14/12/2012

Tratado da bem-aventurança 10


Questão 2: Em que consiste a bem-aventurança do homem.

Art. 2 — Se a bem-aventurança do homem consiste na honra.




(III Cont. Gent., cap. XXVIII, I Ethic., lect V).

O segundo discute-se assim. — Parece que a bem-aventurança do homem consiste na honra.


1. — Pois, como diz o Filósofo, a bem-aventurança ou felicidade é o prémio da virtude. Ora, tal prémio o é por excelência a honra no dizer do mesmo Filósofo. Logo, nela consiste, por excelência a bem-aventurança.

2. Demais. — O que principalmente convém a Deus e aos mais excelentes é a bem-aventurança, bem perfeito. Ora, tal é a honra, como diz o Filósofo e também a Escritura (1 Tm 1, 17): A Deus só seja honra e glória. Logo, a bem-aventurança consiste na honra.

3. Demais. — O maximamente desejado pelos homens é a bem-aventurança. Ora, nada é mais desejável por eles do que a honra, pois, suportam dano em tudo o mais, contanto que não padeçam nenhum detrimento na honra própria. Logo, a bem-aventurança consiste na honra.

Mas, em contrário. — A bem-aventurança está em quem é feliz. Ora, a honra não está em quem é honrado, mas antes, em quem honra, que presta reverência ao honrado, como diz o Filósofo. Logo, a bem-aventurança não consiste na honra.

É impossível a bem-aventurança consistir na honra. Pois, tributamos honra a alguém por alguma excelência sua, e assim é o sinal e o testemunho dessa excelência em quem é honrado. Ora, a excelência do homem funda-se sobretudo na bem-aventurança, que é dele o bem perfeito, e nas suas partes, i. é, naqueles bens pelos quais algo se participa da bem-aventurança. Donde, a honra pode por certo resultar da bem-aventurança, mas esta não pode consistir principalmente naquela.

DONDE A RESPOSTA A PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Como diz o Filósofo no mesmo passo, a honra não é o prémio da virtude, pelo qual mourejam os virtuosos, mas estes recebem daqueles como de quem nada maior tivesse que dar, como prémio. Mas o verdadeiro prémio da virtude é a própria bem-aventurança, pela qual mourejam os virtuosos. Se, pois, obrassem por causa da honra, já não haveria virtude, mas ambição.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A honra é devida a Deus e aos mais excelentes, como sinal ou testemunho da excelência preexistente, mas não que, em si os torne excelentes.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Do desejo natural da bem-aventurança, resultante da honra, como se disse, provém que os homens soberanamente a desejam. Donde, procuram sobretudo ser honrados pelos virtuosos, com cujo juízo se acreditam excelentes ou felizes.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.

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