
Questão 17: Dos actos
ordenados pela vontade.
Em
seguida devemos tratar dos actos ordenados pela vontade.
E
sobre esta Questão nove artigos se discutem:
Art.
1 ― Se ordenar é acto da razão ou da vontade.
Art.
2 ― Se ordenar convém aos brutos.
Art.
3 ― Se o uso precede a ordem.
Art.
4 ― Se o acto ordenado e a ordem são um mesmo acto.
Art.
5 ― Se o acto da vontade é ordenado.
Art.
6 ― Se um acto da razão pode ser ordenado.
Art.
7 ― Se um acto do apetite sensitivo pode ser ordenado.
Art.
8 ― Se os actos da alma vegetativa estão sujeitos ao império da razão.
Art.
9 ― Se os membros do corpo obedecem à razão.
Art. 1 ― Se ordenar é acto
da razão ou da vontade.
(II ª, II ª, q. 83, a . 1, IV
Sent., dist. XV, q. 4, a . 1, q ª 1, ad 3, De Verit., q.22, a 12, a . 12 ad 4. Quodl.
IX, q. 5, a . 2).
O
primeiro discute-se assim. ― Parece que ordenar não é acto da razão mas, da
vontade.
1. ― Pois, ordenar é mover, conforme o nota Avicena, ao afirmar serem quatro as espécies de motores: o que aperfeiçoa, o que dispõe, o que ordena e o que aconselha. Ora, pertence à vontade mover todas as outras potências da alma, como já se disse 1. Logo, ordenar é acto da vontade.
2.
Demais. ― Assim como ser mandado é próprio de quem está sujeito, assim ordenar
o é de quem é soberanamente livre. Ora, a liberdade está radicalmente sobretudo
na vontade. Logo a esta pertence ordenar.
3.
Demais. ― À ordem segue-se imediatamente o acto. Ora, ao acto da razão não se
segue, imediatamente, o agir, assim, quem julga que uma coisa deve ser feita
não a realiza imediatamente. Logo, ordenar não é acto da razão, mas da vontade.
Mas,
em contrário, diz Gregório Nisseno (Nemésio) 2 e também o Filósofo 3,
que o apetite obedece à razão. Logo, é próprio desta ordenar.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Ordenar não é mover de qualquer modo, mas com
uma certa intimação, que indica a outrem o que deve fazer, e isto é acto da
razão.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― A liberdade está radicalmente na vontade, como sujeito, mas tem
como causa a razão, pois se a vontade pode exercer-se livremente sobre objectos
diversos, é porque a razão pode ter várias concepções do bem. E por isso os
filósofos definem o livre arbítrio como o juízo livre da razão, por ser esta a
causa da liberdade.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― A objecção proposta conclui que a ordem não é acto da razão,
absolutamente, mas acompanhada de certa moção, como já disse.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
___________________________
Notas:
1.
Q. 9 a. 1.
2.
De Nat. Hom., cap. XVI.
3. I Ethic., lect. XIII.
4.
Q. 9 a. 1.
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