06/11/2012

Tratado sobre a conservação e o governo das coisas 45



Questão 113: Da guarda dos bons anjos.

Art. 4 — Se a todos os homens são delegados anjos da guarda.



(II Sent., dist. XI, part. I, a. 3).

O quarto discute-se assim. — Parece que nem a todos os homens são delegados anjos da guarda.


1. — Pois, a Escritura, diz que Cristo é semelhante aos homens, e reconhecido por condição, como homem. Se pois a todos os homens fossem delegados anjos da guarda, também Cristo teria o seu anjo-custódio. Ora, isto é inconveniente, porque Cristo é maior que todos os anjos. Logo, nem a todos os homens são delegados anjos da guarda.

2. Demais. — Adão foi o primeiro de todos os homens. Ora, ele não precisava de nenhum anjo-custódio, ao menos no estado de inocência, porque então a nenhum perigo estava exposto. Logo, os anjos não são prepostos como guardas, a todos os homens.

3. Demais. — Os anjos são delegados como guardas aos homens, para que os conduzam à vida eterna, incitem-nos a bem agir e os defendam contra os ataques dos demónios. Ora, os homens predestinados à condenação nunca chegarão à vida eterna, e também os infiéis, embora por vezes façam obras boas, contudo não as fazem bem, porque agem sem recta intenção, pois, a fé dirige a intenção, como diz Agostinho. E por fim, o Anticristo virá por obra de Satanás, como diz a Escritura. Logo, nem a todos os homens são deputados anjos da guarda.

Mas, em contrário, é a autoridade aduzida, de Jerónimo, que diz: cada alma tem um anjo da guarda que lhe é delegado.

O homem, colocado no estado da vida presente, está como na via, que conduz à pátria. Ora, nessa via está ele exposto a muitos perigos, interiores e exteriores, conforme a Escritura: No caminho por onde eu andava, esconderam-me o laço. E por isso, assim como se dão guardas aos homens que andam por caminho não seguro, assim a cada homem, enquanto viandante, é delegado um anjo da guarda. Quando, porém já tiver chegado ao termo do caminho, não mais terá cada um o anjo-custódio, mas sim, no céu, um anjo co-reinante e, no inferno, um demónio punidor.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Cristo, enquanto homem, sendo regido imediatamente pelo verbo de Deus, não precisava da guarda dos anjos. E, demais, era, pela alma, compreensor, mas era, em razão da passibilidade do corpo, viandante. E por isso, não lhe era devido, nenhum anjo-custódio como superior, mas antes um anjo ministrante, como inferior. Por onde, diz a Escritura: Os anjos se aproximaram, e o serviam.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O homem, no estado de inocência, não corria nenhum perigo interior, porque, interiormente, tudo estava ordenado, como antes se disse. Mas corria perigos exteriores, por causa das insídias dos demónios, como o provaram os acontecimentos posteriores. E por isso precisava da guarda dos anjos.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Os predestinados à condenação, os infiéis e também o Anticristo, não estando privados do auxílio interior da razão natural, não estão privados também do auxílio exterior concedido por Deus a toda a natureza humana e que é a guarda dos anjos. E esta guarda, embora não os ajude para merecerem, por boas obras, a vida eterna, ajuda-nos contudo a fugir de certos males, pelos quais podem prejudicar a si mesmos e aos outros, pois, os próprios demónios são afastados pelos bons anjos, para que não façam tanto mal quanto querem. E semelhantemente o Anticristo não fará o mal que quiser.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama

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