Questão 113: Da guarda dos bons anjos.
Art. 8 — Se entre os anjos pode haver luta ou discórdia.
(II
Sent., dist. XI, part. II, a. 5, IV, dist. XLV, q. 3, a. 3, ad 3).
O
oitavo discute-se assim. — Parece que entre os anjos não pode haver luta nem
discórdia.
1. — Pois diz a Escritura: que mantém a concórdia nas suas alturas. Ora, a luta se opõe à concórdia. Logo, entre os anjos sublimes não há luta.
2.
Demais. — Onde há perfeita caridade e justa superioridade não pode haver luta.
Ora, assim é entre os anjos. Logo, não pode entre eles haver luta.
3.
Demais. — Se se disser que os anjos lutam pelos que guardam, necessário é que
um anjo favoreça uma parte e outro, outra. Ora, se com uma está a justiça, com
outra estará a injustiça. Donde resulta que um anjo bom será fautor da
injustiça, o que é inadmissível.
Logo,
entre os bons anjos não há luta.
Mas,
em contrário, diz a Escritura, da pessoa de Gabriel: O príncipe do reino dos
Persas resistiu-me durante vinte e um dias. Ora, esse príncipe dos Persas era
um anjo deputado à guarda do reino persa. Logo, um anjo resiste a outro e,
portanto, há, entre eles, luta.
Esta questão foi suscitada a propósito das palavras de Daniel, que acabamos
de citar. — E Jerónimo as explica, dizendo que o príncipe do reino dos Persas
era um anjo, que se opunha à libertação do povo de Israel, pelo qual Daniel
orava, sendo a sua oração apresentada a Deus por Gabriel. E tal oposição podia
ter-se dado, porque algum príncipe dos demónios tivesse induzido a pecado os
judeus, levados para a Pérsia, o que era um obstáculo à oracção de Daniel, pelo
mesmo povo. — Mas, segundo Gregório, o príncipe do reino dos Persas era um anjo
bom, deputado à guarda desse reino. — Para se compreender, porém, como um anjo
pode resistir a outro, deve considerar-se, que os juízos divinos relativos aos
diversos reinos e aos diversos homens executam-se pelos anjos. Ora, embora,
estes, nas suas acções, se rejam pela ordem divina, acontece às vezes que, relativamente aos diversos reinos ou aos diversos homens, existem méritos ou deméritos
contrários de modo que um é inferior ou superior a outro. Como porém não podem
saber porque a ordem da divina Sapiência determinou assim, sem que Deus lhos
revele, tem os anjos necessidade de consultar essa sabedoria. Assim pois,
enquanto consultam a divina vontade, sobre os méritos contrários e que se lhes
opõem, diz-se que resistem uns aos outros, não que tenham vontades contrárias,
pois são todos concordes em cumprir a ordem de Deus, mas porque são opostas as
coisas sobre que consultam.
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