Art. 2 ― Se a bondade da
vontade depende só do objecto.
O
segundo discute-se assim. ― Parece que a bondade da vontade não depende só do objecto.
2.
Demais. ― A bondade de um acto provém não só do objecto mas também das
circunstâncias, como já se disse 2. Ora, a diferença de bondade e
malícia no acto da vontade varia com a diversidade das circunstâncias, assim,
se queremos alguma coisa quando, onde, quanto e como devemos ou não devemos
querer. Logo, a bondade da vontade depende não só do objecto, mas também das
circunstâncias.
3.
Demais. ― A ignorância das circunstâncias escusa a malícia da vontade, como já
se disse 3. Ora, isto não se daria se a bondade e a malícia da
vontade não dependessem das circunstâncias. Logo, destas dependem e não só do objecto.
Mas,
em contrário. ― As circunstâncias, como tais, não especificam um acto, como já
se disse 4. Ora, o bem e o mal são diferenças específicas do acto de
vontade, segundo foi dito 5. Logo, a bondade e a malícia da vontade
não dependem das circunstâncias, mas só do objecto.
Em qualquer género, quanto mais uma coisa tiver prioridade sobre outras,
tanto mais simples será e tanto menos elementos de composição terá, assim os
primeiros corpos são simples. Assim, como facilmente se verifica, o que num género
tem prioridade é de certa maneira simples e uno. Ora, o princípio da bondade e
malícia dos actos humanos procede de um acto da vontade. E portanto, a bondade
e a malícia desta fundam-se nalguma unidade, ao passo que a bondade e a malícia
dos outros actos podem advir-lhes de origens diversas.
Ora,
o que num género é princípio não é acidental, mas essencial, pois, tudo o que é
acidental se reduz ao seu princípio, que é o essencial. Logo, a bondade da
vontade depende unicamente do que torna o acto essencialmente bom, isto é, do objecto,
e não das circunstâncias, acidentes do acto.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― O fim é o objecto da vontade mas não das
demais faculdades. Donde, a bondade do acto da vontade proveniente do objecto não
difere da que provém do fim, a não ser acidentalmente, se um fim depender de
outro e uma vontade, de outra, ao passo que, nos actos das outras faculdades,
há diferença entre essas duas bondades.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Suposto que a vontade quer o bem, nenhuma circunstância pode
torná-la má. E quando se diz que podemos querer um bem quando não devemos, pode
entender-se em dois sentidos. Ou a circunstância se refere ao objecto querido,
e então a vontade não quer o bem, o que se dá se decidirmos praticar um acto
quando não devemos, ou se refere ao acto de querer, e então é impossível
queiramos um bem quando não devemos, porque devemos querer sempre o bem e só
por acidente é que, querendo um determinado bem, ficamos impedidos de querer o
bem devido, mas então o mal não provém de querermos esse determinado bem, mas
de não querermos o outro. E o mesmo se deve dizer das outras circunstâncias.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― A ignorância das circunstâncias escusa a malícia da vontade,
quando se referem ao objecto querido, fazendo com que ignoremos as
circunstâncias do acto que queremos.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
__________________________
Notas:
1.
Q. 18, a. 4.
2.
Q. 18, a. 3.
3.
Q. 6, a. 8.
4.
Q. 18, a. 2.
5.
Q. 19, a. 1.
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