,
neque liber. non est masculus, neque femina (Gal. 3, 27-28); não há
judeu, nem grego; não há servo, nem livre, não há homem, nem mulher.
Exceptuando
a capacidade jurídica de receber ordens sagradas - distinção que por muitas
razões, também de direito divino positivo, considero que se deve reter -, penso
que se devem reconhecer plenamente à mulher na Igreja - na sua legislação, na
sua vida interna e na sua acção apostólica - os mesmos direitos e deveres que
aos homens: direito ao apostolado, a fundar e a dirigir associações, a
manifestar responsavelmente a sua opinião em tudo o que se refira ao bem comum
da Igreja, etc. Bem sei que tudo isto - que teoricamente não é difícil de
admitir se se considerarem as claras razões teológicas que o apoiam -
encontrará, de facto resistência por parte de algumas mentalidades. Ainda
recordo o assombro e até a crítica com que determinadas pessoas - que, agora,
pelo contrário, tendem a imitar, nisto como em tantas outras coisas -
comentaram o facto de o Opus Dei procurar que adquirissem graus académicos em
ciências sagradas também as mulheres que pertencem à Secção feminina da nossa
Associação.
Penso,
no entanto, que estas resistências e reticências irão caindo a pouco e pouco.
No fundo é só um problema de compreensão eclesiológica: reparar que a Igreja
não é formada só pelos clérigos e religiosos, mas que também os leigos - homens
e mulheres - são Povo de Deus e têm, por direito divino, uma missão e
responsabilidade próprias.
Mas
desejaria acrescentar que, a meu ver, a igualdade essencial entre o homem e a
mulher exige precisamente que se saibam captar ao mesmo tempo os papéis
complementares de um e outro na edificação da Igreja e no progresso da
sociedade civil: porque não foi em vão que os criou Deus homem e mulher. Esta
diversidade há-de compreender-se não num sentido patriarcal, mas em toda a profundidade
que tem, tão rica de matizes e consequências, que liberta o homem da tentação
de masculinizar a Igreja e a sociedade, e a mulher de entender a sua missão, no
Povo de Deus e no mundo, como uma simples reivindicação de actividades até
agora apenas realizadas pelo homem, mas que ela pode desempenhar igualmente
bem. Parece-me, pois, que tanto o homem como a mulher se hão-de sentir
justamente protagonistas da história da salvação, mas um e outro de forma
complementar.
15
Tem-se notado que, embora
a primeira versão de “Caminho” tenha sido editada em 1934, contém muitas ideias
que então foram consideradas “heréticas” por alguns, e hoje figuram nos textos
do Concílio Vaticano II. Que nos pode dizer sobre isto? Que pontos são esses?
Disto,
se mo permite, trataremos devagar noutra ocasião, mais adiante. Por agora,
limito-me a dizer-lhe que dou muitas graças ao Senhor que também se serviu
dessas edições de “Caminho”, em tantas línguas e em tantos exemplares - já
passam de dois milhões e meio -, para inculcar no entendimento e na vida de
pessoas de raças e línguas muito diversas, essas verdades cristãs, que haviam
de vir a ser confirmadas pelo Concílio Vaticano II, levando a paz e a alegria a
milhões de cristãos e não cristãos.
16
Sabemos que, desde há
muitos anos, tem uma especial preocupação pela formação espiritual e humana dos
sacerdotes, sobretudo do clero diocesano, manifestada, enquanto lhe foi
possível, por uma intensa actividade de pregação e de direcção espiritual entre
eles. E também, a partir de determinado momento, pela possibilidade de que -
permanecendo plenamente diocesanos e com a mesma dependência dos Ordinários -
fizessem parte da Obra aqueles que sentissem esse chamamento. Interessar-nos-ia
saber as circunstâncias da vida eclesiástica que - à parte outras razões -
motivaram essa sua preocupação. E, por outro lado, poderá dizer-nos de que modo
essa actividade tem podido e pode ajudar a resolver alguns problemas do clero
diocesano ou da vida eclesiástica?
As
circunstâncias da vida eclesiástica que motivaram e motivam essa minha
preocupação e esse trabalho - já institucionalizado - da Obra, não são
circunstâncias de carácter mais ou menos acidental ou transitório, mas sim
exigências permanentes de ordem espiritual e humana, intimamente unidas à vida
e ao trabalho do sacerdote diocesano. Refiro-me fundamentalmente à necessidade
que ele tem de ser ajudado - com espírito e meios que em nada modifiquem a sua
condição diocesana - a procurar a sua santificação pessoal no exercício do seu
próprio ministério. Assim poderá corresponder, com espírito sempre jovem e
generosidade cada vez maior, à graça da vocação divina que recebeu, e saberá
prevenir-se com prudência e prontidão contra as possíveis crises espirituais e
humanas a que facilmente podem dar lugar factores diversos: solidão,
dificuldades de ambiente, indiferença, aparente falta de eficácia do trabalho,
rotina, cansaço, despreocupação por manter e aperfeiçoar a sua formação
intelectual, e até - esta é a origem profunda das crises de obediência e de
unidade - pouca visão sobrenatural das relações com o Ordinário e
inclusivamente com os seus outros irmãos no sacerdócio.
Os
sacerdotes diocesanos que - no uso legítimo do direito de associação - se
adscrevem à Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz [3],
fazem-no única e exclusivamente porque desejam receber essa ajuda espiritual
pessoal, de maneira absolutamente compatível com os seus deveres de estado e
ministério: doutro modo, essa ajuda não seria ajuda, mas sim complicação,
estorvo e desordem.
O
espírito do Opus Dei, com efeito, tem como característica essencial o facto de
não tirar ninguém do seu lugar - unusquisque, in qua vocatione vocatus est, in
ea permaneat (1 Cor. 7, 20) - mas, pelo contrário, de levar cada um
a cumprir os encargos e deveres do seu próprio estado, da sua missão na Igreja
e na sociedade civil, com a maior perfeição possível. Por isso, quando um
sacerdote se adscreve à Obra, não abandona nem modifica em nada a sua vocação
diocesana - dedicação ao serviço da Igreja local a que está incardinado, plena
dependência do Ordinário próprio, espiritualidade secular, união com os outros
sacerdotes, etc. Pelo contrário, compromete-se a viver essa vocação com
plenitude, porque sabe que deve procurar a perfeição precisamente no próprio
exercício das suas obrigações sacerdotais, como sacerdote diocesano.
Este
princípio tem, na nossa Associação, uma série de aplicações práticas de ordem
jurídica e ascética, que seria longo pormenorizar. Direi só, como exemplo, que
- diferentemente de outras Associações nas quais se exige um voto ou promessa
de obediência ao Superior interno - a dependência dos sacerdotes diocesanos
adscritos ao Opus Dei não é uma dependência de regime, já que não há uma
hierarquia interna para eles, nem, portanto, perigo de duplo vínculo de
obediência, mas antes uma relação voluntária de ajuda e assistência espiritual.
O
que estes sacerdotes encontram no Opus Dei é, sobre tudo, a ajuda ascética
continuada que desejam receber, dentro de uma espiritualidade secular e
diocesana, e independentemente das mudanças pessoais e circunstanciais que se
possam verificar no governo da respectiva Igreja local. Juntam assim à direcção
espiritual colectiva que o Bispo dá com a sua pregação, as suas cartas
pastorais, reuniões, instruções disciplinares, etc., uma direcção espiritual
pessoal, solícita e contínua em qualquer lugar onde se encontrem, que completa
- respeitando-a sempre, como um dever grave - a direcção comum ministrada pelo
próprio Bispo. Através dessa direcção espiritual pessoal - tão recomendada pelo
Concílio Vaticano II e pelo Magistério ordinário - fomenta-se no sacerdote a
vida de piedade, a caridade pastoral, a formação doutrinal continuada, o zelo
pelos apostolados diocesanos, o amor e a obediência que devem ao Ordinário próprio,
a preocupação pelas vocações sacerdotais e pelo seminário, etc.
E
para quem são os frutos de todo este trabalho? São para as Igrejas locais que
estes sacerdotes servem. E com isto se alegra a minha alma de sacerdote
diocesano, que tem tido, além disso, repetidas vezes, a consolação de ver com
que carinho o Papa e os Bispos abençoam, desejam e favorecem esse trabalho.
17
Em diversas ocasiões, e ao
referir-se ao começo da vida do Opus Dei, tem dito que unicamente possuía
“juventude, graça de Deus e bom humor”. Aliás, na década de vinte a doutrina do
laicado ainda não tinha alcançado o desenvolvimento que actualmente
presenciamos. No entanto, o Opus Dei é um fenómeno palpável na vida da Igreja.
Poderia explicar-nos como, sendo um sacerdote jovem, pôde ter uma compreensão
tal que lhe permitisse realizar este empreendimento?
Eu
não tive nem tenho outro empenho senão o de cumprir a vontade de Deus:
permita-me que não desça a mais pormenores sobre o começo da Obra - que o Amor
de Deus me fazia pressentir desde o ano de 1917 -, porque estão intimamente
unidos com a história da minha alma e pertencem à minha vida interior. A única
coisa que lhe posso dizer é que actuei, em todos os momentos, com a vénia e com
a afectuosa bênção do queridíssimo Bispo de Madrid, onde nasceu o Opus Dei no
dia 2 de Outubro de 1928. Mais tarde, sempre também com o beneplácito e o
alento da Santa Sé, e, em cada caso, dos Rev.mos Ordinários dos locais onde
trabalhamos.
18
Há quem, perante a
presença de leigos do Opus Dei em lugares influentes da sociedade espanhola,
fale da influência do Opus Dei em Espanha. Poderia explicar-nos qual é essa
influência?
Incomoda-me
profundamente tudo quanto possa parecer auto-elogio. Mas penso que não seria
humildade, mas cegueira e ingratidão para com o Senhor - que tão generosamente
abençoa o nosso trabalho -, não reconhecer que o Opus Dei tem real influência
na sociedade espanhola. No ambiente dos países onde a Obra já trabalha há
bastantes anos - em Espanha, concretamente, há trinta e nove, porque foi da
vontade de Deus que a nossa Associação aqui nascesse para a vida da Igreja - é
lógico que esse influxo já tenha relevância social, paralelamente ao
desenvolvimento progressivo do trabalho.
De
que natureza é essa influência? É evidente que, sendo o Opus Dei uma Associação
de fins espirituais, apostólicos, a natureza do seu influxo - em Espanha tal
como nas outras nações onde trabalhamos - não pode ser senão desse tipo: uma
influência espiritual, apostólica. Tal corno sucede com a totalidade da Igreja
- alma do mundo -, o influxo do Opus Dei na sociedade civil não é de carácter
temporal - social, político, económico, etc. - embora na realidade venha a ter
repercussão nos aspectos éticos de todas as actividades humanas; é, sim, um
influxo de ordem diversa e superior, que se exprime com um verbo preciso:
santificar
E
isto leva-nos ao tema das pessoas do Opus Dei que na sua pergunta classificou
de influentes. Para uma Associação que tenha como fim fazer política, serão
influentes aqueles dos seus membros que ocuparem um lugar no parlamento ou no
conselho de ministros. Se a Associação é cultural, há-de considerar influentes
os seus membros que forem filósofos de fama, ou prémios nacionais de
literatura, etc. Se a Associação, pelo contrário, se propõe - como é o caso do
Opus Dei - santificar o trabalho ordinário dos homens, seja ele material ou
intelectual, é evidente que deverão considerar-se influentes todos os membros:
porque todos trabalham - o genérico dever humano de trabalhar encontra na Obra
especiais ressonâncias disciplinares e ascéticas - e porque todos procuram
realizar o seu trabalho - seja ele qual for - santamente, cristãmente, com
desejo de perfeição. Por isso, para mim, tão influente - tão importante, tão
necessário - é o testemunho de um dos meus filhos que seja mineiro, entre os
seus companheiros de trabalho, como o de um que seja reitor de universidade,
entre os outros professores do claustro académico.
De
onde procede, pois, a influência do Opus Dei? A resposta é a simples
consideração desta realidade sociológica: à nossa Associação pertencem pessoas
de todas as condições sociais, profissões, idades e estados de vida; homens e
mulheres, clérigos e leigos, velhos e jovens, solteiros e casados,
universitários, operários, camponeses, empregados, pessoas que exercem
profissões liberais ou que trabalham em instituições oficiais, etc. Já pensou
no poder de irradiação cristã que uma gama tão ampla e tão variada de pessoas
representa, sobretudo se andam pelas dezenas de milhar e estão animadas de um
mesmo espírito apostólico: santificar a sua profissão ou ofício - em qualquer
ambiente social em que actuem - santificar-se nesse trabalho e santificar com
esse trabalho?
A
estes trabalhos apostólicos pessoais deve juntar-se o das nossas obras corporativas
de apostolado: Residências de estudantes, Casas de convívio e retiros, a
Universidade de Navarra, Centros de formação para operários e camponeses,
Escolas técnicas, Colégios, Escolas de formação para a mulher, etc. Estas obras
têm sido e são indubitavelmente focos de irradiação do espírito cristão.
Promovidas por leigos, dirigidas como um trabalho profissional por cidadãos
leigos, iguais aos seus companheiros que exercem a mesma tarefa ou ocupação, e
abertas a pessoas de todas as classes e condições, têm sensibilizado amplos
estratos da sociedade sobre a necessidade de dar uma resposta cristã às
questões que o exercício das suas profissões ou empregos lhes levanta.
Tudo
isto é que dá relevo e transcendência social ao Opus Dei. Não, portanto, o
facto de alguns dos seus membros ocuparem cargos de influência humana - coisa
que não nos interessa absolutamente nada, e se deixa portanto sujeito à livre
decisão e responsabilidade de cada um - mas o facto de todos, e a bondade de
Deus faz com que sejam muitos, realizarem trabalhos - desde os mais humildes -
divinamente influentes.
E
isto é lógico: quem pode pensar que a influência da Igreja nos Estados Unidos
começou no dia em que foi eleito presidente o católico John Kennedy?
19
Por vezes, ao falar da realidade
do Opus Dei, tem afirmado que é uma “desorganização organizada”. Poderia
explicar aos nossos leitores a significado desta expressão?
Quero
dizer que damos uma importância primária e fundamental à espontaneidade
apostólica da pessoa, à sua iniciativa livre e responsável guiada pela acção do
Espírito; e não a estruturas orgânicas, mandatos, tácticas e planos impostos de
cima, como actos de governo.
Existe
um mínimo de organização, evidentemente, com um governo central, que actua
sempre colegialmente e tem a sua sede em Roma, e governos regionais, também
colegiais, cada um presidido por um Conselheiro [4].
Mas toda a actividade desses organismos se dirige fundamentalmente a um fim:
proporcionar aos sócios a assistência espiritual necessária para a sua vida de
piedade, e uma adequada formação espiritual, doutrinal-religiosa e humana.
Depois: patos à água! Quer dizer: cristãos a santificarem todos os caminhos dos
homens, que todos guardam o aroma da passagem de Deus.
Ao
chegar a esse limite, a esse momento, a Associação como tal terminou a sua
tarefa - aquela, precisamente, para a qual os sócios do Opus Dei se associam -
e já não tem que fazer, não pode nem deve fazer mais nenhuma indicação. Começa
então a livre e responsável acção de cada sócio. Cada um, com espontaneidade
apostólica, agindo com completa liberdade pessoal e formando autonomamente a
sua consciência perante as decisões concretas que tenha de tomar, busca a
perfeição cristã e procura dar testemunho cristão no seu próprio ambiente,
santificando o trabalho profissional, intelectual ou manual. Naturalmente, ao
tomar cada um autonomamente essas decisões na sua vida secular, nas realidades
temporais em que actua, dão-se com frequência opções, critérios e actuações
diversas: dá-se, numa palavra, essa bendita desorganização, esse justo e
necessário pluralismo, que é uma característica essencial do bom espírito do
Opus Dei, e que a mim me pareceu sempre ser a única maneira recta e ordenada de
conceber o apostolado dos leigos.
Dir-lhe-ei
mais: essa desorganização organizada aparece inclusivamente nas próprias obras
apostólicas corporativas que o Opus Dei realiza, com o desejo de contribuir
também, enquanto associação, para resolver cristãmente problemas que afectam as
comunidades humanas dos diversos países. Essas actividades e iniciativas da
Associação são sempre de carácter directamente apostólico: obras educativas,
assistenciais ou de beneficência. Mas, como o nosso espírito é precisamente
estimular que as iniciativas surjam a partir da base, e como as circunstâncias,
necessidades e possibilidades de cada nação ou grupo social são peculiares e
ordinariamente diversas entre si, o governo central da Obra deixa aos governos
regionais - que gozam de autonomia praticamente total - a responsabilidade de decidir,
promover e organizar aquelas actividades apostólicas concretas que julgarem
mais convenientes: desde um centro universitário ou uma residência de
estudantes, até um dispensário ou uma escola agrícola para camponeses. Como
resultado lógico, aparece um mosaico multicolor e variado de actividades: um
mosaico organizadamente desorganizado.
20
De acordo com o que nos
acaba de referir, de que maneira considera que a realidade eclesial do Opus Dei
se insere na acção pastoral de toda a igreja? E no Ecumenismo?
Parece-me
conveniente um esclarecimento prévio: o Opus Dei não é nem pode ser considerado
uma realidade ligada ao processo evolutivo do estado de perfeição na Igreja,
não é uma forma moderna ou aggiornata desse estado. Com efeito, nem a concepção
teológica do status perfecfionís - que São Tomás, Suárez e outros autores
plasmaram decisivamente na doutrina - nem as diversas concretizações jurídicas
que se deram ou se podem dar a esse conceito teológico, se relacionam com a
espiritualidade e o fim apostólico que Deus quis para a nossa Associação. Basta
considerar - porque seria longa uma exposição doutrinal completa - que ao Opus
Dei não interessam votos, nem promessas, nem qualquer forma de consagração para
os seus sócios, além da consagração que já todos receberam no Baptismo. A nossa
Associação não pretende de nenhum modo que os seus sócios mudem de estado, que
deixem de ser simples fiéis iguais aos outros, para adquirir o peculiar status
perfectionis. Pelo contrário, o que deseja e procura é que cada um faça
apostolado e se santifique no seu próprio estado, no mesmo lugar e condição que
tem na Igreja e na sociedade civil. Não tiramos ninguém do seu lugar, nem
afastamos ninguém do seu trabalho ou dos seus nobres compromissos de ordem
temporal.
A
realidade social, a espiritualidade e a acção do Opus Dei inserem-se, pois, num
manancial da vida da Igreja muito diferente: concretamente, no processo
teológico e vital que está a conduzir o laicado à plena assunção das suas
responsabilidades eclesiais, ao seu modo próprio de participar na missão de
Cristo e da sua Igreja. Este tem sido, e continua a ser, nos quase quarenta
anos de existência da Obra, o anseio constante - sereno, mas firme - com que
Deus quis encaminhar, na minha alma e nas dos meus filhos, o desejo de O
servir.
Que
contribuição oferece o Opus Dei a este processo? Talvez não seja este o momento
histórico mais adequado para proceder a uma valoração global deste tipo. Apesar
de se tratar de problemas de que o Concílio Vaticano II muito se ocupou - com
quanta alegria da minha alma! - e apesar de muitos conceitos e situações
referentes à vida e missão do laicado terem recebido já do Magistério
suficiente confirmação e luz, há no entanto um considerável núcleo de questões
que constituem ainda, para a generalidade da doutrina, verdadeiros
problemas-limite da teologia. A nós, dentro do espírito que Deus deu ao Opus
Dei e que procuramos viver com fidelidade - apesar das nossas imperfeições
pessoais -, parece-nos já divinamente resolvida a maior parte desses problemas
discutidos, mas não pretendemos apresentar essas soluções como as únicas
possíveis.
21
Há
também aspectos do mesmo processo de desenvolvimento eclesiológico, que
representam magníficas aquisições doutrinais - para as quais quis Deus indubitavelmente
que contribuísse, em parte talvez não pequena, o testemunho do espírito e da
vida do Opus Dei, juntamente com outras contribuições valiosas de iniciativas e
associações apostólicas não menos beneméritas. Mas são aquisições doutrinais e
talvez passe ainda bastante tempo até chegarem a encarnar-se realmente na vida
total do Povo de Deus. Aliás, nas suas perguntas anteriores já recordou alguns
desses aspectos: o desenvolvimento de uma autêntica espiritualidade laical; a
compreensão da peculiar função eclesial - não eclesiástica ou oficial - própria
do leigo; a distinção dos direitos e dos deveres que o leigo tem enquanto
leigo; as relações Hierarquia-laicado; a igualdade de dignidade e a
complementaridade das funções do homem e da mulher na Igreja; a necessidade de
conseguir uma ordenada opinião pública no Povo de Deus, etc.
Tudo
isto constitui evidentemente uma realidade muito fluida e nem sempre isenta de
paradoxos. Uma mesma coisa, que dita há quarenta anos escandalizava quase
todos, ou todos, hoje a quase ninguém causa estranheza, embora, na verdade,
sejam ainda muito poucos os que a compreendem a fundo e a vivem ordenadamente.
Explicar-me-ei
melhor com um exemplo. Em 1932, comentando, num documento dirigido aos meus
filhos do Opus Dei, alguns dos aspectos e consequências da dignidade e
responsabilidade peculiares que o Baptismo confere às pessoas, escrevi:
“impõe-se repelir o preconceito de que os fiéis correntes não podem fazer mais
do que ajudar o clero, em apostolados eclesiásticos. O apostolado dos seculares
não tem de ser sempre uma simples participação no apostolado hierárquico:
compete-lhes o dever de fazer apostolado. E isto não é porque recebam uma
missão canónica, mas por serem parte da Igreja; essa missão... realizam-na
através da profissão, do ofício, da família, dos colegas, dos amigos”.
Hoje,
depois dos ensinamentos solenes do Vaticano II, ninguém na Igreja porá em
dúvida a ortodoxia desta doutrina. Mas, quantos abandonaram realmente a sua
concepção única do apostolado dos leigos como um trabalho pastoral organizado
de cima para baixo? Quantos, superando a anterior concepção monolítica do
apostolado laical, compreendem que ele possa e inclusivamente deva também
existir sem necessidade de rígidas estruturas centralizadas, missões canónicas
e mandatos hierárquicos? Quantos, que qualificam o laicado de longa manus
Ecclesiae, não estarão a confundir ao mesmo tempo o conceito de Igreja-Povo de
Deus com o conceito mais limitado de Hierarquia? Ou ainda, quantos leigos
entendem devidamente que só em delicada comunhão com a Hierarquia têm direito a
reivindicar o seu âmbito legítimo de autonomia apostólica?
Poder-se-iam
formular considerações semelhantes em relação a outros problemas, porque é
realmente muito, muitíssimo, o que está ainda por conseguir, tanto na
necessária exposição doutrinal, como na educação das consciências e na própria
reforma da legislação eclesiástica. Peço muito ao Senhor - a oração sempre foi
a minha grande arma - que o Espírito Santo assista ao seu Povo, e especialmente
à Hierarquia, na realização destas tarefas. E peço-Lhe também que continue a
servir-Se do Opus Dei, para que possamos contribuir e ajudar, em tudo o que
estiver ao nosso alcance, neste difícil mas maravilhoso processo de
desenvolvimento e crescimento da Igreja.
22
Como se insere o Opus Dei
no Ecumenismo? - perguntava-me também. Já contei, no ano
passado, a um jornalista francês - e sei que encontrou eco, inclusivamente, em
publicações de irmãos separados - o que uma vez disse ao Santo Padre João
XXIII, movido pelo encanto afável e paterno do seu trato: “Santo Padre, na
nossa Obra, todos os homens, católicos ou não, encontraram sempre um ambiente
acolhedor: não aprendi o ecumenismo de Vossa Santidade”. Ele riu-se emocionado,
porque sabia que, já desde 1950, a Santa Sé tinha autorizado o Opus Dei a
receber como associados Cooperadores os não católicos e até os não cristãos.
São
muitos, efectivamente - e entre eles contam-se pastores e até bispos das suas
respectivas confissões -, os irmãos separados que se sentem atraídos pelo
espírito do Opus Dei e colaboram nos nossos apostolados. E são cada vez mais
frequentes - à medida que os contactos se intensificam - as manifestações de
simpatia e de cordial entendimento, resultantes de os sócios do Opus Dei
centrarem a sua espiritualidade no simples propósito de viver com sentido de
responsabilidade os compromissos e exigências baptismais do cristão. O desejo
de procurar a plenitude da vida cristã e de fazer apostolado, procurando a
santificação do trabalho profissional; a vida imersa nas realidades seculares,
respeitando a sua própria autonomia, mas tratando-as com espírito e amor de
almas contemplativas; a primazia que na organização dos nossos trabalhos
concedemos à pessoa, à acção do Espírito nas almas, ao respeito da dignidade e
da liberdade que provêm da filiação divina do cristão; a defesa contra a
concepção monolítica e institucionalista do apostolado dos leigos, da legítima
capacidade de iniciativa, adentro do necessário respeito pelo bem comum: estes
e outros aspectos mais, do nosso modo de ser e trabalhar, são pontos de fácil
encontro, onde os irmãos separados descobrem - feita vida, experimentada pelos
anos - uma boa parte dos princípios doutrinários em que eles e nós, os
católicos, pomos fundamentadas esperanças ecuménicas.
23
Mudando de tema,
gostaríamos de saber o que pensa em relação ao actual momento da Igreja.
Concretamente, como o qualificaria? Que papel julga poderem ter, neste momento,
as tendências que de modo geral têm sido chamadas “progressistas” e
“integristas”?
A
meu ver, o actual momento da Igreja poderia qualificar-se de positivo, e, ao
mesmo tempo, de delicado, como todas as crises de crescimento. Positivo, sem
dúvida, porque as riquezas doutrinais do Concílio Vaticano II colocaram a Igreja
inteira - todo o Povo sacerdotal de Deus - perante uma nova etapa, sumamente
esperançosa, de renovada fidelidade ao propósito divino da salvação que se lhe
confiou. Momento delicado também, porque as conclusões teológicas a que se
chegou não são de carácter - passe a expressão - abstracto ou teórico: trata-se
de uma teologia sumamente viva, quer dizer, com imediatas e directas aplicações
de ordem pastoral, ascética e disciplinar, que chegam ao mais íntimo da vida
interna e externa da comunidade cristã - liturgia, estruturas orgânicas da
Hierarquia, formas apostólicas, Magistério, diálogo com o mundo, ecumenismo,
etc. - e, portanto, também da vida cristã e da própria consciência dos fiéis.
Uma
e outra destas realidades trazem respectivamente à nossa alma, por um lado, o
optimismo cristão - a jubilosa certeza de que o Espírito Santo fará frutificar
abundantemente a doutrina com que enriqueceu a Esposa de Cristo - e, ao mesmo
tempo, a prudência por parte de quem investiga ou governa, porque,
especialmente agora, a falta de serenidade ou de ponderação no estudo dos
problemas poderia ocasionar um dano imenso.
Quanto
às tendências a que chama integristas e progressistas na sua pergunta,
torna-se-me difícil dar opinião sobre o papel que podem desempenhar neste momento,
porque, desde sempre, repeli a conveniência e inclusivamente a possibilidade de
se poderem fazer catalogações ou simplificações deste tipo. Essa divisão - que
às vezes é levada a extremos de verdadeiro paroxismo, ou se procura perpetuar,
como se os teólogos e os fiéis em geral estivessem destinados a uma contínua
orientação bipolar - parece-me que obedece, no fundo, ao convencimento de que o
progresso doutrinal e vital do Povo de Deus terá de ser resultante de uma
perpétua tensão dialéctica. Eu, pelo contrário, prefiro acreditar - com toda a
minha alma - na acção do Espírito Santo, que sopra onde quer e em quem quer.
(Entrevista
realizada por Pedro Rodríguez, publicada em Palabra (Madrid), Outubro de 1967)
[1] são josemaria escrivá
[2] Cfr. cân 98 do novo
C. 1. C.
[3] A Sociedade
Sacerdotal da Santa Cruz é uma Associação própria, intrínseca e inseparável da
Prelatura. É constituída pelos clérigos incardinados no Opus Dei e por outros
sacerdotes ou diáconos, incardinados em diversas dioceses. Esses sacerdotes e
diáconos não formam parte do clero da prelatura, pois pertencem ao presbitério
das suas dioceses respectivas e dependem exclusivamente do seu Ordinário como
Superior. Associam-se à Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz para procurar a sua
santificação, segundo o espírito e a praxe ascética do Opus Dei. O Prelado do
Opus Dei é, ao mesmo tempo, Presidente Geral da Sociedade Sacerdotal da Santa
Cruz.
[4] Recordamos o que
ficou dito na Apresentação deste livro sobre algumas respostas, referentes a
aspectos jurídicos e organizativos, que eram exactas e precisas na altura,
quando o Opus Dei não tinha ainda recebido a configuração jurídica desejada
pelo seu Fundador. Hoje é necessário completá-las com a breve explicação que
demos na Apresentação.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.