Questão
112: Da missão dos
anjos.
Art. 2 — Se todos os anjos
são enviados em ministério.
(II
Sent., dist. X. a. 2, Hebr., Xp. I. lect. VI)
O
segundo discute-se assim. — Parece que todos os anjos são mandados em
ministério.
1.
— Pois, diz o Apóstolo: Todos esses espíritos são uns administradores, enviados
para exercer o seu ministério.
2. Demais. — Entre as ordens, a suprema é a dos Serafins, como resulta do que já foi dito. Ora, um Serafim foi enviado para purificar os lábios do Profeta, como se lê em Isaías. Logo, com maior razão, os anjos inferiores são enviados.
3.
Demais. — As divinas Pessoas excedem infinitamente todas as ordens dos anjos.
Ora, Elas são enviadas, como antes se disse: Logo, com maior razão, qualquer
dos anjos supremos.
4.
Demais. — Se os anjos superiores não são enviados para ministério exterior, tal
não é senão porque executam os ministérios divinos, pelos inferiores. Ora, como
todos os anjos são desiguais, conforme já se estabeleceu, qualquer anjo, excepto
o último, se serve do inferior. Logo, só o último é o enviado em ministério, o
que vai contra a Escritura que diz: Um milhão o serviam. Mas, em contrário, diz
Gregório, referente à sentença de Dionísio: As ordens superiores de nenhum modo
exercem o ministério exterior.
Como do sobredito resulta, é ordem da divina providência, não só quanto aos
anjos, mas quanto a todo o universo, que os seres inferiores sejam governados
pelos superiores. Mas para a manifestação da graça, que é de ordem mais alta, o
princípio agora referido sofre transgressão, por dispensa divina, quanto aos
seres corpóreos. Assim, Deus iluminou o cego e ressuscitou Lázaro, imediatamente,
sem a acção dos corpos celestes. Mas, também os anjos bons e maus podem exercer
influência nos corpos, fora da acção dos corpos celestes, condensando as nuvens
em chuvas, ou coisas semelhantes. Nem deve ninguém duvidar que Deus possa imediatamente
revelar certas coisas aos homens, sem a mediação dos anjos, bem como os anjos
superiores, sem a mediação dos inferiores. Segundo, pois, esta consideração,
alguns disseram que pela lei comum os superiores não são enviados, mas só os
inferiores, mas por dispensa divina às vezes também os superiores são enviados.
— Mas isto não é racional, porque a ordem angélica é relativa aos dons da
graça. Ora, a ordem da graça não deve ser preterida a nenhuma outra ordem,
assim como a ordem da natureza lhe é preterida. E deve considerar-se também que
a ordem da natureza, na operação dos milagres, é preterida, para a confirmação
da fé, para o que nada serviria preterir a ordem angélica, porque nós não
poderíamos percebê-lo. Ora, nada há tão grande, nos ministérios divinos, que
não possa ser exercido pelas ordens inferiores. Donde, Gregório diz, que os
núncios das coisas mais elevadas chamam-se Arcanjos. E por isso, foi enviado à
Virgem Maria o Arcanjo Gabriel, tendo sido esse o mais elevado de todos os
ministérios divinos, como no mesmo passo se diz. Donde, deve concluir-se, absolutamente,
com Dionísio, que os anjos superiores nunca são enviados para ministério
exterior.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Como, nas Pessoas divinas, uma é a missão
visível, relativa à criatura corpórea, outra, invisível, relativa ao afecto
espiritual, assim também há uma missão angélica chamada exterior, relativa a
algum ministério, referente a seres corpóreos e, para tal missão nem todos os
anjos são enviados. Mas há outra missão, interior, relativa aos afectos
intelectuais, pela qual um anjo ilumina outro, e assim todos os anjos são
enviados. — Ou, de outro modo, deve-se dizer, que no passo citado, o Apóstolo
quer provar que Cristo é maior que os anjos, pelos quais foi dada a lei,
mostrando assim a excelência da lei nova sobre a antiga. Donde deve
necessariamente compreender-se esse passo como referente só aos ministérios do
anjo, pelos quais foi dada a lei.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Segundo Dionísio, o anjo mandado para purificar os lábios do
profeta era dos inferiores, mas foi chamado Serafim, isto é, que incendeia,
equivocamente por ter vindo incendiar os lábios do profeta. — Ou deve dizer-se,
que os anjos superiores comunicam os dons próprios, pelos quais são
denominados, mediante os anjos inferiores. Assim, diz-se que um Serafim
purificou, incendiando, os lábios do profeta, não que o fizesse imediatamente,
mas que, pela sua virtude, o fez por meio de um anjo inferior. Assim como se
diz que o Papa absolve alguém, mesmo que dê a absolvição por ofício de outrem.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — As Pessoas divinas não são enviadas em ministério, mas, diz-se
que o são, equivocamente, como resulta do que se estabeleceu antes.
RESPOSTA
À QUARTA. — Há muitos graus nos ministérios divinos. Donde, nada impede que
mesmo anjos desiguais sejam enviados imediatamente para esses ministérios, de
modo porém que os superiores sejam enviados para os ministérios mais altos, e
os inferiores, para os inferiores.
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