A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Mt 27, 3-25
3 Então Judas, o traidor, vendo que Jesus fora condenado, tocado pelo
remorso, tornou a levar as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes
e aos anciãos, 4 dizendo: «Pequei, entregando sangue inocente». Mas
eles disseram: «Que nos importa? Isso é contigo!». 5 Então, tendo
atirado as moedas de prata para o templo, retirou-se e foi-se enforcar. 6
Os príncipes dos sacerdotes, tomando as moedas de prata, disseram: «Não é
lícito deitá-las na arca das esmolas, porque são preço de sangue». 7
E, tendo consultado entre si, compraram com elas o Campo do Oleiro para
sepultura dos estrangeiros. 8 Por esta razão aquele campo foi
chamado até ao dia de hoje “campo de sangue”. 9 Então se cumpriu o
que foi anunciado pelo profeta Jeremias: “Tomaram as trinta moedas de prata,
custo d'Aquele cujo preço foi avaliado pelos filhos de Israel, 10 e
deram-nas pelo Campo do Oleiro, como o Senhor me ordenou”. 11 Jesus
foi apresentado diante do governador, que O interrogou, dizendo: «És Tu o Rei
dos Judeus?». Jesus respondeu-lhe: «Tu o dizes». 12 Mas, sendo
acusado pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu. 13
Então Pilatos disse-Lhe: «Não ouves de quantas coisas Te acusam?». 14
E não lhe respondeu a palavra alguma, de modo que o governador ficou muito
admirado. 15 O governador costumava, por ocasião da festa da Páscoa,
soltar aquele preso que o povo quisesse. 16 Naquela ocasião tinha
ele um preso famoso, que se chamava Barrabás. 17 Estando eles
reunidos, perguntou-lhes Pilatos: «Qual quereis vós que eu vos solte? Barrabás
ou Jesus, que se chama Cristo?». 18 Porque sabia que O tinham
entregado por inveja. 19 Enquanto ele estava sentado no tribunal,
sua mulher mandou-lhe dizer: «Não te metas com esse justo, porque fui hoje
muito atormentada em sonhos por causa d'Ele». 20 Mas os príncipes
dos sacerdotes e os anciãos persuadiram o povo a que pedisse Barrabás e que
fizesse morrer Jesus.21 O governador, tomando a palavra, disse-lhes:
«Qual dos dois quereis que vos solte?». Eles responderam: «Barrabás!». 22
Pilatos disse-lhes: «Que farei então de Jesus, que se chama Cristo?». 23
Disseram todos: «Seja crucificado!». O governador disse-lhes: «Mas que mal fez
Ele?». Eles, porém, gritavam mais alto: «Seja crucificado!». 24
Pilatos, vendo que nada conseguia, mas que cada vez o tumulto era maior,
tomando água, lavou as mãos diante do povo, dizendo: «Eu sou inocente do sangue
deste justo; a vós pertence toda a responsabilidade!». 25 Todo o
povo respondeu: «O Seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos».
C. I. C. nr. 512 a 540
OS MISTÉRIOS DA VIDA DE CRISTO
512. Relativamente à
vida de Cristo, o Símbolo da Fé apenas fala dos mistérios da Encarnação
(conceição e nascimento) e da Páscoa (paixão, crucifixão, morte, sepultura,
descida à mansão dos mortos, ressurreição, ascensão). Nada diz explicitamente
dos mistérios da vida oculta e pública de Jesus. Mas os artigos que dizem
respeito à Encarnação e à Páscoa de Jesus esclarecem toda a vida terrena de
Cristo. «Tudo o que Jesus fez e ensinou desde o princípio até ao dia em que foi
elevado ao céu» (Act 1, 1-2) deve ser visto á luz dos mistérios do Natal e da
Páscoa.
513. A catequese,
segundo as circunstâncias, explanará toda a riqueza dos mistérios de Jesus.
Aqui, basta indicar alguns elementos comuns a todos os mistérios da vida de
Cristo (I), para depois esboçar os principais mistérios da vida oculta (II) e
pública (III) de Jesus.
I. Toda a vida de Cristo é mistério
514. Muitas coisas que
interessam à curiosidade humana, a respeito de Jesus, não figuram nos
evangelhos. Quase nada se diz da sua vida em Nazaré e mesmo grande parte da sua
vida pública não é relatada (186). O que foi escrito nos evangelhos,
foi-o «para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que,
acreditando, tenhais a vida em seu nome» (Jo 20, 31).
515. Os evangelhos foram
escritos por homens que foram dos primeiros a receber a fé (187) e
que quiseram partilhá-la com outros. Tendo conhecido, pela fé, quem é Jesus,
puderam ver e fazer ver os traços do seu mistério em toda a sua vida terrena.
Desde os panos do nascimento (188) até ao vinagre da paixão (189)
e ao sudário da ressurreição (190), tudo, na vida de Jesus, é sinal
do seu mistério. Através dos seus gestos, milagres e palavras, foi revelado que
«n'Ele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade» (Cl 2, 9). A sua
humanidade aparece, assim, como «sacramento», isto é, sinal e instrumento da
sua divindade e da salvação que Ele veio trazer. O que havia de visível na sua
vida terrena conduz ao mistério invisível da sua filiação divina e da sua
missão redentora.
OS TRAÇOS COMUNS DOS MISTÉRIOS DE JESUS
516. Toda a vida de
Cristo é revelação do Pai: as suas palavras e actos, os seus silêncios e
sofrimentos, a maneira de ser e de falar. Jesus pode dizer: «Quem Me vê, vê o
Pai» (Jo 14, 9); e o Pai: «Este é o meu Filho predilecto: escutai-O» (Lc 9,
35). Tendo-Se nosso Senhor feito homem para cumprir a vontade do Pai (191), os
mais pequenos detalhes dos seus mistérios manifestam «o amor de Deus para
connosco» (192).
517. Toda a vida de
Cristo é mistério de redenção. A redenção vem-nos, antes de mais, pelo sangue
da cruz (193). Mas este mistério está actuante em toda a vida de
Cristo: já na sua Encarnação, pela qual, fazendo-Se pobre, nos enriquece com a
sua pobreza (194); na vida oculta que, pela sua obediência (195),
repara a nossa insubmissão; na palavra que purifica os seus ouvintes (196):
nas curas e expulsões dos demónios, pelas quais «toma sobre Si as nossas
enfermidades e carrega com as nossas doenças» (Mt 8, 17) (197); na
ressurreição, pela qual nos justifica (198).
518. Toda a vida de
Cristo é mistério de recapitulação. Tudo o que Jesus fez, disse e sofreu tinha
por fim restabelecer o homem decaído na sua vocação originária:
«Quando Ele encarnou e
Se fez homem, recapitulou em Si a longa história dos homens e proporcionou-nos,
em síntese, a salvação, de tal forma que aquilo que havíamos perdido em Adão –
isto é, sermos imagem e semelhança de Deus – o recuperássemos em Cristo Jesus» (199).
«Aliás, foi por isso que Cristo passou por todas as idades da vida, restituindo
assim a todos os homens a comunhão com Deus» (200).
A NOSSA COMUNHÃO NOS
MISTÉRIOS DE JESUS
519. Toda a riqueza de
Cristo «se destina a todos os homens e constitui o bem de cada um» (201).
Cristo não viveu para Si mesmo, mas para nós, desde a Encarnação «por nós
homens e para nossa salvação» (202) até á sua morte «por causa dos
nossos pecados» (1 Cor 15, 3) e à sua ressurreição «para nossa justificação»
(Rm 4, 25). Ainda agora, Ele é «o nosso advogado junto do Pai» (1 Jo 2, 1),
«sempre vivo para interceder por nós» (Heb 7, 25). Com tudo o que viveu e
sofreu por nós, uma vez por todas, Ele está para sempre presente «em nosso
favor, na presença de Deus» (Heb 9, 24).
520. Em toda a sua vida,
Jesus mostra-Se como nosso modelo (203): é «o homem perfeito» (204),
que nos convida a tornarmo-nos seus discípulos e a segui-Lo; com a sua
humilhação, deu-nos um exemplo a imitar (205); com a sua oração,
convida-nos à oração (206); com a sua pobreza, incita--nos a aceitar
livremente o despojamento e as perseguições (207).
521. Tudo o que Cristo
viveu, Ele próprio faz com que o possamos viver n'Ele e Ele vivê-lo em nós.
«Pela sua Encarnação, o Filho de Deus uniu-Se, de certo modo, a cada homem» (208).
Nós somos chamados a ser um só com Ele; Ele faz-nos comungar, enquanto membros
do seu corpo, em tudo o que Ele próprio viveu na sua carne por nós, e como
nosso modelo:
«Devemos continuar a
completar em nós os estados e mistérios da vida de Jesus e pedir-Lhe
continuamente que Se digne consumá-los perfeitamente em nós e em toda a sua
Igreja [...]. Na verdade, o Filho de Deus deseja comunicar e prolongar, de
certo modo, os seus mistérios em nós e em toda a sua Igreja, [...] quer pelas graças
que decidiu conceder-nos, quer pelos efeitos que deseja produzir em nós, por
meio destes mistérios. É neste sentido que Ele quer completá-los em nós» (209).
II. Os mistérios da infância e da vida oculta de Jesus
OS PREPARATIVOS
522. A vinda do Filho de
Deus à terra é um acontecimento tão grandioso, que Deus quis prepará-lo durante
séculos. Ritos e sacrifícios, figuras e símbolos da «primeira Aliança» (210),
tudo Deus faz convergir para Cristo. Anuncia-O pela boca dos profetas que se
sucedem em Israel. E, por outro lado, desperta no coração dos pagãos a obscura
expectativa desta vinda.
523. São João Baptista é
o precursor imediato do Senhor (211), enviado para Lhe preparar o
caminho (212). «Profeta do Altíssimo» (Lc 1, 76), supera todos os
profetas (213), é o último deles (214) inaugura o
Evangelho (215); saúda a vinda de Cristo desde o seio da sua Mãe (216)
e põe a sua alegria em ser «o amigo do esposo» (Jo 3, 29) que ele designa como
«Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo» (Jo 1, 29). Precedendo Jesus «com
o espírito e o poder de Elias» (Lc 1, 17), dá testemunho d'Ele pela sua
pregação, pelo seu baptismo de conversão e, finalmente, pelo seu martírio (217).
524. Ao celebrar em cada
ano a Liturgia do Advento, a Igreja actualiza esta expectativa do Messias.
Comungando na longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam
o ardente desejo da sua segunda vinda (218). Pela celebração do
nascimento e martírio do Precursor, a Igreja une-se ao seu desejo: «Ele deve
crescer e eu diminuir» (Jo 3, 30).
O MISTÉRIO DO NATAL
525. Jesus nasceu na
humildade dum estábulo, no seio duma família pobre (219). As
primeiras testemunhas deste acontecimento são simples pastores. E é nesta
pobreza que se manifesta a glória do céu (220). A Igreja não se
cansa de cantar a glória desta noite:
«Hoje a Virgem dá à luz
o Eterno
e a terra oferece uma
gruta ao Inacessível.
Cantam-n'O os anjos e os
pastores,
e com a estrela os magos
põem-se a caminho,
porque Tu nasceste para
nós,
pequeno Infante. Deus
eterno!» (221)
526. «Tornar-se criança»
diante de Deus é a condição para entrar no Reino (222), e para isso,
é preciso abaixar-se (223) tornar-se pequeno. Mais ainda: é preciso
«nascer do Alto» (Jo 3, 7), «nascer de Deus» (224) para se «tornar
filho de Deus» (225). O mistério do Natal cumpre-se em nós quando
Cristo «Se forma» em nós (226). O Natal é o mistério desta
«admirável permuta»:
«O admirabile
commercium! Creator generis humani, animatum corpus sumens de Virgine nasci
dignatus est; et, procedens homo sine semine, largitus est nobis suam
deitatem». – «Oh admirável permuta! O Criador do género humano, tomando corpo e
alma, dignou-Se nascer duma Virgem; e, feito homem sem progenitor humano,
tornou-nos participantes da sua divindade!» (227).
OS MISTÉRIOS DA INFÂNCIA DE JESUS
527. A circuncisão de
Jesus, oito dias depois do seu nascimento (228), sinal da sua
inserção na descendência de Abraão, no povo da Aliança, da sua submissão à Lei (229)
e da sua deputação para o culto de Israel, no qual participará durante toda a
sua vida. Este sinal prefigura «a circuncisão de Cristo», que é o Baptismo (230).
528. A Epifania é a
manifestação de Jesus como Messias de Israel, Filho de Deus e salvador do
mundo. Juntamente com o baptismo de Jesus no Jordão e as bodas de Caná (231),
a Epifania celebra a adoração de Jesus pelos «magos» vindos do Oriente (232).
Nestes «magos», representantes das religiões pagãs circunvizinhas, o Evangelho
vê as primícias das nações, que acolhem a Boa-Nova da salvação pela Encarnação.
A vinda dos magos a Jerusalém, para «adorar o rei dos judeus» (233),
mostra que eles procuram em Israel, à luz messiânica da estrela de David (234),
Aquele que será o rei das nações (235). A sua vinda significa que os
pagãos não podem descobrir Jesus e adorá-Lo como Filho de Deus e Salvador do
mundo, senão voltando-se para os Judeus (236) e recebendo deles a
sua promessa messiânica, tal como está contida no Antigo Testamento (237).
A Epifania manifesta que «todos os povos entram na família dos patriarcas» (238)
e adquire a « israelitica dignitas» – a dignidade própria do povo eleito (239).
529. A apresentação de
Jesus no templo (240) mostra-O como Primogénito que pertence ao
Senhor (241). Com Simeão e Ana, é toda a expectativa de Israel que
vem ao encontro do seu Salvador (a tradição bizantina designa por encontro este
acontecimento). Jesus é reconhecido como o Messias tão longamente esperado,
«luz das nações» e «glória de Israel», mas também como «sinal de contradição».
A espada de dor, predita a Maria, anuncia essa outra oblação, perfeita e única,
da cruz, que trará a salvação que Deus «preparou diante de todos os povos».
530. A fuga para o
Egipto e o massacre dos Inocentes (242) manifestam a oposição das
trevas à luz: «Ele veio para o que era seu e os seus não O receberam» (Jo 1,
11). Toda a vida de Cristo decorrerá sob o signo da perseguição. Os seus
partilham-na com Ele (243). O seu regresso do Egipto (244) lembra o
Êxodo (245) e apresenta Jesus como o libertador definitivo.
OS MISTÉRIOS DA VIDA OCULTA DE JESUS
531. Durante a maior
parte da sua vida, Jesus partilhou a condição da imensa maioria dos homens: uma
vida quotidiana sem grandeza aparente, vida de trabalho manual, vida religiosa
judaica sujeita à Lei de Deus (246), vida na comunidade. De todo
este período, é-nos revelado que Jesus era «submisso» a seus pais (247)
e que «ia crescendo em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos
homens» (Lc 2, 52).
532. A submissão de
Jesus à sua Mãe e ao seu pai legal foi o cumprimento perfeito do quarto
mandamento. É a imagem temporal da sua obediência filial ao Pai celeste. A
submissão diária de Jesus a José e a Maria anunciava e antecipava a submissão
de Quinta-Feira Santa: «Não se faça a minha vontade [...]» (Lc 22, 42). A
obediência de Cristo, no quotidiano da vida oculta, inaugurava já a recuperação
daquilo que a desobediência de Adão tinha destruído (248).
533. A vida oculta de
Nazaré permite a todos os homens entrar em comunhão com Jesus, pelos diversos
caminhos da vida quotidiana:
«Nazaré é a escola em
que se começa a compreender a vida de Jesus, é a escola em que se inicia o
conhecimento do Evangelho [...] Em primeiro lugar, uma lição de silêncio. Oh!
se renascesse em nós o amor do silêncio, esse admirável e indispensável hábito
do espírito [...]! Uma lição de vida familiar Que Nazaré nos ensine o que é a
família, a sua comunhão de amor, a sua austera e simples beleza, o seu carácter
sagrado e inviolável [...]. Uma lição de trabalho, Nazaré, a casa do
"Filho do carpinteiro"! Aqui desejaríamos compreender e celebrar a
lei, severa mas redentora, do trabalho humano [...] Daqui, finalmente, queremos
saudar os trabalhadores de todo o mundo e mostrar-lhes o seu grande modelo, o
seu Irmão divino» (249)
534. O reencontro de
Jesus no templo (250) é o único acontecimento que quebra o silêncio
dos evangelhos sobre os anos ocultos de Jesus. Nele, Jesus deixa entrever o
mistério da sua consagração total à missão decorrente da sua filiação divina:
«Não sabíeis que Eu tenho de estar na casa do meu Pai?». Maria e José «não
compreenderam» esta palavra, mas acolheram-na na fé, e Maria «guardava no
coração todas estas recordações», ao longo dos anos em que Jesus permaneceu oculto
no silêncio duma vida normal.
III. Os mistérios da vida pública de Jesus
O BAPTISMO DE JESUS
535 O início (251)
da vida pública de Jesus é o seu baptismo por João, no rio Jordão (252).
João pregava «um baptismo de penitência, em ordem à remissão dos pecados» (Lc
3, 3). Uma multidão de pecadores, publicanos e soldados (253),
fariseus e saduceus (254) e prostitutas vinha ter com ele, para que
os baptizasse. «Então aparece Jesus». O Baptista hesita, Jesus insiste: e
recebe o baptismo. Então o Espírito Santo, sob a forma de pomba, desce sobre
Jesus e uma voz do céu proclama: «Este é o meu Filho muito amado» (Mt 3,13-17).
Tal foi a manifestação («epifania») de Jesus como Messias de Israel e Filho de
Deus.
536. Da parte de Jesus,
o seu baptismo é a aceitação e a inauguração da sua missão de Servo sofredor.
Deixa-se contar entre o número dos pecadores (256). É já «o Cordeiro
de Deus que tira o pecado do mundo» (Jo 1, 29), e antecipa já o «baptismo» da
sua morte sangrenta (257). Vem, desde já, para «cumprir toda a
justiça» (Mt 3,15). Quer dizer que Se submete inteiramente à vontade do Pai e
aceita por amor o baptismo da morte para a remissão dos nossos pecados (258).
A esta aceitação responde a voz do Pai, que põe toda a sua complacência no
Filho (259). O Espírito que Jesus possui em plenitude, desde a sua
conceição, vem «repousar» sobre Ele (Jo 1, 32-33) (260) e Jesus será
a fonte do mesmo Espírito para toda a humanidade. No baptismo de Cristo,
«abriram-se os céus» (Mt 3, 16) que o pecado de Adão tinha fechado, e as águas
são santificadas pela descida de Jesus e do Espírito, prelúdio da nova criação.
537. Pelo Baptismo, o
cristão é sacramentalmente assimilado a Jesus que, no seu baptismo, antecipa a
sua morte e ressurreição. Deve entrar neste mistério de humilde abatimento e de
penitência, descer à água com Jesus, para de lá subir com Ele, renascer da água
e do Espírito para se tornar, no Filho, filho-amado do Pai e «viver numa vida
nova» (Rm 6, 4):
«Sepultemo-nos com
Cristo pelo Baptismo, para com Ele ressuscitarmos; desçamos com Ele, para com
Ele sermos elevados; tornemos a subir com Ele, para n'Ele sermos glorificados» (261).
«Tudo o que se passou
com Cristo dá-nos a conhecer que, depois do banho de água, o Espírito Santo
desce sobre nós do alto dos céus e, adoptados pela voz do Pai, tornamo-nos
filhos de Deus» (262).
A TENTAÇÃO DE JESUS
538. Os evangelhos falam
dum tempo de solidão que Jesus passou no deserto, imediatamente depois de ter
sido baptizado por João: «Impelido» pelo Espírito para o deserto, Jesus ali
permanece sem comer durante quarenta dias. Vive com os animais selvagens e os
anjos servem-n'O (263).
No fim desse tempo,
Satanás tenta-O por três vezes, procurando pôr em causa a sua atitude filial
para com Deus; Jesus repele esses ataques, que recapitulam as tentações de Adão
no paraíso e de Israel no deserto; e o Diabo afasta-se d'Ele «até determinada
altura» (Lc 4, 13).
539. Os evangelistas
indicam o sentido salvífico deste acontecimento misterioso, Jesus é o Novo
Adão, que Se mantém fiel naquilo em que o primeiro sucumbiu à tentação. Jesus
cumpre perfeitamente a vocação de Israel: contrariamente aos que outrora,
durante quarenta anos, provocaram a Deus no deserto (264), Cristo
revela-Se o Servo de Deus totalmente obediente à vontade divina. Nisto, Jesus
vence o Diabo: «amarrou o homem forte», para lhe tirar os despojos (265).
A vitória de Jesus sobre o tentador, no deserto, antecipa a vitória da paixão,
suprema obediência do seu amor filial ao Pai.
540. A tentação de Jesus
manifesta a maneira própria de o Filho de Deus ser Messias, ao contrário da que
Lhe propõe Satanás e que os homens (266) desejam atribuir-Lhe. Foi
por isso que Cristo venceu o Tentador, por nós: «Nós não temos um
sumo-sacerdote incapaz de se compadecer das nossas fraquezas; temos um, que
possui a experiência de todas as provações, tal como nós, com excepção do
pecado» (Heb 4, 15). Todos os anos, pelos quarenta dias da Grande Quaresma, a
Igreja une-se ao mistério de Jesus no deserto.
__________________
Notas:
186. Cf. Jo 20, 3.
187. Cf. Mc 1, 1; Jo 21, 24
188. Cf. Lc 2, 7.
189. Cf. Mt 27, 48.
190. Cf Jo 20, 7.
191.Cf. Heb 10, 5-7.
192. Cf. 1 Jo 4, 9.
193. Cf. Ef 1, 7: Cl I.
13-14 (Vulgata); 1 Pe 1, 18-19.
194. Cf. 2 Cor 8, 9.
195. Cf. Lc 2, 51.
196. Cf. Jo 15, 3.
197. Cf. Is 53, 4.
198. Cf. Rm 4, 25.
199. Santo Ireneo de Lião, Adversus haereses 3, 18, 1: SC 211,
342-344 (PG 7, 932).
200. Ibidem, 18. 7: SC 211, 366 (PG 7, 937); cf. Ibid. 2, 22. 4:
SC 294, 220-222 (PG 7, 784).
201. João Paulo II, Enc. Redemptor hominis, 11: AAS 71 (1979) 278.
202. Cf. Símbolo Niceno-Contantinopolitano: DS 150.
203. Cf. Rm 15, 5; Fl 2, 5.
204. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et spes, 38:
AAS 58 (1966) 1055.
205. Cf. Jo 13, 15.
206. Cf. Lc 11, 1.
207. Cf. Mt 5, 11-12.
208. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et spes, 22:
AAS 58 (1966) 1042.
209. São João Eudes: Le royaume de Jésus, 3, 4: Oeuvres complètes,
v. 1 (Vannes 1905) p. 310-311 [2ª leitura do Ofício de Leituras de sexta-feira
da 33ª semana do Tempo Comum: Liturgia das Horas, v. 4 (Gráfica de Coimbra
1983), p. 539].
210. Cf. Heb 9, 15.
211. Cf. Act 13, 24.
212 Cf. Mt 3, 3.
213. Cf. Lc 7 26
214. Cf. Mt 11, 13.
215. Cf. Act 1, 22: Lc 16, 16.
216. Cf. Lc 1, 41.
217. Cf. Mc 6, 17-29.
218. Cf. Ap 22, 17.
219. Cf. Lc 2, 6-7.
220. Cf. Lc 2, 8-20.
221.
São Romano o Melódio, Kontakion, 10, In diem Nativitatis Christi,
Prooemium: SC 110, 50.
222. Cf. Mt 18, 3-4.
223. Cf. Mt 23, 12.
224. Cf. Jo 1, 13.
225. Cf. Jo 1, 12.
226. Cf. Gl 4, 19.
227. Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, 1ª Antífona das I e II
Vésperas: Liturgia Horarum, editio typica, v. I (Typis Polyglottis Vaticanis
1973), p. 385 e 397 [a versão oficial portuguesa é menos exacta: «Oh admirável
mistério! O Criador do género humano, tomando corpo e alma, dignou-Se nascer
duma Virgem; e, feito homem, tornou-nos participantes da sua divindade!»:
Liturgia das Horas. v. 1 (Gráfica de Coimbra 1983). p. 426 e 441].
228. Cf. Lc 2, 21.
229. Cf. Gl 4, 4. -'9
230. Cf. Cl 2, 11-13.
:231. Cf. Solenidade da Epifania do Senhor. Antífona do
«Magnificat» das II Vésperas: Liturgia Horarum, editio typica, v. 1 (Typis
Polyglottis Vaticanis 1973) p. 465 [Liturgia das Horas, v. 1 (Gráfica de
Coimbra 1983) p. 528].
232. Cf. Mt 2, 1.
233. Cf. Mt 2, 2.
234. Cf. Nm 24, 17; Ap 22, 16.
235. Cf. Nm 24, 17-19.
236. Cf. Jo 4, 22.
237. Cf. Mt 2, 4-6.
238. São Leão Magno, Sermão 33, 3: CCL 138, 173 (PL 54. 242)
[Solenidade da Epifania do Senhor, 2ª Leitura do Ofício de Leituras: Liturgia
das Horas, v. 1 (Gráfica de Coimbra 1983) p. 519].
239. Vigília Pascal, Oração depois da 3ª leitura: Missale Romanum, editio typica
(Typis Polyglottis Vaticanis 1970), p. 277 [Missal Romano, Gráfica de Coimbra
1992, 305].
240. Cf. Lc 2, 22-39.
241. Cf. Ex 13, 2. 12-13.
242. Cf. Mt 2, 13-18.
243. Cf. Jo 15, 20.
244. Cf. Mt 2, 15.
245. Cf. Os 11, 1.
246. Cf. G1 4, 4.
247. Cf. Lc 2, 51.
248. Cf. Rm 5, 19.
249. Paulo VI, Alocução na igreja da Anunciação à bem-aventurada
Virgem Maria em Nazaré, 5 de Janeiro de 1964: AAS 56 (1964) 167-168 [Festa da
Sagrada Família, 2ª Leitura do Ofício de
Leitura: Liturgia das Horas, v. 1 (Gráfica de Coimbra 1983) p. 381-382].
250. Cf. Lc 2, 41-52.
251. Cf. Lc 3, 23.
252. Cf. Act 1, 22.
253. Cf. Lc 3, 10-14.
254. Cf. Mt 3, 7.
255. Cf. Mt 21, 32.
256. Cf. Is 53, 12.
257.
Cf. Mc 10, 38; Lc 12, 50.
258. Cf. Mt 26, 39.
259. Cf. Lc 3 . 22; Is 42, 1.
260. Cf. Jo 1 , 32-33; Is 1 l, 2.
261. São Gregório Nazianzeno, Oratio 40, 9: SC 358, 216 (PG 36.
369).
262. Santo Hilário de Poitiers, In evangelium Matthaei 2, 6: SC
254. 110 (PL 9, 927).
263. Cf. Mc 1, 13.
264. Cf. SI 95, 10.
265. Cf. Mc 3, 27.
266. Cf. Mt 16, 21-23.
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