Há uma sede quase
insaciável de quantificação, na sociedade de hoje. As realidades diárias são
reduzidas a números, as pessoas a estatísticas, tudo é contabilizado para um
consumo imediato (e mui-tas vezes mediático).
Nesta tirania dos números, continuamos a
viver um momento de viragem, em que ainda não se vislumbra com precisão o novo
rumo, um destino seguro, um sentido de futuro para o presente marcado por tantas
dificuldades, em que muitas questões se levantam sem que surjam as respostas
mais adequadas.
O lazer, o tempo livre, o encontro com
outras pessoas e outros luga-res surgem assim como um desafio para sair da
quotidianidade, valorizando o que é único, pessoal, irrepetível e não cabe numa
fotografia, em duas linhas, em 30 segundos.
A atual crise económica fez com que muitas
pessoas colocassem as suas prioridades em perspetiva e aprendessem a valorizar
estas pequenas coisas, que não são do mercado nem por lá se encontram,
descobrindo o valor da entrega, da gratuidade, da solidariedade e, nalguns
casos, da espiritualidade.
Descobrir que dentro de nós há coisas que
não se compram nem se vendem, mas reclamam atenção, tempo e dedicação é um
caminho de realização pessoal que pode contagiar a comunidade e levá-la a
potenciar o que de melhor tem em si, através da soma das qualida-des de cada
um.
As próximas semanas, que para muitos são
de descanso, podem ser um tempo de inspiração para reformular projetos e
expectativas, mostrar reconhecimento a quem nos rodeia, longe da agitação em
que os dias mergulham, dos tempos que se agitam.
Para muitos, também, será uma oportunidade
para reencontrar sen-tidos e rumos, na relação com os outros e com Deus, de
vislumbrar os sonhos do que verdadeiramente se gostaria de viver, em busca de
respostas mais profundas, que permanecem para lá do tempo que passa.
OCTÁVIO CARMO, in ECCLESIA 2012.07.31
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