Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Lc 19, 28-48
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Evangelho: Lc 19, 28-48
28 Dito isto, ia
Jesus adiante, subindo para Jerusalém. 29 Aconteceu que, quando
chegou perto de Betfagé e de Betânia junto do monte chamado das Oliveiras,
enviou dois dos Seus discípulos, 30 dizendo-lhes: «Ide a essa aldeia
que está em frente e, entrando nela, encontrareis um jumentinho atado em que
nunca montou pessoa alguma; soltai-o e trazei-o. 31 Se alguém vos
perguntar porque o soltais, dir-lhe-eis: Porque o Senhor tem necessidade dele».
32 Partiram, pois, os que tinham sido enviados e encontraram tudo
como o Senhor lhes dissera. 33 Quando desprendiam o jumentinho,
disseram-lhes os seus donos: «Porque soltais esse jumentinho?». 34
Eles responderam: «Porque o Senhor tem necessidade dele». 35
Levaram-no a Jesus. E, lançando sobre o jumentinho os seus mantos, fizeram-n'O
montar em cima. 36 À Sua passagem, as multidões estendiam os seus
mantos no caminho. 37 Quando já ia chegando à descida do monte das
Oliveiras, toda a multidão dos Seus discípulos começou alegremente a louvar a
Deus em altas vozes por todas as maravilhas que tinham visto, 38
dizendo: “Bendito o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas
alturas!”». 39 Então alguns dos fariseus que se achavam entre o
povo, disseram-Lhe: «Mestre, repreende os Teus discípulos». 40 Mas
Ele respondeu-lhes: «Digo-vos que, se eles se calarem, gritarão as pedras». 41
Quando chegou perto, ao ver a cidade, chorou sobre ela, dizendo: 42
«Se ao menos neste dia que te é dado, tu também conhecesses o que te pode
trazer a paz!... Mas agora isto está encoberto aos teus olhos. 43
Porque virão para ti dias em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras,
te sitiarão, te apertarão por todos os lados,44 te deitarão por
terra a ti e aos teus filhos que estão dentro de ti, e não deixarão em ti pedra
sobre pedra, porque não conheceste o tempo em que foste visitada». 45
Tendo entrado no templo, começou a expulsar os vendedores, 46
dizendo-lhes: «Está escrito: “A Minha casa é casa de oração; e vós fizestes
dela um covil de ladrões”». 47 Todos os dias ensinava no templo. Mas
os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os chefes do povo procuravam
perdê-l'O; 48 porém, não sabiam como proceder, porque todo o povo
estava suspenso quando O ouvia.
CARTA ENCÍCLICA
SAECULO EXEUNTE OCTAVO (*)
DO SUMO PONTÍFICE PAPA PIO XII
AO PATRIARCA DE LISBOA, AOS ARCEBISPOS E BISPOS DE
PORTUGAL
A ACTIVIDADE MISSIONÁRIA PORTUGUESA
1.
O VIII Centenário da Fundação de Portugal e o III de sua restauração, que a
vossa gloriosa e nobre pátria celebra este ano com grande solenidade e unidade
de intentos, não podiam deixar indiferentes o vigilante interesse desta Sé
Apostólica, nem, muito menos, o nosso coração de pai comum dos fiéis.
2.
Temos igualmente motivo especial para participar da comemoração de vossa
primeira independência, sendo um facto que a Santa Sé, como é notório,
colaborou para que lhe viesse dada uma constituição jurídica.
3.
Os actos com os quais os nossos predecessores do século XII, Inocêncio II,
Lúcio II e Alexandre III aceitaram a homenagem de obediência prestada por
Afonso Henriques, conde e, em seguida, rei de Portugal, tendo-lhe prometido sua
protecção, declararam independência de todo o território, que ao preço de
duríssimas lutas tinha sido valorosamente recuperado do domínio sarraceno, foi
o prémio com o qual a Sé de Pedro compensou o generoso povo português pelas
suas extraordinárias benemerências em favor da fé católica.
4.
Tal fé católica, tendo sido, de certo modo, a linfa vital, que alimentou a
nação portuguesa desde seu nascimento, assim foi senão a única, certamente a
principal fonte de energia, que elevou a vossa pátria ao apogeu da sua glória
de nação civil e nação missionária, "expandindo a fé e o império".
[1]
Refere-o a história e os factos o atestam.
5.
Afinal, quando os filhos do rei João I lhe pediram para autorizar a primeira
expedição ultramarina, que implicou depois na libertação de Ceuta, o grande e
piedoso monarca, antes de qualquer outra coisa, quis saber se a iniciativa
seria útil para o serviço de Deus. À semelhança de todas as outras iniciativas
que se seguiram, também esta teve como escopo principal a propagação da fé,
aquela mesma fé que teria animado a cruzada do ocidente e as ordens equestres
na épica luta contra o domínio dos mouros.
6.
Nas caravelas que, ostentando o branco pendão assinalado pela cruz de Cristo,
deslocavam os intrépidos descobridores portugueses nas costas ocidentais da
África e das ilhas adjacentes, navegavam também os missionários, "para
atrair as nações bárbaras ao jugo de Cristo", como se exprimia o grande
pioneiro da expansão colonial e missionária portuguesa, o infante Henrique, o
navegador.
7.
O príncipe dos exploradores portugueses, Vasco da Gama, quando levantou as
âncoras para iniciar sua aventurosa viagem às Índias, levou consigo dois padres
trinitários, um dos quais, após ter pregado com zelo apostólico o evangelho às
gentes da Índia, coroou o seu árduo apostolado com o martírio. O seu sangue e
aquele de outros heróicos missionários portugueses foi, naqueles lugares
remotos, como sempre e em toda parte é o sangue dos mártires, semente de
cristãos; o seu luminoso exemplo foi para todo o mundo católico, mas antes de
tudo para os seus generosos compatriotas, uma chamada e um estímulo ao
apostolado missionário.
8.
Aconteceu então – quando uma série de episódios funestos arrancava grande parte
da Europa do seio da Igreja, que com tanta sabedoria e amor materno a havia
plasmado – que Portugal, juntamente com a Espanha, sua nação irmã, abriu à
mística esposa de Cristo imensas regiões desconhecidas levando-as ao seu seio
materno, compensando o que havia sido perdido com inumeráveis filhos da África,
da Ásia e da América. Naquelas terras, demonstrando a perene vitalidade da
Igreja católica, pela qual o divino Fundador intercede incessantemente e na
qual o Espírito paráclito incessantemente opera, também nas horas mais
trágicas, surgiram e se multiplicaram dioceses e paróquias, seminários e
conventos, hospitais e casas de recolhimento de órfãos.
9.
Como foi possível que vós, embora sendo poucos, fizésseis tanto na santa
cristandade? [2]
Onde encontrou forças Portugal para acolher sob seu domínio tantos territórios
da África e da Ásia, para estendê-lo até às mais distantes terras americanas?
Onde, senão naquela ardente fé do povo português, cantada por seu maior poeta,
e na sabedoria cristã dos seus governantes, que fizeram de Portugal um dócil e
precioso instrumento nas mãos da Providência, para a actuação de obras tão
grandiosas e benéficas?
10.
Afinal, enquanto homens exímios, conscientes da própria responsabilidade, como
Afonso de Albuquerque e João de Castro governam com rectidão e prudência as
várias colônias portuguesas e prestam ajuda e protecção aos zelosos anunciadores
da fé – que grandes monarcas como João III se empenham em mandar naqueles
países Portugal impõe-se ao mundo pela potência de seu império e pela sua
gigantesca obra civilizadora. Quando, ao invés, a fé declina e o zelo
missionário fica desencorajado, quando o braço secular ao invés de proteger,
perturba, ao invés de encorajar, paralisa a vitalidade missionária, em
particular com a supressão das ordens religiosas, então, naturalmente, com a fé
e a caridade, dispersa-se e fragiliza-se toda aquela primavera de bens, da qual
havia nascido e se alimentado.
11.
Um olhar também para essas sombras, filho amado e veneráveis irmãos, não será
menos proveitoso, antes se prestará a uma útil reflexão. Mas é sobre o
esplendor das vossas incomparáveis glórias missionárias, que desejamos fixar a
vossa atenção neste ano pluricentenário, destinado à evocação histórica dos
magníficos fastos da vossa ínclita pátria, para que no vosso coração se
mantenha sempre vigoroso o antigo espírito missionário português.
12.
As actuais celebrações centenárias coincidem providencialmente com um período
de renascimento espiritual do povo português. A solene Concordata e o Acordo
missionário há pouco ractificados, além de regular as relações e promover as
colaborações amigáveis entre a Igreja e o Estado, garantem tempos ainda
melhores. A hora actual é, então, particularmente propícia para dar novo
incremento ao vosso espírito missionário, com a esperança que possa emular o
ardor dos antigos missionários portugueses.
13:
Animado de tal espírito; quem poderá considerar com indiferença as quase dez
milhões de almas que habitam nos territórios portugueses, e que, em sua grande
maioria, ainda aguardam a luz do evangelho? Qual português – digno desse nome –
não deseja operar segundo as suas possibilidades para conservar sempre vivo e
fazer crescer cada dia mais o que representa uma entre as suas glórias mais
belas, bem como um dos maiores interesses da sua pátria?
14.
Nós, portanto, amado filho e veneráveis irmãos, com a mente e o coração
repletos de gloriosas tradições missionárias da nação portuguesa, temos-vos
presentes em favor das muitas almas que nas vossas colónias ainda esperam quem lhes
anuncie a palavra de Deus e espera "as insondáveis riquezas de
Cristo" (Ef 3, 8), repetimos o gesto e exortação do divino
Redentor aos apóstolos, dizendo também a vós: "Elevai os olhos e olhai os
campos já maduros para a colheita" (Jo 4, 35); "A messe é
grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, ao dono da messe que mande
operários para a sua messe" (Lc 10, 2).
15.
Sim, "os operários são poucos"! As antigas dioceses da África portuguesa
sofrem enorme escassez de anunciadores da palavra divina, e vastas
circunscrições são confiadas a poucos missionários.
16.
"Pedi, pois, ao Senhor da messe". Pedi antes de tudo ao Senhor que se
digne suscitar muitas vocações missionárias, seja em Portugal, seja entre os
indígenas dos territórios ultramarinos a vós sujeitos; e não apenas vocações
para o sacerdócio, mas também de irmãos coadjutores, de religiosas e
catequistas.
17.
Todos os sacerdotes consagrem parte de suas orações a esta santa e altíssima
intenção. Façam-no particularmente as ordens contemplativas e os fiéis, ao
recitarem o Rosário, tão recomendado pela bem-aventurada Virgem Maria de
Fátima, não transcurem de elevar uma invocação à Mãe de Deus em favor das
vocações missionárias.
18.
Mas isso não é suficiente. É necessário também organizar jornadas especiais
para as vocações missionárias, com horas de adoração e temas apropriados. Isso
ocorra anualmente em todas as paróquias, nos colégios ou estabelecimentos para
a educação da juventude e nos seminários. Nesses dias, todos se aproximem da
mesa sagrada; em particular os jovens se alimentem do pão dos fortes, do
"trigo dos eleitos" (Zc 9, 17). Para muitos será talvez
aquele o momento bendito e feliz no qual o Senhor fará sentir o seu chamado.
19.
Quem mais do que o clero poderá promover mais adequadamente essas santas
iniciativas? Dirigimo-nos, então, aos venerandos sacerdotes portugueses e com o
coração ardente exortamo-los a inscreverem-se na União missionária do clero.
Essa pia associação, abençoada e enriquecida de especialíssimas graças dos
nossos imediatos predecessores, e que nós igualmente bendizemos e recomendamos
com insistência, já existe em quase todos os países católicos e neles se
demonstra meio muito eficaz para formar a consciência missionária entre os
fiéis.
20.
É nosso vivo desejo que a União missionária do clero português, também nos seus
princípios, se desenvolva rapidamente, pois entre os seus membros nós esperamos
encontrar aqueles cultivadores zelosos e capazes que, com amorosa solicitude,
saibam escolher e educar as tenras plantinhas que nosso Senhor Jesus Cristo faz
brotar na sua vinha, para transplantá-las um dia no campo das missões.
21.
Antes de tudo, o Senhor espera dos seus ministros um trabalho ainda mais
fundamental: que preparem e cultivem o terreno a fim de que nele possam
germinar as vocações missionárias. Daí deriva que cabe em primeiro lugar aos
sacerdotes difundir entre os fiéis o conhecimento do problema missionário e suscitar
no seu coração o zelo apostólico. Por isso – como declarava um dia o nosso
predecessor Pio XI de veneranda memória – não deveria existir um único
sacerdote que não estivesse inflamado de amor pelas missões. [3]
22.
Por isso repetimos a vós, amado filho e veneráveis irmãos, as autorizadas
palavras do mesmo nosso grande predecessor em sua Encíclica Rerum Ecclesiae: "Procurai fundar entre vós a União
missionária do clero; ou, se já foi fundada, promovei-a com vossa autoridade,
com conselhos, exortações e uma atividade sempre mais vivaz". [4]
23.
O dever primário da União missionária do clero em Portugal é promover e
difundir por todos os meios a imprensa missionária. Se não existe uma imprensa
que faça conhecer os graves problemas e as urgentíssimas necessidades das
missões, nem o clero, nem – com maior razão – o povo se importarão.
24.
De todo o coração abençoamos, então, o boletim da União missionária do clero em
Portugal O clero e as missões a fim de que se reforce, e reacenda em todos os
sacerdotes portugueses a chama ao zelo missionário e recorde a eles os deveres
relativos à propagação da fé.
25.
Abençoamos igualmente as outras revistas missionárias das famílias religiosas
que tanto contribuem para a formação missionária dos féis e fazemos votos que produzam
frutos sempre mais abundantes.
26.
Reservamos, então, uma bênção especial para os sacerdotes que generosamente se
encarregam de uma zelosa propaganda da União missionária do clero, para que
Deus torne fecunda sua actividade. Certamente um autêntico zelo pelas almas
lhes inspirará milhares de iniciativas para levar a bom termo o seu santo
propósito.
27.
Desejamos, por outro lado, que nos seminários a educação dos candidatos ao
sacerdócio seja orientada de modo a tornar possível uma sólida e profunda
consciência missionária, tão útil para robustecer a formação sacerdotal, com
vantagem para o futuro exercício de seu ministério, seja qual for o lugar que a
providência os destine.
28.
E se algum de vós, por benigníssima vontade do Altíssimo, se sentisse chamado
para as missões, "nem a falta de clero e nem alguma necessidade da diocese
deve dissuadi-lo de dar o próprio consentimento; pois os vossos concidadãos,
tendo, por assim dizer, ao alcance das mãos os meios da salvação, estão muito
menos longe dessa do que os infiéis... Em tal caso, pois, suportai de boa
vontade, por amor de Cristo e das almas, a perda de algum membro do vosso
clero, se perda se pode chamar e não, ao invés, ganho; já que, se vos privais
de algum colaborador e companheiro de fadiga, o divino fundador da Igreja
certamente o suprirá, ou expandindo graças mais abundantes sobre a diocese, ou
suscitando novas vocações para o sagrado ministério". [5]
29.
O Nosso maior e mais ardente desejo é que, imitando a arquidiocese de Goa, onde
as vocações sacerdotais e religiosas nativas são pródigas, também as outras
circunscrições eclesiásticas dos domínios portugueses, desenvolvendo
generosamente a obra já iniciada, possam contar em breve com um exemplar clero
autóctone, e numerosas irmãs, filhas desse povo, em cujo seio exercitarão o seu
apostolado.
30.
Méritos a Portugal por ter sempre associado os povos do ultramar à sua boa
sorte, buscando elevá-los ao seu mesmo nível de civilização cristã. Nós
contamos sobre essa louvável tradição para a realização de um dos sonhos mais
presentes na Igreja católica dos últimos tempos: a formação do clero autóctone.
De vossa parte, amado filho e veneráveis irmãos, fazei tudo o que for possível
para que essas esperanças não sejam vãs, mas se tornem em breve uma consoladora
realidade.
31.
Não basta, todavia, recrutar numerosas vocações. É sobretudo necessário educar
missionários santos e capazes.
32.
Tendes no vosso meio, e sem dúvida o apreçcais dignamente, um monumento insigne
da solicitude que merece junto a esta Sé Apostólica a educação das vocações
missionárias: a Associação portuguesa das missões católicas de ultramar,
fundada por sábia intuição e energia pelo nosso predecessor, Pio XI, de
veneranda memória, a qual é também para nós objecto de especial cuidado e
esperança. Fé parecida deposita a Santa Sé nas ordens e nas congregações
religiosas masculinas e femininas onde foi e é formada a maior parte dos missionários.
De ambas esperamos muito e muito esperam as missões. Conhecendo bem as
necessidades espirituais dos domínios portugueses, é nosso vivíssimo desejo que
ao lado das ordens e congregações religiosas que já se dedicam à missão, se
juntem outras, e que os Ordinários lhes concedam apoio e favor, para um fim
urgente e santo, de tal modo que também nesses institutos se multipliquem os
operários do evangelho, destinados às missões das vossas vastas colónias.
33.
Aos directores dos colégios da mencionada Associação missionária, como também
aos superiores das outras corporações religiosas, queremos abrir o nosso
coração, para que vejam claramente as nossas preocupações apostólicas e quanto
desejamos que as vocações missionárias sejam devidamente cultivadas e
solidamente formadas.
34.
Lembrem-se que ninguém deve encaminhar-se pelos difíceis e heróicos caminhos
das missões, se não é chamado por privilégio singular do Senhor. Ao mesmo tempo
não se deve permitir a ninguém que prossiga nesse caminho, se não corresponde
dignamente ao chamado divino.
35.
O missionário deve ser homem de Deus, não somente por vocação, mas também pela
doação completa e perpétua de si mesmo. "Com efeito – ensina a admirável Carta Apostólica Maximum illud de Bento
XV, de veneranda memória – é necessário que seja homem de Deus, que anuncia
Deus, que odeia o pecado e que ensina a odiá-lo. Especialmente entre os
infiéis, que agem mais sob o impulso da razão do que da fé, alcança maiores
progressos se o anúncio vem acompanhado mais com o exemplo do que com a
palavra". [6]
36.
Trata-se, amado filho e veneráveis irmãos, de uma santidade profundamente
radicada na alma, não de uma superficial bondade, que desaparece ao primeiro
contacto com a corrupção do paganismo. Homens que, segundo a frase de são
Paulo, "guardarão as aparências da piedade, negando-lhe, entretanto, o
poder" (2 Tm 3, 5) não serão, certamente, sal da terra que
erradique a corrupção dos costumes pagãos, e menos ainda luz do mundo, que
mostre o caminho da salvação aos que jazem nas sombras da morte. Queira Deus
que não cheguem eles próprios a corromperem-se miseravelmente e, pior ainda, a
transformar-se em mestres de corrupção.
37.
Por outro lado, é necessário que o futuro missionário receba uma educação
completa, seja científica seja pastoral, para que possa de facto ser
"sábio arquiteto" (1 Cor 3, 10) do reino de Deus.
38.
Não lhe bastará uma vasta e profunda ciência teológica; deverá também conhecer
as ciências profanas relativas ao exercício dos seus deveres; não sendo assim,
se lhe faltarem esses conhecimentos sagrados e profanos, o missionário, guiado
unicamente pelo seu zelo, arriscará construir sobre a areia.
39.
Portanto, à semelhança do divino Mestre, que "passou fazendo o bem e
sarando a todos" (At 10, 38), e obedecendo ao Seu mandato que
disse: "curai os enfermos" (Lc 10, 9) e "ensinai a
todos os povos" (Mt 28, 19), o missionário abrirá a boca para
falar com sabedoria e doutrina do Reino de Deus, e estenderá as mãos,
convenientemente preparadas e movidas pela caridade cristã, para aliviar os
corpos doentes e as misérias que os afligem; com os corpos curará conjuntamente
as almas. Ele saberá elevar a inteligência de tantos pobres escravos de
superstições degradantes e imersos "nas sombras da morte"; com
instrução abrirá aquelas inteligências obscurecidas à luz do evangelho.
40.
Afinal, ao lado da casa de Deus, a Igreja, iluminada do Espírito Santo, elevou
em toda parte, mas sobretudo nas terras de missão, casas para órfãos, hospitais
e escolas. Ora, quem será o "sábio arquiteto" dessas santas obras,
senão o missionário que anuncia a verdade cristã? E como poderá sê-lo sem a
necessária preparação para ter aqueles dotes e virtudes?
41.
Idênticas recomendações fazemos aos que se dedicam à formação daquele exército
silencioso, mas laboriosamente benéfico, ajuda quase indispensável às missões,
que são as irmãs missionárias.
42.
Sabemos que em Portugal, pela misericórdia de Deus, se estão multiplicando as
congregações religiosas femininas. Nessas se cuidem com diligência o
recrutamento e a educação das vocações missionárias, de modo que as irmãs,
prontas para partir em direcção às terras dos infiéis, sejam cada vez mais
numerosas e mais bem preparadas a exercitar com sucesso as incumbências de
professoras, enfermeiras, catequistas, numa palavra, todas as incumbências
particulares que se referem ao apostolado missionário.
43.
Todos, aos que compete esse dever, considerem bem que as irmãs missionárias
poderão colher frutos tanto maiores, quanto mais adequada e completa for a sua
formação, não somente religiosa, mas também intelectual. E queira Deus que em
breve tempo vejamos colaborar com as irmãs missionárias, muitas zelosas irmãs
autóctones.
44.
Por certo nós não vos esquecemos, dilectíssimos filhos, que já obedecestes ao
convite do divino Mestre: "Faz-te ao largo!" (Lc 5, 4). A
vós que já vos encontrais em alto mar, que lutais e vos afadigais por estender
o reino de Deus, vai mais solícito nosso pensamento e se dirigem mais cordiais
a nossa saudação e exortação. Infundindo-vos nova coragem, pedimos e
esconjuramos a todos e a cada um em particular, com as palavras do apóstolo das
gentes: "Procura apresentar-te a Deus como homem provado, trabalhador que
não tem de que se envergonhar" (2 Tm 2, 15). "Sê para os
fiéis um modelo na palavra, na conduta, na caridade, na fé, na pureza" (1
Tm 4, 12). Com o mesmo São Paulo, à exortação unimos a sugestão dos meios
necessários para pô-la em prática, reassumindo-os todos no seguinte conselho:
"Segue... a piedade" (1 Tm 6, 11). Se a graça de Deus
permanecer no vosso coração, não poderá faltar o difundir-se ao redor de vós e
sobre vossas obras, pois essa é a lei do Reino de Deus. Afinal, "o Reino
dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e pôs em três medidas de
farinha, até que tudo ficasse fermentado" (Mt 13, 33).
45.
A história das vossas missões confirma eloquentemente a verdade dessa lei
divina. Enquanto as assim chamadas missões leigas, que deviam substituir as
missões católicas, permaneceram sempre infrutíferas, quais imensos bens, não
somente espirituais, mas também – como consequência lógica – temporais, para
vantagem e prestígio de Portugal, operaram homens apostólicos como Francisco
Xavier e João de Brito. Imitai-os, então, dignamente!
46.
Como sabeis, no dia 15 de Março deste ano completou-se o quarto centenário da
divina vocação de S. Francisco Xavier nas missões da Índia portuguesa. Essa
vocação divina foi-lhe manifestada na carta que João III, rei de Portugal,
escreveu ao seu embaixador em Roma, encarregando-o de procurar sábios e
virtuosos missionários para as Índias. Com quanto bem Xavier recompensou Portugal
pela grande ajuda oferta à vocação divina do santo protector das missões! Certamente
não teria podido fazer mais ao serviço de Portugal se tivesse sido português de
nascimento; tal é a eficácia da santidade. Nela se encontra o segredo do feliz
resultado de vossa missão. O vosso programa missionário entre os infiéis seja o
mesmo do divino Mestre: "Santifico a mim mesmo para que eles sejam
santificados" (Jo 17, 19), que foi também o programa de S.
Francisco Xavier, do Beato João de Brito e de todo o glorioso elenco de santos
missionários portugueses, que tanta honra trouxeram à religião e à nação
portuguesa.
47.
E agora, antes de concluir, uma palavra para o generoso e a nós caríssimo povo
português.
Cristo
Senhor confiou àqueles que já experimentam dos incomparáveis benefícios da
redenção, o encargo de os partilhar com os irmãos que ainda não os possuem. Nas
vossas magníficas colónias tendes milhões de irmãos, cuja evangelização vos é
particularmente confiada.
48.
Por isso convocamos a todos vós para uma santa cruzada em favor das vossas
missões.
Como
os vossos gloriosos predecessores, dos quais este ano celebrais a memória,
cerravam fileiras ao redor de capitães e cavaleiros, que agitavam a bandeira
cruzada ou, quando não podiam segui-los, os acompanhavam com as orações, com a
solidariedade e com a ajuda financeira, assim também vós empenhai-vos com a
oferta dos vossos filhos, as vossas orações e o vosso óbolo generoso para as
missões.
Nessa
nobre cruzada uma tarefa privilegiada aguarda a quantos militam na acção
católica.
49.
Deus abençoará a vossa santa cruzada e a vossa nobilíssima nação. De Fátima, Nossa
Senhora do rosário, a grande Mãe de Deus que venceu em Lepanto, assistir-vos-á
com o seu poderoso patrocínio. São Francisco Xavier, o santo protector das
missões católicas, português de adopção, o Beato João de Brito e toda a nobre
falange de santos missionários portugueses estará convosco.
Com
toda a efusão de nosso coração, concedemos a bênção apostólica a vós, amado
filho e veneráveis irmãos, a todos e a cada um dos vossos irmãos; seja ela para
vós penhor de graças celestes e testemunho de nossa paterna benevolência.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no
dia 13 de junho de 1940, festa de santo Antônio, ano II do nosso pontificado.
PIO PP. XII
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
________________________
Notas:
(*) Encíclica de Pio XII dirigida ao patriarca de
Lisboa, aos arcebispos e bispos de Portugal, datada de 13 de junho de 1940.
No VIII centenário da fundação de Portugal e III de sua
restauração. Exaltação comemorativa da obra missionária portuguesa nos
territórios de além mar. Vocações e associações missionárias. Necessidade de
santos anunciadores do evangelho. Grandes missionários portugueses.
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