Questão 113: Da guarda dos bons anjos.
Art. 4 — Se a todos os homens são delegados anjos da guarda.
(II Sent., dist. XI, part. I,
a. 3).
O
quarto discute-se assim. — Parece que nem a todos os homens são delegados anjos
da guarda.
1. — Pois, a Escritura, diz que Cristo é semelhante aos homens, e reconhecido por condição, como homem. Se pois a todos os homens fossem delegados anjos da guarda, também Cristo teria o seu anjo-custódio. Ora, isto é inconveniente, porque Cristo é maior que todos os anjos. Logo, nem a todos os homens são delegados anjos da guarda.
2.
Demais. — Adão foi o primeiro de todos os homens. Ora, ele não precisava de
nenhum anjo-custódio, ao menos no estado de inocência, porque então a nenhum
perigo estava exposto. Logo, os anjos não são prepostos como guardas, a todos
os homens.
3.
Demais. — Os anjos são delegados como guardas aos homens, para que os conduzam
à vida eterna, incitem-nos a bem agir e os defendam contra os ataques dos demónios.
Ora, os homens predestinados à condenação nunca chegarão à vida eterna, e
também os infiéis, embora por vezes façam obras boas, contudo não as fazem bem,
porque agem sem recta intenção, pois, a fé dirige a intenção, como diz
Agostinho. E por fim, o Anticristo virá por obra de Satanás, como diz a
Escritura. Logo, nem a todos os homens são deputados anjos da guarda.
Mas,
em contrário, é a autoridade aduzida, de Jerónimo, que diz: cada alma tem um
anjo da guarda que lhe é delegado.
O homem, colocado no estado da vida presente, está como na via, que conduz à
pátria. Ora, nessa via está ele exposto a muitos perigos, interiores e
exteriores, conforme a Escritura: No caminho por onde eu andava, esconderam-me
o laço. E por isso, assim como se dão guardas aos homens que andam por caminho
não seguro, assim a cada homem, enquanto viandante, é delegado um anjo da guarda.
Quando, porém já tiver chegado ao termo do caminho, não mais terá cada um o anjo-custódio,
mas sim, no céu, um anjo co-reinante e, no inferno, um demónio punidor.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Cristo, enquanto homem, sendo regido imediatamente
pelo verbo de Deus, não precisava da guarda dos anjos. E, demais, era, pela
alma, compreensor, mas era, em razão da passibilidade do corpo, viandante. E
por isso, não lhe era devido, nenhum anjo-custódio como superior, mas antes um
anjo ministrante, como inferior. Por onde, diz a Escritura: Os anjos se
aproximaram, e o serviam.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — O homem, no estado de inocência, não corria nenhum perigo
interior, porque, interiormente, tudo estava ordenado, como antes se disse. Mas
corria perigos exteriores, por causa das insídias dos demónios, como o provaram
os acontecimentos posteriores. E por isso precisava da guarda dos anjos.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Os predestinados à condenação, os infiéis e também o Anticristo,
não estando privados do auxílio interior da razão natural, não estão privados
também do auxílio exterior concedido por Deus a toda a natureza humana e que é
a guarda dos anjos. E esta guarda, embora não os ajude para merecerem, por boas
obras, a vida eterna, ajuda-nos contudo a fugir de certos males, pelos quais
podem prejudicar a si mesmos e aos outros, pois, os próprios demónios são
afastados pelos bons anjos, para que não façam tanto mal quanto querem. E
semelhantemente o Anticristo não fará o mal que quiser.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama
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