12/02/2013

Tratado dos actos humanos 30





Questão 11

Art. 4 ― Se a fruição é só do bem possuído.



O quarto discute-se assim. ― Parece que a fruição não é só do bem possuído.






1. ― Pois, diz Agostinho: Fruir é usar, com gáudio, não já da esperança, mas da própria coisa 1. Ora, da coisa ainda não possuída não há gáudio, mas esperança. Logo, fruição é só do fim possuído.

2. Demais. ― Como já se disse 2, a fruição, propriamente, só é do último fim, pois só este aquieta o apetite. Ora, o apetite só se satisfaz com o fim já possuído. Logo, a fruição, propriamente falando, é só do fim último.

3. Demais. ― Fruir é colher o fruto. Ora, este só é colhido quando já está possuído o fim. Logo, só há fruição do bem possuído.

Mas, em contrário. ― Fruir é aderir, por amor, a uma coisa, por ela mesma, como diz Agostinho 3. Ora, isto pode dar-se mesmo com uma coisa não possuída. Logo, podemos fruir mesmo do fim ainda não possuído.

Fruir importa relação da vontade com o fim último, enquanto ela considera alguma coisa como tal fim. Ora, o fim último pode ser possuído de duplo modo: perfeita e imperfeitamente. Perfeitamente, quando possuído, não só intencional mas também realmente, imperfeitamente quando possuído só na intenção. Logo, a fruição perfeita é a do fim já realmente possuído, ao passo que a imperfeita é a do fim não real mas só intencionalmente possuído.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Agostinho se refere à fruição perfeita.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― De modo duplo fica impedido o repouso da vontade: quanto ao objecto, que não sendo o fim último, se ordena a outro fim, ou quanto ao que deseja o fim, mas ainda não o alcançou. Ora, ao passo que o objecto especifica o acto, o modo de agir depende do agente, que, conforme a sua condição é perfeito ou imperfeito. Donde, do fim que não é último, a fruição é imprópria, como deficiente relativamente à ideia de fruição. Do fim último, porém, embora não ainda possuído, a fruição é própria, mas imperfeita, por causa do modo imperfeito de conseguir esse fim.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Diz-se que alguém alcança ou possui o fim, não só real mas também intencionalmente, como se viu.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. X De Trinit., cap. XI.
2. Q. 11, a. 3.
3. Lib. I De doctr. Christ., cap. IV.

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