A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho:
Mt 24, 23-41
23 «Então, se alguém vos disser: “Eis, aqui está o
Cristo”, ou “ei-lo acolá”, não deis crédito, 24 porque se levantarão
falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes milagres e prodígios, de tal
modo que, se fosse possível, até os escolhidos seriam enganados. 25
Eis que Eu vos previno. 26 Se, pois, vos disserem: “Eis que ele está
no deserto”, não vades lá; “ei-lo no lugar mais retirado da casa”, não deis
crédito. 27 Porque, assim como o relâmpago sai do Oriente e brilha
até ao Ocidente, assim será a vinda do Filho do Homem. 28 Onde
estiver um cadáver aí se ajuntarão as águias. 29 «Logo depois da tribulação
daqueles dias, o sol escurecer-se-á, a lua não dará a sua luz, as estrelas
cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. 30 Então
aparecerá o sinal do Filho do Homem no céu, e todos os povos da terra baterão
no peito, e verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu com grande poder
e majestade. 31 Mandará os Seus anjos com poderosas trombetas, e
juntarão os Seus escolhidos dos quatro ventos, de um extremo dos céus ao outro.
32 Compreendei isto por uma comparação tirada da figueira: Quando os
seus ramos estão tenros e as folhas brotam, sabeis que está próximo o Verão; 33
assim também quando virdes tudo isto, sabei que o Filho do Homem está para
breve, está às portas. 34 Em verdade vos digo que não passará esta
geração, sem que se cumpram todas estas coisas. 35 O céu e a terra
passarão, mas as Minhas palavras não hão-de passar. 36 «Quanto
àquele dia e hora, ninguém sabe nada, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas só
o Pai. 37 Assim como aconteceu nos dias de Noé, assim será também a
segunda vinda do Filho do Homem. 38 Nos dias que precederam o
dilúvio os homens comiam e bebiam, casavam-se e casavam os seus filhos, até ao
dia em que Noé entrou na arca, 39 e não souberam nada até que veio o
dilúvio e os levou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem.
40 «Então, de dois que estiverem no campo, um será tomado e o outro
será deixado. 41 De duas mulheres que estiverem a moer com a mó, uma
será tomada e a outra deixada.
C. I. C. nr. 282 a 308
I. A catequese sobre a
criação
282.
A catequese sobre a criação reveste-se duma importância capital. Diz respeito
aos próprios fundamentos da vida humana e cristã, porque torna explícita a
resposta da fé cristã à questão elementar que os homens de todos os tempos têm
vindo a pôr-se: «De onde vimos?» «Para onde vamos?» «Qual a nossa origem?»
«Qual o nosso fim?» «Donde vem e para onde vai tudo quanto existe?» As duas
questões, da origem e, do fim, são inseparáveis. E são decisivas para o sentido
e para a orientação da nossa vida e do nosso proceder.
283.
A questão das origens do mundo e do homem tem sido objecto de numerosas
investigações científicas, que enriqueceram magnificamente os nossos
conhecimentos sobre a idade e a dimensão do cosmos, a evolução dos seres vivos,
o aparecimento do homem. Tais descobertas convidam-nos, cada vez mais, a
admirar a grandeza do Criador e a dar-Lhe graças por todas as suas obras, e
pela inteligência e saber que dá aos sábios e investigadores. Estes podem dizer
com Salomão: «Foi Ele quem me deu a verdadeira ciência de todas as coisas, a
fim de conhecer a constituição do Universo e a força dos elementos [...],
porque a Sabedoria, que tudo criou, mo ensinou» (Sb 7, 17-21).
284.
O grande interesse atribuído a estas pesquisas é fortemente estimulado por uma
questão de outra ordem, que ultrapassa o domínio próprio das ciências naturais.
Porque não se trata apenas de saber quando e como surgiu materialmente o
cosmos, nem quando é que apareceu o homem; mas, sobretudo, de descobrir qual o
sentido de tal origem: se foi determinada pelo acaso, por um destino cego ou
uma fatalidade anónima, ou, antes, por um Ser transcendente, inteligente e bom,
chamado Deus. E se o mundo provém da sabedoria e da bondade de Deus, qual a
razão do mal? De onde vem ele? Quem é por ele responsável? E será que existe
uma libertação do mesmo?
285.
Desde os princípios que a fé cristã teve de defrontar-se com respostas,
diferentes da sua, sobre a questão das origens. De facto, nas religiões e nas
culturas antigas encontram-se muitos mitos relativos às origens. Certos
filósofos disseram que tudo é Deus, que o mundo é Deus, ou que a evolução do
mundo é a evolução de Deus (panteísmo): outros disseram que o mundo é uma
emanação necessária de Deus, brotando de Deus como duma fonte e a Ele voltando;
outros, ainda, afirmaram a existência de dois princípios eternos, o bem e o
mal, a luz e as trevas, em luta permanente (dualismo, maniqueísmo). Segundo
algumas destas concepções, o mundo (pelo menos o mundo material) seria mau,
produto duma decadência e, portanto, objecto de repúdio ou de superação
(gnose); outras admitem que o mundo tenha sido feito por Deus, mas à maneira
dum relojoeiro que, depois de o ter feito, o abandonou a si mesmo (deísmo);
outras, finalmente, rejeitam qualquer origem transcendente do mundo e vêm nele
o puro jogo duma matéria que teria existido sempre (materialismo). Todas estas
tentativas dão testemunho da permanência e universalidade do problema das origens.
É uma busca própria do homem.
286.
Não há dúvida de que a inteligência humana é capaz de encontrar uma resposta
para a questão das origens. Com efeito, a existência de Deus Criador pode ser
conhecida com certeza pelas suas obras, graças à luz da razão humana (106),
mesmo que tal conhecimento muitas vezes seja obscurecido e desfigurado pelo
erro. E é por isso que a fé vem confirmar e esclarecer a razão na compreensão
exacta desta verdade: «Pela fé, sabemos que o mundo foi organizado pela palavra
de Deus, de modo que o que se vê provém de coisas invisíveis» (Heb 11, 3).
287.
A verdade da criação é tão importante para toda a vida humana que Deus, na sua
bondade, quis revelar ao seu povo tudo quanto é salutar conhecer-se a esse
propósito. Para além do conhecimento natural, que todo o homem pode ter do
Criador (107), Deus revelou progressivamente a Israel o mistério da
criação. Deus, que escolheu os patriarcas, que fez sair Israel do Egipto e que,
escolhendo Israel, o criou e formou (108) revela-Se como Aquele a
quem pertencem todos os povos da terra e toda a terra, como sendo o único que
«fez o céu e a terra» (Sl 115, 15; 124, 8; 134, 3).
288.
Assim, a revelação da criação é inseparável da revelação e da realização da
Aliança de Deus, o Deus Único, com o seu povo. A criação é revelada como o
primeiro passo para esta Aliança, como o primeiro e universal testemunho do
amor omnipotente de Deus (109). Por isso, a verdade da criação é
expressa com vigor crescente na mensagem dos profetas (110), na
oração dos salmos (111) e da liturgia, na reflexão da sabedoria (112)
do Povo eleito.
289.
Entre tudo quanto a Sagrada Escritura nos diz sobre a criação, os três
primeiros capítulos do Génesis ocupam um lugar único. Do ponto de vista
literário, estes textos podem ter diversas fontes. Os autores inspirados
puseram-nos no princípio da Escritura, de maneira a exprimirem, na sua
linguagem solene, as verdades da criação, da sua origem e do seu fim em Deus,
da sua ordem e da sua bondade, da vocação do homem, e enfim, do drama do pecado
e da esperança da salvação. Lidas à luz de Cristo, na unidade da Sagrada
Escritura e na Tradição viva da Igreja, estas palavras continuam a ser a fonte
principal para a catequese dos mistérios do «princípio»: criação, queda,
promessa da salvação.
II. A criação – obra da
Santíssima Trindade
290.
«No princípio, Deus criou o céu e a terra». Três coisas são afirmadas nestas
primeiras palavras da Escritura: Deus eterno deu um princípio a tudo quanto
existe fora d'Ele. Só Ele é criador (o verbo «criar» – em hebraico «bara» – tem
sempre Deus por sujeito). E tudo quanto existe (expresso pela fórmula «o céu e
a terra») depende d' Aquele que lhe deu o ser.
291.
«No princípio era o Verbo [...] e o Verbo era Deus [...] Tudo se fez por meio
d'Ele e, sem Ele, nada se fez» (Jo 1, 1-3). O Novo Testamento revela que Deus
tudo criou por meio do Verbo eterno, seu Filho muito-amado. Foi n'Ele «que
foram criados todos os seres que há nos céus e na terra [...]. Tudo foi criado
por seu intermédio e para Ele. Ele é anterior a todas as coisas, e todas se
mantêm por Ele» (Cl 1, 16-17). A fé da Igreja afirma igualmente a acção
criadora do Espírito Santo: Ele é Aquele «que dá a vida» (113), «o
Espírito Criador» (Veni, Creator Spiritus), a «Fonte de todo o bem» (114).
292.
Insinuada no Antigo Testamento (115) revelada na Nova Aliança, a acção
criadora do Filho e do Espírito Santo, inseparavelmente unida à do Pai, é
claramente afirmada pela regra de fé da Igreja: «Existe um só Deus. Ele é o
Pai, é Deus, é o Criador, o Autor, o Ordenador. Fez todas as coisas por Si
mesmo, quer dizer, pelo Seu Verbo e pela sua Sabedoria» (116) «pelo
Filho e pelo Espírito» que são como «as suas mãos» (117). A criação
é obra comum da Santíssima Trindade.
III. «O mundo foi criado
para glória de Deus»
293.
É uma verdade fundamental, que a Escritura e a Tradição não cessam de ensinar e
de celebrar: «O mundo foi criado para glória de Deus» (118). Deus
criou todas as coisas, explica São Boaventura, «non propter gloriam augendam,
sed propter gloriam manifestandam et propter gloriam suam communicandam – Não
para aumentar a Sua glória, mas para a manifestar e para a comunicar» (119).
Para criar, Deus não tem outra razão senão o seu amor e a sua bondade: «Aperta
manu clave amoris creaturae prodierunt – As criaturas saíram da mão (de Deus)
aberta pela chave do amor» (120). E o I Concílio do Vaticano
explica:
«Na
sua bondade e pela sua força omnipotente, não para aumentar a sua felicidade
nem para adquirir a sua perfeição, mas para a manifestar pelos bens que concede
às suas criaturas, Deus, no seu libérrimo desígnio, criou do nada
simultaneamente e desde o princípio do tempo uma e outra criatura — a
espiritual e a corporal» (121).
294.
A glória de Deus está em que se realize esta manifestação e esta comunicação da
sua bondade, em ordem às quais o mundo foi criado. Fazer de nós «filhos
adoptivos por Jesus Cristo. Assim aprouve à sua vontade, para que fosse
enaltecida a glória da sua graça» (Ef 1, 5-6): «Porque a glória de Deus é o
homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus: se a revelação de Deus pela
criação já proporcionou a vida a todos os seres que vivem na terra, quanto mais
a manifestação do Pai pelo Verbo proporciona a vida aos que vêem a Deus!» (122).
O fim último da criação é que Deus Pai, «criador de todos os seres, venha
finalmente a ser 'tudo em todos' (1 Cor 15, 28), provendo, ao mesmo tempo, à
sua glória e à nossa felicidade» (123).
IV. O mistério da criação
DEUS CRIA COM SABEDORIA E
POR AMOR
295
Acreditamos que Deus criou o mundo segundo a sua sabedoria (124). O
mundo não é fruto duma qualquer necessidade, dum destino cego ou do acaso.
Acreditamos que ele procede da vontade livre de Deus, que quis fazer as
criaturas participantes do seu Ser, da sua sabedoria e da sua bondade: «porque
Vós criastes todas as coisas e, pela vossa vontade, elas receberam a existência
e foram criadas» (Ap 4, 11). «Como são grandes, Senhor, as vossas obras! Tudo
fizestes com sabedoria» (Sl 104, 24). «O Senhor é bom para com todos e a sua
misericórdia estende-se a todas as criaturas» (Sl 145, 9).
DEUS CRIA «DO NADA»
296.
Acreditamos que Deus não precisa de nada preexistente, nem de qualquer ajuda,
para criar (125). A criação tão pouco é uma emanação necessária da
substância divina (126). Deus cria livremente «do nada» (127):
«Que
haveria de extraordinário, se Deus tivesse tirado o mundo duma matéria
preexistente? Um artista humano, quando se lhe dá um material, faz dele o que
quer. O poder de Deus, porém, mostra-se precisamente quando parte do nada para
fazer tudo o que quer» (128).
297.
A fé na criação a partir «do nada» é testemunhada na Escritura como uma verdade
cheia de promessa e de esperança. É assim que a mãe dos sete filhos os anima ao
martírio:
«Não
sei como aparecestes no meu seio; não fui eu que vos dei a respiração e a vida,
nem fui eu que dispus os membros que compõem cada um de vós. Por isso, o
Criador do mundo, que formou o homem à nascença e concebeu todas as coisas na
sua origem, vos dará novamente, na sua misericórdia, a respiração e a vida, uma
vez que vos desprezais agora a vós próprios, por amor às suas leis [...]
Peço-te, meu filho, que olhes para o céu e para a terra. Vê todas as coisas que
neles se encontram, para saberes que Deus não as fez do que já existia, e que o
mesmo sucede com o género humano» (2 Mac 7, 22-23.28).
298.
Uma vez que Deus pode criar «do nada», também pode, pelo Espírito Santo, dar a
vida da alma aos pecadores, criando neles um coração puro e a vida do corpo aos
defuntos, pela ressurreição. Ele que «dá a vida aos mortos e chama o que não
existe como se já existisse» (Rm 4, 17). E como, pela sua palavra, pôde fazer
que das trevas brilhasse a luz (130), pode também dar a luz da fé
aos que a ignoram (131).
DEUS CRIA UM MUNDO
ORDENADO E BOM
299.
Uma vez que Deus cria com sabedoria, a criação possui ordem. «Dispusestes tudo
com medida, número e peso» (Sb 11, 20). Criada no Verbo e pelo Verbo eterno,
«que é a imagem do Deus invisível» (Cl 1, 15), a criação destina-se e
orienta-se para o homem, imagem de Deus (132), chamado ele próprio a
uma relação pessoal com Deus. A nossa inteligência, participante da luz do
intelecto divino, pode entender o que Deus nos diz pela sua criação (133),
sem dúvida com grande esforço e num espírito de humildade e de respeito perante
o Criador e a sua obra (134). Saída da bondade divina, a criação
partilha dessa bondade («E Deus viu que isto era bom [...] muito bom»: Gn 1, 4.
10. 12. 18. 21. 31). Porque a criação é querida por Deus como um dom orientado
para o homem, como herança que lhe é destinada e confiada. A Igreja, em
diversas ocasiões, viu-se na necessidade de defender a bondade da criação,
mesmo a do mundo material (135).
DEUS TRANSCENDE A CRIAÇÃO
E ESTÁ PRESENTE NELA
300.
Deus é infinitamente maior do que todas as suas obras (136): «A
vossa majestade está acima dos céus» (Sl 8, 2), «insondável é a sua grandeza»
(Sl 145, 3). Mas, porque Ele é o Criador soberano e livre, causa primeira de
tudo quanto existe, está presente no mais íntimo das suas criaturas: «É n'Ele
que vivemos, nos movemos e existimos» (Act 17, 28). Segundo as palavras de
Santo Agostinho, Ele é «superior summo meo et interior intimo meo — Deus está
acima do que em mim há de mais elevado e é mais interior do que aquilo que eu
tenho de mais íntimo» (137).
DEUS SUSTENTA E CONDUZ A
CRIAÇÃO
301.
Depois da criação, Deus não abandona a criatura a si mesma. Não só lhe dá o ser
e o existir, mas a cada instante a mantém no ser, lhe dá o agir e a conduz ao
seu termo. Reconhecer esta dependência total do Criador é fonte de sabedoria e
de liberdade, de alegria e de confiança:
«Vós
amais tudo quanto existe e não tendes aversão a coisa alguma que fizestes: se
tivésseis detestado alguma criatura, não a teríeis formado. Como poderia
manter-se qualquer coisa, se Vós não quisésseis? Como é que ela poderia durar,
se não a tivésseis chamado à existência? Poupais tudo, porque tudo é vosso, ó
Senhor, que amais a vida» (Sb 11, 24-26).
V. Deus realiza o seu
desígnio: a divina Providência
302.
A criação tem a sua bondade e a sua perfeição próprias, mas não saiu totalmente
acabada das mãos do Criador. Foi criada «em estado de caminho» («in statu
viae») para uma perfeição última ainda a atingir e a que Deus a destinou.
Chamamos divina Providência às disposições pelas quais Deus conduz a sua
criação em ordem a essa perfeição:
«Deus
guarda e governa, pela sua Providência, tudo quanto criou, "atingindo com
força dum extremo ao outro e dispondo tudo suavemente" (Sb 8, 1). Porque
"tudo está nu e patente a seus olhos" (Heb 4, 13), mesmo aquilo que
depende da futura acção livre das criaturas» (138).
303.
É unânime, a este respeito, o testemunho da Escritura: a solicitude da divina
Providência é concreta e imediata, cuida de tudo, desde os mais insignificantes
pormenores até aos grandes acontecimentos do mundo e da história. Os livros
santos afirmam, com veemência, a soberania absoluta de Deus no decurso dos
acontecimentos: «Tudo quanto Lhe aprouve, o nosso Deus o fez, no céu e na
terra» (Sl 115, 3); e de Cristo se diz: «que abre e ninguém fecha, e fecha e
ninguém abre» (Ap 3, 7); «há muitos projectos no coração do homem, mas é a
vontade do Senhor que prevalece» (Pr 19, 21).
304.
É assim que, muitas vezes, vemos o Espírito Santo, autor principal da Sagrada
Escritura, atribuir a Deus certas acções, sem mencionar causas-segundas. Isso
não é «uma maneira de dizer» primitiva, mas sim um modo profundo de afirmar o
primado de Deus e o seu senhorio absoluto sobre a história e sobre o mundo (139)
e de ensinar a ter confiança n'Ele. A oração dos Salmos é, aliás, a grande
escola desta confiança (140).
305.
Jesus reclama um abandono filial à Providência do Pai celeste, que cuida das
mais pequenas necessidades dos seus filhos: «Não vos inquieteis, dizendo: Que
havemos de comer? Que havemos de beber? [...] Bem sabe o vosso Pai celeste que
precisais de tudo isso. Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça e
tudo o mais vos será dado por acréscimo» (Mt 6, 31-33) (141).
A PROVIDÊNCIA E AS CAUSAS
SEGUNDAS
306.
Deus é o Senhor soberano dos seus planos. Mas, para a realização dos mesmos,
serve-Se também do concurso das criaturas. Isto não é um sinal de fraqueza, mas
da grandeza e bondade de Deus omnipotente. É que Ele não só permite às suas
criaturas que existam, mas confere-lhes a dignidade de agirem por si mesmas, de
serem causa e princípio umas das outras e de cooperarem, assim, na realização
do seu desígnio.
307.
Aos homens, Deus concede mesmo poderem participar livremente na sua
Providência, confiando-lhes a responsabilidade de «submeter» a terra e
dominá-la (142). Assim lhes concede que sejam causas inteligentes e
livres, para completar a obra da criação, aperfeiçoar a sua harmonia, para o
seu bem e o dos seus semelhantes. Cooperadores muitas vezes inconscientes da
vontade divina, os homens podem entrar deliberadamente no plano divino, pelos
seus actos e as suas orações, como também pelos seus sofrimentos (143).
Tornam-se, então, plenamente «colaboradores de Deus» (1 Cor 3, 9) (144)
e do seu Reino (145).
308.
Esta é uma verdade inseparável da fé em Deus Criador: Deus age em toda a acção
das suas criaturas. É Ele a causa-primeira, que opera nas e pelas
causas-segundas: «É Deus que produz em nós o querer e o operar, segundo o seu
beneplácito» (Fl 2, 13) (146). Longe de diminuir a dignidade da
criatura, esta verdade realça-a. Tirada «do nada» pelo poder, sabedoria e
bondade de Deus, a criatura separada da sua origem, nada pode, porque «a
criatura sem o Criador esvai-se» (147). Muito menos pode atingir o
seu fim último, sem a ajuda da graça (148).
___________________________
Notas:
106. Cf. I Concílio do Vaticano,
Const. dogm. Dei Fillius, De
Revelatione. canon I: DS 3026.
107.
Cf. Act 17, 24-29; Rm 1, 19-20.
108.
Cf. Is 43, 1.
109.
Cf. Gn 15, 5; Jr 33, 19-26.
110.
Cf. Is 44, 24.
111. Cf. S1 104.
112. Cf. Pr 8. 22-31.
113. Símbolo
Niceno-Constantinopolitano: DS 150.
114. Liturgia Bizantina. Tropário das
Vésperas de Pentecostes: Pentêkostáriom (Rome 1883). 408.
115. Cf. Sl 33, 6; 104. 30; Gn 1, 2-3.
116. Santo Irineu de Lião, Adversus
haereses, 2, 30, 9: SC 294, 318-320 (PG 7, 822).
117. Ibidem, 4, 20, 1: SC 100, 626 (PG
7, 1032).
118. I Concílio Vaticano, Const dogm.
Dei Filius. De Deo rerum omnium Creatore, canon 5: DS 3025.
119. São Boavenura, In secundum librum
Sententiarum, dist. 1. p. 2. a. 2, q. 1. concl.: Opera omnia, v. 2 (Ad Claras
Aquas 1885), p. 44.
120. São Tomás de Aquino, Commentum in
secundum librum Sententiarum, Prologus: Opera omnia, v. 8 (Parisiis 1873), p.
2.
121. I Concílio do Vaticano, Const.
dogm. Dei Filius, c. 1: DS 3002.
122. Santo Ireneu de Lião, Adversus
haereses 4, 20, 7: SC 100, 648 (PG 7, 1037).
123. II Concílio do Vaticano, Decr. Ad gentes. 2: AAS
58 (1966) 948.
124.
Cf. Sb 9, 9.
125. I Concílio do Vaticano. Const.
dogm. Dei Filius, c. 1: DS 3002.
126. I Concílio do Vaticano. Const.
dogm. Dei Filius, De Deo rerum omnium Creatore, canones 1-4: DS 3023-3024.
127. IV Concílio de Latrão, Cap. 2. De
fide catholica: DS 800; I Concílio do Vaticano. Const. dogm. Dei Filius,. Const.
dogm. Dei Filiu.s, De Deo rerum omnium Creatore, canon 5: DS 3025.
128. São Teófilo de Antioquia, Ad
Autolycum, 2. 4; SC 20. 102 (PG 6. 1052).
130.
Cf. Gn 1, 3.
131.
Cf. 2 Cor 4, 6.
132.
Cf. Cf. Gn 1, 26.
133. Cf. Sl 19, 2-5.
134. Cf. Job 42, 3.
135. Cf. São Leão Magno, Ep Quam
laudabiliter: DS 286: I Concílio de Braga, Anathematismi praesertim contra
Priscillianistas, 5-13: DS 455-463: IV Concílio de Latrão, Cap. 2, De fide
catholica: DS 800; Concílio de Florença, Decretam pro Iacobitis: DS 1333. I Concílio
do Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, c. 1: DS 3002.
136. Cf. Sir 43, 30.
137. Santo Agostinho, Confissões, 3,
6, 11: CCL 27, 33 (PL 32, 688).
138. I Concílio do Vaticano, Const.
dogm. Dei
Filius, c. 1: DS 3003.
139.
Cf. Is 10, 5-15: 45, 5-7: Dt 32, 39: Sir 11, 14.
140.
Cf. Sl 22; 32; 35; 103; 138; etc.
142.
Cf. Gn 1, 26-28.
143.
Cf. Cl 1, 24.
144.
Cf. 1 Ts 3, 2.
145.
Cf. Cl 4, 11.
146.
Cf. 1 Cor 12, 6.
147. II Concílio do Vaticano, Const.
past. Gaudium
et spes. 36: AAS 58 (1966) 1054.
148.
Cf. Mt 19, 26: Jo 15, 5; Fl 4, 13.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.