A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho:
Mt 21, 33-46
33 «Ouvi outra parábola: Havia um pai de família que plantou uma vinha,
e a cercou com uma sebe, e cavou nela um lagar e edificou uma torre; depois,
arrendou-a a uns vinhateiros, e ausentou-se daquela região. 34
Estando próxima a época da colheita, enviou os seus servos aos vinhateiros para
receberem os frutos da sua vinha. 35 Mas os vinhateiros, agarrando
os servos, feriram um, mataram outro, e a outro apedrejaram-no. 36
Enviou novamente outros servos em maior número do que os primeiros, e
fizeram-lhes o mesmo. 37 Por último enviou-lhes seu filho, dizendo:
“Hão-de respeitar o meu filho”. 38 Porém, os vinhateiros, vendo o
filho, disseram entre si: “Este é o herdeiro; vamos, matemo-lo, e ficaremos com
a herança”. 39 E, agarrando-o, puseram-no fora da vinha, e
mataram-no. 40 Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará
àqueles vinhateiros?». 41 Responderam-Lhe: «Matará sem piedade esses
malvados, e arrendará a sua vinha a outros vinhateiros que lhe paguem o fruto a
seu tempo». 42 Jesus disse-lhes: «Nunca lestes nas Escrituras: “A
pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular; pelo Senhor foi
feito isto, e é coisa maravilhosa aos nossos olhos”? 43 Por isso vos
digo que vos será tirado o reino de Deus e será dado a um povo que produza os
seus frutos. 44 Quem cair sobre esta pedra far-se-á em pedaços, e
aquele sobre quem ela cair ficará esmagado». 45 Tendo os príncipes
dos sacerdotes e os fariseus ouvido as Suas parábolas, perceberam que falava
deles. 46 Procuravam prendê-l'O, mas tiveram medo do povo, porque
este O tinha como um profeta.
C. I. C. nr. 26 a 87
26.
Quando professamos a nossa fé, começamos por dizer: «Creio», ou «Cremos».
Portanto, antes de expor a fé da Igreja, tal como é confessada no Credo,
celebrada na liturgia, vivida na prática dos mandamentos e na oração,
perguntemos a nós mesmos o que significa «crer». A fé é a resposta do homem a
Deus, que a ele Se revela e Se oferece, resposta que, ao mesmo tempo, traz uma
luz superabundante ao homem que busca o sentido último da sua vida. Comecemos,
pois, por considerar esta busca do homem (capítulo primeiro): depois, a
Revelação divina pela qual Deus vem ao encontro do homem (capítulo segundo);
finalmente, a resposta da fé (capítulo terceiro).
III. O conhecimento de
Deus segundo a Igreja
36.
«A Santa Igreja, nossa Mãe, atesta e ensina que Deus, princípio e fim de todas
as coisas, pode ser conhecido, com certeza, pela luz natural da razão humana, a
partir das coisas criadas» ([i]).
Sem esta capacidade, o homem não poderia acolher a revelação de Deus. O homem
tem esta capacidade porque foi criado «à imagem de Deus» (Gn 1, 27).
37.
Nas condições históricas em que se encontra, o homem experimenta, no entanto,
muitas dificuldades para chegar ao conhecimento de Deus só com as luzes da
razão:
«Com
efeito, para falar com simplicidade, apesar de a razão humana poder
verdadeiramente, pelas suas forças e luz naturais, chegar a um conhecimento
verdadeiro e certo de um Deus pessoal, que protege e governa o mundo pela sua
providência, bem como de uma lei natural inscrita pelo Criador nas nossas
almas, há, contudo, bastantes obstáculos que impedem esta mesma razão de usar
eficazmente e com fruto o seu poder natural, porque as verdades que dizem
respeito a Deus e aos homens ultrapassam absolutamente a ordem das coisas
sensíveis; e quando devem traduzir-se em actos e informar a vida, exigem que
nos dêmos e renunciemos a nós próprios. O espírito humano, para adquirir
semelhantes verdades, sofre dificuldade da parte dos sentidos e da imaginação,
bem como dos maus desejos nascidos do pecado original. Daí deriva que, em tais
matérias, os homens se persuadem facilmente da falsidade ou, pelo menos, da
incerteza das coisas que não desejariam fossem verdadeiras» ([ii]).
38.
É por isso que o homem tem necessidade de ser esclarecido pela Revelação de
Deus, não somente no que diz respeito ao que excede o seu entendimento, mas
também sobre «as verdades religiosas e morais que, de si, não são inacessíveis
à razão, para que possam ser, no estado actual do género humano, conhecidas por
todos sem dificuldade, com uma certeza firme e sem mistura de erro» ([iii]).
IV. Como falar de Deus?
39.
Ao defender a capacidade da razão humana para conhecer Deus, a Igreja exprime a
sua confiança na possibilidade de falar de Deus a todos os homens e com todos
os homens. Esta convicção está na base do seu diálogo com as outras religiões,
com a filosofia e as ciências, e também com os descrentes e os ateus.
40.
Mas dado que o nosso conhecimento de Deus é limitado, a nossa linguagem, ao
falar de Deus, também o é. Não podemos falar de Deus senão a partir das
criaturas e segundo o nosso modo humano limitado de conhecer e de pensar.
41.
Todas as criaturas são portadoras duma certa semelhança de Deus, muito especialmente
o homem, criado à imagem e semelhança de Deus. As múltiplas perfeições das
criaturas (a sua verdade, a sua bondade, a sua beleza) reflectem, pois, a
perfeição infinita de Deus. Daí que possamos falar de Deus a partir das
perfeições das suas criaturas: «porque a grandeza e a beleza das criaturas
conduzem, por analogia, à contemplação do seu Autor» (Sb 13, 5).
42.
Deus transcende toda a criatura. Devemos, portanto, purificar incessantemente a
nossa linguagem no que ela tem de limitado, de ilusório, de imperfeito, para
não confundir o Deus «inefável, incompreensível, invisível, impalpável» ([iv])
com as nossas representações humanas. As nossas palavras humanas ficam sempre
aquém do mistério de Deus.
43.
Ao falar assim de Deus, a nossa linguagem exprime-se, evidentemente, de modo
humano. Mas atinge realmente o próprio Deus, sem todavia poder exprimi-Lo na
sua infinita simplicidade. Devemos lembrar-nos de que, «entre o Criador e a
criatura, não é possível notar uma semelhança sem que a dissemelhança seja
ainda maior» ([v]),
e de que «não nos é possível apreender de Deus o que Ele é, senão apenas o que
Ele não é, e como se situam os outros seres em relação a Ele» ([vi]).
Resumindo:
44.
O homem é, por natureza e vocação, um ser religioso. Vindo de Deus e caminhando
para Deus, o homem não vive uma vida plenamente humana senão na medida em que
livremente viver a sua relação com Deus.
45.
O homem foi feito para viver em comunhão com Deus, em quem encontra a sua
felicidade: «Quando eu estiver todo em Ti, não mais haverá tristeza nem
angústia; inteiramente repleta de Ti, a minha vida será vida plena» ([vii]).
46.
Quando escuta a mensagem das criaturas e a voz da sua consciência, o homem pode
alcançar a certeza da existência de Deus, causa e fim de tudo.
47.
A Igreja ensina que o Deus único e verdadeiro, nosso Criador e Senhor; pode ser
conhecido com certeza pelas suas obras, graças à luz natural da razão humana ([viii]).
48.
Nós podemos realmente falar de Deus partindo das múltiplas perfeições das
criaturas, semelhanças de Deus infinitamente perfeito, ainda que a nossa
linguagem limitada não consiga esgotar o mistério.
49.
«A criatura sem o Criador esvai-se» ([ix]).
Por isso, os crentes sentem-se pressionados pelo amor de Cristo a levar a luz
do Deus vivo aos que O ignoram ou rejeitam.
DEUS AO ENCONTRO DO HOMEM
50.
Pela razão natural, o homem pode conhecer Deus com certeza, a partir das suas
obras. Mas existe outra ordem de conhecimento, que o homem de modo nenhum pode
atingir por suas próprias forças: a da Revelação divina ([x]1).
Por uma vontade absolutamente livre, Deus revela-Se e dá-Se ao homem. E fá-lo
revelando o seu mistério, o desígnio benevolente que, desde toda a eternidade,
estabeleceu em Cristo, em favor de todos os homens. Revela plenamente o seu
desígnio, enviando o seu Filho bem-amado, nosso Senhor Jesus Cristo, e o
Espírito Santo.
ARTIGO
1
A REVELAÇÃO DE DEUS
I. Deus revela o seu
«desígnio benevolente»
51.
«Aprouve a Deus, na sua sabedoria e bondade, revelar-Se a Si mesmo e dar a
conhecer o mistério da sua vontade, segundo o qual os homens, por meio de
Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tomam
participantes da natureza divina» ([xi]2).
52.
Deus, que «habita numa luz inacessível» (1 Tm 6, 16), quer comunicar a sua
própria vida divina aos homens que livremente criou, para fazer deles, no seu
Filho único, filhos adoptivos ([xii]).
Revelando-Se a Si mesmo, Deus quer tornar os homens capazes de Lhe responderem,
de O conhecerem e de O amarem, muito para além de tudo o que seriam capazes por
si próprios.
53.
O desígnio divino da Revelação realiza-se, ao mesmo tempo, «por meio de acções
e palavras, intrinsecamente relacionadas entre si» ([xiii])
e esclarecendo-se mutuamente. Comporta uma particular «pedagogia divina»: Deus
comunica-Se gradualmente ao homem e prepara-o, por etapas, para receber a
Revelação sobrenatural que faz de Si próprio e que vai culminar na Pessoa e
missão do Verbo encarnado, Jesus Cristo.
Santo
Ireneu de Lião fala várias vezes desta pedagogia divina, sob a imagem da
familiaridade mútua entre Deus e o homem: «O Verbo de Deus [...] habitou no
homem e fez-Se Filho do Homem, para acostumar o homem a apreender Deus e Deus a
habitar no homem, segundo o beneplácito do Pai» ([xiv]).
II. As etapas da Revelação
DESDE A ORIGEM, DEUS DÁ-SE
A CONHECER
54.
«Deus, criando e conservando todas as coisas pelo Verbo, oferece aos homens um
testemunho perene de Si mesmo nas coisas criadas, e, além disso, decidindo
abrir o caminho da salvação sobrenatural, manifestou-se a Si mesmo, desde o
princípio, aos nossos primeiros pais» ([xv]).
Convidou-os a uma comunhão íntima consigo, revestindo-os de uma graça e justiça
resplandecentes.
55.
Esta Revelação não foi interrompida pelo pecado dos nossos primeiros pais. Com
efeito, Deus, «depois da sua queda, com a promessa de redenção, deu-lhes a
esperança da salvação, e cuidou continuamente do género humano, para dar a vida
eterna a todos aqueles que, perseverando na prática das boas obras, procuram a
salvação» ([xvi]).
«E
quando, por desobediência, perdeu a vossa amizade, não o abandonastes ao poder
da morte [...] Repetidas vezes fizestes aliança com os homens ([xvii])».
A ALIANÇA COM NOÉ
56.
Desfeita a unidade do género humano pelo pecado, Deus procurou imediatamente,
salvar a humanidade intervindo com cada uma das suas partes. A aliança com Noé,
a seguir ao dilúvio ([xviii]),
exprime o princípio da economia divina em relação às «nações», quer dizer, em
relação aos homens reagrupados «por países e línguas, por famílias e nações»
(Gn 10, 5) ([xix]).
57.
Esta ordem, ao mesmo tempo cósmica, social e religiosa da pluralidade das
nações ([xx]),
destinava-se a limitar o orgulho duma humanidade decaída, que, unânime na sua
perversidade ([xxi]),
pretendia refazer por si mesma a própria unidade, à maneira de Babel ([xxii]).
Mas, por causa do pecado ([xxiii]),
quer o politeísmo quer a idolatria da nação e do seu chefe são uma contínua
ameaça de perversão pagã a esta economia provisória.
58.
A aliança com Noé permanece em vigor enquanto durar o tempo das nações ([xxiv]),
até à proclamação universal do Evangelho. A Bíblia venera algumas grandes
figuras das «nações», como «o justo Abel», o rei e sacerdote Melquisedech ([xxv]),
figura de Cristo ([xxvi]),
ou os justos «Noé, Daniel e Job» (Ez 14, 14). Deste modo, a Escritura exprime o
alto grau de santidade que podem atingir os que vivem segundo a aliança de Noé,
na expectativa de que Cristo «reúna, na unidade, todos os filhos de Deus
dispersos» (Jo 11, 52).
DEUS ELEGE ABRAÃO
59.
Para reunir a humanidade dispersa, Deus escolhe Abrão, chamando-o para «deixar
a sua terra, a sua família e a casa de seu pai» (Gn 12, 1), para o fazer
Abraão, quer dizer, «pai de um grande número de nações» (Gn 17, 5): «Em ti
serão abençoadas todas as nações da Terra» (Gn 12, 3) ([xxvii]).
60.
O povo descendente de Abraão será o depositário da promessa feita aos
patriarcas, o povo eleito ([xxviii]),
chamado a preparar a reunião, um dia, de todos os filhos de Deus na unidade da
Igreja ([xxix]).
Será o tronco em que serão enxertados os pagãos tornados crentes ([xxx]).
61.
Os patriarcas, os profetas e outras personagens do Antigo Testamento foram, e
serão sempre, venerados como santos em todas as tradições litúrgicas da Igreja.
DEUS FORMA O SEU POVO
ISRAEL
62.
Depois dos patriarcas, Deus formou Israel como seu povo, salvando-o da escravidão
do Egipto. Concluiu com ele a aliança do Sinai e deu-lhe, por Moisés, a sua
Lei, para que Israel O reconhecesse e O servisse como único Deus vivo e
verdadeiro, Pai providente e justo Juiz, e vivesse na expectativa do Salvador
prometido ([xxxi]).
63.
Israel é o povo sacerdotal de Deus ([xxxii]),
sobre o qual «foi invocado o Nome do Senhor» (Dt 28, 10). É o povo daqueles «a
quem Deus falou em primeiro lugar» ([xxxiii]),
o povo dos «irmãos mais velhos» na fé de Abraão ([xxxiv]).
64.
Pelos profetas, Deus forma o seu povo na esperança da salvação, na expectativa
duma aliança nova e eterna, destinada a todos os homens ([xxxv]),
e que será gravada nos corações ([xxxvi]).
Os profetas anunciam uma redenção radical do povo de Deus, a purificação de
todas as suas infidelidades ([xxxvii]),
uma salvação que abrangerá todas as nações ([xxxviii]).
Serão sobretudo os pobres e os humildes do Senhor ([xxxix])
os portadores desta esperança. As mulheres santas como Sara, Rebeca, Raquel,
Míriam, Débora, Ana, Judite e Ester conservaram viva a esperança da salvação de
Israel. Maria é a imagem puríssima desta esperança ([xl]).
III. Jesus Cristo –
«Mediador e plenitude de toda a Revelação» ([xli])
NO SEU VERBO, DEUS DISSE
TUDO
65.
«Muitas vezes e de muitos modos falou Deus antigamente aos nossos pais, pelos
Profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos pelo seu Filho» (Heb 1,
1-2). Cristo, Filho de Deus feito homem, é a Palavra única, perfeita e
insuperável do Pai.
N'Ele,
o Pai disse tudo. Não haverá outra palavra além dessa. São João da Cruz, após
tantos outros, exprime-o de modo luminoso, ao comentar Heb 1, 1-2:
«Ao
dar-nos, como nos deu, o seu Filho, que é a sua Palavra – e não tem outra –
(Deus) disse-nos tudo ao mesmo tempo e de uma só vez nesta Palavra única e já
nada mais tem para dizer. [...] Porque o que antes disse parcialmente pelos
profetas, revelou-o totalmente, dando-nos o Todo que é o seu Filho. E por isso,
quem agora quisesse consultar a Deus ou pedir-Lhe alguma visão ou revelação,
não só cometeria um disparate, mas faria agravo a Deus, por não pôr os olhos
totalmente em Cristo e buscar fora d'Ele outra realidade ou novidade» ([xlii]).
JÁ NÃO HAVERÁ OUTRA
REVELAÇÃO
66.
«Portanto, a economia cristã, como nova e definitiva aliança, jamais passará, e
já não se há-de esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa
manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo» ([xliii]).
No entanto, apesar de a Revelação já estar completa, ainda não está plenamente
explicitada. E está reservado à fé cristã apreender gradualmente todo o seu
alcance, no decorrer dos séculos.
67.
No decurso dos séculos tem havido revelações ditas «privadas», algumas das
quais foram reconhecidas pela autoridade da Igreja. Todavia, não pertencem ao
depósito da fé. O seu papel não é «aperfeiçoar» ou «completar» a Revelação
definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente, numa determinada
época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o sentir dos fiéis sabe
discernir e guardar o que nestas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo
ou dos seus santos à Igreja.
A
fé cristã não pode aceitar «revelações» que pretendam ultrapassar ou corrigir a
Revelação de que Cristo é a plenitude. É o caso de certas religiões
não-cristãs, e também de certas seitas recentes fundadas sobre tais
«revelações».
Resumindo:
68.
Por amor, Deus revelou-Se e deu-Se ao homem. Dá assim uma resposta definitiva e
superabundante às questões que o homem se põe a si próprio sobre o sentido e o
fim da sua vida.
69.
Deus revelou-Se ao homem, comunicando-lhe gradualmente o seu próprio mistério,
por acções e por palavras.
70.
Além do testemunho que dá de Si mesmo através das coisas criadas, Deus
manifestou-Se a Si próprio aos nossos primeiros pais. Falou-lhes e, depois da
queda, prometeu-lhes a salvação ([xliv])
e ofereceu-lhes a sua aliança.
71.
Deus concluiu com Noé uma aliança eterna entre Si e todos os seres vivos ([xlv]).
Essa aliança durará enquanto durar o mundo.
72.
Deus escolheu Abraão e concluiu uma aliança com ele e os seus descendentes. Fez
deles o seu povo, ao qual revelou a sua Lei por meio de Moisés. E preparou-o,
pelos profetas, a acolher a salvação destinada a toda a humanidade.
73.
Deus revelou-Se plenamente enviando o seu próprio Filho, no qual estabeleceu a
sua aliança para sempre. O Filho é a Palavra definitiva do Pai, de modo que,
depois d'Ele, não haverá outra Revelação.
ARTIGO 2
A TRANSMISSÃO DA REVELAÇÃO
DIVINA
74.
Deus «quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade»
(1 Tm 2, 4), quer dizer, de Cristo Jesus ([xlvi]).
Por isso, é preciso que Cristo seja anunciado a todos os povos e a todos os
homens, e que, assim a Revelação chegue aos confins do mundo:
Deus
dispôs amorosamente que permanecesse íntegro e fosse transmitido a todas as
gerações tudo quanto tinha revelado para salvação de todos os povos ([xlvii]).
I. A Tradição apostólica
75.
«Cristo Senhor, em quem toda a revelação do Deus altíssimo se consuma, tendo
cumprido e promulgado pessoalmente o Evangelho antes prometido pelos profetas,
mandou aos Apóstolos que o pregassem a todos, como fonte de toda a verdade
salutar e de toda a disciplina de costumes, comunicando-lhes assim os dons
divinos» ([xlviii]).
A PREGAÇÃO APOSTÓLICA…
76.
A transmissão do Evangelho, segundo a ordem do Senhor, fez-se de duas maneiras:
–
oralmente, «pelos Apóstolos, que, na sua pregação oral, exemplos e instituições,
transmitiram aquilo que tinham recebido dos lábios, trato e obras de Cristo, e
o que tinham aprendido por inspiração do Espírito Santo»;
–
por escrito, «por aqueles apóstolos e varões apostólicos que, sob a inspiração
do mesmo Espírito Santo, escreveram a mensagem da salvação» ([xlix]).
... CONTINUADA NA SUCESSÃO
APOSTÓLICA
77.
«Para que o Evangelho fosse perenemente conservado íntegro e vivo na Igreja, os
Apóstolos deixaram os bispos como seus sucessores, "entregando-lhes o seu
próprio ofício de magistério"» ([l]).
Com efeito, «a pregação apostólica, que se exprime de modo especial nos livros
inspirados, devia conservar-se, por uma sucessão ininterrupta, até à consumação
dos tempos» ([li]).
78.
Esta transmissão viva, realizada no Espírito Santo, denomina-se Tradição,
enquanto distinta da Sagrada Escritura, embora estreitamente a ela ligada. Pela
Tradição, «a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a
todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo em que acredita» ([lii]).
«Afirmações dos santos Padres testemunham a presença vivificadora desta
Tradição, cujas riquezas entram na prática e na vida da Igreja crente e orante»
([liii]).
79.
Assim, a comunicação que o Pai fez de Si próprio, pelo seu Verbo, no Espírito
Santo, continua presente e activa na Igreja: «Deus, que outrora falou, dialoga
sem interrupção com a esposa do seu amado Filho; e o Espírito Santo – por quem
ressoa a voz do Evangelho na Igreja, e, pela Igreja, no mundo – introduz os
crentes na verdade plena e faz com que a palavra de Cristo neles habite em toda
a sua riqueza» ([liv]).
II. A relação entre a
Tradição e a Sagrada Escritura
UMA FONTE COMUM...
80.
«A Tradição sagrada e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e
compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina,
fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim» ([lv]).
Uma e outra tornam presente e fecundo na Igreja o mistério de Cristo, que
prometeu estar com os seus, «sempre, até ao fim do mundo» (Mt 28, 20).
... DUAS FORMAS DE
TRANSMISSÃO DISTINTAS
81.
«A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do
Espírito divino».
«A
sagrada Tradição, por sua vez, conserva a Palavra de Deus, confiada por Cristo
Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, e transmite-a integralmente aos
seus sucessores, para que eles, com a luz do Espírito da verdade, fielmente a
conservem, exponham e difundam na sua pregação» ([lvi]).
82.
Daí resulta que a Igreja, a quem está confiada a transmissão e interpretação da
Revelação, «não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas
as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual
espírito de piedade e reverência» ([lvii]).
[i] I
Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, c. 2: DS 3004: cf. Ibid., De
Revelatione, canon 2: DS 3026; II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei
Verbum. 6: AAS 58 (1966) 819.
[ii]
Pio XII. Enc. Humani Generis: DS 3875.
[iii] Ibid.,
DS 3876. Cf. I Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Filius. c. 2: DS 3005; II
Concílio do Vaticano. Const. dogm. Dei Verbum. 6: AAS 58 (1966) 819-820; São
Tomás de Aquino, Summa theologiae, I, q. 1, a. 1, c.: Ed. Leon. 4. 6.
[iv] Liturgia
Bizantina. Anáfora de São João Crisóstomo: Liturgies Eastern and Western, ed.
F. E. Brightman, Oxford 1896. p. 384 (PG 63, 915).
[v] IV
Concílio de Latrão, Cap. 2. De errore abbatis Ioachim: DS 806.
[vi] São
Tomás de Aquino, Summa contra gentiles I 30: Ed. Leon. 13, 92.
[vii] Santo
Agostinho, Confissões X, 28, 39: CCL 27, 175 (PL 32. 795).
[viii] I
Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Filius, De revelatione, canon 2: DS 3026.
[ix] II
Concílio do Vaticano II, Const. past. Gaudium et Spes, 36: AAS 58 (1966) 1054.
[xi] II Concílio do
Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 2: AAS 58 (1966) 818.
[xii] Cf. Ef 1, 4-5.
[xiii] II Concílio do
Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 2: AAS 58 (1966) 818.
[xiv] Santo Ireneu de
Lião, Adversus haereses III, 20, 2: SC 211, 392 (PG 7, 944); cf. por exemplo,
Ibid. III 17, I: SC 211. 330 (PG 7, 929); Ibid. IV, 12. 4:
SC 100, 518 (PG 7, 1006); Ibid. IV 21, 3: SC 100, 684 (PG 7, 1046).
[xv] II Concílio do
Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 3: AAS 58 (1966) 818.
[xvi] II Concílio do
Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 3: AAS 58 (1966) 818.
[xvii] Oração eucarística
IV: Missal Romano, editio typica. Typis Polyglottis Vaticanis. 1970 p. 467.
[Gráfica de Coimbra 1992, p. 538].
[xxx] Cf. Rm 11, 17-18.
24.
[xxxi] II Concílio do
Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 3: AAS 58 (1966) 818.
[xxxii] Cf. Ex 19, 6.
[xxxiii] Sexta-Feira da
Paixão do Senhor. Oração universal VI: Missale Romanum. editio typica. Typis
Polyglottis Vaticanis 1975, p. 254 [a tradução oficial portuguesa omite este
particular: Missal Romano. Gráfica de Coimbra 1992. p. 259.267].
[xxxiv] João Paulo II,
Discurso na sinagoga durante o encontro com a comunidade hebraica da cidade de
Roma (13 de Abril de 1986), 4: Insegnamenti di Giovanni Paolo II, IX/1, 1027.
[xli] II Concílio do
Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 2: AAS 58 (1966) 818.
[xlii] São João da Cruz,
Subida del monte Carmelo 2, 22, 3-5: Biblioteca Mística Carmelitana, v. 11,
Burgos 1929. p. 184. [ID. Obras Completas (Paço de Arcos, Edições Carmelo 1986)
p. 196 = Segunda leitura do Ofício de Leituras da Segunda-Feira da II Semana do
Advento].
[xliii] II Concílio do
Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 4: AAS 58 (1966) 819.
[xliv] Cf. Gn 3, 15.
[xlv] Cf. Gn 9, 16.
[xlvi] Cf. Jo 14, 6.
[xlvii] II Concílio do
Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 7: AAS 58 (1966) 820.
[xlviii] II Concílio do
Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 7: AAS 58 (1966) 820.
[xlix] II Concílio do
Vaticano, Const. dogn. Dei Verbum, 7: AAS 58 (1966) 820.
[l] II Concílio do Vaticano,
Const. dogm. Dei Verbum, 7: AAS 58 (1966) 820.
[li] II Concílio do
Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 8: AAS 58 (1966) 821.
[lii] II Concílio do
Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 8: AAS 58 (1966) 821.
[liii] II Concílio do
Vaticano. Const. dogm. Dei Verbum, 8: AAS 58 (1966) 821.
[liv] II Concílio do
Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 8: AAS 58 (1966) 821.
[lv] II Concílio do
Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 9: AAS 58 (1966) 821.
[lvi] II Concílio do
Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 9: AAS 58 (1966) 821.
[lvii] II Concílio do
Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 9: AAS 58 (1966) 821.
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