22/11/2012

Leitura espiritual para 22 Nov 2012


Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.


Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Jo 15, 18-27;16, 1-4

18 «Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim. 19 Se fosseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do meio do mundo, por isso o mundo vos aborrece. 20 Lembrai-vos da palavra que Eu vos disse: Não é o servo maior do que o senhor. Se eles Me perseguiram a Mim, também vos hão-de perseguir a vós; se guardaram a Minha palavra, também hão-de guardar a vossa. 21 Mas tudo isto vos farão por causa do Meu nome, porque não conhecem Aquele que Me enviou. 22 Se Eu não tivesse vindo e não lhes tivesse falado, não teriam culpa, mas agora não têm desculpa do seu pecado. 23 Aquele que Me aborrece, aborrece também Meu Pai. 24 Se Eu não tivesse feito entre eles tais obras, quais nenhum outro fez, não teriam culpa, mas agora viram-nas e, contudo, odeiam-Me, a Mim e ao Meu Pai. 25 Mas isto aconteceu para se cumprir a palavra que está escrita na sua Lei: “Odiaram-Me sem motivo”. 26 Quando, porém, vier o Paráclito, que Eu vos enviarei do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, Ele dará testemunho de Mim. 27 E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio.
16 1 «Eu disse-vos estas coisas para que não vos escandalizeis. 2 Expulsar-vos-ão das sinagogas. Virá tempo em que todo aquele que vos matar julgará prestar culto a Deus. 3 Procederão deste modo porque não conheceram nem ao Pai nem a Mim. 4 Ora Eu disse-vos estas coisas para que, quando chegar esse tempo, vos lembreis de que vo-las disse. Não vos disse isto, porém, desde o princípio, porque estava convosco.




EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL
VERBUM DOMINI
DO SANTO PADRE
BENTO XVI
AO EPISCOPADO, AO CLERO
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS E AOS FIÉIS LEIGOS
SOBRE
A PALAVRA DE DEUS
NA VIDA E NA MISSÃO DA IGREJA
…/10

Palavra de Deus e oração mariana

88. Pensando na relação indivisível entre a Palavra de Deus e Maria de Nazaré, convido, juntamente com os Padres sinodais, a promover entre os fiéis, sobretudo na vida familiar, as orações marianas que constituem uma ajuda para meditar os santos mistérios narrados pela Sagrada Escritura. Um meio muito útil é, por exemplo, a recitação pessoal ou comunitária do Rosário, [i] que repercorre juntamente com Maria os mistérios da vida de Cristo [ii] e que o Papa João Paulo II quis enriquecer com os mistérios de luz. [iii] É conveniente que o anúncio dos diversos mistérios seja acompanhado por breves trechos da Bíblia sobre o mistério enunciado, para assim favorecer a memorização de algumas expressões significativas da Escritura relativas aos mistérios da vida de Cristo.
Além disso, o Sínodo recomendou que se promova entre os fiéis a recitação da oração do Angelus Domini. Trata-se de uma oração simples e profunda que nos permite «recordar diariamente o Verbo Encarnado». [iv] É oportuno que o Povo de Deus, as famílias e as comunidades de pessoas consagradas sejam fiéis a esta oração mariana, que a tradição nos convida a rezar ao alvorecer, ao meio-dia e ao entardecer. Na oração do Ângelus Domini, pedimos a Deus que, pela intercessão de Maria, nos seja concedido também cumprir a vontade de Deus como Ela e acolher em nós a sua Palavra. Esta prática pode ajudar-nos a intensificar um amor autêntico ao mistério da Encarnação.
Merecem ser conhecidas, apreciadas e difundidas também algumas antigas orações do Oriente cristão que, através de uma referência à Theotokos, à Mãe de Deus, percorrem toda a história da salvação. Referimo-nos particularmente ao Akathistos e à Paraklesis. São hinos de louvor cantados em forma de litania, impregnados de fé eclesial e de alusões bíblicas, que ajudam os fiéis a meditar juntamente com Maria os mistérios de Cristo. De modo especial, o venerável hino à Mãe de Deus denominado Akathistos – quer dizer: cantado permanecendo de pé –, representa uma das mais altas expressões de piedade mariana da tradição bizantina. [v] Rezar com estas palavras dilata a alma e dispõe-na para a paz que vem do Alto, de Deus – a paz que é o próprio Cristo, nascido de Maria para a nossa salvação.

Palavra de Deus e Terra Santa

89. Recordando o Verbo de Deus que Se faz carne no seio de Maria de Nazaré, o nosso coração volta-se agora para aquela Terra onde se cumpriu o mistério da nossa redenção e donde a Palavra de Deus se difundiu até aos confins do mundo. De facto, por obra do Espírito Santo, o Verbo encarnou num momento concreto e num lugar determinado, numa orla de terra situada nos confins do Império Romano. Por isso, quanto mais contemplamos a universalidade e a unicidade da pessoa de Cristo, tanto mais olhamos agradecidos para aquela Terra onde Jesus nasceu, viveu e Se entregou a Si mesmo por todos nós. As pedras sobre as quais caminhou o nosso Redentor permanecem para nós carregadas de recordações e continuam a «gritar» a Boa Nova. Por isso, os Padres sinodais lembraram a expressão feliz dada à Terra Santa: «o quinto Evangelho». [vi] Como é importante a existência de comunidades cristãs naqueles lugares, apesar das inúmeras dificuldades! O Sínodo dos Bispos exprime profunda solidariedade a todos os cristãos que vivem na Terra de Jesus, dando testemunho da fé no Ressuscitado. Lá os cristãos são chamados a servir como «um farol de fé para a Igreja universal e também como fermento de harmonia, sabedoria e equilíbrio na vida duma sociedade que tradicionalmente foi e continua a ser pluralista, multiétnica e multirreligiosa». [vii]
A Terra Santa continua ainda hoje a ser meta de peregrinação do povo cristão, vivida como gesto de oração e de penitência, como o era já na antiguidade segundo o testemunho de autores como São Jerónimo. [viii] Quanto mais voltamos o olhar e o coração para a Jerusalém terrena, tanto mais se inflama em nós o desejo da Jerusalém celeste, verdadeira meta de toda a peregrinação, e a paixão de que o nome de Jesus – o único em que se encontra a salvação – seja reconhecido por todos (cf. Act 4, 12).

III PARTE 

VERBUM MUNDO

«Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer» (Jo 1, 18)

A missão da Igreja: anunciar a palavra de Deus ao mundo.

A Palavra que sai do Pai e volta para o Pai

90. São João sublinha fortemente o paradoxo fundamental da fé cristã. Por um lado, afirma que «ninguém jamais viu a Deus» (Jo 1, 18; cf. 1 Jo 4, 12): de modo nenhum podem as nossas imagens, conceitos ou palavras definir ou calcular a realidade infinita do Altíssimo; permanece o Deus semper maior. Por outro lado, diz que realmente o Verbo «Se fez carne» (Jo 1, 14). O Filho unigénito, que está voltado para o seio do Pai, revelou o Deus que «ninguém jamais viu» (Jo 1, 18). Jesus Cristo vem a nós «cheio de graça e de verdade» (Jo 1, 14), que nos são dadas por meio d’Ele (cf. Jo 1, 17); de facto, «da sua plenitude é que todos nós recebemos, graça sobre graça» (Jo 1, 16). E assim, no Prólogo, o evangelista João contempla o Verbo desde o seu estar junto de Deus passando pelo fazer-Se carne, até ao regresso ao seio do Pai, levando consigo a nossa própria humanidade que assumiu para sempre. Neste sair do Pai e voltar ao Pai (cf. Jo 13, 3; 16, 28; 17, 8.10), Ele apresenta-Se-nos como o «Narrador» de Deus (cf. Jo 1, 18). De facto, o Filho – afirma Santo Ireneu de Lião – «é o Revelador do Pai». [ix] Jesus de Nazaré é, por assim dizer, o «exegeta» de Deus que «ninguém jamais viu»; «Ele é a imagem do Deus invisível» (Cl 1, 15). Cumpre-se aqui a profecia de Isaías relativa à eficácia da Palavra do Senhor: assim como a chuva e a neve descem do céu para regar e fazer germinar a terra, assim também a Palavra de Deus «não volta sem ter produzido o seu efeito, sem ter executado a minha vontade e cumprido a sua missão» (Is 55, 10-11). Jesus Cristo é esta Palavra definitiva e eficaz que saiu do Pai e voltou a Ele, realizando perfeitamente no mundo a sua vontade.

Anunciar ao mundo o «Logos» da Esperança

91. O Verbo de Deus comunicou-nos a vida divina que transfigura a face da terra, fazendo novas todas as coisas (cf. Ap 21, 5). A sua Palavra envolve-nos não só como destinatários da revelação divina, mas também como seus arautos. Ele, o enviado do Pai para cumprir a sua vontade (cf. Jo 5, 36-38; 6, 38-40; 7, 16-18), atrai-nos a Si e envolve-nos na sua vida e missão. Assim o Espírito do Ressuscitado habilita a nossa vida para o anúncio eficaz da Palavra em todo o mundo. É a experiência da primeira comunidade cristã, que via difundir-se a Palavra por meio da pregação e do testemunho (cf. Act 6, 7). Quero citar aqui particularmente a vida do Apóstolo Paulo, um homem arrebatado completamente pelo Senhor (cf. Fl 3, 12) – «já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20) – e pela sua missão: «Ai de mim se não evangelizar!» (1 Cor 9, 16), ciente de que em Cristo se revela realmente a salvação de todas as nações, a libertação da escravidão do pecado para entrar na liberdade dos filhos de Deus.
Com efeito, o que a Igreja anuncia ao mundo é o Logos da Esperança (cf. 1 Pd 3, 15); o homem precisa da «grande Esperança» para poder viver o seu próprio presente – a grande esperança que é «aquele Deus que possui um rosto humano e que nos “amou até ao fim” (Jo 13, 1)». [x] Por isso, na sua essência, a Igreja é missionária. Não podemos guardar para nós as palavras de vida eterna, que recebemos no encontro com Jesus Cristo: são para todos, para cada homem. Cada pessoa do nosso tempo – quer o saiba quer não – tem necessidade deste anúncio. Oxalá o Senhor suscite entre os homens, como nos tempos do profeta Amós, nova fome e nova sede das palavras do Senhor (cf. Am 8, 11). A nós cabe a responsabilidade de transmitir aquilo que por nossa vez tínhamos, por graça, recebido.

Da Palavra de Deus deriva a missão da Igreja

92. O Sínodo dos Bispos reafirmou com veemência a necessidade de revigorar na Igreja a consciência missionária, presente no Povo de Deus desde a sua origem. Os primeiros cristãos consideraram o seu anúncio missionário como uma necessidade derivada da própria natureza da fé: o Deus em quem acreditavam era o Deus de todos, o Deus único e verdadeiro que Se manifestara na história de Israel e, por fim, no seu Filho, oferecendo assim a resposta que todos os homens, no seu íntimo, aguardam. As primeiras comunidades cristãs sentiram que a sua fé não pertencia a um costume cultural particular, que diverge de povo para povo, mas ao âmbito da verdade, que diz respeito igualmente a todos os homens.
Também aqui São Paulo nos ilustra, com a sua vida, o sentido da missão cristã e a sua originária universalidade. Pensemos no episódio do Areópago de Atenas, narrado pelos Actos dos Apóstolos (cf. 17, 16-34). O Apóstolo das Nações entra em diálogo com homens de culturas diversas, na certeza de que o mistério de Deus, Conhecido-Desconhecido, do qual todo o homem tem uma certa percepção embora confusa, revelou-Se realmente na história: «O que venerais sem conhecer, é que eu vos anuncio» (Act 17, 23). De facto, a novidade do anúncio cristão é a possibilidade de dizer a todos os povos: «Ele mostrou-Se. Ele em pessoa. E agora está aberto o caminho para Ele. A novidade do anúncio cristão não consiste num pensamento mas num facto: Ele revelou-Se». [xi]
A Palavra e o Reino de Deus
93. Por conseguinte, a missão da Igreja não pode ser considerada como realidade facultativa ou suplementar da vida eclesial. Trata-se de deixar que o Espírito Santo nos assimile a Cristo, participando assim na sua própria missão: «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós» (Jo 20, 21), de modo a comunicar a Palavra com a vida inteira. É a própria Palavra que nos impele para os irmãos: é a Palavra que ilumina, purifica, converte; nós somos apenas servidores.
Por isso, é necessário descobrir cada vez mais a urgência e a beleza de anunciar a Palavra para a vinda do Reino de Deus, que o próprio Cristo pregou. Neste sentido, renovamos a consciência – tão familiar aos Padres da Igreja – de que o anúncio da Palavra tem como conteúdo o Reino de Deus (cf. Mc 1, 14-15), sendo este a própria pessoa de Jesus (o Autobasileia), como sugestivamente lembra Orígenes. [xii]  O Senhor oferece a salvação aos homens de cada época. Todos nos damos conta de quão necessário é que a luz de Cristo ilumine cada âmbito da humanidade: a família, a escola, a cultura, o trabalho, o tempo livre e os outros sectores da vida social. [xiii] Não se trata de anunciar uma palavra anestesiante, mas desinstaladora, que chama à conversão, que torna acessível o encontro com Ele, através do qual floresce uma humanidade nova.

Todos os baptizados responsáveis do anúncio

94. Uma vez que todo o Povo de Deus é um povo «enviado», o Sínodo reafirmou que «a missão de anunciar a Palavra de Deus é dever de todos os discípulos de Jesus Cristo, em consequência do seu baptismo». [14] 

Nenhuma pessoa que crê em Cristo pode sentir-se alheia a esta responsabilidade que deriva do facto de ela pertencer sacramentalmente ao Corpo de Cristo. Esta consciência deve ser despertada em cada família, paróquia, comunidade, associação e movimento eclesial. Portanto toda a Igreja, enquanto mistério de comunhão, é missionária e cada um, no seu próprio estado de vida, é chamado a dar uma contribuição incisiva para o anúncio cristão.
Bispos e sacerdotes, segundo a missão própria de cada um, são os primeiros chamados a uma vida cativada pelo serviço da Palavra, para anunciar o Evangelho, celebrar os Sacramentos e formar os fiéis no conhecimento autêntico das Escrituras. Sintam-se também os diáconos chamados a colaborar, segundo a própria missão, para este compromisso de evangelização.
A vida consagrada resplandece, em toda a história da Igreja, pela sua capacidade de assumir explicitamente o dever do anúncio e da pregação da Palavra de Deus na missio ad gentes e nas situações mais difíceis, mostrando-se disponível também para as novas condições de evangelização, empreendendo com coragem e audácia novos percursos e novos desafios para o anúncio eficaz da Palavra de Deus. [15]
Os fiéis leigos são chamados a exercer a sua missão profética, que deriva directamente do baptismo, e testemunhar o Evangelho na vida diária onde quer que se encontrem. A este respeito, os Padres sinodais exprimiram «a mais viva estima e gratidão bem como encorajamento pelo serviço à evangelização que muitos leigos, e particularmente as mulheres, prestam com generosidade e diligência nas comunidades espalhadas pelo mundo, a exemplo de Maria de Magdala, primeira testemunha da alegria pascal». [16] Além disso, o Sínodo reconhece, com gratidão, que os movimentos eclesiais e as novas comunidades constituem, na Igreja, uma grande força para a evangelização neste tempo, impelindo a desenvolver novas formas de anúncio do Evangelho. [17]

A necessidade da «missio ad gentes»

95. Ao exortar todos os fiéis para o anúncio da Palavra divina, os Padres sinodais reafirmaram a necessidade, no nosso tempo também, de um decidido empenho na missio ad gentes. A Igreja não pode de modo algum limitar-se a uma pastoral de «manutenção» para aqueles que já conhecem o Evangelho de Cristo. O ardor missionário é um sinal claro da maturidade de uma comunidade eclesial. Além disso, os Padres exprimiram vivamente a consciência de que a Palavra de Deus é a verdade salvífica da qual tem necessidade cada homem em todo o tempo. Por isso, o anúncio deve ser explícito. A Igreja deve ir ao encontro de todos com a força do Espírito (cf. 1 Cor 2, 5) e continuar profeticamente a defender o direito e a liberdade das pessoas escutarem a Palavra de Deus, procurando os meios mais eficazes para a proclamar, mesmo sob risco de perseguição. [18] A todos a Igreja se sente devedora de anunciar a Palavra que salva (cf. Rm 1, 14).

Anúncio e nova evangelização

96. O Papa João Paulo II, na esteira de quanto já expressara o Papa Paulo VI na Exortação apostólica Evangelii nuntiandi, tinha de muitos modos lembrado aos fiéis a necessidade de uma nova estação missionária para todo o Povo de Deus. [19] Na alvorada do terceiro milénio não só existem muitos povos que ainda não conheceram a Boa Nova, como há também muitos cristãos que têm necessidade que lhes seja anunciada novamente, de modo persuasivo, a Palavra de Deus, para poderem assim experimentar concretamente a força do Evangelho. Há muitos irmãos que são «baptizados mas não suficientemente evangelizados». [20] É frequente ver nações, outrora ricas de fé e de vocações, que vão perdendo a própria identidade, sob a influência de uma cultura secularizada. [21] A exigência de uma nova evangelização, tão sentida pelo meu venerado Predecessor, deve-se reafirmar sem medo, na certeza da eficácia da Palavra divina. A Igreja, segura da fidelidade do seu Senhor, não se cansa de anunciar a boa nova do Evangelho e convida todos os cristãos a redescobrirem o fascínio de seguir Cristo.

Palavra de Deus e testemunho cristão

97. Os horizontes imensos da missão eclesial e a complexidade da situação presente requerem hoje modalidades renovadas para se poder comunicar eficazmente a Palavra de Deus. O Espírito Santo, agente primário de toda a evangelização, nunca deixará de guiar a Igreja de Cristo nesta actividade. Antes de mais nada, é importante que cada modalidade de anúncio tenha presente a relação intrínseca entre comunicação da Palavra de Deus e testemunho cristão; disso depende a própria credibilidade do anúncio. Por um lado, é necessária a Palavra que comunique aquilo que o próprio Senhor nos disse; por outro, é indispensável dar, com o testemunho, credibilidade a esta Palavra, para que não apareça como uma bela filosofia ou utopia, mas antes como uma realidade que se pode viver e que faz viver. Esta reciprocidade entre Palavra e testemunho recorda o modo como o próprio Deus Se comunicou por meio da encarnação do seu Verbo. A Palavra de Deus alcança os homens «através do encontro com testemunhas que a tornam presente e viva». [22] Particularmente as novas gerações têm necessidade de ser introduzidas na Palavra de Deus «através do encontro e do testemunho autêntico do adulto, da influência positiva dos amigos e da grande companhia que é a comunidade eclesial». [23]
Há uma relação estreita entre o testemunho da Escritura, como atestado que a Palavra de Deus dá de si mesma, e o testemunho de vida dos crentes. Um implica e conduz ao outro. O testemunho cristão comunica a Palavra atestada nas Escrituras. Por sua vez, as Escrituras explicam o testemunho que os cristãos são chamados a dar com a própria vida. Deste modo, aqueles que encontram testemunhas credíveis do Evangelho são levados a constatar a eficácia da Palavra de Deus naqueles que a acolhem.
Nesta circularidade entre testemunho e Palavra, compreendem-se as afirmações do Papa Paulo VI na Exortação apostólica Evangelii nuntiandi. A nossa responsabilidade não se limita a sugerir ao mundo valores que compartilhamos; mas é preciso chegar ao anúncio explícito da Palavra de Deus. Só assim seremos fiéis ao mandato de Cristo: «Por conseguinte a Boa Nova proclamada pelo testemunho de vida deverá, mais cedo ou mais tarde, ser anunciada pela palavra de vida. Não há verdadeira evangelização, se o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o Reino, o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, não forem proclamados». [24]
O facto do anúncio da Palavra de Deus requerer o testemunho da própria vida é um dado bem presente na consciência cristã desde as suas origens. O próprio Cristo é a testemunha fiel e verdadeira (cf. Ap 1, 5; 3, 14), testemunha da Verdade (cf. Jo 18, 37). A este propósito, desejo recordar os inumeráveis testemunhos que tivemos a graça de ouvir durante a assembleia sinodal. Ficámos profundamente impressionados com o relato daqueles que souberam viver a fé e dar luminosos testemunhos do Evangelho mesmo sob regimes contrários ao cristianismo ou em situações de perseguição.
Tudo isto não nos deve meter medo. O próprio Jesus disse aos seus discípulos: «Um servo não é maior que o seu senhor. Se a Mim Me perseguiram também vos perseguirão a vós» (Jo 15, 20). Por isso desejo elevar a Deus, com toda a Igreja, um hino de louvor pelo testemunho de muitos irmãos e irmãs que, mesmo neste nosso tempo, deram a vida para comunicar a verdade do amor de Deus que nos foi revelado em Cristo crucificado e ressuscitado. Além disso, exprimo a gratidão da Igreja inteira aos cristãos que não se rendem perante os obstáculos e as perseguições por causa do Evangelho. Ao mesmo tempo unimo-nos, com profunda e solidária estima, aos fiéis de todas as comunidades cristãs, particularmente na Ásia e na África, que neste tempo arriscam a vida ou a marginalização social por causa da fé. Vemos realizar-se aqui o espírito das bem-aventuranças do Evangelho para aqueles que são perseguidos por causa do Senhor Jesus (cf. Mt 5, 11). Ao mesmo tempo não cessamos de erguer a nossa voz para que os governos das nações garantam a todos liberdade de consciência e de religião, inclusive para poder testemunhar publicamente a própria fé. [25]


Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.



[i] Cf. Congr. para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Directório sobre Piedade Popular e Liturgia. Princípios e Orientações (17 de Dezembro de 2001), 197-202: Ench. Vat. 20, nn. 2638-2643. 
[ii] Cf. Propositio 55. 
[iii] Cf. João Paulo II, Carta ap. Rosarium Virginis Mariae (16 de Outubro de 2002): AAS 95 (2003), 5-36. 
[iv] Propositio 55. 
[v] Cf. Congr. para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Directório sobre Piedade Popular e Liturgia. Princípios e Orientações (17 de Dezembro de 2001), 207: Ench. Vat. 20, nn. 2656-2657. 
[vi] Cf. Propositio 51.
[vii] Bento XVI, Homilia na Santa Missa junto do Vale de Josafat, em Jerusalém (12 de Maio de 2009): AAS 101 (2009), 473. 
[viii] Cf. Epistula 108, 14: CSEL 55, 324-325. 
[ix] Adversus haereses, IV, 20, 7: PG 7, 1037. 
[x] Bento XVI, Carta enc. Spe salvi (30 de Novembro de 2007), 31: AAS 99 (2007), 1010. 
[xi] Bento XVI, Discurso aos homens de cultura no «Collège des Bernardins» de Paris (12 de Setembro de 2008): AAS 100 (2008), 730.
[xii] Cf. In Evangelium secundum Matthaeum 17, 7: PG 13, 1197B; S. Jerónimo, Translatio homiliarum Origenis in Lucam 36: PL 26, 324-325. 
[xiii] Cf. Bento XVI, Homilia por ocasião da abertura da XII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (5 de Outubro de 2008): AAS 100 (2008), 757. 
[14] Propositio 38. 
[15] Cf. Congr. para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, Instr. Recomeçar a partir de Cristo. Um renovado compromisso da vida consagrada no terceiro milénio (19 de Maio de 2002), 36: Ench. Vat. 21, nn. 488-491. 
[16] Propositio 30. 
[17] Cf. Propositio 38.
[18] Cf. Propositio 49.
[19] Cf. João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de 1990): AAS 83 (1991), 294-340; Idem, Carta ap. Novo millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), 40: AAS 93 (2001), 294-295.
[20] Propositio 38. 
[21] Cf. Bento XVI, Homilia por ocasião da abertura da XII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (5 de Outubro de 2008): AAS 100 (2008), 753-757. 
[22] Propositio 38. 
[23] Mensagem final, IV, 12. 
[24] Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi (8 de Dezembro de 1975), 22: AAS 68 (1976), 20. 
[25] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decl. Dignitatis humanae, 2.7. 

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