01/04/2013

Tratado dos actos humanos 77



Questão 19: Da bondade do acto interior da vontade.

Art. 2 ― Se a bondade da vontade depende só do objecto.



O segundo discute-se assim. ― Parece que a bondade da vontade não depende só do objecto.



1. ― Pois, o fim tem mais afinidade com a vontade do que com outra potência. Ora, os actos das outras potências recebem a sua bondade, não só do objecto, mas também do fim, como resulta do sobredito 1. Logo, também a vontade recebe a sua, não do objecto, mas do fim.

2. Demais. ― A bondade de um acto provém não só do objecto mas também das circunstâncias, como já se disse 2. Ora, a diferença de bondade e malícia no acto da vontade varia com a diversidade das circunstâncias, assim, se queremos alguma coisa quando, onde, quanto e como devemos ou não devemos querer. Logo, a bondade da vontade depende não só do objecto, mas também das circunstâncias.

3. Demais. ― A ignorância das circunstâncias escusa a malícia da vontade, como já se disse 3. Ora, isto não se daria se a bondade e a malícia da vontade não dependessem das circunstâncias. Logo, destas dependem e não só do objecto.

Mas, em contrário. ― As circunstâncias, como tais, não especificam um acto, como já se disse 4. Ora, o bem e o mal são diferenças específicas do acto de vontade, segundo foi dito 5. Logo, a bondade e a malícia da vontade não dependem das circunstâncias, mas só do objecto.


Em qualquer género, quanto mais uma coisa tiver prioridade sobre outras, tanto mais simples será e tanto menos elementos de composição terá, assim os primeiros corpos são simples. Assim, como facilmente se verifica, o que num género tem prioridade é de certa maneira simples e uno. Ora, o princípio da bondade e malícia dos actos humanos procede de um acto da vontade. E portanto, a bondade e a malícia desta fundam-se nalguma unidade, ao passo que a bondade e a malícia dos outros actos podem advir-lhes de origens diversas.

Ora, o que num género é princípio não é acidental, mas essencial, pois, tudo o que é acidental se reduz ao seu princípio, que é o essencial. Logo, a bondade da vontade depende unicamente do que torna o acto essencialmente bom, isto é, do objecto, e não das circunstâncias, acidentes do acto.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― O fim é o objecto da vontade mas não das demais faculdades. Donde, a bondade do acto da vontade proveniente do objecto não difere da que provém do fim, a não ser acidentalmente, se um fim depender de outro e uma vontade, de outra, ao passo que, nos actos das outras faculdades, há diferença entre essas duas bondades.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Suposto que a vontade quer o bem, nenhuma circunstância pode torná-la má. E quando se diz que podemos querer um bem quando não devemos, pode entender-se em dois sentidos. Ou a circunstância se refere ao objecto querido, e então a vontade não quer o bem, o que se dá se decidirmos praticar um acto quando não devemos, ou se refere ao acto de querer, e então é impossível queiramos um bem quando não devemos, porque devemos querer sempre o bem e só por acidente é que, querendo um determinado bem, ficamos impedidos de querer o bem devido, mas então o mal não provém de querermos esse determinado bem, mas de não querermos o outro. E o mesmo se deve dizer das outras circunstâncias.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― A ignorância das circunstâncias escusa a malícia da vontade, quando se referem ao objecto querido, fazendo com que ignoremos as circunstâncias do acto que queremos.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Q. 18, a. 4.
2. Q. 18, a. 3.
3. Q. 6, a. 8.
4. Q. 18, a. 2.
5. Q. 19, a. 1.


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