02/02/2013

Tratado dos actos humanos 20


Art. 4 ― Se a vontade é movida por algum objecto exterior.




(1, q. 105, a . 4, q. 106, a . 2, q 111, a . 2, Infra, q. 80, a . 1, q. 109, ª 2, ad 1, III Cont. Gent., cap. LXXXIX, De Verit., q. 22, a . 9, De Malo, q. 6, Quod., I, q. 4, a . 2).

O quarto discute-se assim. ― Parece que a vontade não é movida por nenhum objecto exterior.



1. ― Pois, o movimento da vontade é voluntário e é da essência deste ― como também da essência do que é natural ― proceder de um princípio intrínseco. Logo, esse movimento não provém de nenhum objecto exterior.

2. Demais. ― A vontade não pode sofrer violência, como já se demonstrou 1. Ora, violento é o que tem princípio exterior. Logo, a vontade não pode ser movida por nenhum objecto exterior.

3. Demais. ― Ao que é suficientemente movido por um motor não há mister ser movido por outro. Ora, a vontade move-se suficientemente a si mesma. Logo, não é movida por nenhum objecto exterior.

Mas, em contrário. ― A vontade é movida pelo objecto, como já se disse 2. Ora, o objecto da vontade pode ser uma coisa exterior proposta ao sentido. Logo, ela pode ser movida por um objecto exterior.

É manifesto que quanto ao seu objecto, a vontade pode ser movida por algo de exterior. Mas, é forçoso ainda afirmar que ela é movida por algum princípio exterior, quanto ao exercício do acto. Pois, tudo o que, ora, age actualmente e, ora, é potencial, forçosamente há-de ser movido por algum motor. Ora, é manifesto que a vontade começa a querer o que antes não queria. Logo, é necessário que seja movida a querer, por alguma coisa. Por certo que, como já se disse 3, ela se move a si mesma, quando, querendo o fim, quer os meios. Ora, isto não se pode dar, senão pelo conselho, assim, quem quer sarar principia a cogitar de que modo pode consegui-lo, e dessa cogitação, conclui que pode sarar por meio do médico, e quer isso. Mas, como nem sempre quis, actualmente, a saúde, é necessário que começasse a querer sarar, movida por algum motor. Se porém ela se movesse a si mesma a querer, seria forçoso que tal fizesse, mediante o conselho, em virtude de outra vontade pressuposta. E como tal processo não pode ir ao infinito, é necessário admitir-se que, no seu primeiro movimento, a vontade se move pelo impulso de algum motor externo, como conclui Aristóteles 4.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — É da essência da vontade ter princípio intrínseco, mas não é necessário que este seja um princípio primeiro não movido por outro. E por isso, embora o princípio próximo do movimento voluntário seja intrínseco, contudo o princípio primeiro é extrínseco, assim com o é o princípio primeiro do movimento natural, que move a natureza.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Para a essência do violento não basta que seja o princípio extrínseco, mas é necessário acrescentar: sem que o paciente em nada contribua para tal. Ora, isso não se dá quando a vontade é movida por algo de exterior, pois, embora movida, ela é que quer. Ao passo que esse movimento seria violento se fosse contrário ao movimento da vontade, o que, no caso, não pode ser porque então ela quereria e não quereria ao mesmo tempo.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― A vontade, sob certo ponto de vista e na sua ordem, i. é, como agente próximo, move-se suficientemente, mas não pode mover-se a si mesma em relação a tudo, como se demonstrou. E por isso necessita ser movida por um primeiro motor.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Q. 6 a. 4.
2. Q 9, a. 1.
3. Q. 9, a. 3.
4. Ethic. Eudomicae, lib. VII, cap. XIV.

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