A
prática da correcção fraterna – que tem tradição evangélica – é uma
manifestação de carinho sobrenatural e de confiança. Agradece-a quando a
receberes, e não deixes de praticá-la com quem convives. (Forja,
566)
Sede
prudentes e actuai sempre com simplicidade, virtude tão própria dos bons filhos
de Deus. Sede naturais na vossa linguagem e na vossa actuação. Chegai ao fundo
dos problemas; não fiqueis à superfície. Reparai que é preciso contar
antecipadamente com o sofrimento alheio e com o nosso, se desejamos deveras
cumprir santamente e com honradez as nossas obrigações de cristãos.
Não
vos oculto que, quando tenho que corrigir ou tomar uma decisão que fará sofrer
alguém, padeço antes, durante e depois; e não sou um sentimental. Consola-me
pensar que só os animais não choram; nós, os homens, filhos de Deus, choramos.
Sei que em determinados momentos, também vós tereis que sofrer, se vos
esforçardes por levar a cabo fielmente o vosso dever. Não vos esqueçais de que
é mais cómodo – mas é um descaminho – evitar o sofrimento a todo o custo, com o
pretexto de não magoar o próximo; frequentemente o que se esconde por trás
desta omissão é uma vergonhosa fuga ao sofrimento próprio, porque normalmente
não é agradável fazer uma advertência séria a alguém. Meus filhos, lembrai-vos
de que o inferno está cheio de bocas fechadas.
(...)
Para curar uma ferida, primeiro limpa-se esta muito bem e inclusivamente ao seu
redor, desde bastante distância. O médico sabe perfeitamente que isso dói, mas
se omitir essa operação, depois doerá ainda mais. A seguir, põe-se logo o
desinfectante; arde – pica, como dizemos na minha terra – mortifica, mas não há
outra solução para a ferida não infectar.
Se
para a saúde corporal é óbvio que se têm de tomar estas medidas, mesmo que se
trate de escoriações de pouca importância, nas coisas grandes da saúde da alma
– nos pontos nevrálgicos da vida do ser humano – imaginai como será preciso
lavar, como será preciso cortar, como será preciso limpar, como será preciso
desinfectar, como será preciso sofrer! A prudência exige-nos intervir assim e
não fugir ao dever, porque não o cumprir seria uma falta de consideração e
inclusivamente um atentado grave, contra a justiça e contra a fortaleza. (Amigos
de Deus, nn. 160–161)
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