O servo mau e preguiçoso [i] desdenhou da predilecção de que tinha sido objecto ao enterrar o talento; deixou passar o tempo sem descobrir as possibilidades que encerrava aquela fortuna. Não quis complicar a vida e, deste modo, nunca chegou a saber o que poderia ter feito, nem descobrir o motivo pelo qual o Senhor tinha tido tanta confiança nele.
É um perigo sempre presente,
porque no caminho da chamada «é fácil um primeiro entusiasmo, mas depois vem a
constância também nos caminhos monótonos do deserto que se hão-de atravessar ao
longo da vida, a paciência de prosseguir sempre igual, mesmo quando diminui o
romantismo da primeira hora e só fica o “sim” profundo e puro da fé» [ii].
Certamente, que se poderia
enterrar o talento uma vez que se começou a negociar com ele. Mas o Senhor
indica-nos qual é o meio para que isso não aconteça: se guardais os Meus mandamentos,
permanecereis no Meu amor [iii]. «Se o fruto que devemos produzir
é amor, uma condição prévia é precisamente este “permanecer”, que tem que ver
profundamente com a fé que não se afasta do Senhor» [iv].
Manter-se no caminho que
Deus mostrou implica, em si mesmo, uma demonstração de amor e de fé. E o
segredo da fidelidade radica precisamente no amor: Qual é o segredo da
perseverança? O Amor. – Enamora-te, e não “O” deixarás [v].
D. Álvaro, sucessor de São
Josemaria, comentando este ponto de Caminho, dizia que também se podia afirmar:
não “O” deixes, e enamorar-te-ás; sê leal e acabarás louco de amor a Deus [vi]. O Senhor recompensa a fé
perseverante, levando a bom termo a Sua obra e atraindo cada um à Sua Pessoa [vii]. Assim, a lealdade é uma
fonte de equilíbrio pessoal, pois quem é leal consolida um clima de paz à sua
volta; comunica segurança e confiança, afasta o medo e as incertezas.
A parábola dos talentos
mostra esta primazia do amor: o amo recompensa os servos fazendo-os
participantes da sua alegria, da sua própria pessoa; não dá simplesmente algo
que lhe pertence, mas dá-se a ele mesmo. A diligência que mostraram os servos
fiéis é também sinal da proximidade que tinham com Ele; e é que a fidelidade
cristã não é só a lealdade a uma doutrina, ou a um dogma: o cristão é fiel à
pessoa viva de Cristo, com quem tem uma relação de amizade.
Por isso, a perseverança não
pode entender-se como algo rígido, frio ou calculado; não produz uma vontade
inamovível nem insensível às alterações de ânimo ou de circunstâncias; é,
antes, o seu contrário: a fidelidade torna o homem flexível, para enfrentar o
sopro de qualquer vento, pois nasce do amor e o amor é inventivo, como o é o
Espírito.
Se permanecer fiel ao meu
Deus, o Amor vivificar-me-á continuamente. A minha juventude renovar-se-á como
a da águia [viii]. A santidade é a vida a que
estamos chamados. O caminho é claro e está traçado, esculpido, com traços
precisos. É este o caminho em que entrámos por mediação de Maria e que seguimos
com a sua protecção ser Obra de Deus, esforçar-nos por responder fielmente –
com o coração! – às moções do Espírito Santo.
m.
díez, j. morales, j. verdiá, 2012.02.27
Nota: Revisão gráfica por ama.
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