Questão 84: Por meio
do que a alma, unida ao corpo, intelige as coisas corpóreas.
(IIª
IIae, q. 154, a. 5; III Sent., dist. XV, q. 2, a. 3, qª 2. ad 2; De Verit., q.
12, a. 3, ad 1 sqq.; q. 28, a. 3, ad 6).
O
oitavo discute-se assim. ― Parece que o juízo do intelecto não fica impedido,
por privação dos sentidos.
1.
― Pois, o superior não depende do inferior. Ora, o juízo do intelecto é
superior aos sentidos. Logo, não fica impedido pela privação deles.
2.
Demais. ― Silogizar é acto do intelecto. Ora, no sono há privação dos sentidos,
como se diz em certa obra; todavia, acontece que alguém, dormindo, silogize.
Logo, o juízo do intelecto não fica impedido pela privação dos sentidos.
Mas,
em contrário, não se imputam, como pecado, as coisas contrárias, durante o
sono, aos costumes lícitos. Ora, tal não se daria se o homem, dormindo tivesse
o livre uso da razão e do intelecto. Logo, fica impedido o uso da razão, pela privação
dos sentidos.
Como já se disse, o objecto próprio e proporcionado ao nosso intelecto é a
natureza da coisa sensível. Ora, não é possível fazer juízo perfeito de uma
coisa sem que se conheça tudo o que pertence a tal coisa; e, sobretudo, se se
ignorar o termo e o fim do juízo. Pois, o Filósofo diz: como o fim da ciência
operativa é a obra, o fim da ciência natural é aquilo que é apreendido sempre e
propriamente pelos sentidos. Assim, o ferreiro não procura o conhecimento da
faca, senão por causa da operação, que o leva a fazer uma determinada faca; e,
semelhantemente, o naturalista não procura conhecer a natureza da pedra e do
cavalo, senão para conhecer as razões do que é percebido pelo sentido. Ora, é
claro que o ferreiro não poderia formar um juízo perfeito a respeito da faca,
se ignorasse como se faz uma faca; e, semelhantemente, o naturalista não
poderia fazer um juízo perfeito das causas materiais, se ignorasse os
sensíveis. Ora, todas as coisas que inteligimos, no estado da vida presente,
nós conhecemo-las por comparação com as coisas sensíveis naturais. Donde, é
impossível haver em nós um juízo perfeito do intelecto, durante a privação dos
sentidos, pelos quais conhecemos as coisas sensíveis.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― Embora o intelecto seja superior ao sentido,
recebe contudo deste, de certo modo, os seus dados; e os seus objectos
primeiros e principais fundam-se nos sensíveis. Donde, necessariamente; o juízo
do intelecto fica impedido pela privação dos sentidos.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Nos adormecidos, a privação dos sentidos é causada por certas
evaporações e fumosidades que se desprendem, como se diz na obra citada. Donde,
segundo a disposição de tais evaporações, assim maior ou menor é a privação dos
sentidos. E por isso, se for intenso o movimento dos vapores, haverá privação
não só dos sentidos, mas também da imaginação, de modo que nenhum fantasma
aparecerá; como acontece, principalmente quando alguém começa a dormir depois
de muito haver comido e bebido. Se porém, o movimento dos vapores for um pouco
remisso, aparecerão os fantasmas, mas disformes e desordenados, como acontece
com os febricitantes. Mas se o movimento for ainda mais calmo, aparecerão os
fantasmas ordenados, como costuma acontecer, sobretudo, no fim do sono, com os
homens sóbrios e dotados de forte imaginação. Se por fim, o movimento dos
vapores for módico, não só a imaginação ficará livre, mas também o próprio
sentido comum o ficará, em parte; de modo que o homem julga, por vezes,
dormindo, que as coisas vistas são sonhos, discernindo, por assim dizer, entre
as coisas e as semelhanças delas. Mas por outro lado, o sentido comum permanece
ligado; e por isso, embora discirna, das coisas, algumas semelhanças, contudo
cai sempre em alguns enganos. Assim pois, do modo pelo qual o sentido e a imaginação
ficam livres, no sono, desse mesmo fica livre o juízo do intelecto, não, porém,
totalmente, Donde, aqueles que, dormindo, silogizam, quando acordam sempre reconhecemos
que, em algo, se enganaram.
Nota:
Revisão da tradução para português por ama
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