Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Lc 20, 27-47
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Evangelho: Lc 20, 27-47
27 Aproximaram-se depois alguns
saduceus, que negam a ressurreição, e fizeram-Lhe a seguinte pergunta: 28
«Mestre, Moisés deixou-nos escrito: “Se morrer o irmão de algum homem, tendo
mulher, e não deixar filhos, case-se com ela o seu irmão, para dar descendência
ao irmão”. 29 Ora, havia sete irmãos. O primeiro casou, e morreu sem
filhos. 30 Casou também o segundo com a viúva, e morreu sem filhos. 31
Casou depois com ela o terceiro. E assim sucessivamente todos os sete; e
morreram sem deixar filhos. 32 Morreu enfim também a mulher. 33
Na ressurreição, de qual deles será ela mulher, pois que o foi de todos os
sete?». 34 Jesus disse-lhes: «Os filhos deste mundo casam e são
dados em casamento, 35 mas os que forem julgados dignos do mundo
futuro e da ressurreição dos mortos, não desposarão mulheres, nem as mulheres
homens, 36 porque não poderão jamais morrer; porquanto são
semelhantes aos anjos e são filhos de Deus, visto serem filhos da ressurreição.
37 Que os mortos hajam de ressuscitar, o mostrou também Moisés no
episódio da sarça, quando chamou ao Senhor o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, e
o Deus de Jacob. 38 Ora Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, porque
para Ele todos são vivos». 39 Alguns dos escribas disseram-Lhe:
«Mestre, falaste bem». 40 Dali em diante, não se atreveram mais a
interrogá-l'O. 41 Jesus disse-lhes: «Como dizem que o Cristo é filho
de David? 42 O próprio David, no livro dos Salmos, diz: “Disse o
Senhor ao meu Senhor: Senta-Te à Minha direita, 43 até que Eu ponha
os Teus inimigos por escabelo de Teus pés”. 44 Se David, então, Lhe
chama Senhor, como pode Ele ser seu filho?». 45 Depois, ouvindo-O
todo o povo, Jesus disse aos Seus discípulos: 46 «Guardai-vos dos
escribas, que gostam de andar com vestidos compridos, de ser saudados nas
praças, de ocupar as primeiras cadeiras nas sinagogas e os primeiros lugares
nos banquetes; 47 que devoram as casas das viúvas a pretexto de
longas orações. Estes receberão uma condenação mais severa».
CARTA
ENCÍCLICA
POPULORUM PROGRESSIO
DE
SUA SANTIDADE PAPA PAULO VI
AOS
BISPOS, SACERDOTES, RELIGIOSOS, FIÉIS
E
A TODOS OS HOMENS DE BOA VONTADE
SOBRE
O DESENVOLVIMENTO DOS POVOS
…/2
3. AÇÃO A EMPREENDER
O DESTINO UNIVERSAL DOS
BENS
22.
"Enchei a terra e dominai-a"
[1]:
logo desde a primeira página, a Bíblia ensina-nos que toda a criação é para o
homem, com a condição de ele aplicar o seu esforço inteligente em valorizá-la
e, pelo seu trabalho, por assim dizer, completá-la ao seu serviço. Se a terra é
feita para fornecer a cada um os meios de subsistência e os instrumentos do
progresso, todo o homem tem direito, portanto, de nela encontrar o que lhe é
necessário. O recente Concílio
lembrou-o: "Deus destinou a terra e tudo o que nela existe ao uso de todos
os homens e de todos os povos, de modo que os bens da criação afluam com
equidade às mãos de todos, segundo a regra da justiça, inseparável da
caridade". [2]
Todos os outros direitos, quaisquer que sejam, incluindo os de propriedade e de
comércio livre, estão-lhe subordinados: não devem portanto impedir, mas, pelo
contrário, facilitar a sua realização; e é um dever social grave e urgente
conduzi-los à sua primeira finalidade.
A propriedade
23.
"Se alguém, gozando dos bens deste mundo, vir o seu irmão em necessidade e
lhe fechar as entranhas, como permanece nele a caridade de Deus?". [3]
Sabe-se com que insistência os Padres da Igreja determinaram qual deve ser a
atitude daqueles que possuem em relação aos que estão em necessidade: "não
dás da tua fortuna, assim afirma santo Ambrósio, ao seres generoso para com o
pobre, tu dás daquilo que lhe pertence. Porque aquilo que te atribuis a ti, foi
dado em comum para uso de todos. A terra foi dada a todos e não apenas aos
ricos". [4]
Quer dizer que a propriedade privada não constitui para ninguém um direito
incondicional e absoluto. Ninguém tem direito de reservar para seu uso
exclusivo o que é supérfluo, quando a outros falta o necessário. Numa palavra,
"o direito de propriedade nunca deve exercer-se em detrimento do bem
comum, segundo a doutrina tradicional dos Padres da Igreja e dos grandes
teólogos". Surgindo algum conflito "entre os direitos privados e
adquiridos e as exigências comunitárias primordiais", é ao poder público
que pertence "resolvê-lo, com a participação activa das pessoas e dos
grupos sociais". [5]
O uso dos rendimentos
24.
O bem comum exige por vezes a expropriação, se certos domínios colocam
obstáculos à prosperidade colectiva, pelo facto da sua extensão, da sua
exploração fraca ou nula, da miséria que daí resulta para as populações, do
prejuízo considerável causado aos interesses do país. Afirmando-o com clareza, [6] o
Concílio também lembrou, não menos
claramente, que o rendimento disponível não está entregue ao livre capricho dos
homens, e que as especulações egoístas devem ser banidas. Assim, não é
admissível que cidadãos com grandes rendimentos, provenientes da actividade e
dos recursos nacionais, transfiram uma parte considerável para o estrangeiro,
com proveito apenas pessoal, sem se importarem do mal evidente que com isso
causam à pátria. [7]
INDUSTRIALIZAÇÃO
25.
Necessária ao rendimento económico e ao progresso humano, a introdução da
indústria é ao mesmo tempo, sinal e factor de desenvolvimento. Por meio de uma
aplicação tenaz da inteligência e do trabalho, o homem consegue arrancar, pouco
a pouco, os segredos à natureza e usar melhor das suas riquezas. Ao mesmo tempo
que disciplina os hábitos, desenvolve em si o gosto da investigação e da
invenção, o acolhimento do risco prudente, a audácia nas empresas, a iniciativa
generosa e o sentido da responsabilidade.
Capitalismo liberal
26.
Infelizmente, sobre estas novas condições da sociedade, construiu-se um sistema
que considerava o lucro como motor essencial do progresso económico, a
concorrência como lei suprema da economia, a propriedade privada dos bens de
produção como direito absoluto, sem limite nem obrigações sociais
correspondentes. Este liberalismo sem freio conduziu à ditadura denunciada com
razão por Pio XI, como geradora do "imperialismo internacional do
dinheiro". [8]
Nunca será demasiado reprovar tais abusos, lembrando mais uma vez, solenemente,
que a economia está ao serviço do homem. [9]
Mas, se é verdade que um certo capitalismo foi a fonte de tantos sofrimentos,
injustiças e lutas fratricidas com efeitos ainda duráveis, é contudo sem motivo
que se atribuem à industrialização males que são devidos ao nefasto sistema que
a acompanhava. Pelo contrário, é necessário reconhecer com toda a justiça o
contributo insubstituível da organização do trabalho e do progresso industrial
na obra do desenvolvimento.
O trabalho
27.
De igual modo, se por vezes reina uma mística exagerada do trabalho, não resta
dúvida de que este é querido e abençoado por Deus. Criado à sua imagem "o
homem deve cooperar com o Criador no aperfeiçoamento da criação e imprimir, por
sua vez, na terra, o cunho espiritual que ele próprio recebeu". [10]
Deus, que dotou o homem de inteligência, de imaginação e de sensibilidade,
deu-lhe assim o meio para completar, de certo modo, a sua obra: ou seja artista
ou artífice, empreendedor, operário ou camponês, todo o trabalhador é um
criador. Debruçado sobre uma matéria que lhe resiste, o trabalhador imprime-lhe
o seu cunho, enquanto para si adquire tenacidade, engenho e espírito de
invenção. Mais ainda, vivido em comum, na esperança, no sofrimento, na
aspiração e na alegria partilhada, o trabalho une as vontades, aproxima os
espíritos e solda os corações: realizando-o, os homens descobrem que são
irmãos. [11]
A sua ambivalência
28.
Ambivalente, sem dúvida, pois promete dinheiro, gozo e poder, convidando uns ao
egoísmo e outros à revolta, o trabalho também desenvolve a consciência
profissional, o sentido do dever e a caridade para com o próximo. Mais
científico e melhor organizado, corre o perigo de desumanizar o seu executor,
tornando-o escravo, pois o trabalho só é humano na medida em que permanecer
inteligente e livre. João XXIII lembrou a urgência de restituir ao trabalhador
a sua dignidade, fazendo-o participar realmente na obra comum: "deve-se
tender a que a empresa se transforme numa comunidade de pessoas, nas relações,
funções e situações de todo o seu pessoal". [12] O
trabalho dos homens e, com maior razão o dos cristãos, tem ainda a missão de
colaborar na criação do mundo sobrenatural, [13]
inacabado até chegarmos todos a construir esse Homem perfeito de que fala são
Paulo, "que realiza a plenitude de Cristo". [14]
Urgência da obra a
realizar
29.
Urge começar: são muitos os homens que sofrem, e aumenta a distância que separa
o progresso de uns da estagnação e, até mesmo, do retrocesso de outros. No
entanto, é preciso que a obra a realizar progrida harmoniosamente, sob pena de
destruir equilíbrios indispensáveis. Uma reforma agrária improvisada pode
falhar o seu objectivo. Uma industrialização precipitada pode desmoronar
estruturas ainda necessárias, criar misérias sociais que seriam um retrocesso
humano.
Tentação da violência
30.
Há, certamente, situações cuja injustiça brada aos céus. Quando populações
inteiras, desprovidas do necessário, vivem numa dependência que lhes corta toda
a iniciativa e responsabilidade, e também toda a possibilidade de formação
cultural e de acesso à carreira social e política, é grande a tentação de
repelir pela violência tais injúrias à dignidade humana.
Revolução
31.
Não obstante, sabe-se que a insurreição revolucionária – salvo casos de tirania
evidente e prolongada que ofendesse gravemente os direitos fundamentais da
pessoa humana e prejudicasse o bem comum do país – gera novas injustiças,
introduz novos desequilíbrios, provoca novas ruínas. Nunca se pode combater um
mal real à custa de uma desgraça maior.
Reforma
32.
Desejaríamos ser bem compreendidos: a situação actual deve ser enfrentada
corajosamente, assim como devem ser combatidas e vencidas as injustiças que ela
comporta. O desenvolvimento exige transformações audaciosas, profundamente
inovadoras. Devem empreender-se, sem demora, reformas urgentes. Contribuir para
elas com a sua parte, compete a cada pessoa, sobretudo àquelas que, por
educação, situação e poder, têm grandes possibilidades de influxo. Dando
exemplo, tirem dos seus próprios bens, como fizeram alguns dos nossos irmãos no
episcopado. [15]
Responderão, assim, à expectativa dos homens e serão fiéis ao Espírito de Deus,
porque foi "o fermento evangélico que suscitou e suscita no coração do
homem uma exigência incoercível de dignidade. [16]
Programas e planificação
33.
Não bastam para assegurar o êxito do desenvolvimento unicamente a iniciativa
individual e o simples jogo da concorrência. Não é lícito aumentar a riqueza
dos ricos e o poder dos fortes, confirmando a miséria dos pobres e tornando
maior a escravidão dos oprimidos. São necessários programas para
"encorajar, estimular, coordenar, suprir e integrar" [17] a
acção dos indivíduos e dos organismos intermediários. Pertence aos poderes
públicos escolher e, mesmo impor, os objectivos a atingir, os fins a alcançar e
os meios para os conseguir e é a eles que compete estimular todas as forças
conjugadas nesta acção comum. Tenha-se porém o cuidado de associar a esta obra
as iniciativas privadas e os organismos intermediários. Assim, se evitará o
perigo de uma colectivização integral ou de uma planificação arbitrária que,
privando os homens da liberdade, poriam de parte o exercício dos direitos
fundamentais da pessoa humana.
Ao serviço do homem
34.
Porque, qualquer programa feito para aumentar a produção não tem, afinal, razão
de ser senão colocado ao serviço da pessoa. Deve reduzir desigualdades,
combater discriminações, libertar o homem da servidão, torná-lo capaz de, por
si próprio, ser o agente responsável do seu bem-estar material, progresso moral
e desenvolvimento espiritual. Dizer desenvolvimento, é com efeito preocupar-se
tanto com o progresso social como com o crescimento económico. Não basta
aumentar a riqueza comum, para que ela seja repartida equitativamente. Não
basta promover a técnica, para que a terra possa ser habitada de maneira mais
humana. Nos erros dos predecessores reconheçam, os povos que se encontram em
fase de desenvolvimento, um aviso dos perigos que hão-de evitar neste domínio.
A tecnocracia de amanhã pode gerar ainda piores males que o liberalismo de
ontem. Economia e técnica não têm sentido, senão em função do homem, ao qual
devem servir. E o homem só é verdadeiramente homem, na medida em que, senhor
das suas ações e juiz do valor destas, é autor do seu progresso, em
conformidade com a natureza que lhe deu o Criador, cujas possibilidades e
exigências ele aceita livremente.
Alfabetização
35.
Pode mesmo afirmar-se que o crescimento económico depende, em primeiro lugar do
progresso social que ela pode suscitar, e que a educação de base é o primeiro
objetivo dum plano de desenvolvimento. A fome de instrução não é menos
deprimente que a fome de alimentos: um analfabeto é um espírito subalimentado.
Saber ler e escrever, adquirir uma formação profissional, é ganhar confiança em
si próprio e descobrir que pode avançar junto com os outros. Como dizíamos na
nossa mensagem ao Congresso da UNESCO, em Teerão no ano de 1965, a
alfabetização é para o homem "factor primordial de integração social e de
enriquecimento da pessoa e, para a sociedade, instrumento privilegiado de
progresso económico e desenvolvimento". [18]
Por isso nos alegramos com trabalho realizado neste domínio pelas iniciativas
privadas, pelos poderes públicos e organizações internacionais: são os
primeiros obreiros do desenvolvimento, porque tornam o homem apto a
empreendê-lo.
Família
36.
Mas o homem só é homem quando integrado no seu meio social, onde a família
desempenha papel de primeira ordem. Este foi por vezes excessivo, em certas
épocas e regiões, quando exercido à custa de liberdades fundamentais da pessoa.
Os antigos quadros sociais dos países em via de desenvolvimento, muitas vezes
demasiado rígidos e mal organizados, ainda são necessários por algum tempo,
embora devam ir diminuindo o que têm de influência exagerada. Porém, a família
natural, monogâmica e estável, tal como o desígnio de Deus a concebeu [19] e
o cristianismo a santificou, deve continuar a ser esse "lugar de encontro
de várias gerações que reciprocamente se ajudam a alcançar uma sabedoria mais
plena e a conciliar os direitos pessoais com as outras exigências da vida
social". [20]
Demografia
37.
É bem verdade que um crescimento demográfico acelerado vem, com demasiada
frequência, trazer novas dificuldades ao problema do desenvolvimento: o volume
da população aumenta muito mais rapidamente que os recursos disponíveis, e
cria-se uma situação que parece não ter saída. Surge, por isso, a grande
tentação de refrear o crescimento demográfico por meios radicais. É certo que
os poderes públicos, nos limites da sua competência, podem intervir, promovendo
uma informação apropriada, e tomando medidas aptas, contanto que sejam
conformes às exigências da lei moral e respeitem a justa liberdade dos
cônjuges. Sem direito inalienável ao matrimónio e à procriação, não existe
dignidade humana. Em última análise, é aos pais que compete determinar, com
pleno conhecimento de causa, o número de filhos, assumindo a responsabilidade
perante Deus, perante eles próprios, perante os filhos que já nasceram e
perante a comunidade a que pertencem, de acordo com as exigências da sua
consciência, formada segundo a lei de Deus autenticamente interpretada e
sustentada pela confiança nele. [21]
Organizações profissionais
38.
Na obra do desenvolvimento, o homem, que na família encontra o seu modo de vida
primordial, é muitas vezes ajudado por organizações profissionais. Se a razão
de ser destas organizações é promover os interesses dos seus membros, torna-se
grande a sua responsabilidade perante a tarefa educativa que elas podem e devem
realizar. Através das informações dadas e da formação que propõem, têm o poder
de transmitir a todos o sentido do bem comum e das obrigações que ele impõe a
cada homem.
Pluralismo legítimo
39.
Toda a acção social implica uma doutrina, mas o cristão não pode admitir a que
implique uma filosofia materialista e ateia que não respeite a orientação
religiosa da vida para o seu último fim, nem a liberdade e a dignidade humana.
Mas, garantidos estes valores, é admissível e, até certo ponto útil, um
pluralismo de organizações profissionais e sindicais, contanto que ele proteja
a liberdade e provoque a emulação. E com toda a nossa alma que prestamos
homenagem a quem quer que, por este meio, trabalha servindo desinteressadamente
os seus irmãos.
Promoção cultural
40.
Além de organizações profissionais, funcionam também instituições culturais,
cujo papel não é de menos valor para o bom êxito do desenvolvimento. "O
futuro do mundo está ameaçado, afirma gravemente o Concílio, se na nossa época não surgirem homens dotados de
sabedoria". E acrescenta: "numerosos países, pobres em bens
materiais, mas ricos em sabedoria, podem trazer aos outros inapreciável
contribuição". [22]
Rico ou pobre, cada país possui uma civilização recebida dos antepassados:
instituições vocacionadas para a vida terrestre e manifestações superiores –
artísticas, intelectuais e religiosas – da vida do espírito. Quando estas
últimas possuem verdadeiros valores humanos, grande erro é sacrificá-los àquelas.
Um povo que nisso consentisse perderia o melhor de si mesmo, sacrificaria,
julgando encontrar vida, a razão da sua própria vida. O ensinamento de Cristo
vale também para os povos: "De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro,
se vem a perder a sua alma?" [23]
Tentação materialista
41.
Nunca será demais defender os países pobres desta tentação que lhes vem dos
povos ricos que apresentam, muitas vezes, não só o exemplo do seu êxito numa
civilização técnica e cultural, mas também o modelo de uma actividade, aplicada
sobretudo à conquista da prosperidade material. Esta não impede, por si própria,
a actividade do espírito. Pelo contrário, "o espírito, mais liberto da
escravidão das coisas, pode facilmente elevar-se ao culto e contemplação do
Criador". [24]
No entanto, "a civilização actual, não pelo que tem de essencial, mas pelo
facto de estar muito ligada com as realidades terrestres, torna muitas vezes
mais difícil o acesso a Deus". [25]
Naquilo que lhes é proposto, os povos em via de desenvolvimento devem saber escolher:
criticar e eliminar os falsos bens que levariam a uma diminuição do ideal
humano, e aceitar os valores verdadeiros e benéficos, para os desenvolver,
juntamente com os seus, segundo a própria índole.
PARA UM HUMANISMO TOTAL
Conclusão
42.
É necessário promover um humanismo total. [26]
Que vem ele a ser senão o desenvolvimento integral do homem todo e de todos os
homens? Poderia aparentemente triunfar um humanismo limitado, fechado aos
valores do espírito e a Deus, fonte do verdadeiro humanismo. O homem pode
organizar a terra sem Deus, mas "sem Deus só a pode organizar contra o
homem. Humanismo exclusivo é humanismo desumano". [27]
Não há, portanto, verdadeiro humanismo, senão o aberto ao Absoluto,
reconhecendo uma vocação que exprime a ideia exacta do que é a vida humana. O
homem, longe de ser a norma última dos valores, só se pode realizar a si mesmo,
ultrapassando-se. Segundo a frase, tão exacta de Pascal: "O homem
ultrapassa infinitamente o homem". [28]
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama
[3] Jo 3,17.
[4] De Nabuthe, c.12,
n. 53, PL 14, 747. Cf. J.R. Palanque, Saint Ambroise et l'empire romain, Paris,
de Boccard, 1933, pp. 336ss.
[5] Lettre à la Semaine
sociale de Brest, em L'homme et la révolution urbaine, Lyon, Chronique
sociale,1965, pp. 8 e 9.
[6] Gaudium et Spes, n. 71, § 6.
[7] Cf. Ibid., n. 65 § 3.
[8] Encíclica
Quadragesimo Anno, 15 de maio de 1931, AAS 23 (1931), p. 212.
[9] Cf., por exemplo, Colin Clark, The coditions of
economic progress, 3, ed., London, Macmillan & Co., New York, St. Martin's
Press,1960, pp. 3-6.
[10] Lettre à la Semaine sociale de Lyons, em Le
travail et les travailleurs dans la société contemporaine, Lyon, Chronique
sociale,1965, p. 6.
[11] Cf., por exemplo,
M. D. Chenu, O.P. Pour une théologie du travail, Paris, Editions du Seuil,1955.
[12] Mater et Magistra, AAS 53 (1961), p. 423.
[13] Cf., por exemplo, O. von Nell-Breuning S.J.,
Wirtschaft und Gesellschaft, t. 1: Grundfragen, Freiburg, Herder,1956,
pp.183-184.
[14] Ef 4,13.
[15] Cf., por exemplo,
D. M. Larrain Errazuriz, Bispo de Talca (Chile), Presidente da CELAM,
Desarrollo: Exito e Fracasso en America Latina: lantado de um Obispo a los
Christianos,1965, Edit. Universidad Catolica, Santiago, Chile.
[16] Gaudium et Spes, n.
26, § 4.
[17]
Mater et Magistra, AAS 53 (1961), p. 414.
[18] L'Osservatore
Romano, 11 de setembro,1965.
[19] Cf. Mt 19, 6.
[20] Gaudium et Spes, n. 52, § 2.
[21] Cf. Ibid., n. 50-51
(e n.14), n. 87, § 2 e 3.
[22] Ibid., n.15, § 3.
[23] Mt 16,26.
[24] Gaudium et Spes, n. 57,4.
[25] Ibid., n.19 § 2.
[26] Cf., por exemplo, J.
Maritain, L'humanisme intégral, Paris, Aubier,1936.
[27] H. de Lubac S. J.,
Le Brame de l'humanisme athée, 3ª ed., Paris, Spes, 1945, p.10.
[28] Pensées, ed. Brunschviecg,
n. 434. Cf. M. Zundeil, L'homme passe l'homme, Le Caire, Editions du Lien,1944.
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