Em
seguida deve-se tratar da guarda dos bons anjos e da impugnação dos maus.
E
sobre a primeira questão oito artigos se discutem:
Art.
1 — Se os homens são guardados pelos anjos.
Art.
2 — Se cada homem é guardado por um anjo.
Art.
3 — Se guardar os homens pertence só à ínfima ordem dos anjos.
Art.
4 — Se a todos os homens são delegados anjos da guarda.
Art.
5 — Se o anjo é delegado para guardar o homem, desde o nascimento deste.
Art.
6 — Se o anjo da guarda às vezes abandona o homem para cuja guarda foi
deputado.
Art.
7 — Se os anjos se contristam com os males dos que guardam.
Art. 1 — Se os homens são
guardados pelos anjos.
(II
Sent., dist. XI, part. I, a. 1).
O
primeiro discute-se assim. — Parece que os homens não são guardados pelos
anjos.
1.
— Pois, guardas se delegam para os que não sabem ou não podem se guardar a si
mesmos, como as crianças e os doentes. Ora, o homem, pelo livre arbítrio, pode
guardar-se a si mesmo, e sabe guardar-se pelo conhecimento natural da lei
natural. Logo, não é guardado pelo anjo.
2.
Demais. — A guarda mais forte torna inútil a mais fraca. Ora, os homens são guardados
por Deus, conforme a Escritura: Não adormecerá, nem dormirá o que guarda
Israel. Logo, não é necessário o homem ser governado pelo anjo.
3.
Demais. — A perda do guardado redunda em negligência do guarda, por onde, diz a
Escritura: Guarda este homem: se ele fugir, a tua vida responderá pela vida
dele. Ora, muitos homens perecem quotidianamente caindo em pecado, aos quais os
anjos não podem socorrer, ou aparecendo visivelmente, ou fazendo milagres, ou
de qualquer modo semelhante. Portanto, os anjos seriam negligentes, se os
homens lhes tivessem sido entregues à guarda, o que é claramente falso.
Portanto, eles não são guardas dos homens.
Mas,
em contrário, diz a Escritura: Mandou aos seus anjos acerca de ti, que te
guardem em todos os teus caminhos.
Conforme a disposição da divina providência, todas as coisas móveis e
variáveis são movidas e regidas pelas imóveis e invariáveis. Assim, todos os
seres corpóreos, pelas substâncias espirituais imóveis, e os corpos inferiores,
pelos superiores, substancialmente invariáveis. E também nós somos regidos,
quanto às conclusões, em relacção às quais podemos opinar diversamente, pelos
princípios a que invariavelmente nos atemos. Ora, é manifesto, que o conhecimento
e os afectos do homem podem, em relacção às coisas que ele deve fazer, multiplamente
variar e falhar, quanto ao bem. E por isso é necessário que anjos sejam
delegados para guarda dos homens, que os rejam e movam para o bem.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Pelo livre arbítrio o homem pode de certo
modo evitar o mal, mas não suficientemente, porque os seus afectos bons são
enfraquecidos pelas múltiplas paixões da alma. Semelhantemente, também o
conhecimento universal da lei natural, que o homem naturalmente tem, de certo
modo o dirige para o bem, mas não suficientemente, porque acontece que ele se
engana muitas vezes, aplicando os princípios universais de direito às obras
particulares. Por onde, diz a Escritura: Os pensamentos dos mortais são
tímidos, e incertas as nossas providências. E, portanto, é necessária ao homem
a guarda dos anjos.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — São necessárias duas condições para se fazer o bem: que o afecto
se incline para ele, o que se dá em nós pelo hábito da virtude moral, e que a
razão descubra vias congruentes para realizar o bem da virtude, o que o
Filósofo atribui à prudência. Quanto à primeira, Deus guarda o homem,
infundindo-lhe graça e virtudes. Quanto à segunda, guarda-o como instrutor
universal, cuja instrução chega ao homem mediante os anjos como já se estabeleceu.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Assim como os homens desviam-se do instinto natural do bem, pela
paixão do pecado, assim também se desviam das inspirações dos bons anjos, que
procedem invisivelmente, iluminando-os, para bem agir. E por isso não é por
negligência dos anjos, mas por malícia própria, que eles perecem. E por graça
especial de Deus é que eles, contra a lei comum, às vezes aparecem visivelmente
aos homens, assim como também fazem milagres, contra a lei comum.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama
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