Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Jo 11, 38-57
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Jo 11, 38-57
38 Jesus, pois, novamente
emocionado no Seu interior, foi ao sepulcro. Era este uma gruta com uma pedra
colocada à entrada 39 Jesus disse: «Tirai a pedra». Marta, irmã do defunto,
disse-Lhe: «Senhor, ele já cheira mal, porque está aí há quatro dias». 40 Jesus
disse-lhe: «Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?». 41 Tiraram,
pois, a pedra. Jesus, levantando os olhos ao céu, disse: «Pai, dou-Te graças por
Me teres ouvido. 42 Eu bem sabia que Me ouves sempre, mas falei assim por causa
do povo que está em volta de Mim, para que acreditem que Tu Me enviaste». 43
Tendo dito estas palavras, bradou em voz forte: «Lázaro, sai para fora!». 44 E
saiu o que estivera morto, ligado de pés e mãos, com as ataduras, e o seu rosto
envolto num sudário. Jesus disse-lhes: «Desligai-o e deixai-o ir». 45 Então,
muitos dos judeus que tinham ido visitar Maria e Marta, vendo o que Jesus
fizera, acreditaram n'Ele. 46 Porém, alguns deles foram ter com os fariseus e
contaram-lhes o que Jesus tinha feito. 47 Os pontífices e os fariseus
reuniram-se então em conselho e disseram: «Que fazemos, já que Este homem faz
muitos milagres? 48 Se O deixamos proceder assim, todos acreditarão n'Ele; e
virão os romanos e destruirão a nossa cidade e a nossa nação!». 49 Mas um
deles, chamado Caifás, que era o Sumo Sacerdote naquele ano, disse-lhes: «Vós
não sabeis nada, 50 nem considerais que vos convém que morra um homem pelo povo
e que não pereça toda a nação!». 51 Ora ele não disse isto por si mesmo, mas,
como era Sumo Sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela
nação,52 e não somente pela nação, mas também para unir num só corpo os filhos
de Deus dispersos.53 Desde aquele dia tomaram a resolução de O matar. 54 Jesus,
pois, já não andava em público entre os judeus, mas retirou-Se para uma terra
vizinha do deserto, para a cidade chamada Efraim e lá esteve com os Seus
discípulos. 55 Estava próxima a Páscoa dos judeus e muitos daquela região
subiram a Jerusalém antes da Páscoa para se purificarem. 56 Procuravam Jesus e
diziam uns para os outros, estando no templo: «Que vos parece, não virá Ele à
festa?». 57 Ora os príncipes dos sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem
para que, se alguém soubesse onde Ele estava, O denunciasse para O prenderem.
EXORTAÇÃO
APOSTÓLICA PÓS-SINODAL
VERBUM DOMINI
DO SANTO PADRE
BENTO XVI
AO EPISCOPADO, AO CLERO
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS E AOS FIÉIS LEIGOS
SOBRE
A PALAVRA DE DEUS
NA VIDA E NA MISSÃO DA IGREJA
VERBUM DOMINI
DO SANTO PADRE
BENTO XVI
AO EPISCOPADO, AO CLERO
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS E AOS FIÉIS LEIGOS
SOBRE
A PALAVRA DE DEUS
NA VIDA E NA MISSÃO DA IGREJA
I PARTE
VERBUM DEI
…/3
Sagrada Escritura, inspiração e verdade
19. Um conceito-chave para receber o texto sagrado
como Palavra de Deus em palavras humanas é, sem dúvida, o de inspiração.
Também aqui se pode sugerir uma analogia: assim como o Verbo de Deus Se fez
carne por obra do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, assim também a
Sagrada Escritura nasce do seio da Igreja por obra do mesmo Espírito. A Sagrada
Escritura é «Palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito de
Deus». [1]
Deste modo se reconhece toda a importância do autor humano que escreveu os textos inspirados e, ao mesmo tempo, do próprio Deus como verdadeiro autor.
Deste modo se reconhece toda a importância do autor humano que escreveu os textos inspirados e, ao mesmo tempo, do próprio Deus como verdadeiro autor.
Daqui se vê com toda a clareza – lembraram os Padres
sinodais – como o tema da inspiração é decisivo para uma adequada abordagem das
Escrituras e para a sua correcta hermenêutica, [2] que deve, por
sua vez, ser feita no mesmo Espírito em que foi escrita. [3] Quando esmorece em nós a
consciência da inspiração, corre-se o risco de ler a Escritura como objecto de
curiosidade histórica e não como obra do Espírito Santo, na qual podemos ouvir
a própria voz do Senhor e conhecer a sua presença na história.
Além disso, os Padres sinodais puseram em evidência
como ligado com o tema da inspiração esteja também o tema da verdade
das Escrituras. [4] Por isso, um aprofundamento da
dinâmica da inspiração levará, sem dúvida, também a uma maior compreensão da
verdade contida nos livros sagrados. Como indica a doutrina conciliar sobre o
tema, os livros inspirados ensinam a verdade: «E assim, como tudo quanto
afirmam os autores inspirados ou hagiógrafos deve ser tido como afirmado pelo
Espírito Santo, por isso mesmo se deve acreditar que os livros da Escritura
ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus, para nossa
salvação, quis que fosse consi-gnada nas sagradas Letras. Por isso, “toda a
Escritura é divinamente inspirada e útil para ensinar, para corrigir, para
instruir na justiça: para que o homem de Deus seja perfeito, experimentado em
todas as boas obras (2 Tm 3, 16-17 gr.)”». [5]
Não há dúvida que a reflexão teológica sempre
considerou inspiração e verdade como dois conceitos-chave para uma hermenêutica
eclesial das Sagradas Escrituras. No entanto, deve-se reconhecer a necessidade
actual de um condigno aprofundamento destas realidades, para se responder
melhor às exigências relativas à interpretação dos textos sagrados segundo a
sua natureza. Nesta perspectiva, desejo vivamente que a investigação possa
avançar neste campo e dê fruto para a ciência bíblica e para a vida espiritual
dos fiéis.
Deus Pai, fonte e origem da Palavra
20. A economia da revelação tem o seu início e a sua origem em Deus Pai. Pela sua palavra «foram feitos os céus, pelo sopro da sua boca todos os seus exércitos» (Sl 33, 6). É Ele que faz resplandecer «o conhecimento da glória de Deus, que se reflecte na face de Cristo» (2 Cor 4, 6; cf. Mt 16, 17; L c 9, 29).
No Filho, «Logos feito carne» (cf. Jo 1,
14), que veio para cumprir a vontade d’Aquele que O enviou (cf. Jo 4,
34), Deus, fonte da revelação, manifesta-Se como Pai e leva à perfeição a
educação divina do homem, já anteriormente animada pela palavra dos profetas e
pelas maravilhas realizadas na criação e na história do seu povo e de todos os
homens. O apogeu da revelação de Deus Pai é oferecido pelo Filho com o dom do
Paráclito (cf. Jo 14, 16), Espírito do Pai e do
Filho, que nos «guiará para a verdade total» (Jo 16, 13).
Deste modo, todas as promessas de Deus se tornam «sim»
em Jesus Cristo (cf. 2 Cor 1, 20). Abre-se assim,
para o homem, a possibilidade de percorrer o caminho que o conduz ao Pai (cf.Jo 14,
6), para que no fim «Deus seja tudo em todos» (1 Cor 15,
28).
21. Como mostra a cruz de Cristo, Deus fala também por meio do seu silêncio. O silêncio de Deus, a experiência da distância do Omnipotente e Pai é etapa decisiva no caminho terreno do Filho de Deus, Palavra encarnada. Suspenso no madeiro da cruz, o sofrimento que Lhe causou tal silêncio fê-Lo lamentar: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?» (Mc 15, 34; M t27, 46). Avançando na obediência até ao último respiro, na obscuridade da morte, Jesus invocou o Pai. A Ele Se entregou no momento da passagem, através da morte, para a vida eterna: «Pai, nas tuas mãos, entrego o meu espírito» (L c 23, 46).
Esta experiência de Jesus é sintomática da situação do
homem que, depois de ter escutado e reconhecido a Palavra de Deus, deve confrontar-se
também com o seu silêncio. É uma experiência vivida por muitos Santos e
místicos, e que ainda hoje faz parte do caminho de muitos fiéis. O silêncio de
Deus prolonga as suas palavras anteriores. Nestes momentos obscuros, Ele fala
no mistério do seu silêncio. Portanto, na dinâmica da revelação cristã, o
silêncio aparece como uma expressão importante da Palavra de Deus.
A resposta do homem a Deus que fala
Chamados a entrar na Aliança com Deus
Chamados a entrar na Aliança com Deus
22. Ao sublinhar a pluralidade de formas da Palavra, pudemos ver através de quantas modalidades Deus fala e vem ao encontro do homem, dando-Se a conhecer no diálogo. É certo que, o diálogo, tal como afirmaram os Padres sinodais, «quando se refere à Revelação comporta o primado da Palavra de Deus dirigida ao homem». [6] O mistério da Aliança exprime esta relação entre Deus que chama através da sua Palavra e o homem que responde, sabendo claramente que não se trata de um encontro entre dois contraentes iguais; aquilo que designamos por Antiga e Nova Aliança não é um acto de entendimento entre duas partes iguais, mas puro dom de Deus. Por meio deste dom do seu amor, Ele, superando toda a distância, torna--nos verdadeiramente seus «parceiros», de modo a realizar o mistério nupcial do amor entre Cristo e a Igreja. Nesta perspectiva, todo o homem aparece como o destinatário da Palavra, interpelado e chamado a entrar, por uma resposta livre, em tal diálogo de amor. Assim Deus torna cada um de nós capaz de escutar e responder à Palavra divina. O homem é criado na Palavra e vive nela; e não se pode compreender a si mesmo, se não se abre a este diálogo. A Palavra de Deus revela a natureza filial e relacional da nossa vida. Por graça, somos verdadeiramente chamados a configurar-nos com Cristo, o Filho do Pai, e a ser transformados n’Ele.
Deus escuta o homem e responde às suas perguntas
23. Neste diálogo com Deus, compreendemo-nos a nós mesmos e encontramos resposta para as perguntas mais profundas que habitam no nosso coração. De facto, a Palavra de Deus não se contrapõe ao homem, nem mortifica os seus anseios verdadeiros; pelo contrário, ilumina-os, purifica-os e realiza-os. Como é importante, para o nosso tempo, descobrir que só Deus responde à sede que está no coração de cada homem! Infelizmente na nossa época, sobretudo no Ocidente, difundiu-se a ideia de que Deus é alheio à vida e aos problemas do homem; pior ainda, de que a sua presença pode até ser uma ameaça à autonomia humana. Na realidade, toda a economia da salvação mostra-nos que Deus fala e intervém na história a favor do homem e da sua salvação integral. Por conseguinte é decisivo, do ponto de vista pastoral, apresentar a Palavra de Deus na sua capacidade de dialogar com os problemas que o homem deve enfrentar na vida diária. Jesus apresenta-Se-nos precisamente como Aquele que veio para que pudéssemos ter a vida em abundância (cf. Jo 10, 10). Por isso, devemos fazer todo o esforço para mostrar a Palavra de Deus precisamente como abertura aos próprios problemas, como resposta às próprias perguntas, uma dilatação dos próprios valores e, conjuntamente, uma satisfação das próprias aspirações. A pastoral da Igreja deve ilustrar claramente como Deus ouve a necessidade do homem e o seu apelo. São Boaventura afirma no Breviloquium: «O fruto da Sagrada Escritura não é um fruto qualquer, mas a plenitude da felicidade eterna. De facto, a Sagrada Escritura é precisamente o livro no qual estão escritas palavras de vida eterna, porque não só acreditamos mas também possuímos a vida eterna, em que veremos, amaremos e serão realizados todos os nossos desejos». [7]
Dialogar com Deus através das suas palavras
24. A Palavra divina introduz cada um de nós no diálogo com o Senhor: o Deus que fala, ensina-nos como podemos falar com Ele. Espontaneamente o pensamento detém-se no Livro dos Salmos, onde Ele nos fornece as palavras com que podemos dirigir-nos a Ele, levar a nossa vida para o colóquio com Ele, transformando assim a própria vida num movimento para Deus. [8] De facto, nos Salmos, encontramos articulada toda a gama de sentimentos que o homem pode ter na sua própria existência e que são sapientemente colocados diante de Deus; alegria e sofrimento, angústia e esperança, medo e perplexidade encontram lá a sua expressão. E, juntamente com os Salmos, pensamos também em numerosos textos da Sagrada Escritura que apresentam o homem a dirigir-se a Deus sob a forma de oração de intercessão (cf. Ex 33, 12-16), de canto de júbilo pela vitória (cf. Ex 15), ou de lamento no desempenho da própria missão (cf. Jr 20, 7-18). Deste modo, a palavra que o homem dirige a Deus torna-se também Palavra de Deus, como confirmação do carácter dialógico de toda a revelação cristã, [9] e a existência inteira do homem torna-se um diálogo com Deus que fala e escuta, que chama e dinamiza a nossa vida. Aqui a Palavra de Deus revela que toda a existência do homem está sob o chamamento divino. [10]
A Palavra de Deus e a fé
25. «A Deus que Se revela é devida “a obediência da fé” (Rm 16, 26; cf. Rm 1, 5; 2 Cor 10, 5-6); pela fé, o homem entrega-se total e livremente a Deus oferecendo a Deus revelador “o obséquio pleno da inteligência e da vontade” e prestando voluntário assentimento à sua revelação». [11] Com estas palavras, a Constituição dogmática Dei Verbum exprimiu de modo claro a atitude do homem diante de Deus. A resposta própria do homem a Deus, que fala, é a fé. Isto coloca em evidência que, «para acolher a Revelação, o homem deve abrir a mente e o coração à acção do Espírito Santo que lhe faz compreender a Palavra de Deus presente nas Sagradas Escrituras». [12] De facto, é precisamente a pregação da Palavra divina que faz surgir a fé, pela qual aderimos de coração à verdade que nos foi revelada e entregamos todo o nosso ser a Cristo: «A fé vem da pregação, e a pregação pela palavra de Cristo» (Rm 10, 17). Toda a história da salvação nos mostra progressivamente esta ligação íntima entre a Palavra de Deus e a fé que se realiza no encontro com Cristo. De facto, com Ele a fé toma a forma de encontro com uma Pessoa à qual se confia a própria vida. Cristo Jesus continua hoje presente, na história, no seu corpo que é a Igreja; por isso, o acto da nossa fé é um acto simultaneamente pessoal e eclesial.
O pecado como não escuta da Palavra de Deus
26. A Palavra de Deus revela inevitavelmente também a dramática possibilidade que tem a liberdade do homem de subtrair-se a este diálogo de aliança com Deus, para o qual fomos criados. De facto, a Palavra divina desvenda também o pecado que habita no coração do homem. Muitas vezes encontramos, tanto no Antigo como no Novo Testamento, a descrição do pecado como não escuta da Palavra, como ruptura da Aliança e, consequentemente, como fechar-se a Deus que chama à comunhão com Ele. [13] Com efeito, a Sagrada Escritura mostra-nos como o pecado do homem é essencialmente desobediência e «não escuta». Precisamente a obediência radical de Jesus até à morte de Cruz (cf. Fl 2, 8) desmascara totalmente este pecado. Na sua obediência, realiza-se a Nova Aliança entre Deus e o homem e é-nos concedida a possibilidade da reconciliação. De facto, Jesus foi mandado pelo Pai como vítima de expiação pelos nossos pecados e pelos do mundo inteiro (cf. 1 Jo 2, 2; 4, 10; Hb 7, 27). Assim, é-nos oferecida misericordiosamente a possibilidade da redenção e o início de uma vida nova em Cristo. Por isso, é importante que os fiéis sejam educados a reconhecer a raiz do pecado na não escuta da Palavra do Senhor e a acolher em Jesus, Verbo de Deus, o perdão que nos abre à salvação.
Maria «Mater Verbi Dei» e «Mater fidei»
27. Os Padres sinodais declararam que o objectivo fundamental da XII Assembleia foi «renovar a fé da Igreja na Palavra de Deus»; por isso é necessário olhar para uma pessoa em Quem a reciprocidade entre Palavra de Deus e fé foi perfeita, ou seja, para a Virgem Maria, «que, com o seu sim à Palavra da Aliança e à sua missão, realiza perfeitamente a vocação divina da humanidade». [14] A realidade humana, criada por meio do Verbo, encontra a sua figura perfeita precisamente na fé obediente de Maria. Desde a Anunciação ao Pentecostes, vemo-La como mulher totalmente disponível à vontade de Deus. É a Imaculada Conceição, Aquela que é «cheia de graça» de Deus (cf. L c 1, 28), incondicionalmente dócil à Palavra divina (cf. L c 1, 38). A sua fé obediente face à iniciativa de Deus plasma cada instante da sua vida. Virgem à escuta, vive em plena sintonia com a Palavra divina; conserva no seu coração os acontecimentos do seu Filho, compondo-os por assim dizer num único mosaico (cf. L c 2, 19.51). [15]
No nosso tempo, é preciso que os fiéis sejam ajudados
a descobrir melhor a ligação entre Maria de Nazaré e a escuta crente da Palavra
divina. Exorto também os estudiosos a aprofundarem ainda mais a relação
entre mariologia e teologia da Palavra. Daí poderá vir grande
benefício tanto para a vida espiritual como para os estudos teológicos e
bíblicos. De facto, quando a inteligência da fé olha um tema à luz de Maria,
coloca-se no centro mais íntimo da verdade cristã. Na realidade, a encarnação
do Verbo não pode ser pensada prescindindo da liberdade desta jovem mulher que,
com o seu assentimento, coopera de modo decisivo para a entrada do Eterno no
tempo. Ela é a figura da Igreja à escuta da Palavra de Deus que nela Se fez
carne. Maria é também símbolo da abertura a Deus e aos outros; escuta activa,
que interioriza, assimila, na qual a Palavra se torna forma de vida.
28. Nesta ocasião, desejo chamar a atenção para a familiaridade de Maria com a Palavra de Deus. Isto transparece com particular vigor no Magnificat. Aqui, em certa medida, vê-se como Ela Se identifica com a Palavra, e nela entra; neste maravilhoso cântico de fé, a Virgem exalta o Senhor com a sua própria Palavra: «O Magnificat – um retrato, por assim dizer, da sua alma – é inteiramente tecido de fios da Sagrada Escritura, com fios tirados da Palavra de Deus. Desta maneira se manifesta que Ela Se sente verdadeiramente em casa na Palavra de Deus, dela sai e a ela volta com naturalidade. Fala e pensa com a Palavra de Deus; esta torna-se Palavra d’Ela, e a sua palavra nasce da Palavra de Deus. Além disso, fica assim patente que os seus pensamentos estão em sintonia com os de Deus, que o d’Ela é um querer juntamente com Deus. Vivendo intimamente permeada pela Palavra de Deus, Ela pôde tornar-Se mãe da Palavra encarnada». [16]
Além disso, a referência à Mãe de Deus mostra-nos como
o agir de Deus no mundo envolve sempre a nossa liberdade, porque, na fé, a
Palavra divina transforma-nos. Também a nossa acção apostólica e pastoral não
poderá jamais ser eficaz, se não aprendermos de Maria a deixar-nos plasmar pela
acção de Deus em nós: «A atenção devota e amorosa à figura de Maria, como modelo
e arquétipo da fé da Igreja, é de importância capital para efectuar também nos
nossos dias uma mudança concreta de paradigma na relação da Igreja com a
Palavra, tanto na atitude de escuta orante como na generosidade do compromisso
em prol da missão e do anúncio». [17]
Contemplando na Mãe de Deus uma vida modelada
totalmente pela Palavra, descobrimo-nos também nós chamados a entrar no
mistério da fé, pela qual Cristo vem habitar na nossa vida. Como nos recorda
Santo Ambrósio, cada cristão que crê, em certo sentido, concebe e gera em si
mesmo o Verbo de Deus: se há uma só Mãe de Cristo segundo a carne, segundo a
fé, porém, Cristo é o fruto de todos. [18] Portanto, o que aconteceu em
Maria pode voltar a acontecer em cada um de nós diariamente na escuta da
Palavra e na celebração dos Sacramentos.
Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
[1] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a
Revelação divina Dei Verbum, 9.
[2] Cf. Propositiones 5 e 12.
[3] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a
Revelação divina Dei Verbum, 12.
[4] Cf. Propositio 12.
[5] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Revelação
divina Dei Verbum, 11.
[7] Prol.: Opera Omnia, V (Quaracchi 1891),
pp. 201-202.
[8] Cf. Bento XVI, Discurso aos homens de cultura
no «Collège des Bernardins» de Paris(12 de Setembro
de 2008): AAS 100 (2008), 721-730.
[11] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Revelação
divina Dei Verbum, 5.
[13] Por exemplo Dt 28, 1-2.15.45; 32, 1;
nos grandes profetas cf. Jr 7, 22-28; Ez 2,
8; 3, 10; 6, 3; 13, 2; mas também nos menores: cf. Zc 3, 8. Em
São Paulo, cf. Rm 10, 14-18; 1 Ts 2,
13.
[14] Propositio 55.
[15] Cf. Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Sacramentum
caritatis (22 de Fevereiro de 2007), 33:AAS 99 (2007),
132-133.
[16] Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est (25
de Dezembro de 2005), 41: AAS 98 (2006), 251.
[18] Cf. Expositio Evangelii secundum Lucam 2,
19: PL 15, 1559-1560.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.