24/01/2013

Tratado dos actos humanos 12


Art. 3 ― Se as circunstâncias estão convenientemente enumeradas no terceiro livro das Éticas de Aristóteles.


(IV Sent., dist. XVI, q. 3, a . 1, q ª 2, 3, De Malo, q. 2, a . 6, III Ethic., let. III).



O terceiro discute-se assim. — Parece que as circunstâncias estão inconvenientemente enumeradas no terceiro livro das Éticas de Aristóteles.




1. — Pois, chama-se circunstância de um acto, o que a ele se refere, exteriormente. Ora, tais são o tempo e o lugar. Logo, há só duas as circunstâncias, a saber, quando e onde.

2. Demais. — Das circunstâncias deduz-se o que é bem ou mal feito. Ora, isto diz respeito ao modo do acto. Logo, todas as circunstâncias se incluem numa, que é o modo de agir.

3. Demais. ― As circunstâncias não pertencem à substância do acto mas sim às próprias causas do acto. Logo, nenhuma circunstância deve ser deduzida da causa do acto. E portanto, nem quem age, nem a causa por que se age, nem o a respeito de que se age são circunstâncias: pois, quem age considera-se como causa eficiente: a causa por que se age, como final, e o a respeito do que se age, como material.

Mas, em contrário é a autoridade do Filósofo no terceiro livro das Éticas, em Questão.

Túlio, na sua Retórica, ensina sete circunstâncias, contidas no seguinte versículo:

Quem, o que, onde, com que auxílios, porque, de que modo, quando.

Pois devemos considerar quem fez os actos, com que auxílios ou instrumentos os fez, o que fez, onde fez, porque fez, de que modo fez, e quando fez. Aristóteles 1, porém, acrescenta a circunstância a respeito de que, que Túlio compreende em o que.

E a razão desta enumeração pode fundamentar-se da maneira seguinte. Chama-se circunstância o como que existente de modo exterior à substância do acto, mas de certo modo o admitindo. O que pode dar-se de tríplice modo: atingindo o acto, em si, atingindo-lhe a causa, atingindo-lhe o efeito. O acto, em si é atingido a modo de medida, como o tempo e o lugar, ou a modo de qualidade, como o modo de agir. Atinge o efeito, como quando se considera o que alguém fez. A causa, se é final, refere-se a ela se e por causa do que se age, se é material ou objecto a esta refere-se ao respeito do que se age, se é a causa do agente principal, a ela se refere quem fez, se é a causa do agente instrumental, a ela se refere o com que auxílios fez.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― O tempo e o lugar circunstam ao acto, a modo de medida, outras circunstâncias há porém, que atingem de qualquer outro modo, existindo exteriormente à substância dele.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― O modo de ser bom ou mal não é considerado circunstância, mas, consequente de todas as circunstâncias. É considerado porém como circunstância especial o modo pertencente à qualidade do acto, p. ex., se alguém anda veloz ou devagar, se alguém fere forte ou brandamente e assim por diante.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― A condição da causa da qual depende a substância do acto não é considerada circunstância, mas condição adjunta. Assim como não se considera circunstância o objecto furtado ser alheio ― o que pertence à substância do furto ― mas, o ser grande ou pequeno. E o mesmo se dá com as outras circunstâncias atinentes às outras causas. Pois, o fim, que especifica o acto, não e circunstância, mas sim, o fim adjunto. Assim, não é circunstância se o forte age corajosamente por causa do bem que é a fortaleza, mas, se age corajosamente para a libertação do Estado, do povo cristão ou de modo semelhante. E o mesmo se dá como o que respeita ao que se faz, assim, se alguém, derramando água, lava outrem, isso não é circunstância da ablução, mas, sim, se, lavando resfria ou aquece, cura ou faz mal.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. III Ethic., loc. Cit.

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