Em
seguida devemos tratar da intenção.
E
sobre esta Questão, cinco artigos se discutem:
Art.
1 ― Se a intenção é acto do intelecto ou da vontade.
Art.
2 ― Se a intenção só se refere ao fim último.
Art.
3 ― Se se pode Intender várias coisas simultaneamente.
Art.
4 ― Se é um só e mesmo movimento a intenção do fim e a vontade dos meios.
Art.
5 ― Se os brutos Intendem o fim.
(II
Sent., dist. XXXVIII, a. 3, De Verit., q. 22, a . 13).
O
primeiro discute-se assim. Parece que a intenção é acto do intelecto e não da
vontade.
1.
― Pois, diz a Escritura (Mt 6, 22): Se o teu olho for simples, todo o teu corpo
será luminoso, significando olho, a intenção, como diz Agostinho 1.
Ora, os olhos, sendo instrumentos da visão, significam potência apreensiva.
Logo, a intenção não é acto da potência apetitiva, mas da apreensiva.
2.
Demais. ― No mesmo passo observa Agostinho, que a intenção é chamada luz pelo
Senhor, quando o Evangelho diz (Mt 6, 23): Se pois a luz que em ti há são
trevas, etc. Ora, a luz diz respeito ao conhecimento. Logo, também a intenção.
3.
Demais. ― A intenção designa um certo ordenar-se ao fim. Ora, ordenar é próprio
da razão. Logo, a intenção pertence a esta e não à vontade.
4.
Demais. ― O acto da vontade recai sobre o fim ou sobre os meios. Quando recai
sobre o fim chama-se vontade ou fruição, quando recai sobre os meios, eleição,
ora, de uma e outra difere a intenção. Logo, esta não é acto da vontade.
Mas,
em contrário, diz Agostinho 2: a intenção da vontade une o corpo
visto à vista, e semelhantemente, a imagem existente na memória à fina ponta do
espírito, que cogita interiormente. Logo, a intenção é acto da vontade.
Intenção, como o próprio nome o indica, significa tender para alguma coisa.
Ora, para alguma coisa tende tanto a acção do motor como o movimento do móvel.
Ora, pela acção do motor é que o movimento do móvel tende. Logo, a intenção,
primária e principalmente é própria do que move para o fim, e por isso dizemos
que o arquiteto, bem como todos os que ordenam, move os outros pelo seu
império, ao fim para o qual ele tende. Ora, como já se estabeleceu 3,
a vontade move para o fim todas as outras potências da alma. Donde é manifesto,
que a intenção é propriamente acto da vontade.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Chama-se intenção aos olhos, metaforicamente,
não que ela seja própria do conhecimento, mas porque pressupõe este, pelo qual
é proposto à vontade o fim para onde ela a move. Assim, com os olhos prevemos
para onde devemos corporalmente tender.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Chama-se à intenção luz porque é manifesta ao que entende. Por
isso também as obras se chamam trevas, porque o homem sabe o que entende, mas
não o que resulta da obra, como Agostinho expõe no mesmo passo.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Por certo que a vontade não ordena, mas tende contudo para alguma
coisa, segundo a ordem da razão. Donde, esse nome de intenção designa um acto
da vontade, pressuposta à ordenação da razão, que ordena uma coisa para o fim.
RESPOSTA
À QUARTA. ― A intenção é acto da vontade relativamente ao fim. Ora, de tríplice
modo a vontade visa o fim. Absolutamente, e então chama-se vontade o acto pelo
qual queremos, de modo absoluto, a saúde ou coisa semelhante, que exista. De
outra maneira, o fim é considerado como o em que a vontade descansa, e então a
fruição respeita ao fim. Em terceiro lugar, o fim é considerado como o termo de
algo que para ele ordena, e é assim que a intenção diz respeito ao fim. Pois,
não intendemos a saúde só porque a queremos, mas porque queremos alcançá-la por
alguma meio.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
_____________________
Notas:
1.
Lib. II De ser. Dom. in monte (cap. XIII).
2.
XI De Trinit., cap. IV.
3.
Q. 9, a. 1.
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