2.3. As propriedades da
Igreja: una, santa, católica, apostólica
Chamamos
propriedades aos elementos que caracterizam a Igreja. Encontramo-los em muitos
dos Símbolos da fé desde épocas muito remotas da Igreja. Todas as propriedades
são um dom de Deus que implica uma tarefa a cumprir por parte dos cristãos.
A
Igreja é Una porque a sua origem e modelo é a Santíssima Trindade; porque
Cristo – seu fundador – restabelece a unidade de todos num só corpo; porque o
Espírito Santo une os fiéis à Cabeça, que é Cristo. Esta unidade manifesta-se
em que os fiéis professam uma mesma fé, celebram uns mesmos sacramentos, estão
unidos numa mesma hierarquia, têm uma esperança comum e a mesma caridade. A
Igreja subsiste como sociedade constituída e organizada no mundo na Igreja
católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele 8.
Só nela se pode obter a plenitude dos meios de salvação, posto que o Senhor
confiou os bens da Nova Aliança ao Colégio apostólico, cuja cabeça é Pedro. Nas
igrejas e comunidades cristãs não católicas há muitos bens de santificação e de
verdade que procedem de Cristo e impulsionam a unidade católica; o Espírito
Santo serve-se delas como meios de salvação, cuja força vem da plenitude da graça
e da verdade que Cristo confiou à Igreja Católica (cf. Catecismo, 819). Os
membros dessas igrejas e comunidades incorporam-se a Cristo no Baptismo e, por
isso, reconhecemo-los como irmãos. Pode-se crescer na unidade: aproximando-nos
mais a Cristo e ajudando os outros cristãos a estar mais perto d’Ele;
fomentando a unidade no essencial, a liberdade no acidental e a caridade em
tudo 9; tornando mais habitável a casa de Deus aos outros; crescendo
na veneração e respeito pelo Papa e pela Hierarquia, ajudando-os e seguindo os
seus ensinamentos.
O
movimento ecuménico é uma tarefa eclesial pela qual se procura restaurar a
unidade entre os cristãos na única Igreja fundada por Cristo. É um desejo do
Senhor (cf. Jo 17, 21). Realiza-se com a oração, com a conversão do coração, o
recíproco conhecimento fraterno e o diálogo teológico.
A
Igreja é Santa porque Deus é o seu autor, porque Cristo se entregou por ela
para a santificar e a fazer santificante, porque o Espírito Santo a vivifica
com a caridade. Por ter a plenitude dos meios salvíficos, a santidade é a
vocação de cada um dos seus membros e o fim de toda a sua actividade. É santa
porque dá constantemente frutos de santidade na terra, porque a sua santidade é
fonte de santificação dos seus filhos – embora nesta terra se reconheçam todos
pecadores e necessitados de conversão e purificação. A Igreja é também santa
devido à santidade alcançada pelos seus membros que já estão no Céu, de modo
eminente a santíssima Virgem Maria, que são seus modelos e intercessores (cf.
Catecismo, 823-829). A Igreja pode ser mais santa, através da tarefa de
santidade realizada pelos seus fiéis: a conversão pessoal, a luta ascética por
se parecerem mais a Cristo, a reforma que ajuda a cumprir melhor a missão e a
fugir da rotina, a purificação da memória que remove os falsos preconceitos
sobre os outros, e o cumprimento concreto da vontade de Deus na caridade.
A
Igreja é Católica – quer dizer, universal – porque nela está Cristo, porque
conserva e administra todos os meios de salvação dados por Cristo, porque a sua
missão abarca todo o género humano, porque recebeu e transmite na sua
integridade todo o tesouro da Salvação e porque tem a capacidade de se
inculturar, elevando e melhorando qualquer cultura. A catolicidade cresce
extensiva e intensivamente através de um maior desenvolvimento da missão da
Igreja. Toda a igreja particular, ou seja, toda a porção do povo de Deus que
está em comunhão na fé, nos sacramentos, com o seu bispo – através da sucessão
apostólica – formada à imagem da Igreja universal e em comunhão com toda a
Igreja (que a precede ontológica e cronologicamente), é católica.
Como
a sua missão abarca toda a humanidade, todos os homens, pertencem ou estão
ordenados, de diferentes modos, à unidade católica do Povo de Deus. Estão
plenamente incorporados na Igreja católica aqueles que, tendo o Espírito de
Cristo, se encontram unidos a ela pelos vínculos da profissão de fé, dos
sacramentos, do governo eclesiástico e da comunhão. Os baptizados que não
perseverem na caridade, embora incorporados na Igreja, pertencem-lhe com o
corpo mas não com o coração. Os baptizados que não se encontram plenamente
nesta unidade católica estão numa certa comunhão, ainda que imperfeita, com a
Igreja Católica (cf. Compêndio, 168).
A Igreja é Apostólica porque Cristo a edificou
sobre os Apóstolos, testemunhas escolhidas da sua Ressurreição e fundamento da
sua Igreja; porque com a assistência do Espírito Santo, ensina, guarda e
transmite fielmente o depósito da fé recebido dos Apóstolos. Também é apostólica
pela sua estrutura, enquanto é instruída, santificada e governada, até ao
regresso de Cristo, pelos Apóstolos e seus sucessores, os bispos, em comunhão
com o sucessor de Pedro. A sucessão apostólica é a transmissão, mediante o
sacramento da Ordem, da missão e potestade dos Apóstolos aos seus sucessores.
Graças a esta transmissão, a Igreja mantém-se em comunhão de fé e de vida com a
sua origem, enquanto ao longo dos séculos ordena a sua missão apostólica à
difusão do Reino de Cristo sobre a terra. Todos os membros da Igreja
participam, segundo as distintas funções, da missão recebida pelos Apóstolos de
levar o Evangelho ao mundo inteiro. A vocação cristã é, pela sua própria
natureza, vocação ao apostolado (cf. Catecismo, 863).
Miguel de Salis Amaral
Bibliografia:
Catecismo da Igreja Católica, 683-688;
731-741.
Compêndio do Catecismo de la Igreja
Católica, 136-146.
João Paulo II, Enc. Dominum et
Vivificantem, 18-V-1986, 3-26.
João Paulo II, Catequese sobre o
Espírito Santo, 8-XII-1989.
São Josemaria, Homilia «O Grande
Desconhecido», em Cristo que Passa, 127-138.
Leituras recomendadas:
Catecismo da Igreja Católica, 748-945.
Compêndio do Catecismo da Igreja
Católica, 147-193.
São Josemaria, Homilia «Lealdade à
Igreja», em Amar a Igreja, Rei dos Livros, Lisboa 1986.
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Notas:
8 Cf. Ibidem, 8.
9 Cf. Concílio Vaticano II, Const.
Gaudium et Spes, 92.
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