11/04/2013

Tratado dos actos humanos 87



Questão 20: Da bondade e da malícia dos actos humanos exteriores.


Art. 2 ― Se toda bondade e malícia do acto exterior depende da vontade.

(II Sent., dis. XL, a . 2).

O segundo discute-se assim. ― Parece que toda a bondade e malícia do acto exterior depende da vontade.

1. ― Pois, diz a Escritura (Mt 7, 18): Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar bons frutos. Ora, por árvore entende-se a vontade, e por fruto a sua obra, segundo a Glosa. Logo, não é possível a vontade interior ser boa e o acto exterior, mau, ou inversamente.

2. Demais. ― Agostinho diz que só a vontade pode pecar 1. Logo, não havendo pecado nesta, também não haverá no acto exterior, portanto, toda bondade ou malícia deste daquela depende.

3. Demais. ― O bem e o mal, de que agora tratamos, são diferenças do acto moral. Ora, estas por si dividem o género, segundo o Filósofo 2. E como o acto é moral desde que voluntário, resulta que o bem e o mal de um acto procede da vontade.

Mas, em contrário, como diz Agostinho, há coisas que se não podem tornar boas por nenhum bem e nenhuma boa vontade 3.

Como já se disse 4, podemos considerar duas espécies de bondade e malícia do acto exterior, a relativa à matéria devida e às circunstâncias, e a relativa à ordem ao fim. Esta última, que se ordena ao fim, depende totalmente da vontade, ao passo que a primeira depende da razão, e desta depende a bondade da vontade na medida em que quer.

Ora, é mister lembrar-nos que, como já ficou dito 5, para uma coisa ser má basta um simples defeito, porém para ser boa, absolutamente, não basta uma bondade qualquer, senão a bondade íntegra. Se pois a vontade for boa pelo seu objecto próprio e pelo fim, consequentemente o acto exterior há-de ser bom. Mas não basta, para este último ser bom, a bondade da vontade oriunda do fim intencional, se porém a vontade for má, quer pelo fim intencional, quer pelo acto querido, consequentemente o acto exterior há-de ser mau.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― A vontade boa, significada pela árvore boa, deve ser entendida com tirando a sua bondade, do acto querido e do fim intencional.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Peca voluntariamente não só quem quer um mau fim, como também quem quer um mau acto.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Chama-se voluntário não só o acto interior da vontade, com também os actos exteriores, por procederem da vontade e da razão. Donde, em relação aquele e a estes pode haver a diferença de bem e de mal.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.

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Notas:
1. Lib. I Retract., cap. IX.
2. VII Metaph., lect. XII.
3. Contra mendacium, cap. XII.
4. Q. 20, a. 1.
5. Q. 19, a. 6 ad 1.

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