Questão 114: Do ataque dos demónios.
Art. 2 — Se tentar é próprio do diabo.
(II Sent., dist. XXI, q. 1, a.
1, Opusc. VII, Exposit. Orat. Dom., petit. VI, in Math., cap. IV, I Thess.,
cap. I lect. Unic.: Hebr., cap. XI, lect. IV).
O
segundo discute-se assim. — Parece que tentar não é próprio do diabo.
1. — Pois, a Escritura diz que Deus tenta: Tentou Deus a Abraão. Também a carne e o mundo tentam, e diz-se ainda que o homem tenta a Deus e a outro homem. Logo, não é próprio do demónio tentar.
2.
Demais. — O ignorante é que tenta. Ora, os demónios sabem o que devem fazer em relação
aos homens. Logo não tentam.
3.
Demais. — A tentação é via para o pecado. Ora este reside na vontade. Portanto,
como os demónios não podem imutar a vontade do homem, segundo já se
estabeleceu, resulta que deles não é próprio tentar.
Mas,
em contrário, diz a Escritura: Não vos haja tentado aquele que tenta: ao que, a
Glossa: ou seja, o diabo, cujo ofício é tentar.
Tentar é, propriamente, experimentar alguma coisa, e experimenta-se para que
se saiba algo dessa coisa, sendo por isso o fim próprio de quem tenta, a
ciência. Mas, às vezes busca-se ulteriormente pela ciência algum outro fim, bom
ou mau, bom, quando se quer conhecer alguém, quanto à ciência ou à virtude,
para fazê-lo progredir, mau, quando é para o enganar ou prejudicar. E deste
modo pode compreender-se como tentar é diversamente atribuído a diversos. —
Assim, diz-se que o homem tenta às vezes só para saber, e então tentar a Deus é
pecado, porque o homem, como se estivesse incerto, presume experimentar a
virtude de Deus. Outras vezes porém tenta para ajudar. Outras, enfim, para
prejudicar. O diabo porém sempre tenta para prejudicar, fazendo cair em
pecado. E por isso, diz-se que o ofício próprio dele é tentar, pois, embora também
o homem às vezes tente assim, ele fá-lo como ministro do diabo. — Ao passo que
quando se diz que Deus tenta, para saber, isso significa que faz os outros
saberem. E por isso diz a Escritura: O Senhor vosso Deus vos tenta, para se
fazer manifesto se o amais ou não. — Diz-se porém que a carne e o mundo tentam,
instrumental ou materialmente, isto é, enquanto se pode conhecer um homem,
porque seguir ou rejeitar as concupiscências da carne, e desprezar
prosperidades ou adversidades do mundo, coisa de que o diabo também se serve,
para tentar.
Donde
se deduz a RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Os demónios sabem o que fazem, exteriormente, em relação aos
homens, mas a condição interior do homem pela qual uns são mais inclinados a
tal vício que a tal outro, só Deus, ponderador dos espíritos, a conhece. Donde,
o diabo explora a condição interior do homem, para tentá-lo no vício a que este
é mais inclinado.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — O demónio, embora não possa imutar a vontade, pode contudo, como
já se estabeleceu, imutar de certo modo as virtudes inferiores do homem, que,
embora não coajam a vontade, contudo a inclinam.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama
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