14/02/2013

Tratado dos actos humanos 32


Questão 12

Art. 2 ― Se a intenção só se refere ao fim último.





O segundo discute-se assim. ― Parece que a intenção se refere só ao fim último.




1. ― Pois, como está no livro das Sentenças de Próspero: o clamor a Deus é a intenção do coração 1. Ora, Deus é o fim do coração humano. Logo, a intenção só se refere ao fim.

2. Demais. ― A intenção, enquanto termo respeita ao fim, como já se disse 2. Ora, o termo é por natureza último. Logo, a intenção sempre diz respeito ao fim último.

3. Demais. ― Como a intenção visa o fim, assim também a fruição. Ora, esta sempre se refere ao fim último. Logo, também aquela.

Mas, em contrário. ― Só um ― a bem-aventurança ― é o fim último das vontades humanas 3. Se pois a intenção fosse relativa só ao fim último, não haveria intenções humanas diversas, o que é claramente falso.

Como já se disse 4, a intenção diz respeito ao fim, como termo que é do movimento da vontade. Ora, relativamente a este, pode-se considerar o fim de duplo modo. Como o termo último, em que se descansa, e que é o termo do movimento total, ou como termo médio, princípio de uma parte do movimento e fim ou termo de outra. Assim, no movimento pelo qual se vai de A para C passando por B, C é o termo último, B, também termo, mas não último, e a ambos pode se referir a intenção. Donde, embora sempre seja fim, nem por isso é necessário que seja sempre fim último.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Chama-se à intenção do coração clamor a Deus, não que Deus seja sempre objecto, mas, sim, o conhecedor da intenção. — Ou porque, quando oramos, dirigimos a Deus a nossa intenção que tem quase a força do clamor.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― O termo tem a natureza de último, nem sempre, porém, em relação ao todo, mas às vezes, em relação a uma das partes.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Fruição importa em repouso no fim, o que é próprio só do fim último. Ao passo que a intenção importa em movimento para o fim, não porém, repouso. Portanto não realizam a mesma noção.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Sententiarum Prosperi, sent. C.
2. Q. 12, a. 1 ad 4.
3. Q. 1 a. 7.
4. Q. 12, a. 1 ad 4.

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