DOMINICAE CENAE
DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II
A TODOS OS BISPOS DA IGREJA
SOBRE O MISTÉRIO E O CULTO
DA SANTÍSSIMA EUCARISTIA
1.
Também este ano, vos dirijo a todos uma Carta, para a próxima Quinta-Feira
Santa; ela tem um nexo imediato com aquela que recebestes o ano passado, pela
mesma ocasião, juntamente com a Carta para os Sacerdotes. Desejo, antes de mais
nada, agradecer-vos cordialmente por terdes acolhido as minhas Cartas
precedentes, com aquele espírito de unidade que o Senhor estabeleceu entre nós,
e igualmente por haverdes transmitido aos vossos Presbitérios os pensamentos
que eu desejava exprimir no início do meu Pontificado.
Durante
a Liturgia Eucarística da Quinta-Feira Santa, haveis renovado, juntamente com
os próprios Sacerdotes, as promessas e os compromissos assumidos no momento da
Ordenação. E muitos de vós, veneráveis e caros Irmãos, houveram por bem dar-me
conhecimento disso em seguida, acrescentando pessoalmente também palavras de
agradecimento e, mais ainda, enviando em bom número as que foram expressas
pelos próprios Presbitérios. Além disto, muitos Sacerdotes manifestaram a sua
alegria, quer pelo motivo do carácter penetrante e solene da Quinta-Feira
Santa, a qual é a anual "festa dos Sacerdotes", quer também por
motivo da importância dos problemas tratados na Carta que lhes foi dirigida.
Tais
respostas, que constituem uma rica colecção, estão a demonstrar, mais uma vez,
quanto é estimado pela enorme maioria do Presbitério da Igreja Católica o
caminho da vida sacerdotal, pelo qual esta Igreja vem seguindo de há séculos:
quanto por eles é amado e apreciado esse caminho e quanto eles desejam
prosseguir por ele para o futuro.
Devo
aqui recordar, entretanto, que na Carta aos Sacerdotes encontraram eco somente
alguns problemas, o que, de resto, foi claramente salientado no início da
mesma. (1). Depois, foi posto em evidência principalmente o carácter pastoral
do ministério sacerdotal, o que não quer dizer, certamente, que não tenham sido
tomados em consideração também aqueles grupos de Sacerdotes que não desenvolvem
uma actividade directamente pastoral. E reporto-me, a este propósito, ainda uma
vez ao magistério do II Concílio do Vaticano, como também às enunciações do
Sínodo dos Bispos de 1971.
O carácter
pastoral do ministério sacerdotal não deixa nunca de acompanhar a vida de cada
um dos Sacerdotes, ainda que as tarefas quotidianas, que alguns executam, não
estejam orientadas explicitamente para a pastoral dos Sacramentos. Neste
sentido, a Carta escrita aos Sacerdotes, por ocasião da Quinta-Feira Santa de
1979, foi dirigida a todos, sem excepção alguma, muito embora, como já aludi,
ela não tenha tratado de todos os problemas da vida e da actividade dos
Sacerdotes. Julguei útil e oportuno este esclarecimento ao iniciar a presente
Carta.
I.
O
MISTÉRIO EUCARÍSTICO NA VIDA DA IGREJA E DO SACERDOTE
Eucaristia
e Sacerdócio
2.
A presente Carta, que hoje vos dirijo a vós, veneráveis e meus amados Irmãos no
Episcopado— a qual, como já disse, é, de alguma maneira, a continuação da
precedente — está também ela intimamente relacionada com o mistério da
Quinta-Feira Santa, como está em relação com o Sacerdócio. É minha intenção, de
facto, dedicá-la à Eucaristia e, de modo particular, a alguns aspectos do Mistério
eucarístico e da sua incidência na vida de quem do mesmo é ministro: por isso,
os destinatários directos desta Carta sois vós, Bispos da Igreja; e juntamente
convosco, todos os Sacerdotes; e ainda, no seu grau próprio, também os
Diáconos.
Na
realidade, o Sacerdócio ministerial ou hierárquico, o Sacerdócio dos Bispos e
dos Presbíteros e, ao lado deles, o Ministério dos Diáconos — ministérios que
iniciam normalmente com o anúncio evangélico — estão em relação muito íntima
com a Eucaristia. Esta é a principal e central razão de ser do sacramento do
Sacerdócio, que nasceu efectivamente no momento da instituição da Eucaristia e
juntamente com ela (2). Não é sem um motivo que as palavras "Fazei isto em
memória de mim" são pronunciadas imediatamente depois das palavras da
consagração eucarística, e que nós as repetimos todas as vezes que celebramos o
Santo Sacrifício (3).
Mediante
a nossa Ordenação — cuja celebração anda vinculada à Santa Missa, como consta
desde o primeiro testemunho litúrgico (4); —
nós estamos unidos de modo singular e excepcional à Eucaristia. Somos
aquilo que somos, de certo modo, "a partir dela" e "para
ela". Somos também, e de um modo particular, responsáveis "por
ela" — quer todos e cada um dos Sacerdotes nas próprias comunidades, quer
todos e cada um dos Bispos, em virtude do cuidado de todas as comunidades que
lhes estão confiadas, baseado naquela "sollicitudo omnium
ecclesiarum" de que fala São Paulo (5). Está-nos confiado, portanto, a nós
Bispos e Sacerdotes, o grande "Mistério da Fé"; e se é verdade que
ele foi também dado a todo o Povo de Deus, a todos os que crêem em Cristo, a
nós, todavia, foi-nos confiada a Eucaristia também "para" os outros,
os quais esperam de nós um particular testemunho de veneração e de amor para
com este Sacramento, a fim de poderem também eles sentir-se edificados e
animados "para oferecerem sacrifícios espirituais" (6).
Deste
modo, o nosso culto eucarístico, quer na celebração da Santa Missa, quer para
com o Santíssimo Sacramento, é como uma corrente vivificadora, que une o nosso
Sacerdócio ministerial ou hierárquico ao sacerdócio comum dos fiéis,
apresentando-o na sua dimensão vertical e com o seu valor central. O Sacerdote
desempenha a sua missão principal e manifesta-se em toda a sua plenitude ao
celebrar a Eucaristia (7); e tal manifestação é mais completa quando ele
próprio deixa transparecer a profundidade de um tal mistério, para que este
somente irradie a sua luz nos corações e nas consciências humanas, através do
seu ministério. Este ministério é o exercício supremo do "sacerdócio
real", a "fonte e o ápice de toda a vida cristã" (8).
Culto
do Mistério Eucarístico
3.
Tal culto é dirigido a Deus Pai por Jesus Cristo no Espírito Santo. Antes de
mais nada, culto ao Pai que, como afirma o Evangelho de São João, "amou
tanto o mundo que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que crê n'Ele
não pereça, mas tenha a vida eterna" (9).
Dirige-se
também no Espírito Santo àquele Filho encarnado, na economia de Salvação,
sobretudo naquele momento de suprema entrega e de abandono total de Si mesmo,
ao qual se referem as palavras pronunciadas no Cenáculo: "isto é o meu
Corpo entregue por vós"... "este é o cálice do meu Sangue...
derramado por vós" (10). A aclamação litúrgica "Anunciamos, Senhor, a
Vossa morte" reporta-nos exactamente àquele momento; e com o proclamar a
Sua ressurreição abrangemos no mesmo acto de veneração Cristo ressuscitado e
glorificado "à direita do Pai", bem como a perspectiva da Sua
"vinda gloriosa". Todavia é o aniquilamento voluntário, grato ao Pai
e glorificado com a ressurreição que, celebrado de modo sacramental, simultaneamente
com a ressurreição, nos leva à adoração daquele Redentor que se fez
"obediente até à morte, e à morte de cruz" (11).
E
esta nossa adoração encerra ainda uma outra característica particular. Ela é
compenetrada pela grandeza desta Morte Humana, na qual o mundo, isto é cada um
de nós, foi amado "até ao extremo" (12). Assim, tal adoração é também
uma resposta que intenta retribuir aquele Amor imolado até à morte na Cruz: é a
nossa "Eucaristia", quer dizer, o nosso dar-Lhe graças e o louvá-1'O
por nos ter redimido com a Sua morte e tornado participantes da vida imortal
por meio da Sua ressurreição.
Um
tal culto, que se dirige à Santíssima Trindade do Pai, do Filho e do Espírito
Santo, acompanha e permeia antes de mais nada toda a celebração da Liturgia
eucarística. Mas ele há-de encher também os nossos templos noutros momentos
para além do horário das Santas Missas. Na verdade, uma vez que o Mistério
eucarístico foi instituído pelo amor, e nos torna Cristo sacramentalmente
presente, ele é digno de acção de graças e de culto. E este nosso culto há-de
sobressair em cada um dos nossos encontros com o Santíssimo Sacramento, quer
quando visitamos as nossas igrejas, quer quando as sagradas Espécies são
levadas e administradas aos enfermos.
A
adoração de Cristo neste Sacramento de amor deve encontrar depois a sua
expressão em diversas formas de devoção eucarística: orações pessoais diante do
Santíssimo, horas de adoração, exposições breves, prolongadas, anuais (quarenta
horas), bênçãos eucarísticas, procissões eucarísticas e congressos eucarísticos
(13). Merece uma particular recordação, aqui neste ponto, a solenidade do
"Corpo e Sangue de Cristo" (Corpo de Deus), como acto de culto
público prestado a Cristo presente na Eucaristia, estatuída pelo meu Predecessor
Urbano IV em memória da instituição deste grande Mistério (14). Tudo isto
corresponde, portanto, aos princípios gerais e às normas particulares já de há
muito existentes, mas formuladas de novo durante ou após o II Concílio do
Vaticano (15).
A
animação e o aprofundamento do culto eucarístico são prova daquela autêntica
renovação, que o mesmo Concílio se propôs como finalidade e dele são o ponto
central. E isto, veneráveis e caros Irmãos, merece uma reflexão à parte. A
Igreja e o mundo têm grande necessidade do culto eucarístico. Jesus espera por
nós neste Sacramento do Amor. Não nos mostremos avaros com o nosso tempo para
ir encontrar-nos com Ele na adoração, na contemplação cheia de fé e pronta para
reparar as grandes culpas e os crimes do mundo. Não cesse nunca a nossa
adoração.
Eucaristia
e Igreja
4.
Graças ao Concílio nós demo-nos conta, com vigor renovado, desta verdade: assim
como a Igreja "faz a Eucaristia", assim "a Eucaristia
constrói" a Igreja (16); e esta verdade anda intimamente ligada ao
mistério da Quinta-Feira Santa. A Igreja foi fundada, como comunidade nova do
Povo de Deus, na comunidade apostólica daqueles Doze que, durante a última Ceia,
se tornaram participantes do Corpo e do Sangue do Senhor sob as Espécies do pão
e do vinho. Cristo tinha-lhes dito: "tomai e comei...", "tomai e
bebei...". E eles, cumprindo esta Sua ordem, entraram, pela primeira vez,
em comunhão sacramental com o Filho de Deus, comunhão que é penhor de vida
eterna. E a partir daquele momento até ao fim dos séculos, a Igreja constrói-se
mediante a mesma comunhão como Filho de Deus, que é penhor de Páscoa eterna.
Como
mestres e guardas da verdade salvífica da Eucaristia, nós devemos, caros e
veneráveis Irmãos no Episcopado, manter sempre e em toda a parte este
significado e esta dimensão do encontro sacramental e da intimidade com Cristo.
É isso precisamente que constitui, de facto, a própria substância do culto
eucarístico. O sentido desta verdade que temos estado a expor não diminui, de
modo algum, antes pelo contrário facilita o carácter eucarístico de aproximação
espiritual e de união entre os homens, que participam no Sacrifício, o qual,
depois, na Comunhão se torna para eles o banquete. Esta aproximação e esta
união, cujo protótipo é a união dos Apóstolos em torno de Cristo durante a
Última Ceia, exprimem e realizam a Igreja.
No
entanto, a Igreja não se realiza somente mediante o facto da união entre os
homens, através da experiência da fraternidade, a que dá ocasião o banquete
eucarístico. A Igreja realiza-se quando naquela fraterna união e comunhão
celebramos o sacrifício da Cruz de Cristo, quando anunciamos "a morte do
Senhor até que Ele venha" (17); e, depois, quando profundamente
compenetrados do mistério da nossa Salvação, nos aproximamos comunitariamente
da mesa do Senhor, para alimentar-nos, de modo sacramental, dos frutos do Santo
Sacrifício propiciatório. Na Comunhão eucarística, pois, recebemos Cristo, o próprio
Cristo; a nossa união com Ele, que é dom e graça para cada um de nós, faz com
que n'Ele sejamos também associados à unidade do seu Corpo que é a Igreja.
Só
assim, mediante uma tal fé e uma tal disposição de alma, se torna realidade
aquela construção da Igreja, que, conforme a conhecida expressão do II Concílio
do Vaticano, tem na Santíssima Eucaristia a sua "fonte e ápice" (18).
Esta
verdade, que graças ao mesmo Concílio, tem vindo a conhecer um novo e vigoroso
relevo (19), deve ser tema frequente das nossas reflexões e do nosso ensino.
Dela se alimente toda a actividade pastoral, e que ela seja sustento para nós
próprios e para todos os Sacerdotes que colaboram connosco, e enfim para as
inteiras comunidades que nos estão confiadas. Assim, nesta prática há-de
revelar-se, quase a cada passo, aquela íntima relação existente entre a vitalidade
espiritual e apostólica da Igreja e a Eucaristia, entendida no seu significado
profundo e sob todos os pontos de vista (20).
Eucaristia
e Caridade
5.
Antes de passar a observações mais pormenorizadas sobre o tema da celebração do
Santo Sacrifício, desejo aqui reafirmar, ainda que brevemente, que o culto
eucarístico constitui a alma de toda a vida cristã. Se é verdade que a vida
cristã se exprime no cumprimento do maior mandamento, ou seja, no amor de Deus
e do próximo, este amor tem a sua fonte exactamente no Santíssimo Sacramento,
que comummente é chamado: Sacramento do Amor.
A
Eucaristia significa esta caridade, e por isso a recorda, a toma presente e ao
mesmo tempo a realiza. Todas as vezes que nela participamos de modo consciente,
abre-se na nossa alma uma dimensão real daquele amor imperscrutável que em si
contém tudo aquilo que Deus fez para nós homens, e que continuamente faz,
segundo as palavras de Cristo: "O meu Pai opera sempre e também eu
opero" (21). Juntamente com este dom insondável e gratuito, que é a caridade
revelada, até ao extremo, no sacrifício salvífico do Filho de Deus, de que a
Eucaristia é sinal indelével, nasce também em nós uma resposta de amor. Não só
conhecemos o amor, mas também nós próprios começarmos a amar. Nós entramos, por
assim dizer, no caminho do amor e por este caminho fazemos progressos. O amor
que em nós nasce da Eucaristia, também em nós se desenvolve, se aprofunda e se
reforça, graças a ela.
O
culto eucarístico, pois, é exactamente expressão de um tal amor, que é a
autêntica e mais profunda característica da vocação cristã. Este culto brota do
amor e serve ao amor, para o qual todos nós somos chamados em Jesus Cristo
(22). É fruto vivo deste mesmo culto é o aperfeiçoamento da imagem de Deus que
trazemos em nós, imagem que corresponde àquela que Cristo nos revelou.
Tornando-nos assim "adoradores do Pai em espírito e em verdade" (23),
nós maturamos numa cada vez mais plena união com Cristo, estamos mais unidos a
Ele e — se é permitido usar esta expressão — estamos cada vez mais solidários
com Ele.
A
doutrina da Eucaristia, sinal da unidade e vínculo da caridade, ensinada por
São Paulo (24), foi em seguida aprofundada pelos escritos de muitos Santos, que
são para nós um exemplo vivo do culto eucarístico. Devemos ter sempre diante
dos olhos esta realidade e, ao mesmo tempo, devemos esforçar-nos continuamente
por fazer com que também a nossa geração ajunte àqueles maravilhosos exemplos
do passado, exemplos novos, não menos vivos e eloquentes, em que se reflicta a
época à qual nós pertencemos.
Eucaristia
e Próximo
6.
O autêntico sentido da Eucaristia torna-se, de per si, escola de amor activo
para com o próximo. Nós sabemos que é assim a ordem verdadeira e integral do
amor que o Senhor nos ensinou: "nisto precisamente todos reconhecerão que
sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros" (25). E a
Eucaristia educa-nos para este amor de maneira mais profunda; ela demonstra, de
facto, qual o valor que têm aos olhos de Deus todos os homens, nossos irmãos e
irmãs, uma vez que Cristo se oferece a Si mesmo de igual modo a cada um deles,
sob as Espécies do pão e do vinho. Se o nosso culto eucarístico for autêntico,
deve fazer crescer em nós a consciencialização da dignidade de todos e de cada
um dos homens. A consciência dessa dignidade, depois, torna-se o motivo mais
profundo da nossa relação com o próximo.
Devemos
também tornar-nos particularmente sensíveis a todos os sofrimentos e misérias
humanas, a todas as injustiças e arbitrariedades, buscando a maneira de a isso
remediar de forma eficaz. Aprendamos a descobrir com respeito a verdade sobre o
homem interior, porque é precisamente esse íntimo do homem que se torna morada
de Deus presente na Eucaristia. Cristo vem aos corações e visita as
consciências dos nossos irmãos e irmãs. Como se modifica a imagem de todos e de
cada um dos homens, quando tomamos consciência desta realidade, quando a
tornamos objecto das nossas reflexões! O sentido do Mistério eucarístico
impele-nos ao amor para com o próximo, ao amor para com todos e cada um dos
homens (26).
Eucaristia
e Vida
7.
Sendo portanto fonte de caridade, a Eucaristia esteve sempre no centro da vida
dos discípulos de Cristo. Ela tem o aspecto de pão e de vinho, ou seja, de
comida e de bebida, e por isso é tão familiar para o homem, conexa de modo tão
íntimo com a sua vida, como o são precisamente a comida e a bebida. A veneração
de Deus que é Amor, no culto eucarístico nasce daquela espécie de intimidade
com que Ele próprio, analogamente à comida e à bebida, enche o nosso ser espiritual,
assegurando-lhe, de modo semelhante àquelas, a vida. Tal veneração
"eucarística" de Deus corresponde estritamente, portanto, aos seus
planos salvíficos. Ele mesmo, o Pai, quer que "os verdadeiros
adoradores" (27), O adorem precisamente assim; e Cristo é intérprete desse
querer; e isso, com as suas palavras e, simultaneamente, com este Sacramento,
no qual nos torna possível a adoração do Pai, da maneira mais conforme com a
Sua vontade.
De
um conceito assim do culto eucarístico se origina, depois, todo o estilo
sacramental da vida do cristão. Efectivamente, o levar uma vida baseada nos
Sacramentos, animada pelo sacerdócio comum, quer dizer antes de mais nada, da
parte do cristão, o desejar que Deus aja nele para o fazer chegar no Espírito
"à plena estatura de Cristo" (28). E Deus, da Sua parte, não o toca
somente através dos acontecimentos e com a sua graça interna, mas age nele, com
maior certeza e vigor, através dos Sacramentos. Estes conferem à vida do
cristão um estilo sacramental.
Pois
bem: dentre todos os Sacramentos, é a Santíssima Eucaristia que faz chegar à
plenitude a sua iniciação de cristão e que confere ao exercício do sacerdócio
comum esta forma sacramental e eclesial que o põe em conexão — como já aludi em
precedência (29) — com o exercício do Sacerdócio ministerial. Deste modo, o
culto eucarístico é centro e fim de toda a vida sacramental (30). Repercutem
continuamente nele, com um eco profundo, os Sacramentos da iniciação cristã:
Baptismo e Confirmação. Onde é que se expressa melhor a verdade de não somente
"nos chamarmos", mas também de que "realmente o somos, filhos de
Deus" (31), em virtude do sacramento do Baptismo, senão no facto
precisamente de que na Eucaristia nos tornamos participantes do Corpo e do
Sangue do unigénito Filho de Deus? E o que é que melhor nos predispõe para
sermos "verdadeiras testemunhas de Cristo" (32), perante o mundo,
como há-de resultar do sacramento da Confirmação, senão a Comunhão eucarística,
em que Cristo Se nos dá em testemunho a nós e nós damos testemunho d'Ele?
É
impossível passar aqui em análise, de modo mais pormenorizado, os vínculos que
existem entre a Eucaristia e os outros Sacramentos, em particular as relações
com o Sacramento da vida familiar e o Sacramento dos enfermos. Quanto à íntima
ligação existente entre o sacramento da Penitência e o sacramento da
Eucaristia, já chamei a atenção para isso na Encíclica Redemptor Hominis (33).
Não é somente a Penitência que conduz à Eucaristia, mas é também a Eucaristia
que leva à Penitência. Quando de facto nos damos bem conta de quem é Aquele que
recebemos na Comunhão eucarística, nasce em nós quase espontaneamente um
sentido de indignidade, junto com a dor pelos nossos pecados e com a
necessidade interior de purificação.
No
entanto, devemos estar sempre vigilantes, para que este grande encontro com
Cristo na Eucaristia não se torne para nós um facto rotineiro, a fim de
evitarmos recebê-lo indignamente, isto é, em estado de pecado mortal. A prática
da virtude da penitência e o sacramento da Penitência são indispensáveis para
manter em nós e para aprofundarmos continuamente aquele espírito de veneração,
que o homem deve ao próprio Deus e ao seu Amor tão admiravelmente revelado.
Estas
palavras têm em vista introduzir algumas reflexões gerais sobre o culto do
Mistério eucarístico, as quais poderiam ser desenvolvidas mais longamente e de
forma mais ampla. Poder-se-ia, em particular, relacionar tudo aquilo que foi
dito acima dos efeitos da Eucaristia sobre o amor para com o homem, e aquilo
que acabamos agora de realçar quanto aos compromissos contraídos para com o
homem e para com a Igreja na Comunhão eucarística, e, como consequência,
delinear a imagem daquela "nova terra" (34) que nasce da Eucaristia
através de cada "homem novo" (35). Efectivamente, neste Sacramento do
pão e do vinho, da comida e da bebida, tudo o que é humano sofre uma singular
transformação e elevação. O culto eucarístico não é tanto culto da inacessível
transcendência, quanto culto da divina condescendência, e é também
misericordiosa e redentora transformação do mundo no coração do homem.
Ao
recordar tudo isto, apenas brevemente, é meu desejo, não obstante a concisão,
criar um contexto mais amplo para as questões que em seguida devo tratar: estas
estão intimamente ligadas com a celebração do Santo Sacrifício. Com efeito, é
nesta celebração que se exprime de modo mais directo o culto da Eucaristia. Ele
emana do coração, como uma homenagem preciosíssima, inspirada pela fé, pela
esperança e pela caridade, infundidas em nós no Baptismo. E precisamente sobre
isto, que eu desejo hoje escrever-vos, de modo particular — a vós, veneráveis e
queridos Irmãos no Episcopado, e, ao mesmo tempo, também aos Sacerdotes e aos
Diáconos — nesta Carta, a que a Sagrada Congregação para os Sacramentos e o
Culto Divino fará seguir indicações mais pormenorizadas.
II.
SACRALIDADE
DA EUCARISTIA E SACRIFÍCIO
Sacralidade
8.
A celebração da Eucaristia, a começar do Cenáculo e da Quinta-Feira Santa, tem
uma sua longa história, tão longa quanto a história da Igreja. No decorrer
desta história os elementos secundários sofreram certas mudanças; todavia,
permaneceu imutada a essência do "Mysterium", instituída pelo Redentor
do mundo, durante a Última Ceia. Também o II Concilio do Vaticano trouxe
algumas modificações, em virtude das quais a actual liturgia da Missa se
diferencia, de alguma maneira, da liturgia conhecida antes do mesmo Concílio.
Não é minha intenção, porém, falar dessas diferenças; por agora, convém
determo-nos em tudo aquilo que é essencial e imutável na Liturgia eucarística.
É
com isso que é essencial e imutável que está intimamente ligado o carácter de
"sacrum" da Eucaristia, ou seja da acção santa e sagrada. Santa e
sagrada, porque nela está continuamente presente e age Cristo, o
"Santo" de Deus (36), Aquele que "Deus ungiu com o Espírito
Santo" (37), "consagrado pelo Pai" (38) para dar livremente e de
novo tomar a sua vida (39), o "Sumo Sacerdote" da nova Aliança (40).
É Ele, de facto, que, representado pelo celebrante, faz o seu ingresso no
santuário e anuncia o seu Evangelho; é Ele que "é o oferente e o
oferecido, o consagrante e o consagrado" (41). Acção santa e sagrada
porque é constitutiva das sagradas Espécies, de "Sancta sanctis",
isto é, de coisas santas — Cristo, o Santo — dadas aos santos, como cantam
todas as liturgias do Oriente, no momento em que se eleva o Pão eucarístico
para convidar os fiéis para a Ceia do Senhor.
O
"Sacrum" da Missa não é, pois, uma "sacralização", ou seja,
um acrescentamento do homem à acção de Cristo no Cenáculo, uma vez que a Ceia
da Quinta-Feira Santa foi um rito sagrado, liturgia primária e constitutiva com
a qual Cristo, empenhando-se em dar a vida por nós, celebrou sacramentalmente,
Ele próprio, o mistério da sua Paixão e Ressurreição, coração de todas as
Missas. Derivando-se desta liturgia, as nossas Missas de per si revestem uma
forma litúrgica completa, que, embora diversificada, conforme as famílias
rituais que a celebram, permanece substancialmente idêntica. O
"Sacrum" da Missa é uma sacralidade instituída por Ele, Cristo. As
palavras e a acção de cada um dos Sacerdotes, às quais corresponde a participação
consciente e activa de toda a assembleia eucarística, são eco das palavras e da
acção da Quinta-Feira Santa.
O
Sacerdote oferece o Santo Sacrifício "in persona Christi", o que quer
dizer "em nome", ou então "nas vezes" de Cristo. "In
persona": isto é, na especifica e sacramental identificação com o
"Sumo e Eterno Sacerdote" (42), que é o Autor e o principal Sujeito
deste seu próprio Sacrifício, no que não pode, na verdade, ser substituído por
ninguém. Só Ele somente Cristo — podia e sempre pode ser verdadeira e
efectivamente "propiciador pelos nossos pecados; e não só pelos nossos,
mas também pelos do mundo inteiro" (43). Somente o Seu sacrifício — e o de
mais ninguém — podia e pode ter "valor propiciatório" diante de Deus,
da Trindade e da sua transcendental santidade. A tomada de consciência desta
realidade lança uma certa luz sobre o carácter e sobre o significado do
Sacerdote-celebrante; este, ao perfazer o Santo Sacrifício e ao agir "in
persona Christi", é — de um modo sacramental e ao mesmo tempo inefável —
introduzido e inserido nesse estritíssimo Sacrum, ao qual o mesmo Sacerdote,
por sua vez, associa espiritualmente todos os participantes na assembleia
eucarística.
A
um tal "Sacrum", actuado sob formas litúrgicas variadas, pode faltar
algum elemento secundário; mas não pode, de modo nenhum, estar desprovido da
sua sacralidade e sacramentalidade
essenciais, porque queridas por Cristo, e transmitidas e verificadas
pela Igreja. Um tal "Sacrum" não pode sequer ser instrumentalizado
para outros fins. O Mistério eucarístico, disjunto da própria natureza sacrifical
e sacramental, deixa simplesmente de ser tal. Ele não admite qualquer imitação
"profana", a qual se tornaria muito facilmente (se não mesmo como
regra) uma profanação. É preciso recordar isto sempre, e sobretudo no nosso
tempo, talvez, quando observamos uma tendência para cancelar a distinção entre
o "sacrum e o "profanum", dada a geral e difundida tendência
(pelo menos em certas partes) para a "dessacralização" de todas as
coisas.
Em
tal conjuntura a Igreja tem o particular dever de assegurar e corroborar o
"sacrum" da Eucaristia. Na nossa sociedade pluralista, e muitas vezes
deliberadamente secularizada, a fé viva da comunidade cristã — fé consciente também dos próprios direitos
em relação a todos aqueles que não compartilham a mesma fé — garante a este
"sacrum" o direito de cidadania. O dever de respeitar a fé de cada um
é concomitante e correlativo ao direito natural e civil da liberdade de
consciência e de religião.
A
sacralidade da Eucaristia encontrou e encontra sempre a sua expressão na terminologia
teológica e litúrgica (44). E um sentido assim da sacralidade objectiva do
Mistério eucarístico é de tal forma constitutivo da fé do Povo de Deus, que
esta por ele se tem vindo a enriquecer e a robustecer (45). Por isso os
ministros da Eucaristia, sobretudo nos nossos dias, devem ser iluminados pela
plenitude desta fé viva e, à luz da mesma, devem compreender e realizar tudo
aquilo que faz parte do seu ministério sacerdotal, por vontade de Cristo e da
sua Igreja.
«
Sacrificium »
9.
A Eucaristia é, acima de, tudo, um Sacrifício: sacrifício da Redenção e, ao
mesmo tempo, sacrifício da nova Aliança (46), como nós acreditamos e claramente
professam as Igrejas do Oriente: "o sacrifício hodierno — afirmou há
alguns séculos atrás a Igreja Grega — é como aquele que um dia ofereceu o
Unigénito Verbo Encarnado; e é (hoje como então) por Ele oferecido, sendo o
mesmo e único Sacrifício" (47). Por isso, e precisamente com o tornar
presente este único Sacrifício da nossa Salvação, o homem e o mundo são
restituídos a Deus por meio da novidade pascal da Redenção. E uma tal
restituição a Deus não pode vir a falhar: ela é fundamento da "nova e
eterna aliança" 'de Deus com o homem e do homem com Deus. Se viesse a
faltar uma tal restituição, dever-se-ia pôr em questão quer a excelência do
sacrifício da Redenção, o qual no entanto foi perfeito e definitivo, quer o
valor sacrifical da Santa Missa. A Eucaristia, por conseguinte, sendo verdadeiro
sacrifício opera esta restituição a Deus.
Daqui
se segue que o celebrante, enquanto ministro daquele Sacrifício, é o autêntico
Sacerdote, que opera — em virtude do poder específico da sagrada Ordenação — um
verdadeiro acto sacrifical que reconduz os seres a Deus. Por outro lado, todos
aqueles que participam na Eucaristia, sem sacrificar como o celebrante,
oferecem com ele, em virtude do sacerdócio comum, os seus próprios sacrifícios
espirituais, representados pelo pão e pelo vinho, desde o momento da
apresentação destes ao altar. Um tal acto litúrgico, efectivamente, solenizado
por quase todas as liturgias, "tem o seu valor e o seu significado
espiritual" (48). O pão e o vinho tornam-se, em certo sentido, símbolo de
tudo aquilo que a assembleia eucarística é portadora, de si mesma, em oferta a
Deus, e que oferece em espírito.
É
importante que este primeiro momento da Liturgia eucarística, no sentido
estrito, tenha a sua expressão no comportamento dos participantes. A isto
corresponde a chamada procissão com as ofertas, prevista pela recente reforma
litúrgica (49) e acompanhada, segundo a antiga tradição, por um salmo ou por um
cântico. É preciso um certo espaço de tempo, para que todos possam tomar
consciência daquele acto, expresso simultaneamente pelas palavras do
celebrante.
A
consciência do acto de apresentar as ofertas deveria ser mantida durante toda a
Missa. Mais ainda, ela deve ser levada à plenitude no momento da consagração e
da oblação "anamnética", como o exige o valor fundamental do momento
do Sacrifício. Para demonstrar isto mesmo servem as palavras da Oração
eucarística que o Sacerdote pronuncia em voz alta. Parece ser útil retomar aqui
algumas expressões da terceira Oração eucarística, que manifestam
particularmente o carácter sacrifical da Eucaristia e conjugam a oferta das
nossas pessoas com a de Cristo: "Olhai benigno para a oblação da Vossa
Igreja: vede nela a Vítima que nos reconciliou conVosco; e fazei que,
alimentando-nos do Corpo e Sangue de Vosso Filho, e cheios do Seu Espírito
Santo, sejamos em Cristo um só corpo e um só espírito. O mesmo Espírito Santo
faça de nós uma oferenda permanente". Um tal valor sacrifical é também
expresso já em todas as celebrações, pelas palavras com que o Sacerdote conclui
a apresentação das oferendas, ao pedir aos fiéis para orarem a fim de que
"o meu e vosso sacrifício seja aceite por Deus Pai todo-poderoso"
Tais palavras têm um valor compromissivo, na medida em que exprimem o carácter
de toda a Liturgia eucarística e a plenitude do seu conteúdo tanto divino como
eclesial.
Todos
aqueles que participam com fé na Eucaristia se dão conta de que ela é
"Sacrificium", ou seja uma "Oferta consagrada". Com efeito,
o pão e o vinho, presentes no altar e acompanhados da devoção e dos sacrifícios
espirituais dos participantes, são finalmente consagrados, de tal modo que se
tornam verdadeira, real e substancialmente o Corpo entregue e o Sangue
derramado do próprio Cristo. Assim, em virtude da consagração, as Espécies do
pão e do vinho tornam presente (50), de modo sacramental e incruento, o
Sacrifício cruento e propiciatório oferecido pelo mesmo Cristo na Cruz ao Pai
pela salvação do mundo. Somente Ele, de facto, entregando-Se como vítima
propiciatória, num acto de suprema doação e imolação, reconciliou a humanidade
com o Pai; unicamente mediante o Seu sacrifício foi "cancelado o documento
escrito contra nós, com as suas disposições a nós desfavoráveis" (51).
Para
tal sacrifício sacramental, as ofertas do pão e do vinho, acompanhadas da
devoção dos fiéis, prestam todavia uma sua contribuição insubstituível, uma vez
que, com a consagração sacerdotal, elas se tornam as sagradas Espécies. Isto
torna-se patente no comportamento do Sacerdote durante a Oração eucarística,
sobretudo durante a consagração, e depois quando a celebração do Santo
Sacrifício e a participação no mesmo são acompanhadas da consciência de que
"o Mestre está ali e te chama" (52). Este chamamento do Senhor, a nós
dirigido mediante o Seu Sacrifício, abre os corações, a fim de que estes —
purificados no mistério da nossa Redenção —, se unam a Ele na Comunhão
eucarística, que confere à participação na Missa um valor maturo, pleno e
compromissivo da humana existência: "a Igreja deseja que os fiéis, não
somente ofereçam a vítima imaculada, mas que aprendam também a oferecer-se a si
mesmos; e assim vão aperfeiçoando de dia para dia mais, por meio de Cristo
Mediador, a sua união com Deus e com os irmãos, para que Deus finalmente seja
tudo em todos" (53).
É
sobremaneira conveniente e necessário mesmo, portanto, que se procure perfazer
uma renovada e intensa educação, tendo em vista descobrir todas as riquezas que
encerra a nova Liturgia. Com efeito, a renovação litúrgica que se verificou
depois do II Concílio do Vaticano, deu ao Sacrifício eucarístico, por assim
dizer, uma maior visibilidade. Entre outras coisas, contribuem para isso as
palavras da Oração eucarística recitadas em voz alta pelo celebrante e, em
particular, as palavras da consagração e a aclamação da assembleia imediatamente
depois da elevação.
Se
tudo isto nos há-de encher de alegria, devemos também recordar que estas
mudanças exigem uma nova consciência e maturidade espiritual, quer da parte do
celebrante — sobretudo hoje, que celebra "voltado para os fiéis" —
quer da parte dos mesmos fiéis. O culto eucarístico matura e cresce quando as
palavras da Oração eucarística, e especialmente as palavras da consagração, são
pronunciadas com grande humildade e simplicidade, de maneira compreensível,
bela e digna, correspondente à sua santidade; quando este acto essencial da
Liturgia eucarística é feito sem pressa; quando há aplicação num recolhimento e
numa devoção tais, que os participantes advirtam na grandeza do mistério que se
está a realizar e o manifestem com o próprio comportamento.
III.
AS
DUAS MESAS DO SENHOR E O BEM COMUM DA IGREJA
Mesa
da Palavra de Deus
10.
Nós sabemos bem que a celebração da Eucaristia, desde os tempos mais antigos,
esteve unida, não somente à oração, mas também à leitura da Sagrada Escritura e
ao canto de toda a assembleia. Graças a isso, já desde há muito tempo, foi
possível referir à Missa a comparação com as duas mesas feita pelos Santos
Padres; sobre tais mesas a Igreja prepara para os seus filhos a Palavra de Deus
e a Eucaristia, isto é, o Pão do Senhor. Devemos, portanto, voltar à primeira
parte do sagrado Mistério que, com mais frequência, presentemente se vai
chamando Liturgia da Palavra, e dedicar-lhe um pouco de atenção.
A
leitura dos trechos da Sagrada Escritura, escolhidos para cada dia, foi
submetida pelo Concílio a critérios e a exigências novas (54). No prosseguimento
de tais normas conciliares obteve-se uma nova colectânea de leituras, em que
foi aplicado, em certa medida, o princípio da continuidade dos textos, e também
o princípio de tornar acessível o conjunto dos Livros Sagrados. A introdução
dos salmos com os responsórios na liturgia torna familiar aos participantes as
mais belas riquezas da oração e da poesia do Antigo Testamento. Depois, o facto
de os aludidos textos serem lidos ou cantados nas próprias línguas faz com que
todos possam participar com uma mais plena compreensão.
Não
deixa de haver hoje, todavia, aqueles que, educados ainda em base à antiga
liturgia em latim, sentem a falta desta "língua una", a qual constituiu,
no mundo inteiro, também uma expressão da unidade da Igreja; e, mediante o seu
carácter decoroso, ela suscitou um sentido profundo do Mistério eucarístico. É
necessário, pois, demonstrar não somente compreensão, mas também pleno respeito
para com estes sentimentos e desejos, e, na medida do possível, ir ao encontro
dos mesmos, como está previsto, de resto, nas novas disposições (55). A Igreja
Romana tem particulares obrigações para com o latim, a esplêndida língua de
Roma antiga, e deve manifestar isso mesmo todas as vezes que se lhe apresente a
ocasião.
As
possibilidades criadas pela renovação pós-conciliar, são muitas vezes
utilizadas de molde a tornar-nos testemunhas e participantes da autentica
celebração da Palavra de Deus. Vai aumentando também o número das pessoas que
tomam parte activa numa tal celebração. Assim, surgem grupos de leitores e de
cantores, muitas vezes ainda "scholae cantorum" masculinas e
femininas, que com grande zelo se dedicam a um tal aspecto da liturgia. A
Palavra de Deus, a Sagrada Escritura, começa a pulsar com nova vida no seio de
muitas comunidades cristãs. Os fiéis, congregados pela liturgia, preparam-se
com o canto para ouvirem, com a devida devoção e com amor, o Evangelho que lhes
é anunciado.
Ao
verificar tudo isto, com grande apreço e gratidão, não se pode esquecer, todavia,
que uma plena renovação litúrgica continua ainda a apresentar outras novas
exigências. Estas consistem numa nova responsabilidade para com a Palavra de
Deus transmitida mediante a liturgia, em línguas diversas, o que corresponde
certamente ao carácter universal e às finalidades do Evangelho. A mesma
responsabilidade abrange também a execução das relativas acções litúrgicas, a
leitura ou o canto, que devem estar de harmonia também com os princípios da
arte. A fim de preservar tais acções de qualquer artificialismo, é necessário
que nelas se exprimam uma capacidade, uma simplicidade e ao mesmo tempo uma
dignidade tais, que façam resplandecer, já no próprio modo de ler ou de cantar,
o carácter peculiar do texto sagrado. Por conseguinte, as ditas exigências, que
promanam da nova responsabilidade para com a Palavra de Deus na liturgia (56),
vão também elas até ao mais profundo e tocam o âmago da disposição interior com
que os ministros da Palavra exercem a sua função na assembleia litúrgica (57).
A
mesma responsabilidade se estende, ainda, à escolha dos textos. Essa escolha já
foi feita pela competente autoridade eclesiástica, a qual previu também os
casos em que se podem escolher leituras mais adaptadas a uma particular
situação (58). Além disto, é necessário ter sempre presente que no quadro dos
textos das Leituras da Missa pode entrar somente a Palavra de Deus. A leitura
da Sagrada Escritura não pode ser substituída pela leitura de outros textos,
mesmo quando estes porventura contivessem indubitáveis valores religiosos e
morais. Tais textos poderão no entanto ser utilizados, com grande proveito, nas
homilias. A homilia, na verdade, é sumamente idónea para a utilização desses
textos, contanto que eles correspondam às condições requeridas de conteúdo na
medida em que pertence à natureza da homilia, entre outras coisas, demonstrar
as convergências da sapiência divina revelada e do nobre pensamento humano, que
busca a verdade por vários caminhos.
Mesa
do Pão do Senhor
11.
A segunda mesa do Mistério eucarístico, ou seja a Mesa do Pão do Senhor, exige
também ela uma reflexão apropriada sob o ponto de vista da renovação litúrgica
hodierna. Está nisto um problema da máxima importância, tratando-se de um acto
particular de fé viva, ou melhor ainda — como é atestado desde os primeiros
séculos (59) — de uma manifestação de culto a Cristo, que na Comunhão
eucarística se confia a Si próprio a cada um de nós, ao nosso coração, à nossa
consciência, aos nossos lábios e à nossa boca, sob a forma de alimento. E por
isso mesmo, em relação a este problema, é particularmente necessária a
vigilância de que fala o Evangelho, quer da parte dos Pastores responsáveis
pelo culto eucarístico, quer da parte do Povo de Deus, cujo "sentido da
fé" (60) deve ser precisamente aqui neste ponto muito sensível e
perspicaz.
É
meu desejo, pois, confiar também este problema ao coração de cada um de vós,
veneráveis e amados Irmãos no Episcopado. E vós deveis sobretudo inseri-lo na
vossa solicitude por todas as Igrejas, a vós confiadas. Eu vo-lo peço em nome
daquela unidade que recebemos em herança dos Apóstolos: a unidade colegial.
Esta unidade, em certo sentido, nasceu à mesa do Pão do Senhor, na Quinta-Feira
Santa. Com o auxílio dos vossos irmãos no Sacerdócio, fazei tudo aquilo que
fordes capazes de fazer, a fim de assegurar a dignidade sacral do Mistério
eucarístico e aquele profundo espírito da Comunhão eucarística, que é um bem
peculiar da Igreja como Povo de Deus e, ao mesmo tempo, a particular herança
que nos foi transmitida pelos Apóstolos, por várias tradições litúrgicas e por
tantas gerações de fiéis, muitas vezes heróicas testemunhas de Cristo, educadas
na "escola da Cruz" (Redenção) e na escola da Eucaristia.
Há-de
ter-se sempre presente, portanto, que a Eucaristia, qual mesa do Pão do Senhor,
é um contínuo convite, como resulta do sinal litúrgico do celebrante no momento
do "Eis o Cordeiro de Deus! Felizes os convidados para a Ceia do
Senhor" (61), bem como da parábola do Evangelho sobre os convidados para o
grande banquete (62). Recordemos que nesta parábola há muitos que se desculpam
para não aceitar o convite, por motivo de circunstâncias diversas.
Nas
nossas comunidades católicas também não faltam, certamente, aqueles que
poderiam participar na Comunhão eucarística, e que nela não participam, apesar
de não terem na própria consciência impedimento de pecado grave. Uma tal
atitude, que para alguns anda ligada a uma exagerada severidade, modificou-se
no nosso século, para dizer a verdade, embora aqui e além faça ainda sentir a
sua presença. Na realidade, mais frequentemente do que o sentido de indignidade,
verifica-se uma certa falta de disponibilidade interior — se assim nos podemos
exprimir — falta de "fome" e de "sede" eucarística, por
detrás da qual se esconde também a falta de uma adequada sensibilidade e
compreensão da natureza do grande Sacramento do Amor.
Todavia,
nestes últimos anos, somos testemunhas também de um outro fenómeno. Algumas
vezes, ou melhor dito em casos bastante numerosos, todos os participantes na
assembleia eucarística se apresentam à Comunhão; mas, certas vezes, como
confirmam pastores avisados, não houve a devida preocupação de aproximar-se do
sacramento da Penitência para purificar a própria consciência. Isto,
naturalmente, pode significar que aqueles que se apresentam à Mesa do Senhor
não encontram, na própria consciência e segundo a lei objectiva de Deus, nada
que lhes impeça aquele sublime e jubiloso acto da sua união sacramental com
Cristo. Mas pode também aqui esconder-se uma outra convicção, pelo menos algumas
vezes: a convicção de considerar a Missa apenas como um banquete (63), no qual
se participa recebendo o Corpo de Cristo, para manifestar sobretudo a comunhão
fraterna. E a estes motivos podem facilmente vir juntar-se uma certa
consideração humana e um simples "conformismo".
Este
fenómeno exige, da nossa parte, uma vigilante atenção e uma análise teológica e
pastoral, iluminada pelo sentido de uma suma responsabilidade. N6s não podemos
permitir que na vida das nossas comunidades se vá dispersando aquele bem que é
a sensibilidade da consciência cristã, dirigida unicamente' pelo respeito a
Cristo que, ao ser recebido na Eucaristia, deve encontrar no coração de cada um
de nós uma morada digna. Este problema está intimamente ligado, não só com a
prática do sacramento da Penitência, mas também com um recto sentido de
responsabilidade perante o depósito de toda a doutrina moral e perante a
distinção precisa entre bem e mal, a qual se torna em seguida, para cada um dos
participantes na Eucaristia, base de correcto juízo de si mesmo no íntimo da
própria consciência. São bem conhecidas as palavras de São Paulo:
"Examine-se, pois, cada qual a si mesmo" (64); tal juízo é condição
indispensável para uma decisão pessoal, em vista de se apresentar à Comunhão eucarística,
ou então de dela se abster.
A
celebração da Eucaristia põe-nos defronte a muitas outras exigências, pelo que
se refere ao ministério da Mesa eucarística, as quais dizem respeito: algumas,
somente aos Sacerdotes e aos Diáconos; e as outras a todos aqueles que
participam na Liturgia eucarística. Aos Sacerdotes e aos Diáconos é necessário
recordar que o serviço da mesa do Pão do Senhor lhes impõe obrigações
particulares, que se referem: em primeiro lugar, ao próprio Cristo presente na
Eucaristia; e depois a todos os actuais e potenciais participantes na
Eucaristia. Quanto ao primeiro ponto, talvez não seja supérfluo recordar que no
dia da Ordenação o Bispo dirige ao novo Sacerdote — ao mesmo tempo que lhe
entrega sobre a patena e no cálice o pão e o vinho, oferecidos pelos fiéis e
preparados pelo Diácono — estas palavras: "Recebe a oblação do povo santo
que há-de ser oferecida a Deus. Repara bem no que fazes, imita o que irás
tratar e conforma a tua vida ao mistério da Cruz do Senhor" (65). Esta última
admonição, que lhe é feita pelo Bispo, há-de permanecer para o Sacerdote como
uma das normas mais válidas do seu ministério eucarístico.
Em
tal norma deve o Sacerdote inspirar a sua atitude ao tratar o Pão e o Vinho,
que se tornaram Corpo e Sangue do Redentor. É preciso, pois, que todos nós, que
somos ministros da Eucaristia, examinemos com atenção as nossas acções ao
altar, em especial: o modo como tratamos aquela Comida e aquela Bebida, que são
o Corpo e o Sangue do Senhor Nosso Deus nas nossas mãos; o modo como distribuímos
a Sagrada Comunhão; e o modo como fazemos as purificações.
Todos
estes actos tem o seu significado. Importa, naturalmente, evitar a
escrupulosidade; mas, que Deus nos preserve de um comportamento destituído de
respeito, de uma pressa inoportuna e de uma impaciência escandalosa. A nossa
maior honra consiste — além da aplicação no desempenho da devida missão
evangélica — no exercitar esse poder
misterioso sobre o Corpo do Redentor; e assim, tudo em. nós deve estar
decididamente ordenado para isso. Devemos ter sempre presente, ainda, que fomos
sacramentalmente consagrados para este poder ministerial e que fomos escolhidos
de entre os homens e para "benefício dos homens" (66). Devemos pensar
nisto, em particular nós, os Sacerdotes da Igreja Romana latina, a cujo rito de
Ordenação, no decorrer dos séculos, veio juntar-se o uso de ungir as mãos do
neo-sacerdote.
Nalguns
países entrou em uso a Comunhão na mão. Tal prática foi pedida por algumas
Conferências Episcopais, singularmente, e obteve a aprovação da Sé Apostólica.
Contudo, chegam informações sobre casos de deploráveis faltas de respeito para
com as Espécies eucarísticas, faltas que pesam não somente sobre as pessoas
culpáveis de tal modo de comportar-se, mas também sobre os Pastores da Igreja,
que terão sido pouco vigilantes quanto à compostura dos fiéis em relação à
Eucaristia. Acontece ainda que, por vezes, não é tomada em consideração a livre
escolha e vontade daqueles que, mesmo naquelas partes onde foi autorizada a
distribuição da Comunhão na mão, preferem ater-se ao uso de a receber na boca.
Seria difícil, pois, no contexto da presente Carta, deixar de aludir aos
dolorosos fenómenos de que acima se faz menção. Ao escrever isto, não se quer
de maneira nenhuma fazer referência àquelas pessoas que, recebendo o Senhor
Jesus na mão, o fazem com espírito de profunda reverência e devoção, nos países
onde tal prática foi autorizada.
É
preciso, todavia, não esquecer o múnus primário dos Sacerdotes, que foram
consagrados na sua Ordenação para representar Cristo Sacerdote: as suas mãos,
assim como a sua palavra e a sua vontade, por isso, tornaram-se instrumento
directo de Cristo. Por tal motivo, ou seja, como ministros da Santíssima
Eucaristia, eles têm sobre as sagradas Espécies uma responsabilidade primária,
porque total: oferecem o pão e o vinho, consagram-nos, e em seguida distribuem
as sagradas Espécies aos participantes na assembleia eucarística que desejam
recebê-las. Os Diáconos podem somente levar ao altar as oferendas dos fiéis, e
uma vez consagradas pelo Sacerdote, distribuí-las. Quão eloquente, por
conseguinte, embora não seja primitivo, é o rito da unção das mãos na nossa
Ordenação latina, exactamente como se para estas mãos fosse necessária
doravante uma particular graça e força do Espírito Santo!
O
tocar nas sagradas Espécies e a distribuição destas com as próprias mãos é um
privilégio dos ordenados, que indica uma participação activa no ministério da
Eucaristia. Como é óbvio, a Igreja pode conceder tal faculdade a pessoas que
não sejam Sacerdotes nem Diáconos, como é o caso quer dos Acólitos no exercício
do seu ministério, especialmente quando destinados à futura Ordenação, quer de
outros leigos para isso habilitados, por uma justa necessidade, e sempre depois
de uma adequada preparação.
Bem
comum da Igreja
12.
Não podemos esquecer, nem sequer por um instante, que a Eucaristia é um bem
peculiar de toda a Igreja. Ela é o dom maior que, na ordem da graça e dos Sacramentos,
o divino Esposo ofereceu e oferece incessantemente à sua Esposa. E precisamente
porque se trata de um dom assim, todos nós, com espírito de profunda fé,
devemos deixar-nos guiar pelo sentido de uma responsabilidade verdadeiramente
cristã. Um dom obriga-nos sempre mais profundamente porque nos fala, não tanto
com a força de um estrito direito, quanto com a força de uma prova de confiança
pessoal; e assim — sem obrigações legais — exige confiança e gratidão. A
Eucaristia é exactamente tal dom; ela é um bem deste género. Devemos permanecer
fiéis, mesmo nos pormenores, àquilo que ela exprime em si mesma e àquilo que
requer de nós, ou seja a acção de graças.
A
Eucaristia é um bem comum de toda a Igreja, como Sacramento da sua unidade. E
por isso a Igreja tem o rigoroso dever de determinar bem tudo aquilo que diz
respeito à participação e à celebração da mesma Eucaristia. Por conseguinte,
nós devemos agir em conformidade aos princípios estabelecidos pelo último
Concílio, que, na Constituição sobre a Sagrada Liturgia, definiu as
autorizações e as obrigações quer de cada um dos Bispos nas próprias Dioceses,
quer das Conferências Episcopais, dado que tanto aqueles como estas agem em
unidade colegial com a Sé Apostólica.
Depois,
devemos seguir as disposições emanadas pelos diversos Dicastérios quanto a este
assunto: quer em matéria litúrgica, ou seja as normas estabelecidas pelos
livros litúrgicos respeitantes ao Mistério eucarístico, e as contidas nas
Instruções dedicadas ao mesmo Mistério (67), quer também pelo que se refere à
"communicatio in sacris", ou seja as normas contidas no
"Directorium de re oecumenica" (68) e na "Instructio de
peculiaribus casibus admittendi alios christianos ad communionem eucharisticam
in Ecclesia catholica" (69). E embora nesta fase de renovação tenha sido
admitida a possibilidade de uma certa autonomia "criativa", esta,
todavia, deve respeitar estritamente as exigências da unidade substancial.
Pelas vias deste pluralismo (que se origina, dentre outras coisas, já da introdução
das diversas línguas vernáculas na liturgia), nós podemos prosseguir só até
àquele ponto em que não sejam canceladas as características essenciais da
celebração da Eucaristia e até onde forem respeitadas as normas prescritas pela
recente reforma litúrgica.
Importa,
pois, empregar o esforço indispensável, em toda a parte, para que no pluralismo
do culto eucarístico, programado pelo II Concílio do Vaticano, se manifeste a
unidade de que a Eucaristia é sinal e causa.
Um
tal empenho, quanto ao qual deve vigiar, por força das coisas, a Sé Apostólica,
deveria ser assumido, não somente pelas Conferências Episcopais, mas também por
cada um dos ministros da Eucaristia, sem excepção. Além disto, cada um deve
recordar-se de que é responsável pelo bem comum de toda a Igreja. O Sacerdote
como ministro, como celebrante e como quem preside à assembleia eucarística dos
fiéis, deve ter particular sentido do bem comum da Igreja, que ele representa
mediante o seu ministério, mas ao qual deve também estar subordinado, atendo-se
a uma recta disciplina da fé. O Sacerdote não pode considerar-se
"proprietário", que disponha livremente dos textos litúrgicos e dos
ritos sagrados, como de um bem seu peculiar, de tal modo que lhes dê um estilo
pessoal e arbitrário. Isto pode afigurar-se, algumas vezes, de maior efeito,
pode mesmo corresponder melhor a uma piedade subjectiva; contudo, será sempre
objectivamente uma traição daquela união que há-de ter, sobretudo no Sacramento
da unidade, a própria expressão.
Cada
Sacerdote que oferece o Santo Sacrifício deve recordar-se de que, durante este
Sacrifício, não é só ele com a sua comunidade que está a orar, mas ora toda a
Igreja, exprimindo assim, também com o uso do texto litúrgico aprovado, a sua
unidade espiritual neste Sacramento. Se alguém pretendesse chamar a tal posição
"uniformismo" isso comprovaria somente a ignorância das exigências
objectivas da unidade autêntica e seria sintoma de um prejudicial individualismo.
A
subordinação assim do ministro, do celebrante, ao "Mysterium" que lhe
foi confiado pela Igreja, para o bem de todo o Povo de Deus, deve ter a sua
expressão também na observância das exigências litúrgicas relativas à celebração
do Santo Sacrifício. Essas exigências dizem respeito, por exemplo, ao vestuário
e, em particular, aos paramentos que o celebrante reveste. É natural que tenha
havido e que haja ainda hoje circunstâncias em que as prescrições não obrigam;
pudemos ler, com emoção, em livros escritos por sacerdotes ex-prisioneiros dos
campos de extermínio, descrições de celebrações eucarísticas sem se observarem
as sobreditas regras, ou seja, sem paramentos. No entanto, se isso em tais
condições era prova de heroísmo e devia suscitar uma estima profunda, em
condições normais o transcurar as prescrições litúrgicas, ao contrário, pode
ser interpretado como falta de respeito para com a Eucaristia, ditada talvez
pelo individualismo ou por uma carência de sentido crítico quanto às opiniões
correntes, ou ainda por uma certa falta de espírito de fé.
Pesa
de modo particular sobre todos nós, os que somos, por graça de Deus, ministros
da Eucaristia, a responsabilidade pelas ideias e pelas atitudes dos nossos
irmãos e irmãs, confiados ao nosso cuidado pastoral. A nossa vocação comporta
em primeiro plano o ter de suscitar, antes de mais nada com o exemplo pessoal,
todas as sãs manifestações de culto para com Cristo presente e operante neste
Sacramento de amor. Deus nos livre de agir diversamente, de enfraquecer um tal
culto, "desabituando-nos" das várias manifestações e formas de culto
eucarístico, em que se exprime uma "tradicional" mas sã piedade e,
sobretudo, aquele "sentido da fé", que todo o Povo de Deus possui,
como recordava o II Concílio do Vaticano (70).
Prestes
a terminar estas minhas considerações, quereria antes pedir perdão — em meu
nome pessoal e no de todos vós, veneráveis e amados Irmãos no Episcopado — por
tudo aquilo que, por qualquer motivo e por qualquer espécie de humana fraqueza,
impaciência ou negligência, em consequência também de uma aplicação algumas
vezes parcial, unilateral ou errónea das prescrições do II Concílio do
Vaticano, possa ter causado escândalo ou mal-estar quanto à interpretação da
doutrina e à veneração devida a este grande Sacramento. E elevo as minhas
preces ao Senhor Jesus para que no futuro seja evitado, no nosso modo de tratar
este sagrado Mistério, aquilo que possa debilitar ou desorientar de qualquer
maneira o sentido de reverência e de amor nos nossos fiéis.
E
que o mesmo Cristo nos ajude a prosseguir pelas vias da verdadeira renovação,
no sentido daquela plenitude de vida e de culto eucarístico, por meio do qual
se constrói a Igreja naquela unidade que ela já possui e que deseja realizar
ainda mais, para a glória de Deus vivo e para a salvação de todos os homens.
CONCLUSÃO
13.
Seja-me permitido, veneráveis e amados Irmãos no Episcopado, acrescentar mais
uma palavra, como remate destas minhas reflexões, que se limitaram a aprofundar
somente algumas questões. Ao tomar a iniciativa de vo-las transmitir, tive
diante do meu olhar toda a obra desenvolvida pelo II Concílio do Vaticano, e
tive bem presente na memória a Encíclica do Sumo Pontífice Paulo VI Mysterium
Fidei, promulgada durante o mesmo Concílio, assim como todos os documentos
emitidos após a conclusão da Assembleia conciliar, com a finalidade de pôr em
prática a renovação litúrgica pós-conciliar. Existe, efectivamente, uma ligação
muito íntima e orgânica entre a renovação da liturgia e a renovação de toda a
vida da Igreja.
A
Igreja não só age, mas também se exprime na liturgia, vive da liturgia e vai
haurir na liturgia as energias para a vida. É por isso, a renovação de toda a
vida da Igreja.
A
Igreja não só age, mas também se exprime na liturgia, vive da liturgia e vai
haurir na liturgia as energias para a vida. E por isso, a renovação litúrgica,
actuada de maneira acertada e conforme ao espírito do recente Concílio
constitui, em certo sentido, o padrão e a condição para se porem em prática os
ensinamentos daquele mesmo II Concílio do Vaticano, que nós queremos aceitar
com fé profunda, convencidos de que mediante ele, o Espírito Santo "disse
à Igreja" as verdades e lhe deu as indicações que servem para a realização
da sua missão para com os homens de hoje e de amanhã.
E
também daqui por diante há-de ser nossa particular solicitude promover e dar
seguimento à renovação da Igreja, segundo a doutrina do II Concílio do
Vaticano, no espírito de uma sempre viva Tradição. Pertence, efectivamente, à
substância da Tradição, correctamente entendida, também uma justa releitura dos
"sinais dos tempos", segundo os quais importa tirar do rico tesouro
da Revelação "coisas novas e coisas velhas" (71). Agindo com este
espírito e segundo este conselho do Evangelho, o II Concílio do Vaticano
realizou um esforço providencial para renovar a face da Igreja na sagrada
liturgia, concatenando-se o mais das vezes àquilo que é "antigo",
àquilo que provém como herança dos Santos Padres e que é expressão de fé e de
doutrina da Igreja unida de há tantos séculos para cá.
Para
se poderem continuar a pôr em prática, daqui para o futuro, as directrizes do
Concílio no campo da liturgia, e em particular no campo do culto eucarístico, é
necessária uma estreita colaboração entre o respectivo Organismo da Santa Sé
competente e cada uma das Conferências Episcopais: colaboração vigilante e
criativa ao mesmo tempo, com os olhos fixos na grandeza do santíssimo Mistério
e, simultaneamente, nos processos espirituais e nas mudanças sociais, tão significativos
para a nossa época, dado que estes não são somente origem de dificuldades, por
vezes, mas também dispõem para um modo novo de participar naquele grande
Mistério da fé.
Está-me
muito a peito, sobretudo, frisar bem que os problemas da liturgia, em
particular da Liturgia eucarística, não podem ser uma ocasião para dividir
entre si os católicos e para ameaçar a unidade da Igreja. Exige-o a elementar
compreensão daquele Sacramento, que Cristo nos deixou como fonte de unidade
espiritual. E então como poderia exactamente a Eucaristia, que é para a Igreja
"sacramento de piedade, sinal de unidade e vínculo de caridade" (72),
constituir neste momento um ponto de divisão entre nós e uma fonte de diversidade
de pensamentos e de comportamentos, em vez de ser centro focal e constitutivo,
como é verdadeiramente na sua essência, da unidade da mesma Igreja?
Somos
todos igualmente devedores para com o nosso Redentor. E todos juntos devemos
prestar ouvidos àquele Espírito de verdade e de amor, que Ele prometeu à Igreja
e que nela opera. Em nome desta verdade e deste amor, em nome do próprio Cristo
Crucificado e de sua Mãe, eu peço-vos e suplico-vos que, deixando de parte
quaisquer oposições e divisões, nos unamos bem, todos, nesta grande missão
salvífica, que é preço e ao mesmo tempo fruto da nossa Redenção. A Sé
Apostólica fará todo o possível por buscar, também daqui por diante, os meios
que possam assegurar aquela unidade de que estamos a falar. Que cada um procure
evitar, com o próprio modo de agir, "contristar o Espírito Santo de
Deus" (73).
A
fim de que esta unidade, bem como a colaboração constante e sistemática que a
ela conduz, possam continuar com perseverança, eu imploro de joelhos para todos
nós a luz do Espírito Santo, por intercessão de Maria Sua santa Esposa e Mãe da
Igreja. E a todos abençoando, de todo o coração, recomendo-me uma vez mais a
vós, veneráveis e meus amados Irmãos no Episcopado, com fraternas saudações e
com plena confiança. Nesta colegial unidade, de que somos participantes,
envidemos todos os esforços para que a Eucaristia se torne cada vez mais fonte
de vida e luz das consciências de todos os nossos irmãos e irmãs de todas as
comunidades, na unidade universal da Igreja de Cristo sobre a terra.
Em
espírito de caridade fraterna, é-me grato dar-vos, a vós e a todos os irmãos no
Sacerdócio, a Bênção Apostólica.
Vaticano, aos 24 de Fevereiro —
Primeiro Domingo da Quaresma — do ano de 1980, segundo do meu Pontificado.
IOANNES
PAULUS PP. II
© Copyright 1980 - Libreria Editrice Vaticana
_________________________________
Notas:
(1) Cfr. cap. 2: AAS 71 (1979), pp. 395 s.
(2)
Cfr. Conc. Ecum. Tridentino, sess. XXII, an. 2: Conciliorum Oecumenicorum
Decreta, 3ª ed., Bologna 1973, p. 735.
(3)
Uma Liturgia eucarística etiópica, por motivo de um tal preceito do Senhor,
recorda: os Apóstolos "estabeleceram para nós Patriarcas, Arcebispos,
Presbíteros e Diáconos para celebrarem o rito da Vossa Igreja santa":
Anaphora S. Athanasii: Prex Eucharistica, Haenggi-Pahl, Fribourg (Suisse) 1968,
p. 183.
(4) Cfr. La Tradition apostolique de saint Hippolyte,
nn. 2-4, ed. Botte. Münster-Westfalen 1963, pp. 5-17.
(5) 2 Cor 11, 28.
(6) 1 Ped 2, 5.
(7)
Cfr. II Conc. Ecum. do Vat., Const. dogm. sobre a Igreja Lumen Gentium, n. 28:
AAS 57 (1965), pp. 33 s.; Decr. sobre o Ministério e a Vida dos Sacerdotes
Presbyterorum Ordinis, nn. 2 e 5: AAS 58 (1966), pp. 993 e 998; Decr. sobre a
Actividade Missionária da Igreja Ad Gentes, n. 39: AAS 58 (1966), p. 986.
(8)
II Conc. Ecum. do Vat., Const. dogm. sobre a Igreja Lumen Gentium, n. 11: AAS
57 (1965), p. 15.
(9)
Jo 3, 16; é interessante notar que estas palavras são referidas pela Liturgia
de São João Crisóstomo, imediatamente antes das palavras da consagração, e como
que servem de introdução à mesma consagração: cfr. La divina Liturgia del santo
nostro Padre Giovanni Crisostomo, Roma-Grottaferrata 1967, pp. 104 s.
(10)
Cfr. Mt 26, 26 ss.; Mc 14, 22 ss.; Lc 22, 18 ss.; 1 Cor 11, 23 s.; e cfr.
também as Preces Eucarísticas da Liturgia.
(11)
Flp 2, 8.
(12)
Jo 13, 1.
(13)
Cfr. João Paulo PP. II, Discurso pronunciado no "Phoenix Park" de
Dublin, n. 7: AAS 71 (1979), pp. 1074 ss.; Sagrada Congregação dos Ritos,
Instrução Eucharisticum Mysterium: AAS 59 (1967), pp. 539-573; Rituale Romanum.
De sacra communione et de cultu mysterii eucharistici extra missam, ed. typica,
Romae 1973. Há que realçar que o valor do culto e força de santificação destas
formas de devoção para com a Eucaristia não dependem tanto das mesmas formas,
quanto sobretudo das atitudes interiores.
(14)
Cfr, Bula Transiturus de hoc mundo (11 de Agosto de 1264); Aemilii Friedberg,
Corpus Iuris Canonici, Pars II. Decretalium collectiones, Leipzig 1881, pp.
1174-1177; Studi eucaristici, VII centenario della Bolla "Transiturus",
1264-1964 Orvieto 1966, pp. 302-317.
(15)
Cfr. Paulo PP. VI, Encíclica Mysterium Fidei: AAS 57 (1965), pp. 753-774;
Sagrada Congregação dos Ritos, Instrução Eucharisticum Mysterium: AAS 59 (1967),
pp. 539-573; Rituale Romanum, De sacra communione et de cultu Mysterii
eucharistici extra Missam, ed. typica, Romae 1973.
(16)
João Paulo PP. II, Encíclica Redemptor Hominis, n. 20: AAS 71 (1979), p. 311;
cfr. II Conc. Ecum. do Vat., Const. dogm. sobre a Igreja Lumen Gentium, n. 11:
AAS 57 (1965), pp. 15 s.; e ainda, a nota 57 ao n. 20 do II Esquema da mesma
Constituição dogmática, em Acta Synodalia Sacrosancti Concilii Oecumenici
Vaticani II, vol. II, periodus 2ª, pars I, sessio publica II, pp. 251 s.; Paulo
PP. VI, Discurso na Audiência Geral de 15 de Setembro de 1965: Insegnamenti di
Paolo VI, III (1965), p. 1036; H. de Lubac, Méditation sur l'Eglise, 2 ed.,
Paris 1963, pp. 129-137.
(17)
1 Cor 11, 26.
(18)
Cfr. II Conc. Ecum. do Vat., Const. dogm. sobre a Igreja Lumen Gentium, n. 11:
AAS 57 (1965), pp. 15 s.; Const. sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum
Concilium, n. 10: AAS 56 (1964), p. 102; Decr. sobre o Ministério e a Vida dos
Sacerdotes Presbyterorum Ordinis, n. 5: AAS 58 (1966), pp. 997 s.; Decr. sobre
o Múnus Pastoral dos Bispos na Igreja Christus Dominus, n. 30: AAS 58 (1966),
pp. 688 s.; Decr. sobre a Actividade Missionária da Igreja Ad Gentes, n. 9: AAS
58 (1966), pp. 957 s.
(19)
Cfr. II Conc. Ecum. do Vat., Const. dogm. sobre a Igreja Lumen Gentium, n. 26:
AAS 57 (1965), pp. 31 s.; Decr. sobre o Ecumenismo Unitatis Redintegratio,
n..15c, AAS 57 (1965), pp. 101 s.
(20)
É isso o que se pede na colecta da Quinta-Feira Santa: "(Senhor), que
deste tão grande mistério possamos haurir a plenitude do amor e da vida":
Missale Romanum, ed. typica, Romae 1975, p. 244; do mesmo modo, no momento das
"intercessões" (dos "Communicantes") do Missal Romano se
implora: "Humildemente Vos suplicamos que, participando do Corpo e Sangue
de Cristo, sejamos pelo Espírito Santo congregados na unidade. Lembrai-vos,
Senhor, da Vossa Igreja, dispersa por todo o mundo... Tornai-a perfeita na
caridade": Oração Eucarística II: ibid., p. 458 s.; cfr. Oração
Eucarística III, ibid., p. 463.
(21)
Jo 5, 17.
(22)
Cfr. Oração depois da Comunhão do XXII Domingo Comum: "Saciados com o pão
do céu, nós vos pedimos, Senhor: o amor com que Vós nos alimentastes fortifique
os nossos corações e nos leve a servir-Vos nos nossos irmãos": Missale
Romanum, ed. cit., p. 361.
(23)
Jo 4, 23.
(24)
Cfr. 1 Cor 10, 17; comentado por Santo Agostinho, In Evangelium Joannis tract.
31, 13: PL 35, 1613, e pelo Conc. Ecum. Tridentino, sess. XIII, c. 8:
Conciliorum Oecumenicorum Decreta, 3ª ed., Bologna 1973, p. 697; cfr. II Conc.
Ecum. do Vat., Const. dogm. sobre a Igreja Lumen Gentium, n. 7: AAS 57 (1965),
p. 9.
(25)
Jo 13, 35.
(26)
Exprimem isto mesmo numerosas orações do Missale Romanum: a oração sobre as
oblatas da Missa "pro iis qui opera misericordiae execuerunt":
"para que sejamos confirmados no Vosso amor e no amor do próximo, pelo
exemplo dos Vossos Santos": Missale Romanum, ed. cit., p. 721; igualmente,
na oração depois da Comunhão da Missa "pro educatoribus": "para
que... testemunhemos nos pensamentos e nas obras o amor para com os irmãos e a
luz da Vossa verdade": ibid., p. 723; cfr. também "Oração depois da
Comunhão" da Missa do XXII Domingo Comum, acima citada, na nota 22.
(27)
Jo 4, 23.
(29)
Ef 4, 13.
(29)
Cfr. acima, n. 2.
(30)
Cfr. II Conc. Ecum. do Vat., Decr. sobre a Actividade Missionária da Igreja Ad
Gentes, nn. 9 e 13: AAS 58 (1966), pp. 958 e 961 s.; Decr. sobre o Ministério e
a Vida dos Sacerdotes Presbyterorum Ordinis, n. 5: AAS 58 (1966), p. 997.
(31)
1 Jo 3, 1.
(32)
II Conc. Ecum. do Vat., Const. dogm. sobre a Igreja Lumen Gentium, n. 11: AAS
57 (1965), p. 15.
(33) Cfr. n. 20: AAS 71 (1979), pp. 313 s.
(34) 2 Ped 3, 13.
(35) Col 3, 10.
(36) Lc 1, 35; Jo 6, 69; Act 3. 14; Apoc 3, 7.
(37) Act 10, 38; Lc 4, 18.
(38) Jo 10, 36.
(39) Cfr. Jo 10, 17.
(40)
Heb 3, 1; 4, 15, etc.
(41)
Assim se exprimia a liturgia bizantina do século IX, segundo o códice mais
antigo, outrora Barberino di San Marco (Florença), hoje na Biblioteca
Apostólica Vaticana, Barberini greco 336, fº. 8 verso, linhas 17-20, publicado
pelo que se refere a esta parte por F. E. Brightman, Liturgies Eastern and
Western, I. Eastern Liturgies, Oxford 1896, p. 318, 34-35.
(42)
Colecta da Missa votiva "de SS. Eucharistia" B: Missale Romanum, ed.
cit., p. 858.
(43)
1 Jo 2, 2; cfr. ibid. 4, 10.
(44)
Falamos, efectivamente, do "divinum Mysterium", do
"Sanctissimum" ou do "Sacrosanctum", isto é do
"Sagrado" e do "Santo" por excelência. Por sua vez, as
Igrejas Orientais chamam à Missa "raza", ou seja
"Mysterium", "Hagiasmós", "Quddasa",
"Qedasse", quer dizer "consagração" por excelência. Fazem
sentir a sua presença, ainda, os ritos litúrgicos que, no intento de inspirar
aquele sentido do sagrado, exigem: por um lado, o silêncio e o estar de pé ou
de joelhos; e por outro lado, as profissões de fé, a incensação do altar, do
celebrante e das sagradas Espécies. Depois, sucede até que tais ritos apelam
para o auxílio dos seres angélicos, criados para o serviço de Deus Santo: Com o
"Sanctus" das nossas Igrejas latinas, e com o "Trisagion" e
o "Sancta sanctis" das Liturgias do Oriente.
(45)
Por exemplo, no convite para fazer a Comunhão, esta fé é formada para descobrir
aspectos complementares da presença de Cristo Santo: o aspecto epifânico
realçado pelos Bizantinos ("Bendito aquele que vem em nome do Senhor: o
Senhor é Deus e apareceu-nos!": La divina Liturgia del santo nostro Padre
Giovanni Crisostomo, Roma-Grottaferrata 1967, pp. 136 s.); o aspecto relacional
e unitivo, cantado pelos Armenos ("Um único Pai santo connosco, um único
Filho santo connosco, um único Espírito santo connosco": Die Anaphora des
heiligen Ignatius von Antiochien, übersetzt von A. Rücker, Oriens Christianus,
3ª ser., 5 [1930], p. 76); e ainda, o aspecto recôndito e celeste, celebrado
pelos Caldeus e pelos Malabares (cfr. o hino antifonário, cantado
alternadamente pelo Sacerdote e pela assembleia, depois da Comunhão: F. E.
Broghtman, o. c., p. 299).
(46)
Cfr. II Conc. Ecum. do Vat., Const. sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum
Concilium, nn. 2 e 47: AAS 56 (1964), pp. 83 s. e 113; Const. dogm. sobre a
Igreja Lumen Gentium, nn. 3 e 28: AAS 57 (1965), pp. 6 e 33 s.; Decr. sobre o
Ecumenismo Unitatis Redintegratio, n. 2: AAS 57 (1965), p. 91; Decr. sobre o
Ministério e a Vida dos Sacerdotes Presbyterorum Ordinis, n. 13: AAS 58 (1966),
pp. 1011 s.; Conc. Ecum. Tridentino, sessio XXII, cap. I e II: Conciliorum
Oecumenicorum Decreta, 3º ed., Bologna 1973, p. 732 ss., especialmente:
"uma e a mesma é a Hóstia, é o mesmo o Oferente, agora pelo ministério dos
Sacerdotes, que outrora se ofereceu na Cruz; só é diversa a forma de
oferecer" (ibid., p. 733).
(47)
Synodus Constantinopolitana adversus Soterium (Janeiro de 1156 e Maio de 1157):
Angelo Mai , Spicilegium romanum, t. X, Romae 1844, p. 77; PG 140, 190; cfr.
Martin Jugie, Dict. Théol. Cath., t. X, 1338; Theologia dogmatica christianorum
orientalium, Paris 1930, pp. 317-320.
(48)
Institutio Generalis Missalis Romani, n. 49 c: Missale Romanum, ed. cit., p.
39; cfr. II Conc. Ecum. do Vat., Decr. sobre o Ministério e a Vida dos
Sacerdotes Presbyterorum Ordinis, n. 5: AAS 58 (1966), pp. 997 s.
(49)
Ordo Missae cum populo, n. 18: Missale Romanum, ed. cit., p. 390.
(50)
Cfr. Conc. Ecum. Tridentino, Sess. XXII, cap. I: Conciliorum Oecumenicorum
Decreta, 3ª ed., Bologna 1973, pp. 732 s.
(51)
Col 2, 14.
(52)
Jo 11, 28.
(53)
Institutio Generalis Missalis Romani, n. 55 f: Missale Romanum, ed. cit., p.
40.
(54)
Cfr. Const. sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, nn. 35 e 51: AAS
56 (1964), pp. 109 e 114.
(55)
Cfr. Sagrada Congregação dos Ritos, Instrução In edicendis normis, VI, 17-18;
VII, 19-20: AAS 57 (1965), pp. 1012 s.; Instrução Musicam Sacram, IV, 48: AAS
59 (1967), p. 314; Decr. De titulo Basilicae Minoris, II, 8: AAS 60 (1968), p.
538; Sagrada Congregação para o Culto Divino, Notif. De Missali Romano,
Liturgia Horarum et Calendario, I, 4: AAS 63 (1971), p. 714.
(56)
Cfr. Paulo PP. VI, Const. Apost. Missale Romanum: "Com esta nova ordenação
(do Missal), alimentamos a mais viva esperança de que isso irá tornar possível
aos sacerdotes e aos fiéis prepararem em comum mais santamente o espírito para
a celebração da Ceia do Senhor; e, através de uma meditação mais aprofundada da
Sagrada Escritura, em assembleia, que eles se alimentem dia a dia mais
abundantemente. da palavra do Senhor": AAS 61 (1969), pp. 220 ss.; Missale
Romanum, ed. cit., p. 15.
(57)
Cfr. Pontificale Romanum. De Institutione Lectorum et Acolythorum, ed. typica,
Romae 1972, pp. 19 s.
(58)
Cfr. Institutio Generalis Missalis Romani, nn. 319-320: Missale Romanum, ed.
cit., p. 87.
(59) Cfr. Fr. J. Dölger, Das Segnen der Sinne mit der
Eucharistie. Eine altchristliche Kommunionsitte: Antike und Christentum; t. 3
(1932), pp. 231-244; Das Kultvergehen der Donatistin Lucilla von Karthago. Reliquienkuss
vor dem Kuss der Eucharistie, ibid., pp: 245-252.
(60)
Cfr. II Conc. Ecum. do Vat., Const. dom. sobre a Igreja Lumen Gentium, nn. 12 e
35: AAS 57 (1965), pp. 16 e 40.
(61)
Cfr. Jo 1, 29; Apoc 19, 9.
(62)
Cfr. Lc 14, 16 ss.
(63)
Cfr. Institutio Generalis Missalis Romani, nn. 7-8: Missale Romanum, ed. cit.,
p. 29.
(64)
1 Cor 11, 28.
(65)
Cfr. Pontificale Romanum. De Ordinatione Diaconi, Presbyteri et. Episcopi, ed.
typica, Romae 1968, p. 93.
(66)
Heb 5, 1.
(67)
Sagrada Congregação dos Ritos, Instrução Eucharisticum Mysterium: AAS 59
(1967), pp. 539-573; Rituale Romanum. De sacra communione et de cultu Mysterii
eucharistici extra Missam, ed. typica, Romra 1973; Sagrada Congregação para o
Culto Divino, Litterae circulares ad Conferentiarum Episcopalium Praesides de
precibus eucharisticis: AAS 65 (1973), pp. 340-347.
(68)
Nn. 38-63: AAS 59 (1967), pp. 586-592.
(69)
AAS 64 (1972), pp. 518-525. Cfr. também a "Communicatio" publicada no
ano seguinte para a recta aplicação da sobredita Instrução: AAS 65 (1973), pp.
616-619.
(70)
Cfr. II Conc. Ecum. do Vat., Const. dogm. sobre a Igreja Lumen Gentium, n. 12:
AAS 57 (1965), pp. 16 s.
(71)
Mt 13, 32.
(72)
Cfr. Santo Agostinho, In Evangelium Ioannis tract. 26, 13: PL 35, 1612 s.
(73)
Ef 4, 30.
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