Questão 18: Da bondade e
da malícia dos actos humanos em geral.
Art. 8 – Se há actos especificamente indiferentes.
(II
Sent., dist. XL, a . 5: De Malo, 1. 2, a . 5).
O
oitavo discute-se assim. ― Parece que não há actos especificamente
indiferentes.
1. ― Pois, o mal é a privação do bem, segundo Agostinho 1. Ora, privação e posse opõem-se imediatamente, conforme o Filósofo 2. Logo, nenhum acto é especificamente indiferente, quase médio entre o bem e o mal.
2.
Demais. ― Os actos humanos se especificam pelo fim ou pelo objecto, com já se
disse 3. Ora, um e outro é bom ou mau. Logo, todo acto humano é
especificamente bom ou mau e nenhum é indiferente.
3.
Demais. ― Como já se disse 4, é considerado bom o acto que tem a
devida perfeição de bondade, mau, aquele ao qual ela falece. Ora,
necessariamente todo acto ou tem a plenitude total da sua bondade ou algo dela
lhe falta. Logo, e necessariamente, todo acto é especificamente bom ou mau e
nenhum, indiferente.
Mas,
em contrário, diz Agostinho: há certos fatos intermediários que podem ser
produzidos com bom ou mau ânimo, dos quais seria temerário julgar 5.
Logo, há actos especificamente indiferentes.
Como já se disse 6, todo acto se especifica pelo seu objecto, e o acto
humano chamado moral especifica-se pelo seu objecto, referido ao princípio dos actos
humanos, que é a razão. Donde, se o objecto do acto inclui algo de conveniente
à ordem da razão, esse acto será especificamente bom, p. ex., dar esmola a um
pobre. Se porém incluir algo de repugnante à ordem da razão, será
especificamente mau, p. ex., furtar, i. é, apoderar-se do alheio. Ora, pode
acontecer que o objecto do acto não inclua nada de pertencente à sobredita
ordem, p. ex., ajuntar uma palha do chão, ir ao campo e outros. E tais actos
são especificamente indiferentes.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Há duas espécies de privação: Uma é a do ser,
a qual nada deixa e tudo elimina, assim, a cegueira elimina totalmente a vista,
as trevas, a luz, a morte, a vida, e entre esta privação e o modo de ser que
lhe é oposto não há intermediário possível. A outra consiste em ser privado de
certo modo, assim a doença é privação da saúde, não por eliminá-la totalmente,
mas por predispor para a sua perda total, que se dá pela morte, e esta
privação, deixando alguma coisa, não está sempre em oposição imediata como o
seu contrário. Ora, deste modo é que o mal é privação do bem, como diz
Simplício 7, pois, deixando algo dele, não o exclui totalmente. Donde,
pode haver um meio-termo entre o bem e o mal.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Todo objecto ou fim tem alguma bondade ou malícia, pelo menos
natural mas, nem sempre implica a bondade ou malícia moral, considerada em
relação à razão, como já se disse. Ora, é desta última que agora se trata.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Nem tudo o que convém a um acto lhe pertence à espécie. Donde,
embora em a noção da sua espécie não esteja compreendido tudo o que pertence à
plenitude da bondade do acto, nem por isso este há de ser especificamente mau
ou bom, assim, o homem não é especificamente nem virtuoso nem vicioso.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
__________________________
Notas:
1.
Enchir., cap. XI.
2.
Praedicam., cap. VIII.
3.
Q. 18, a. 6.
4.
Q. 18, a. 1.
5.
Lib. II De serm. Domini in monte, cap. XVIII.
6. Q. 18, a. 2, 5.
7. Comment. Super lib. Praedicamentorum
(in cap. De
oppos.).
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